Uma mentira mal dita (e maldita)

Ah que alívio, afinal foi uma "notícia falsa": não começou a III Guerra Mundial! E nunca poderia ter começado aqui por duas raz­ões: primeiro porque uma guerra mundial não é "como o Natal, quando um homem quiser", pois ninguém declara "guerra mundial" a ninguém, nem seria uma notícia que as televisões ignorariam: - "Epá mete o presidente no ar que a III Guerra Mundial começou" - " Tá bem mas espera aí pelo intervalo do jogo". É simplesmente mentira, os administradores deste site sabiam disso, e ainda voltam a mentir e insultam toda a gente. Ahh enganaram-se porque viram num "conceituado site espanhol", é normal, pois eu próprio também me engano, e ainda no outro dia noticiei que a Terra saiu disparada da sua órbita e foi engolida por um buraco negro, e tudo porque  fui confiar num pinguim garçon que me foi sussurrou ao ouvido. Logo a seguir um momento brilhante, que diz muito deste tipo de páginas: "verdade ou não". Não. E eu sei que não era uma pergunta, mas esta gente devia abster-se de sequer escrever a palavra "verdade". Mas claro que cada um tem um "filtro" que lhe permite distinguir o viável do impossível, e julgo que se pode dizer com segurança que alguém que acredita que começou a III Guerra Mundial apenas confiando na informação de um site chamado "Muito Fixe", está a precisar de limpar esse "filtro". Contudo...

...outros há em que a mentira tem a perna mais comprida. Esta notícia que é simplesmente indecente foi publicada poucos dias depois dos atentado do dia 13 em Paris, ou mesmo antes - reparem como a actualização é recente: 20 de Novembro. Cada vez que é actualizada, a página volta a ser publicada na página do Facebook deste site, um tal BlastingNews, a propósito do qual fiz há poucos dias um artigo, que recomendava que lessem em complemento a este. Uma vez publicada há pessoas que partilham, e quem olha para o título sente-se compelido a fazê-lo, pois soa a algo de paradoxal: alguém que se queixa da ajuda alheia em tempos de grande necessidade. Mas reparem no sub-título: "em um acto de verdadeira ingratidão" - isto é suspeito. Se algum jornalisto ou jornalista estiverem a ler isto, sabem que uma notícia nunca poderia incluir uma opinião pessoal, quanto mais logo por baixo do cabeçalho, não se tratando nem de artigo de opinião, nem de uma citação. E a mentira começa timidamente a mostrar perna logo no início do texto: porque é que um artigo de há DOIS MESES é tão pertinente agora, e mais ainda depois dos ataques de Paris? A confirmação vem na legenda daquela fotografia que nem tem necessariamente nada a ver com o caso, mas "refugiados QUEREM FUGIR"? No cheira lá muito bem, pois não?

Aqui está a notícia original, e podem ouvir a tal reportagem no site da RTP, aqui neste link. Agora se quiserem por as coisas nestes termos, se é ou não verdade, eu respondo que no essencial não é mentira - são três indivíduos com o estatuto de refugiado que estão insatisfeitos com a vida, e aparentemente a sensação com que toda a gente fica quando se fala dos refugiados é que "deviam estar muito felizes por estar vivos", e que mesmo que exista a possibilidade de lhes dar MAIS, porque há A MAIS, eles têm que pedir muito, e com muita educação, agradecer duas vezes, e se for preciso chamamos os nossos amigos para assistir ao nosso "refugiado de estimação", e se ele levanta a garimpa, é mal agradecido, e como ele é, todos os MILHARES de refugiados o são. Agora são capazes de vir os NAZIS, e já vão ver que são mesmo NAZIS, e que estão a tentar enganar toda a gente, manipulando este tipo de notícias para colocar a opinião pública CONTRA esta gente que precisa de ajuda, e disfarçados de anjinhos dizem "Ah muito bonito, mas OS NOSSOS continuam a dormir na rua, e enquanto para OS NOSSOS nunca há nada, estes TÊM TUDO DE BORLA. Sabem como é que eu comecei logo a "pescar" a tramóia? Porque podem enganar as pessoas que conhecem mal estes tipos, mas eu conheço-os de ginjeira e se há coisa de que eles nunca quiseram saber foi  DOS NOSSOS, ou neste caso DOS DELES. Mas já lá vamos, pois antes de lhes tratar desta tosse irritante para quem os atura, vamos ver o corpo da notícia, ou melhor, aquela POUCA VERGONHA.

