sexta-feira, 26 de maio de 2017

MV: aperta-se o cerco


Este é o extracto de um momento do programa Cinco Para a Meia-Noite de ontem, dia 25 de Maio, onde o convidado foi o grande, o imortal Herman José, a grande referência do humor em Portugal dos últimos 40 anos. A certo ponto, a apresentadora Filomena Cautela perguntou-lhe sobre Maria Vieira, actriz que muitos espectadores da minha geração associam à época dourada de Herman, tendo feito parte da equipa que levou ao pequeno ecrã alguns dos mais memoráveis momentos da história do humor em Portugal, durante os anos 80 e 90. Ora como se sabe, "o leite azedou", e já no início deste ano tivemos uma polémica entre Maria Vieira e a Ana Bola, outra actriz que trabalhou com Herman durante muitos anos, e tudo por culpa de pontos de vista políticos divergentes - quem está por dentro do assunto sabe do que se trata, certamente. 

Herman foi evasivo a este respeito, mas disse algo que importa reter: não é Maria Vieira a autora da sua página do Facebook, isto não é segredo nenhum, e tal como aconteceu com os livros de viagens publicados pela actriz, é o marido, Fernado Duarte Rocha, quem escreve por ela - o que para começar, já é de validade moral e ética bastante discutível. A certo ponto Herman afirma mesmo que "Maria Vieira não tem grande capacidade para escrever, e o marido adora escrever" (imagino o que deve ter sido, lá pelo condomínio do Monte Estoril...). Ora bem, para qualquer pessoa com dois palmos de testa, isto é por demais evidente, e basta ir até à página de Maria Vieira no Facebook para perceber que a retórica ali debitada vai muito, mas mesmo muito além da imagem de simplicidade e inocuidade que a actriz transmite a quem desde sempre tem seguido a sua carreira, mesmo de longe. O problema é que o autor não assume os textos, e aproveita-se da popularidade da mulher para passar mensagens, eu diria mesmo propaganda, de teor político. Tudo bem até aqui, mas o ódio cego que o conduz chega a fazer-lhe perder completamente o norte, e a certo ponto deixa mesmo de fazer qualquer sentido. Ontem tivemos mais do mesmo:


Não é verdade que Mourinho tenha ganho pela primeira vez a Liga Europa, pois já o tinha feito em 2003 com o FC Porto, e se os preciosistas mesmo assim insistirem em embirrar, e dizer que na altura a competição se chamava Taça UEFA, também outro português, André Villas-Boas, ganhou esta mesma Liga Europa em 2011, igualmente com o FC Porto. Até um cego vê que ali o interesse não é que os telejornais abram com a vitória do Manchester United, nem sob o pífio pretexto de que ocorrerem os atentados naquela cidade inglesa dois dias antes (?) - o troféu é inédito APENAS para o Manchester United, que assim o conquistou pela primeira vez na sua história. Aqui os alvos são os mesmos de sempre: islâmicos, Cristiano Ronaldo, e agora Salvador Sobral, vencedor da Eurovisão, que irritou de sobremaneira o sr. Fernando Rocha com a camisola que ostentou antes da final do certame, onde apelava à ajuda aos refugiados. Para rematar, o habitual azedume contra o governo do PS em particular, e a esquerda em geral. Fernando Rocha destila ódio por todos os poros, e nem faz um pequeno esforço para dar sentido à verborreia que publica. Como se viu aliás num dos comentários à entrada acima reproduzida:


Um tal sr. Rui Peixoto resolve discordar do ponto de vista do autor, e fá-lo de forma mais diplomática do que aquilo merecia, saindo em defesa de Cristiano Ronaldo, neste particular. De outra forma veria o seu comentário apagado, e seria bloqueado, como é da praxe naquela infame página! Fernando Rocha insiste na mesma tecla, e o seu ódio mesquinho ao melhor jogador do mundo leva-o mesmo a elogiar o seu maior rival, o argentino Lionel Messi, fazendo deste um modelo de virtudes. Eu não sei se o sr. marido da Maria Vieira sabe, mas Messi foi esta semana condenado a 21 meses de prisão por evasão fiscal! Que exemplo, deveras. E se aqui volta a bater na mesma tecla anti-governo e do desprezo pela comunicação social em Portugal, mais à frente consegue fazer ainda pior:


Para já não "vive alternadamente"; esteve no Brasil por três vezes, e a última delas durante cerca de cinco meses, que foi o período mais longe que lá passou. Mas se isso já pode parecer embirração da minha parte, e dou-vos isso de barato, o que dizer da afirmação "90% dos brasileiros ODEIAM o Cristiano Ronaldo, e IDOLATRAM o Messi"? Sem ter aqui os dados concretos, alegar que 20% dos brasileiros o fazem já seria um tremendo disparate. Esta é uma das características mais salientes destes debitadores de retórica de extrema-direita; acham que a sua opinião e a de poucos é a "da esmagadora maioria", e só não se dá um retorno ao fascismo por "motivos diversos". Olha, por culpa da "comunicação social", por exemplo, que não está nem aí para este nicho de invejosos e ressabiados. E porque haveria de estar? Para rematar a conversa, salta mais uma referência "às esquerdas que nos desgovernam". O sr. Fernando Rocha não poderia escolher pior altura para tentar atirar esta lama à parede e tentar ver se cola, sinceramente.


Pois não, Fernando Rocha, pois não, e acrescentaria mais: nunca a falsidade atingiu um cúmulo como este onde a fizeste chegar. Enquanto não ganhas um pouco de vergonha na cara, tenta de vez em quando ir espreitar à janela, e facilmente entenderás que os "tempos negros" são aquilo que fazes deles entre esse mundinho vil e escroto em que vives dentro das tuas quatro paredes. E pelo andar da carruagem, mais nuvens negras se avizinham nesse teu horizonte, que é tão curto. Pobre de ti.


O velho e a escola


E para terminar a semana em beleza, nada como o artigo de ontem do Hoje Macau. Esta semana com uma dedicatória especial à Escola Portuguesa de Macau, e algo mais. Bom fim-de-semana!

Em primeiro lugar gostava de deixar aqui uma palavra de apreço à Escola Portuguesa de Macau (EPM), que continua a dar o brado no ranking de escolas portuguesas no estrangeiro. Mérito daquela instituição de ensino, dos seus docentes e funcionários, e porque não dos próprios alunos e dos seus pais – parabéns a todos. A escola tem tudo para ser, como afirmou há meses o presidente do Conselho de Administração da Fundação da EPM, Roberto Carneiro, “o veículo para levar a Europa para dentro da China”.

