segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

A revolta dos portuguese egg tarts


Fiz uma pequena pesquisa aos pastéis de nata de Macau. O título da pesquisa devia ser: “O que há de errado com os pastéis de nata de Macau?”, e a conclusão ia ser: “muita coisa”. Em primeiro lugar recordo-me das experiências fantásticas que tive com os pastéis de nata em Portugal, e que só aprendi a dar valor quando vim viver para Macau.

No café da rua e da escola os pastéis de nata eram considerados, juntamente com as queijadas (que saudades!) a opção dos pobrezinhos. A malta nova queria era bolos substanciais, como os “rins”, as “ducheses” ou o “babá com rum”, para aquele shot de açucar mais eficaz. Os pastéis de nata comem-se em duas dentadas, não têm chocolate, “chantilly” ou calda de açucar. São estupidamente simples.

Só que quando vim para Macau, provei um dos “pastéis de nata” do tal Café e Nata, e fiquei a pensar: “isto não são pastéis de nata”. O que se passa é que temos aqui a mesma massa (ou semelhante) ao pastel de nata português, e uma espécie de pudim semelhante àquilo que os ingleses chamam custard, que em Portugal é conhecido por “creme pasteleiro” e usado no creme das bolas de Berlim.

Natas mesmo natas a sério, não sei se os pastéis de nata têm, mas em Portugal a Oficina do Segredo na Fábrica dos Pastéis de Belém é que detem a receita original, e cada um dos seus membros compromete-se a não divulgá-la. Em todo o caso uma dentada num pastel de Belém revela um interior mais cremoso e branquinho, enquanto que os tais “pastéis de nata” de Macau ficam ocos se virados ao contrário, e como diz a minha mulher, “podem ser comidos com uma colher”.

Isto leva a que a malta de Hong Kong e afins, que procura avidamente este semi-produto, conheça-os por “Portugueses egg tarts”, literalmente, “tartes de ovo portuguesas”. Uma das versões para o aparecimento desta (t)arte em Macau remonta do período em que o Chefe Silva (sim, esse mesmo) trabalhou no Hotel Hyatt, em Macau. Na altura um dos seus alunos era um jovem farmacêutico inglês, de seu nome Andrew Stow, que em 1989 abriu na ilha de Coloane uma pequena loja chamada Café e Nata.

Andrew (que viria a falecer em 2006) e a sua esposa Margaret foram durante muito tempo os expedientes em exclusivo dos “portuguese egg tarts”, e nos últimos anos o produto tem figurado na montra de muitos outros cafés, padarias, lojas de produtos de Macau, e até no Kentucky Fried Chicken (KFC), onde é uma sobremesa muito requisitada.

A loja de Margaret, situada perto da Escola Portuguesa de Macau, já não é a única, mas é ainda a mais conhecida e procurada por turistas da região. Na China a iguaria é conhecida por tan-ta (蛋挞), literalmente “pastel de ovo”, e já é comercializada em Taiwan, Vietname e Cambodja, um pouco por toda a Ásia. Um exemplo de como uma sobremesa local de inspiração portuguesa conquistou o gosto dos locais, e ainda leva o epíteto de “portuguese” no seu nome.



Para a experiência utilizei "portuguese egg tarts" da Choi Heong Yuen, uma conhecida loja de produtos de Macau situada na Av. Almeida Ribeiro (uma caixa de seis "egg tarts" custa 36 patacas), e um pastel de nata de uma conhecida pastelaria portuguesa (dez patacas).


Em termos de consistência, o pastel de nata da pastelaria portuguesa (à direita na imagem) é semelhante ao dos pastéis de Belém, mas o interior é muito mais amarelado. Quanto ao “egg tart” (à esquerda), a consistência é lisa e brilhante, menos amarelada e menos doce.


Quanto à massa, o pastel de nata da pastelaria portuguesa é bastante mais crocante, ligeiramente folhado. A massa do “egg tart” da Choi Heong Yuen é mais fina e oleosa, dando a sensação de ter sido frita.

10 comentários:

Anónimo disse...

Os pasteis de nata de Macau nao sao "Portuguese",tambem nao sao "Chinese" e' uma fusao dos dois, por isso deve chamar de "Macanese", tirando o folhado, o resto nao tem nada a ver com os de Belem.

Anónimo disse...

Nao se preocupem, que ainda vao descobrir que os pasteis de nata sao de origem grega.
O objectivo e esquecer que os portugueses estiveram ca!
Numa fase intermedia, comeca-se por dizer que sao uma fusao.

Anónimo disse...

Os pastéis de nata não são da Papua Nova Guiné?

Pedro Coimbra disse...

Caro Leocardo,
Um pastelinho de Belém, quentinho, com canela, é que já marchava!!
Um, uma porra!
Uma data deles!!!
E esses só há em Portugal, em Belém, à beira Tejo.

Anónimo disse...

Bem elucidativa esta comparação dos pastéis de nata de Macau com os de Portugal. Faltava só comparar os pastéis de Belém com os pastéis de nata comuns em Portugal...
" Os Pastéis de Nata, como o próprio nome indica, contêm nos seus ingredientes natas, ao passo que os Pastéis de Belém não possuem este ingrediente, sendo confeccionados essencialmente com gemas de ovo e açúcar (...e flocos de batata). É muito notória e saliente a diferença de sabor, embora o aspecto possa ser algo parecido". http://pt.wikipedia.org/wiki/Past%C3%A9is_de_Bel%C3%A9m

Anónimo disse...

Um pedido:
Leitão de Vinhais vs Leitão da Bairrada

Anónimo disse...

isto é como tudo,é mais fama que proveito,já comi pasteis de belem e não achei nada especial.

Anónimo disse...

Concordo com o anonimo de 01:04, prefiro mil vezes os de Macau ou os "Macanese Egg Tart" como chamou o anonimo de 8 Fev. 12:45. Sei que agora vai gerar comentarios sobre os de Belem, mas cada qual sabe do que gosta.

Anónimo disse...

Vá lá que não sou o único a marimbar-me para a fama dos pastéis de Belém. Tal como os dois anónimos anteriores, prefiro mil vezes os pastéis de nata de Macau ou o regular pastel de nata de qualquer outro lado de Portugal aos pastéis de Belém. Para mim, o "segredo" dos pastéis de Belém vale pouco, já que considero bem mais saborosos os outros pastéis sem segredos nenhuns. Para mim, o único doce português que ninguém conseguiu ainda imitar e muito menos melhorar são os ovos moles de Aveiro.

Anónimo disse...

Os pasteis de nata no CUPPACOFFEE, na Taipa, sao uma delicia!
Para quem nao sabe fica situado na R. Fernao Mendes Pinto.