Na sexta-feira de manhã vi este travesti de "notícia" ser partilhado e comentado por duas leitoras de que tenho enorme estima, e fiquei sobressaltado, e na altura posso ter dado a entender que fiquei "chateado" com elas. Não, nada disso, não estava a "ralhar" com ninguém, nem a insinuar que são "inocentes" ou a culpá-las seja do que for. Por favor, não confundam o meu aviso com algum tipo de paternalismo, porque eu só quis preveni-las desta onda de NEO-NAZISMO que vem envenenando a opinião pública com a intenção de colocá-la contra pessoas inocentes. Porque quer estas duas leitoras, quer muita outra gente partilha a notícia sem lê-la do princípio ao fim porque confia que o conteúdo será fiel ao título, ou não será nada completamente despropositado. Mas vejam só aquela orgia de presunções, julgamentos precipitados, exageros absurdos e interpretações tão extensivas que chegam até à previsão do futuro! Mesmo quem não soubesse à partida que isto era falso ia desconfiar de não ter dado por milhões de portugueses ficarem "magoados" com as palavras dos refugiados, com um verbatim que até parece que passámos a tarde toda de joelhos a esfregar o chão, para depois virem eles da pesca com as botas cheias de lama e cagaram tudo, os cabrões. Vou guardar aquela do "receber de braços abertos" para o fim, mas achei graça à lata do NAZI que escreveu aquela bosta: "depois dos atentados" a imagem dos refugiados tem sido "um pouco" prejudicada ... por coisas como esta, e a intenção é mesmo que a situação deles fique pior, pelo que se pode  interpretar isto como "wishful thinking" - isto é O QUE ELES QUEREM, que as pessoas olhem com desprezo e desconfiança para os refugiados. Agora veja como os "portugueses" ficaram tão "desiludidos" com esta "falta de educação":

Olha vejam só, os mesmos refugiados que "fugiram", têm "mais direitos que os portugueses" - aquilo deve estar mesmo mal, com os portugueses a dormirem em cima de fezes de vaca. Podiam dormir  AO LADO das fezes de vaca, mas assim tinha menos graça. Os refugiados por seu lado teriam que implorar de joelhos para poder dormir ao lado das fezes da vaca, mas aí vinha alguém dizer que ele "quer tudo do bom e do melhor", e as fezes de vaca não lhe chegam. Agora falando a sério, isto que está aqui é quase criminoso, e eu neste artigo provo que isto é mentira, e existe uma intenção concertada da parte de NAZIS para que estas pessoas sejam abandonadas à sua sorte, e se quem ajuda a esta pouca vergonha com comentários de MERDA, onde demonstra ignorância e mesquinhez, sonhasse que "sorte" era esta ia mas era calar-se para o raio que o parta. E depois há mais:

Ah aqui mudaram de fotografia. Eu até diria que são refugiados que pernoitavam ao relento e fugiram quando se aperceberam da chegada da polícia - é uma vida de luxo esta, onde dormem na rua com tudo o que têm e ainda precisam de acordar e desatar logo a correr. Queriam o quê já agora, pequeno-almoço, não? Mas até aposto que esta maltósia NAZI era capaz de dizer que são ladrões de galinhas, ou quem sabe violadores de velhinhas. As mesmas velhinhas que "expulsaram" de "um lar", que no título a letras garrafais chamam "casa". Ah não as expulsaram das suas casas mas expulsaram do lar, "MESMA COISA". Para mim mesma coisa são os filhos da puta dos nazis, porque se alguém for querer saber o que realmente aconteceu, vai procurar A NOTICIA, e não esta desgraça, e se quiser acreditar nisto, das duas uma: ou não leu, e em muitos casos inocentemente vai partilhar confiante que neste mundo não existe gente assim tão reles, tão vil, ou acredita, e nesse caso é tão filho da puta como os outros, ou é burro. E não vou pedir desculpa ninguém por nada, porque quem conhece Portugal e os portugueses minimamente, não vai acreditar que chegam uns tipos a fugirem de guerra, perseguições e intolerância por razão da sua religião ou etnia, correm com as velhas dos lares, entram pelas universidades adentro, e depois de limparem o cu à roupa deles "fogem" porque "não gostam", e os gajos que eles "paparam" ainda ficam "desiludidos e tristes". Vá lá, se quiserem peço desculpa pelo desabafo, mas é isto que ainda por cima algumas pessoas defendem como "servindo uma causa maior", mas depois...