Feitos os (mais que merecidos) elogios, permitam-me uma pequena dissertação sobre o que a EPM representa para mim, e aquilo que me faz sentir: velho. Tanto eu como o leitor que tem lá as suas crianças a estudar, ora há mais tempo ou recentemente, fica inevitavelmente com aquela sensação de que o tempo vai passando mais para nós do que para os miúdos. Para eles é um desabrochar, para nós são as folhas que vão caindo. O meu filho, por exemplo, já não é aquele pequenote que em tempos eu pegava ao colo com um braço; agora é ele que me levanta! Aquele adolescente agora com 16 anos e a frequentar o 10º ano passou de “meu tesourinho” a “o outro gajo que vive cá em casa” – isto como figura de retórica, claro.

E não é só ele, mas todos os seus coleguinhas, também. Macau é praticamente uma aldeia, e dentro da comunidade portuguesa conhecemos-nos praticamente a todos. Alguns dos colegas do meu filho vêm-no acompanhando desde o jardim de infância, e hoje olhando para o quanto eles cresceram, começo sinceramente a ver a areia da ampulheta do tempo a escoar, e a chegar ao fim. Quem diria que aqueles miúdos que me davam pelo joelho são hoje jovens cavalheiros e senhoritas? Os mesmos que quando os vi ainda não assim há tanto tempo quanto isso me mostravam o seu carrinho ou a sua boneca, e hoje ostentam uma espécie de barba, usam “piercings”, e respondem-nos com “iás”, e “tipo…”, quando falamos com eles? Ouvem música de artistas de que nunca ouvimos falar, guardam aqueles silêncios próprios da angústia juvenil, pois “nunca os conseguiríamos entender”. Sei lá, que diabo, a mim às vezes apetece-me sacudi-los, para saber onde anda aquela inocência que nos dava aquela confortável sensação de superioridade, e que para eles era (e ainda é, de algum modo), de dependência.

Não são assim tantas as vezes que preciso de me deslocar à EPM, e quando é mesmo necessário, acaba por ser uma chatice. Mas saio sempre de lá com aquela sensação de que sim, estou a ficar velho, e os miúdos estão aí para tomar o meu lugar. E ainda bem, pois quer dizer que o mundo continua a girar, e vai-se cumprindo o ciclo e a velha máxima do “filho és, pai serás”, etc. “And the cat’s in the cradle and the silver spoon…”.



quinta-feira, 25 de maio de 2017

Mata-Tigre


Este é o aspecto da Travessa do Mata-Tigre, perto da Barra, pelas nove horas da noite de TODOS OS DIAS. Numa via onde o trânsito não é permitido (os veículos são obrigados a descer até à Rua Almirante Sérgio), este é o lindo cenário, de motos estacionadas, até em frente a portões onde o estacionamento está claramente sinalizado como sendo proibido.


E o que faz o proprietário daquele estabelecimento todas as manhãs quando precisa de abrir o portão? Remova os motociclos, diz uns palavrões, e fica tudo na mesma. Assim anda o trânsito em Macau. Até quando está parado.



Nova Gente


Esta é uma coluna da revista Nova Gente desta semana, e fala daquilo QUE EU VENHO DIZENDO HÁ ANOS! Estás a ver, Hugo Gaspar? Então, quem é o "maluco" agora? Ah, bem...e mais está para vir. Muito, muito mais.



Mourinho invencível na Liga Europa


O Manchester United conquistou ontem a Liga Europa, ao derrotar na final de Estocolmo o Ajax de Amesterdão por 2-0, tornando-se assim o primeiro (e único) clube inglês a conquistar as três provas europeias - a Champions, a Liga Europa, e a já extinta Taça das Taças. Contra uma equipa holandesa bastante jovem, o Manchester United não fez uma partida de encher o olho, mas marcou nas alturas certas, pelo georgiano Mikhytaryan, e pelo francês Pogba. José Mourinho volta a vencer esta competição 14 anos depois de o ter feito pelo FC Porto, e da segunda vez que participou, o que leva a ter um registo imaculado na prova. Parabéns por mais esta conquista do treinador português.


terça-feira, 23 de maio de 2017

Canelas 2010 sobe aos nacionais


De mal a mal, lá estão eles: Macaco e companhia levaram o Canelas 2010 ao título de campeão da AF Porto. Isto vale por dizer que "o clube mais violento do mundo", como foi apelidado pela imprensa internacional, vai disputar na próxima época o Campeonato de Portugal, o terceiro escalão do futebol português, e disputar a Taça de Portugal. O Canelas goleou a equipa do Maia Lidador na 9ª jornada da fase de promoção dos distritais, e a uma jornada do fim garantiu a subida pelo segundo ano consecutivo, como demonstra a classificação actualizada da prova:


Portanto, está confirmado, pois mesmo que percam na última jornada na Rebordosa, os gaienses estão confirmados como campeões da série. Agora todo o resto, problemas de violência contra árbitros, equipas adversárias e afins, cabe às autoridades competentes resolver. Se eu acho bem ou mal? Não sou polícia, e muito menos juiz. 


Real Madrid campeão de Espanha


O Real Madrid sagrou-se no passado Domingo campeão de Espanha pela 32ª vez, conquistando um título que lhes vinha fugindo há cinco anos - a última vez havia sido em 2011/2012, com Mourinho ao comando dos "merengues". Na última ronda os madrilistas só precisavam de um empate em Málaga, mas Cristiano Ronaldo começou a resolver cedo as contas do campeonato, com um golo aos 2 minutos. O francês Karim Benzema marcou o segundo aos 55, e de pouco valeu a vitória do Barcelona em casa frente ao Eibar por 4-2, pois a equipa da capital terminou a prova com três pontos de vantagem sobre os seus rivais "blaugrana". Classificação final:


Myriam Lopes


E ainda a propósito do post anterior, sabiam que Salvador Sobral não foi o primeiro português a vencer o Festival da Eurovisão? Já em 1977 uma tal Myriam Lopes, conhecida pelo nome artístico Marie Myriam, venceu pela França, com o tema "L'oiseau et l'enfant". Myriam nasceu no antigo Congo belga, filha de pais portugueses, e foi ainda criança com os pais para França, chegou a viver durante a sua adolescência em Coimbra, e a sua língua materna é o português! Outro facto interessante é o de que a sua vitória foi a última da França no Festival, e já lá vão 40 anos. 


