domingo, 14 de maio de 2017

Salvação em Kiev


Toma, Eurovisão, toma! Já está! Em dois anos, Portugal matou dois borregos: venceu o europeu de futebol, e ganhou o Festival da Eurovisão. Vivemos a época mais gloriosa desde o tempo dos Descobrimentos, meus amigos! Só que sem o escorbuto e a escravatura, o que é bom, diga-se em abono da verdade. Ontem em Kiev enterrou-se machado que todos os portugueses da minha geração e mais velhos tinham espetados nas costas. Depois de décadas de humilhação, a ver países como a Letónia, Azerbaijão, Estónia e Ucrânia (duas vezes!) a ganhar o prémio de melhor canção da Europa, eis que Salvador Sobral, até há alguns meses um ilustre desconhecido, acerta as contas com a História, e ganhar um certame onde o melhor resultado que havíamos obtido foi um 6º lugar em 1996, com Lúcia Moniz. Confesso que nunca pensei que assistiria a algo assim durante o meu tempo neste mundo, mas tinha uma forte esperança que fosse desta, e ontem durante o Festival esta ficou reforçada.


Este foi na minha opinião um dos anos mais fracos de sempre na Eurovisão, mas isso não retira um grama de mérito à vitória de Salvador Sobral, que GOLEOU, quer no voto do júri, quer no tele-voto. (Sinceramente não entendo porque é que se regressou ao sistema de júri, se o Chipre dá 12 pontos à Grécia e vice-versa, de qualquer jeito). A receita é simples; no meio de tantos "props", "gimmicks" e efeitos especiais em palco, o nosso representante foi lá, cantou e encantou. Não estaria a exagerar se dissesse que Portugal foi a única participação que colocou a música e interpretação em primeiro lugar, e quando é assim, o primeiro lugar na classificação final é mais que justificado. Pode até dar-se o caso deste "Amar pelos dois", vencedor deste ano, seja o ponto de partida para uma "revolução" no próprio festival, e que a partir de agora os países concorrentes comecem a investir mais na vertente artística, e larguem os expedientes circenses.


E claro que não podia faltar os Adamastores, em mais esta epopeia lusitana: os indivíduos que se escondem cobardemente atrás de perfis falsos no Facebook, debitando verborreia deste calibre. E chamo-lhes cobardes não porque esteja interessado em saber como é o focinho das criaturas, mas porque muitos deles são pessoas "comuns", que têm amor ao emprego e à vida social, abstendo-se por isso de tornar públicas estas afirmações dignas de doentes mentais. Em suma, querem continuar a frequentar os bailaricos do multi-culturalismo, e parecer meninos e meninas bem, mas no fundo são uns escroques. Pessoas nada recomendáveis.


E onde há Adamastores, há velhos do Restelo. Quanto a estes, bem, coitados. Acredito que muita gente que disse horrores do Salvador Sobral, da sua aparência, ou da própria canção que ele defendeu foi simplesmente "na onda", e a malta gosta de ter razão, enfim, produzir um "eu não disse?" face à derrota. Não os censuro, pois afinal sempre foram 54 anos a ver os outros a ganhar, e posto isto não há razão para apostar no cavalo que nunca cortou a meta em primeiro. Aconteceu exactamente o mesmo no ano passado durante o Euro. Não precisam de pedir desculpa, mas pode ser que a partir de agora se confie um bocadinho mais na capacidade dos portugueses. Sabemos fazer as coisas bem feitas quando queremos, e isto tanto serve para a bola, como para a Eurovisão, como para outra coisa qualquer. Obrigado, Salvador.


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