Estão a ver isto? E se fossem vocês a chegar a um país que os recebe ao abrigo de acordos internacionais pré-estabelecidos, e não "de repente e à força", como alguns querem fazer crer, vindo fugidos da guerra, e só com a roupa que têm no corpo, e vem um chico-esperto qualquer e diz-vos "toca a fazer pela vidinha que eu também emigrei e tive que trabalhar blá blá bardamerda", como aquele NAZI do gajo lá em cima. Depois no meio ficamos mais aliviados ao saber que as pessoas normais ainda mexem, mas é pena que na maior parte das vezes prefiram deixar as gralhas a cacarejar sozinhas, porque o que eles precisam é de LEVAR NA TROMBA, para ver se aprendem. Vejam só aquele último, que sugere que os refugiados "voltem para o seu país" e "peguem em armas" porque "são jovens"! Epá não arranjam aí um prémio humanitário, mas só que ao contrário e bem comprido, grosso e com pregos, para enfiar pelo cu deste gajo acima? Já agora, as "velhinhas" foram transferidas para UM LAR, pois aquele lugar que elas habitavam era uma casa grande, tipo vivenda, SEM CONDIÇÕES PARA FUNCIONAR COMO LAR, e para mais até JÁ TINHAM SIDO NOTIFICADOS PARA ESSE FACTO. Depois tratam o caso como se as velhas tivessem nascido lá, e agora deportadas e separadas umas das outras (e não há informação que garanta que não ficaram todas no mesmo lar, atenção), quando SEM refugiados a conversa muda de tom, para "coitadas das velhas, ali ABANDONADAS pelos filhos". Agora os filhos estão "desesperados" por causa das velhas à porta de cuecas na mão, e acaso tivessem ficado no lar, e houvesse um incêndio onde viravam churrasco, a culpa era dos refugiados, QUE NÃO QUISERAM IR ASSAR NO LUGAR DELAS. Pois, eles ali vivos, e os nossos, os nossos ... barbeque.

De facto convém ter um pouco de atenção antes de divulgar algo que às vezes por falta de tempo nos "escapa", e eu próprio nos quase 10 anos que publico este blogue e antes dele o extinto "Leocardo" fui várias vezes notificado de lapsos, imprecisões, e sempre nos casos em que isto poderia de alguma forma dar a entender algo que não corresponde à verdade, aprontei-me de imediato a corrigir, e no caso de alguém poder ficar eventualmente lesado ou ofendido na sua honra, apresentar um pedido de desculpas - e nunca precisei de fazer esta última retracção formalmente. Isto porque uma coisa que eu nunca seria capaz de fazer era passar uma mentira como sendo um facto, e mais grave ainda, estando consciente de que estava a ser desonesto. E o que dizer disto?

Aqui o que mais me dói não é tanto a perversão que se faz do nosso já célebre sentido de humor, mas sim a facilidade com que se embarca no ódio fácil, em busca de um bode expiatório ao mesmo tempo que se servem interesses obscuros, e com fins que temo serem os mesmos que em tempos, quando houve alguém nos estendeu a mão e pediu auxílio, foi deixado à sua sorte, e massacrado às mãos de pessoas que usaram este mesmo argumento: são "diferentes", "não se adaptam ao nosso modo de vida", e "estão a usar o nosso dinheiro". Ainda não chegaram lá?

Curioso é como mesmo aqueles a quem ainda dói a imagem deste "campo de refugiados" tem embarcado tão facilmente nesta loucura colectiva, que até parece estarem a dar razão aos que pensaram que eles realmente não partilhavam do mesmo conceito de "civilidade". Ooops, mas isto que eu estou dizer é sério, e se é uma opinião, é melhor guardá-la para mim. Talvez fosse também de bom tom parar com essa MENTIRA que tão bem sabem quanto custa, mas não se inibem de usá-la em vosso proveito. Ah, humanidade..

PS: A propósito, os três refugiados "queixosos" da primeira notícia são dois iraquianos e um somali, que durante o tempo que estiveram no nosso país, aprenderam a falar português, e "queixavam-se" na nossa língua, mas isso devem ser detalhes sem importância, pelo menos para aquela agenda em questão. É que quando se queixavam, quase nem dava para perceber que eram refugiados...