Os novos do Restelo - um desabafo


Tarda mas não falha, o artigo da última quinta-feira do Hoje Macau. E este é um tema que convém não deixar cair tão cedo :)

Portugal é que está a dar, e já não era sem tempo. Em menos de um ano matámos dois borregos: vencemos o Europeu de futebol e o Festival da Eurovisão. E ainda por cima este último num fim-de-semana em que o Papa esteve em Portugal, a propósito dos cem anos da menti…perdão, das aparições de Fátima. Seria este o quarto segredo de Fátima, caso tivessem havido mesmo outros três? Não interessa! A verdade é que com todo este banzé pode ser que um dia quando nos perguntarem de onde somos, possamos dizer “de Portugal” sem precisar de acrescentar “…fica ao lado da Espanha”. E para quem estiver a pensar que estou a ser velhaco, nada disso. Vencer o Festival da Eurovisão é uma daquelas coisas que os portugueses vaticinavam para o dia de S. Nunca à tarde – dia 30 de Fevereiro, para quem não sabe a que dia bate cada santo.

Há quem diga cobras e lagartos do Festival da Eurovisão, mas normalmente quem o faz quer dar a entender que tem um gosto musical erudito, que “ele é que percebe de música”, e tal. Aposto que muita gente não sabe que o tema “Nel blu dipinto di blue” (mais conhecido por “Vooolare, oh oh”), de Domenico Modugno, ficou em 3º lugar no Festival da Eurovisão em 1958. Quantos detractores do evento, que apelidam de “piroseira”, já cantaram isto no chuveiro? E “o zabba”? Sim, “o zabba”, o grupo mais popular da História logo a seguir aos Beatles. Não fosse pela Eurovisão e nunca tinham passado da sua nativa Suécia, onde cantavam naquela língua que mais parece que têm a boca cheia de favas. Nana Mouskouri, Julio Iglesias, Cliff Richard, Celine Dion, France Gall e muitos outros devem as suas carreiras de sucesso ao Festival. E agora também o nosso Salvador, o Sobral. E é impossível não se gostar daquela canção, e da carga emotiva como o rapaz a interpretou. Espera lá, eu disse impossível? Para o tuga que se preze tudo e nada é impossível ao mesmo tempo.

Quem não gosta e não liga ao Festival, e por isso está-se nas tintas, tem todo o direito a NÃO tugir nem mugir. Faz muitíssimo bem, e pode sempre mudar de canal. Entre estes há até quem tenha o discernimento e o bom senso de considerar a vitória de Portugal uma coisa boa em termos da promoção do país. Sempre são 200 milhões de telespectadores dos quatro cantos do mundo que vão para o ano assistir ao certame transmitido em directo de Portugal. Isto serve para o Festival como para outra coisa qualquer, que o tempo do “orgulhosamente sós” já lá vai. E ainda bem.

O problema aqui é que a minoria que fala mal é tudo menos silenciosa, e como é habitual nestas coisas das artes, além de não conseguir estar calada, diz tantos disparates que se torna impossível contemplar a obra em sossego. Ora é porque o rapaz “se veste mal”, ou porque “parece um mendigo”, ou ainda “porque esta canção não é de Festival”, dizem ainda os (des)entendidos na matéria. Tanto não é que ganhou, vejam lá vocês. Por incrível que pareça, e tal como sucedeu no Europeu de futebol no ano passado, houve quem tivesse ficado aborrecido por Portugal ter ganho, imaginem! Já sei, já sei, “não foi bem assim”. O que se passa é que a malta gosta de dar palpites e de ter razão no fim, e depois não há garganta para fazer passar tamanho melão. Tudo Freud explica. Afinal sempre foi mais de meio século a ver os outros ganhar e depois afirmar “Pois, eu não disse? Queriam o quê, ganhar? Não me façam rir”.

São os novos velhos do Restelo, que constantemente ressuscitam o cadáver do derrotismo, mesmo que este lhes implore para que o deixem morrer em paz. É o velho conto do pobre e mal agradecido, revisto e aumentado. De tão habituados que estão a não passar da cepa torta, desconfiam quando lhes sai a sorte grande. Porque “são vivos”, estão a ver? São de Olhão e jogam no Boavista, só que nem uma coisa nem outra. Nunca foram ao Algarve na vida e não sabem dar um chuto numa bola, isso sim.

Portugal é um país pequeno, com 10 milhões de alminhas – menos que muitas cidades da China – e de nós não se esperam mundos e fundos. A sério, não se espera mesmo. Faltam-nos os meios logísticos e humanos para ombrear com as grandes potências, o que é que querem? E é por esse mesmo motivo que nos devíamos orgulhar, e se calhar parar um bocadinho para pensar que se na bola e no Festival (já) não somos menos que os outros, quem sabe se chegou a hora de arregaçar as mangas, deitar mãos à obra, e mandar os impossíveis à fava, juntamente com os novos do Restelo que por aí abundam. Despeço-me com um agradecimento ao Salvador Sobral, que juntamente com os bravos rapazes que trouxeram o caneco de França no ano passado, provaram que se pode vencer, mesmo com esse tremendo handicap que é o de ter nascido português. Sois uma inspiração. Amén!




sábado, 20 de maio de 2017

O tufão abanou, mas não arrasou


Miguel Senna Fernandes, o irredutível encenador dos Dóçi Papiaçam di Macau.


Os Doçi Papiaçam di Macau levaram ontem e hoje ao palco do Centro Cultural de Macau a sua nova peça, "Sórti na téra di tufám" - "Sorte em terra de tufão", em português, ou ainda "Stormy luck", na tradução inglesa, o que faz lembrar o título de uma canção de "blues". Antes de passar à peça propriamente dita, gostava de deixar um reparo à organização do Festival de Artes de Macau, onde mais uma vez o espectáculo ficou integrado. Cheguei perto da hora, ainda esperei dois ou três minutos pela minha última parceira (fomos cinco, este ano), e sentá-mo-nos nos lugares ainda antes das 20 horas, e não tive tempo de fazer uma última "mudança de óleo", nos lavabos. Inicialmente isto não parecia constituir um problema, mas vinte minutos depois do início do espectáculo não deu mesmo para aguentar, e precisei de me ausentar da sala. Muito expeditos em me indicarem a saída, foram os seguranças do CC, mas inexplicavelmente fizeram-me esperar à porta cinco minutos (!) quando regressei, já aliviado. Perguntei-lhes o motivo, e explicaram-me que "são as regras". Isto só tem uma explicação: é castigo para quem tem chichi. Coisas de Macau. Adiante.

Sobre o espectáculo dos Dóçi deste ano, mais uma vez gostei, e agora que mais uma vez escrevo esta (modesta) crítica, nunca é demais repetir-me: é quiçá a única manifestação teatral manifestamente genuína "made in Macau". É mesmo possível que se trate até da única coisa que se faz em matéria de teatro propriamente dita, ponto final. Se no ano passado o encenador Miguel Senna Fernandes ousou aventurar-se -e com um surpreendente sucesso - pela área do "music-hall" com "Unga Chá di Sonho", este ano não nos deu música, mas contou-nos antes uma história que terá ficado um pouco aquém das expectativas. Não por culpa do Miguel, que é um amador no sentido do termo - "ama" o que faz - ou do seu elenco, mas notou-se que desta feita foram muitos os obstáculos que os Dóçi encontraram para cumprir com a sua missão anual de preservar o teatro maquista, como vem fazendo há quase um quarto de século (pasme-se).

O enredo era já por si razão para nos deixar a sorrir. Bernardo (José Basto da Silva) é um macaense que nunca teve muita sorte na vida, até ao dia em que ganhou o "Mark-Six", a versão local do Euromilhões. Quem vive deste lado e sabe do que se trata, sabe também que no caso do prémio ser uma avultada quantia, vale a pena ir buscar o prémio a Hong Kong, enquanto no caso de se acertar em três em quatro números, o prémio não chega para cobrir o preço da viagem. A sorte grande saiu a Bernardo, mas azar dos azares, o território encontrava-se sobre a influência de uma tempestade tropical severa, vulgo tufão, e todas as viagens de turbo-jet para o outro lado do Rio das Pérolas foram suspensas. Outra particularidade prende-se com o facto de qualquer pessoa que leve consigo o bilhete com os seis números sorteados possa levantar o prémio, pelo que convém exercer alguma discrição, não vão os "amigos do alheio" querer chamar a si a boa sorte, recorrendo para isso a meios menos, digamos, "lúdicos". Essa foi a mola que impulsionou o enredo central; Bernardo, um homem simples, longe de ser considerado pelos seus e pela comunidade em geral, vê-se subitamente rodeado de gente bem intencionada, que procurava apenas uma oportunidade para deitar a mão ao bilhete.

Agradou-me a ideia, bem como a escolha para o papel principal. José Basto da Silva tem "crescido e amadurecido" como actor, e desta vez foi segundado por outros que na maioria têm já uma enorme experiência nestas andanças. Desde Sónia Palmer a Rita Cabral, verdadeiros "dinossauros" (no bom sentido) dos Doçi, passando pelas habituais presenças de Alfredo Ritchie e José Carion Jr., sem esquecer os regressos, que se saúdam, das experientes Paula Carion e Fátima Gomes, e da jovem promessa Vítor Morais Lau. Não faltaram ainda Aleixo Siqueira, Sharoz Pernencar e Armando Ritchie, bem como Mariana Pereira e Chloé Faulon, que foram estreantes no ano passado, enquanto Ângela Ramos foi uma estreia absoluta. O actor Leon Lou Pui Leong, outro "resistente", voltou a desempenhar o papel de representante da comunidade chinesa de Macau. Era também o único que não tinha qualquer fala no dialecto maquista.

Com todo este material em palco, o que faltou para "Sórti na téra di tufám" levantar voo e se tornar num momento de teatro memorável? Em primeiro lugar, não se pode exigir nem dos Dóçi nem de ninguém que apresentem um trabalho melhor a cada ano que passa. Isso nem os Beatles conseguiram. Este ano a peça não foi má, mas esteve longe de ser uma das mais memoráveis, e vou ficar à espera de ver melhor no próximo ano. Notou-se este ano que houve quem sabe menos tempo de preparação, e é preciso mais uma vez ter em conta que nenhum dos actores em palco é profissional, e que em Macau não existe uma escola de teatro digna desse nome - é daquelas coisas em que "não vale a pena" investir, aparentemente. Fizeram o melhor que puderam, e a mais não são obrigados, e nós só temos que estar agradecidos. Outro factor que não ajudou nada a que "Sórti na téra di tufám" fosse um capítulo memorável na longa história do grupo foi o da legendagem. Ora não batia certo com as falas, ora em outros momentos foi simplesmente inexistente. Eu sei que me vão chamar de "maluco", mas os Dóçi mereciam que alguém investisse neles de modo a poderem trabalhar independentemente, sem depender do Festival de Artes. É uma utopia, eu sei, mas ainda se pode sonhar, ou não?

A habitual crítica social esteve presente, e em alguns casos provocou a gargalhada dos espectadores que encheram a sala do CC. Quando as legendas não falharam, enfim. Algumas das piadas eram algo datadas, correspondentes a acontecimentos locais e mundiais desde o ano passado, como o caso da eleição de Donald Trump, ou o próprio tema principal, os tufões (este ano ainda não tivemos nenhum). Gostei especialmente dos blocos especiais de informação que costumam dar na TV quando é içado o sinal nº 8 de tufão, e aqui parabéns ao Miguel por ter conseguido explorar bem aquela estranhíssima nota de rodapé que costuma passar no ecrã nessas alturas, onde se lê "breaking news" - quais "breaking news"?! O que faltou? Pode ser apenas a minha opinião, mas Sharoz Pernencar, por exemplo, tem um potencial que foi muito bem explorado no ano passado, mas este ano viu-se pouco. Esperava também mais de Vítor Morais Lau, que deixou saudades, mas a quem faltou um papel à altura. Notou-se a ausência (inesperada) de Carlos Anok Cabral, e que saudades de Marina Senna Fernandes, Deus meu. Já nem falo de Germano "Bibi" Guilherme ou José Luís Achiam, outros nomes que fizeram história no grupo.

Outra ausência, mas esta já no departamento da sétima-arte, foi a de Sérgio Pérez, que nos últimos anos havia sido o realizador de serviço nos vídeos do grupo, alguns deles memoráveis, e que podem ser encontrados no YouTube. Mas esta foi uma ausência que passou praticamente despercebida, uma vez que os filmes que os Dóçi costumam apresentar após o intervalo e no fim da peça foram excelentes, um melhor que o outro. No primeiro, destaque para Manuel Silvério, que este ano assumiu as despesas na representação, depois de já ter aparecido em alguns "cameos" em anos anteriores. O segundo foi arrebatador, e chegou quase a provocar ataques de riso na plateia. A ideia foi brilhante, a de fazer uma versão local dos vídeos "America first, outro-país-qualquer second", que foram moda durante algum tempo depois da eleição de Donald Trump para a Casa Branca. Este foi de longe o melhor de todos, uma vez que nenhum deles foi feito para ser levado a sério.

O público fiel ao Patuá, e que vem seguindo os Doçi há alguns anos não faltou, e tenho a certeza que continuará a marcar presença. Este ano não tive a oportunidade de falar com ninguém que tenha ido pela primeira vez, mas aí está, a primeira vez nunca se esquece, e com certeza que quem não conhecia gostou, e ficou cliente. Para o ano há mais, espero, e mau seria se não fosse. Mais uma vez os Dóçi estão de parabéns, ao desempenhar o seu papel de oásis neste deserto cultural, onde em vez de areia temos boas intenções - ou nem isso...


terça-feira, 16 de maio de 2017

Salvadormania


O Festival da Eurovisão deste ano foi visionado por milhões de espectadores nos quatro cantos do mundo, o que tornou Salvador Sobral uma celebridade universal. No México este "vlogger" torcia pela canção húngara, mas no momento da votação, demonstrou desta forma como se rendeu à representante portuguesa. Tão comovente como cómico.



segunda-feira, 15 de maio de 2017

Celui qui n'est pas elle


Na sequência do artigo anterior, deixo-vos com o artigo de quinta-feira do Hoje Macau. Uma excelente semana de trabalho para os leitores do Bairro do Oriente. 

Realizou-se no passado domingo a segunda volta das eleições presidenciais francesas, e vou poder finalmente falar do assunto sem ser apelidado de mil e uma coisas, como “esquerdalho” e “marxista” entre as mais simpáticas. Não que isso me inibisse de todo – só não estava para me chatear, pronto – mas há silêncios que depois sabem bem, recompensadores. Hmmm, cheirai os lírios dos campos onde o ar é salúbre porque os fascistas não mandam. E viva a União Europeia! Claro que esta não é uma vitória definitiva, pois a seguir vêm aí as legislativas, mas pronto, a casa não veio abaixo, e Macron fez bem o papel do “outro que não Le Pen”, ou no linguajar nativo da velha Gália, “celui qui n’est pas elle”.

E porque pouco importa o que Macron é, foi, ou representa, se é banqueiro, se foi socialista ou se casou com a s’tora e tem um enteado mais velho que ele. Não é ninguém em especial, é a “marca branca” na prateleira do supermercado, se quiserem. E ainda bem que preferiram essa, pois a outra, a “de marca”, já há muito que passou do prazo de validade. O projecto da sra. Le Pen e da sua Frente Nacional não é um projecto; é um anti-projecto. Suportada na revolta daqueles a quem esta democracia nada deu (e muitos simplesmente porque nada investiram), a plataforma da FN é baseada numa política de terra queimada, do baralha e torna a dar, do medo e da intimidação. E no fundo deste fétido vespeiro jaz a rainha vespa, parideira de assassinas: a imigração.

Foi fácil identificar os desiludidos com a derrota de Le Pen nas redes sociais. São os tais que andam já a algum tempo a pedir se chovem…atentados. Agora dizem que a França “acabou”, e que “se rendeu ao Islã” (estes eram brasileiros, acho), e querem que tudo rebente à grande e à francesa! Para quê? Para depois dizerem que tinham razão, ora essa. São uns queridos. A sério, não vejo mais ninguém a fazer claque pelos terroristas e a pedir que aconteçam atentados do que estes. E vergonha na cara, temos hoje ou não havia na praça?

E Macron, o tal que não Le Pen, pode ser jovem, alto ou baixo, e por acaso tem uns olhos todos giraços, o franciú, não interessa – é a vontade da democracia que tanto desprezam, por isso respeitem-na, pázinhos. É a vontade de quem continua a acreditar num projecto que representa oito décadas de paz, e rejeita o retrocesso ao tempo da barra dura, dos muros, dos murros e dos burros, das “limpezas da casa” que são tudo menos limpas, e que é aquilo que Le Pen e a sua FN pretendem trazer, ao vivo e as cores. Faltam as legislativas, é verdade, mas esta batalha está ganha. Não me vêem a dizer isto muito frequência, mas desta vez lá vai: Vive la France!

PS: Não podia terminar sem deixar um grande bem-haja ao director deste jornal, ainda o diário da liberdade (já viram que até parece o Liberátion e tudo, ah ah), por ter a coragem de romper o silêncio confrangedor a que a imprensa estrangeira da região se tem remetido quanto a estes temas, digamos, “distantes”. No programa de debate da TDM do último Domingo, o exmo. Sr. director teve digno gesto de recordar as alminhas adormecidas ou atordoadas, que muita da propaganda destes movimentos fascistas é baseada em notícias falsas, em mentiras. É bom que se tenha dado este murro na mesa “in public”, e nem era preciso ir muito longe – basta verificar a veracidade dos factos e começar a pôr de parte as fontes de água poluta. Para quem mesmo assim prefere a contra-informação, não sei o que mais lhe diga. Olhe, boa sorte?


Porcos, sujos e fakes


Isto, que nem sei o que lhe chamar, tem andado a circular nas redes sociais desde ontem, e é deveras lamentável. É óbvio que o presidente Macron, que ontem tomou posse no Eliseu, nunca disse tal coisa. Isto é mais uma invenção de gente doente que vive obcecada com o Islão, vê conspirações parvas em toda a parte, e tem uma agenda pérfida que visa colocar a opinião pública contra os órgãos de soberania, e eventualmente contra as autoridades. Só assim se explica o facto de algo deste género só aparecer depois de Macron ter sido eleito, e em alternativa a explicação é ainda mais simples - é gente muuuito burrinha, esta. "Provas"? Como sempre, aqui vai.


Se estiverem mesmo interessados em tirar as dúvidas, podem ir a este link, onde se analisa a origem e a veracidade deste tipo de lixo, "memes" e afins. Lá encontra-se também umas das poucas declarações que Macron fez a respeito deste assunto - o tipo tem um programa que passa por muita coisa além de "combater o Islão" e a saída da União Europeia, ao contrário da sua adversária. Foi um sapo que os fascistas tiveram que engolir, este, pois apesar do candidato vencedor ter "casado com a professora", nunca puderam pegar nesta "fraqueza", pois a sra. Le Pen é divorciada, mete-se na cama com os esbirros da FN, e actualmente vive com um deles. E tenho a certeza que Macron nunca desceria tão baixo ao ponto de recorrer ao mesmo tipo de ataques pessoais que os fascistas. Quanto a estes, quando se junta a falta de argumentos aos telhados de vidro, ficam mansinhos que nem cordeirinhos. É m-e-n-t-i-r-a que o presidente da França tivesse alguma vez dito ou sugerido uma barbaridade como aquela que vemos na imagem em cima deste post. Se pensou? Sei lá! E eu tenho poderes telepáticos para saber o que cada um pensa? Quem passa a vida a pensar no Islão são os autores daquela linda brincadeira. Isso e fazer claque para que aconteçam mais atentados terroristas. Tristes. E há mais isto:


Ora bem, eu não estou a defender o Pedro Passos Coelho, a Assunção Cristas, ou ninguém, mas isto é uma brincadeira - detecta-se a olho nu. Só por terem balõezinhos a sair das cabeças com coisas lá escritas, não significa que tenham realmente dito aquilo. Vi gente indignada, insultos aos dois, chiça, um ver-se-te-avias. Não quero fazer aqui o papel de apaziguador, ou de santo, mas por favor sejamos honestos. O seu a seu dono, e ninguém deve pagar por aquilo que não fez. Se não entenderam bem o que quero dizer com tudo isto, proponho um exercício fácil: ponham-se no lugar destas pessoas. Sejam justos.



domingo, 14 de maio de 2017

Salvação em Kiev


Toma, Eurovisão, toma! Já está! Em dois anos, Portugal matou dois borregos: venceu o europeu de futebol, e ganhou o Festival da Eurovisão. Vivemos a época mais gloriosa desde o tempo dos Descobrimentos, meus amigos! Só que sem o escorbuto e a escravatura, o que é bom, diga-se em abono da verdade. Ontem em Kiev enterrou-se machado que todos os portugueses da minha geração e mais velhos tinham espetados nas costas. Depois de décadas de humilhação, a ver países como a Letónia, Azerbaijão, Estónia e Ucrânia (duas vezes!) a ganhar o prémio de melhor canção da Europa, eis que Salvador Sobral, até há alguns meses um ilustre desconhecido, acerta as contas com a História, e ganhar um certame onde o melhor resultado que havíamos obtido foi um 6º lugar em 1996, com Lúcia Moniz. Confesso que nunca pensei que assistiria a algo assim durante o meu tempo neste mundo, mas tinha uma forte esperança que fosse desta, e ontem durante o Festival esta ficou reforçada.


Este foi na minha opinião um dos anos mais fracos de sempre na Eurovisão, mas isso não retira um grama de mérito à vitória de Salvador Sobral, que GOLEOU, quer no voto do júri, quer no tele-voto. (Sinceramente não entendo porque é que se regressou ao sistema de júri, se o Chipre dá 12 pontos à Grécia e vice-versa, de qualquer jeito). A receita é simples; no meio de tantos "props", "gimmicks" e efeitos especiais em palco, o nosso representante foi lá, cantou e encantou. Não estaria a exagerar se dissesse que Portugal foi a única participação que colocou a música e interpretação em primeiro lugar, e quando é assim, o primeiro lugar na classificação final é mais que justificado. Pode até dar-se o caso deste "Amar pelos dois", vencedor deste ano, seja o ponto de partida para uma "revolução" no próprio festival, e que a partir de agora os países concorrentes comecem a investir mais na vertente artística, e larguem os expedientes circenses.


E claro que não podia faltar os Adamastores, em mais esta epopeia lusitana: os indivíduos que se escondem cobardemente atrás de perfis falsos no Facebook, debitando verborreia deste calibre. E chamo-lhes cobardes não porque esteja interessado em saber como é o focinho das criaturas, mas porque muitos deles são pessoas "comuns", que têm amor ao emprego e à vida social, abstendo-se por isso de tornar públicas estas afirmações dignas de doentes mentais. Em suma, querem continuar a frequentar os bailaricos do multi-culturalismo, e parecer meninos e meninas bem, mas no fundo são uns escroques. Pessoas nada recomendáveis.


E onde há Adamastores, há velhos do Restelo. Quanto a estes, bem, coitados. Acredito que muita gente que disse horrores do Salvador Sobral, da sua aparência, ou da própria canção que ele defendeu foi simplesmente "na onda", e a malta gosta de ter razão, enfim, produzir um "eu não disse?" face à derrota. Não os censuro, pois afinal sempre foram 54 anos a ver os outros a ganhar, e posto isto não há razão para apostar no cavalo que nunca cortou a meta em primeiro. Aconteceu exactamente o mesmo no ano passado durante o Euro. Não precisam de pedir desculpa, mas pode ser que a partir de agora se confie um bocadinho mais na capacidade dos portugueses. Sabemos fazer as coisas bem feitas quando queremos, e isto tanto serve para a bola, como para a Eurovisão, como para outra coisa qualquer. Obrigado, Salvador.


O tetra e os cabeçudos


O Benfica sagrou-se pela 36ª vez campeão nacional de futebol em Portugal, e pela quarta vez consecutiva, o que acontece pela primeira vez na história daquele clube de um bairro da capital. Ontem bastava uma vitória na recepção ao quarto classificado, o V. Guimarães, e em caso de empate ou derrota o FC Porto ainda mantinha (ténues) esperanças de destronar os encarnados. As dúvidas ficaram cedo dissipadas, pois o Benfica já vencia por 2-0 aos 16 minutos, e por 4-0 (!) ao intervalo - repito, contra o quarto classificado, que tinha até ontem possibilidades matemáticas de alcançar o Sporting no 3º lugar. Nos tempos gloriosos do Benfica, nos anos 60 e 70 (e até boa parte da década de 80), dizia-se do último clube que ia jogar à Luz nas épocas em que o Benfica era campeão que eram "os cabeçudos" - porque vinham animar a festa, portanto. Ontem o Vitória desempenhou esse papel na perfeição. Ah, e na final da Taça de Portugal os dois clubes encontram-se novamente, e prevê-se mais do mesmo.


sábado, 13 de maio de 2017

O fenómeno Oriol Ansina


Este simpático senhor na imagem é Oriol Ansina, um treinador de futebol catalão que se tornou um autêntico fenómeno em Espanha. Nascido em Arenys de Mar, província de Barcelona, Asina fez toda a sua carreira de futebolista nos escalões regionais da Catalunha, e quando "pendurou as chuteiras" em 1997, aos 29 anos, foi treinar o último clube que representou como jogador, o Unió Esportiva Llagostera, que disputava a terceira divisão terrotorial catalã - o nono escalão. Mal ele e os pouco mais de 8 mil habitantes daquela localidade da província de Girona sonhavam que aquele era o início de uma grande aventura.


Depois de vários anos nas ligas regionais, o Llagostera começou a "engrenar" em 2006, quando subiu ao sétimo escalão, e a partir daí foi só preciso esperar mais seis anos para que o clube ascendesse pela primeira vez na sua história aos campeonatos nacionais, neste caso à 2ª divisão. Isto colocou vários problemas àquela diminuta entidade desportiva, que tinha um relvado sintético, o que não era permitido, e ao próprio Alsina, que não tinha credenciais para treinar no terceiro escalão. O Llagostera resolveu o primeiro problema instalando um tapete verde natural, e colocando no banco o técnico Lluís Carrillo, enquanto Alsina ficava como director-desportivo, mas treinador de facto da equipa principal de futebol.


A 2ª divisão B parecia uma missão impossível para um clube da dimensão do Llagostera, e de facto os catalães só ficaram neste escalão dois anos, porque em 2013/2014 o ainda mais impensável aconteceu: a subida à II Divisão. Com um orçamento diminuto e uma "afición" que não chegava para encher uma bancada da maior parte dos estádios onde jogava, e já com um "acreditado" Alsina no banco, o Llagostera obteve um excelente nono lugar na época de estreia na divisão de prata, a quatro pontos de um lugar nos "play-off" de acesso à Liga BBVA. No ano seguinte as coisas correram menos bem, e o Llagostera regressou ao terceiro escalão.


Este ano, já com os pés mais assentes no chão e ainda com Alsina no comando da equipa, o Llagostera garantiu a semana passada a manutenção no Grupo 3 da II divisão "B", e o mítico treinador do emblema catalão aproveitou para anunciar a sua saída no final da temporada. Alsina pediu desculpa por não ter conseguido levar o clube à primeira, e diz que está aberto a convites "de grandes clubes" - tão bem humorado que ele é. Mas pode-se dizer que estes vinte anos no Llagostera projectaram o nome de Alsina, que agora está disposto a ir fazer milagres para onde estejam interessados em requisitar os seus serviços. Estará mais alguma equipa dos escalões inferiores da Espanha interessada em sair do anonimato?


A bonita lição do GNR no Montijo



Ainda a propósito deste artigo da última quarta-feira, decidi "roubar" esta opinião do jornalista Francisco Teixeira da Mota, publicada na edição de ontem do jornal Público, que subscrevo na totalidade.

As imagens da actuação do militar da GNR, que se viu compelido a intervir na repartição das Finanças do Montijo para garantir a segurança dos cidadãos, reconfortam qualquer pessoa dotada de um mínimo de sensibilidade.

Em primeiro lugar, nesta altura em que os riscos de um ataque terrorista são particularmente elevados com a deslocação ao nosso país do chefe máximo da Igreja Católica, não pode deixar de ser um bálsamo para os nossos olhos e para as nossas psiques ver a forma como um agente de autoridade, não hesitando em colocar em risco a sua própria vida, atalhou de forma segura aquilo que, não podemos duvidar porque as imagens não mentem, iria descambar numa espiral de violência com consequências absolutamente imprevisíveis tanto a nível de vidas humanas como de estragos materiais.

É fácil, agora, afirmar que o cidadão brasileiro em causa não tinha consigo mais nenhuma arma perigosa para além do telemóvel, mas, na altura dos factos, no calor dos acontecimentos, no meio daquela multidão descontrolada que todos pudemos ver, em que, de um momento para o outro, poderíamos estar na presença de uma verdadeira chacina, foi necessário muito sangue-frio para actuar de uma forma tão branda, contida e eficaz.

Mas não foi só a nível da segurança que nos sentimos reconfortados ao sermos brindados com uma exibição, ao vivo, da manobra de estrangulamento chamada mata-leão, aplicada de forma exímia em condições particularmente difíceis. Reconfortou-nos a todos, estou certo, saber que esta manobra de estrangulamento visou, em primeira linha, proteger as funcionárias do serviço de Finanças de uma “atitude imprópria e ofensiva” do cidadão que, de telemóvel em punho, optara por enveredar pela senda do crime. Para o guarda da GNR, numa atitude de benevolência ou mesmo de compaixão, o cidadão em causa estará somente indiciado pela prática dos crimes de desobediência e coacção de funcionário. Pessoalmente, face à violência das imagens, estou convencido que não daria muito trabalho descobrir indícios da prática de outros crimes.

Acresce que, no meu caso, ignorava completamente a existência desta manobra mata-leão e, assim, fiquei mais culto, para além de ter apreciado, com natural deleite, a manobra em si. Mas o acréscimo cultural que este evento me trouxe, as benesses espirituais de que pude usufruir, não se esgotaram na mera apreciação estética da manobra em si.

Na verdade, com este workshop nos serviços de finanças do Montijo, tive direito a uma aula de direito de imagem que durante muito tempo perdurará na minha retina. E não foram necessárias grandes palavras ou explicações para qualquer pessoa passar a perceber o que é este direito: há uma coisa que se chama direito de imagem, explicou, de forma cordata, o guarda da GNR enquanto aplicava a referida manobra de estrangulamento. Ficou alguma dúvida quanto à existência desse direito? Quanto aos seus exactos contornos? Será necessário mais um aperto na objectiva?

Contudo, nas universidades de Direito do nosso país debate-se até à eternidade os contornos do direito à imagem, que é um direito relativamente recente, com alguma complexidade e com muitas zonas ainda em construção. Para quê? Pura perda de tempo. Basta frequentar um workshop no Montijo para não restarem quaisquer dúvidas sobre a importância deste direito.

Mas se a actuação deste guarda da GNR foi, indiscutivelmente, gratificante e reconfortante em termos de segurança e de cultura para todos nós, importa também realçar a sua delicadeza e civismo, a forma como face à atitude violenta, desordeira, agressiva, absolutamente primária do cidadão em causa, se lhe dirigiu de uma forma quase terna, procurando dar-lhe a mão: “Lindo menino, a partir deste momento estás detido.”

Procurei nos manuais de actuação policial de muitos países do mundo, inclusive em países de tradição budista como a Tailândia ou de grande tradição cívica como a Suíça, mas em nenhum encontrei uma forma de dar uma ordem de prisão tão afectiva e respeitadora do outro. Claro que haverá sempre os eternos insatisfeitos que irão descobrir nestes acontecimentos motivos para censurar a actuação do guarda da GNR, mas isso, claro, é gente que ainda não sabe o que é o direito de imagem.



Hoje não falo de Fátima


Este ano no 13 de Maio não falo de Fátima, porque quem se repete constantemente são os velhos gágás e senis. Quem estiver interessado em saber o que eu penso, vá aqui.


sexta-feira, 12 de maio de 2017

Eleições francesas: a semana seguinte


Estas são algumas das reacções à vitória de Macron que observei durante esta semana nas redes sociais, e a selecção foi absolutamente aleatória - são CENTENAS de comentários desta estirpe com que deparei desde a última segunda-feira. Entre esta onda de ressabiamento, não foi difícil encontrar muitos dos "camaradas" que ainda há alguns meses se indignavam contra aqueles que protestavam a vitória de Donald Trump nas presidenciais americanas, e ainda lhe acrescentavam "lições de democracia", pedindo que "respeitassem a vontade do eleitorado americano", o tal cuja maioria não escolheu Trump, se estão ainda recordados. Ó a ironia. Mas há alguns que merecem honras de destaque, como o deste "velho conhecido".


Este merece um desconto, pois como se sabe, ficou traumatizado com o falecimento do cão, tragédia macaca que nunca conseguiu ultrapassar. Mas não deixa de ser curioso observar esse fogo de artifício que é a caixa dos fusíveis do homenzinho a estoirar. Ele é "França islâmica", "guerra civil", "afiar facas", fazer listas de nomes de pessoas que quer eliminar, à boa maneira estalinista, e claro, desejar que aconteçam mais atentados terroristas. Só assim é que o homem tem razão, e depois diz "toma, toma", então? É típico, tal como isto:


Ena, o que para aqui vai, "abuso de poder". Pois é pá, em rigor o prof. Marcelo Rebelo de Sousa não tinha uma procuração deste indivíduo para transmitir os parabéns ao recém-eleito presidente francês, pelo que proponho duas alternativas: 1) O amigo pode fazer uma declaração de que não dá os parabéns ao presidente-eleito Macron, para que depois o prof. Marcelo a leia (espere por ele sentado, já agora), e 2) Queixar-se aos tribunais do tal crime de abuso de poder. Não se esqueça é do nariz redondo vermelho, senão ainda o levam a sério. E agora, "same same but different":


Este comentário é completamente delirante, mas vindo de quem veio, não me surpreende nada, nadinha mesmo. Portanto, quem é francês de origem (ver a etiqueta) e votou no Macron "ou noutro partido do sistema é "tecnicamente responsável por toda e qualquer vítima francesa do terrorismo islâmico". Como isso ainda era pouco, mais à frente o pitoresco pê-ene-érrico aumenta a parada para "parte da culpa pelas vítimas do terrorismo islâmico em solo europeu que vitime europeus". A este ponto gostaria de garantir que este tipo está a falar a sério. Ali pelo meio entra uma analogia esquisita, com uma comparação entre votar em Le Pen e a prevenção rodoviária, onde votar em Macron é equiparado a "beber umas mines" e depois conduzir. "A eleição de Le Pen não acabaria com o terrorismo de repente"??? Ah não, isso é que não pode ser. Pela lógica do menino, caso fosse eleita e depois acontecesse um incidente, por mais insignificante que fosse (ex: um islâmico chama "pêga" a uma francesa loira com cueca de gola alta quando esta estiver a passa pela Torre Eiffel), a sra. Le Pen teria que ser julgada por crimes contra a humanidade. Afinal a sua plataforma assenta exactamente nesse pressuposto, que depois leva tipos deste calibre a tentar convencer toda a gente que o Islão está-lhe a tocar à campainha, e com uma bomba atrás das costas. E como cereja no topo deste intragável bolo...


...Fernando Duarte Rocha, aliás Nandinho, aliás O Bofe, aquele indivíduo desempregado que passa a vida a mandar postas de pescada sobre quem é mau e quem é péssimo em nome da mulher, a actriz Maria Vieira. Ou não, o que me levaria a questionar porque é que alguém como a Maria Vieira vem defender ideias recorrentes da eugenia nazi, quando seria com toda a certeza usada como acendalha nos formos crematórios. Com a islamófobia sempre como cabeça de cartaz, reparem ali em baixo no fino recorte da conclusão àquela oração satânica: "Que Deus proteja todos os cidadãos europeus, descendentes de nativos europeus". Hail Nando! E se dúvidas restassem...


Ó Nando, então? "Cada um tem aquilo que merece...parrachitas!". Assim não enganas um ceguinho e surdinho, ó mosca-vide. Eu também sou partidário dessa máxima de que cada um tem aquilo que merece - o que é que tu achas que mereces, ó Nandinho? 

Os meus amigos apoiantes de Le Pen por motivos "diversos" que me desculpem, mas isto é o que é, e mais nada. Pode ser que as motivações fossem outras, recuperação da soberania e identidade, votar anti-sistema, aquilo que vos apetecer, mas o pacote completo inclui ISTO, quer queiram, quer não. Eu diria que contém basicamente isto e pouco mais, se alguma coisa de todo. Só que ao contrário do nosso amigo Carvalhana (salvo seja), não vos vou acusar de nada, nem de os pré-responsabilizar pelo desastre que representa esta ideologia macabra. Tirem vocês as vossas próprias conclusões.


quinta-feira, 11 de maio de 2017

Real e Juve na final


Real Madrid e Juventus vão discutir o título europeu entre si no próximo dia 3 de Junho em Cardiff, na final da Liga dos Campeões. O Real Madrid foi a casa dos vizinhos do Atletico com uma vantagem de três golos, todos obtidos por Cristiano Ronaldo no jogo da primeira mão, mas nem por isso deixou de apanhar um susto, quando os "colchoneros" se colocaram em vantagem por 2-0 aos 16 minutos. O extremo Isco pôs água na fervura do Calderón, quando reduziu para o Real Madrid a três minutos do intervalo, o que deixava a equipa de Diego Simeone a precisar de três golos no segundo, o que não chegou a acontecer. Nem um.


Já ontem a Juventus tinha carimbado o passaporte para o País de Gales, repetindo o triunfo da primeira mão sobre os franceses do Mónaco, com a diferença a residir apenas no golo de honra apontado pelo sensacional Kylian Mbappe, de apenas de 18 anos. Foi o único golo consentido pelos transalpinos em 2017 na Champions, e prevê-se dificuldades sérias para CR7 e Cia. abrirem aquela "caixa-forte" da Juve, que conta também com o veterano lateral brasileiro Dani Alves em grande forma. No dia 3 logo se vê.


quarta-feira, 10 de maio de 2017

BB


Mentia se dissesse que era "grande fã", ou algum leitor incondicional do jornalista e escritor Armando Baptista-Bastos, desaparecido ontem aos 86 anos. Não sou bem dos tempos áureos do senhor, nasci muito depois disso, e a primeira vez que o vi foi no painel de júri num concurso de televisão apresentado por Fialho Gouveia ("Com pés e cabeça", se não estou em erro?). Gostava da figura, contudo. Um homem das letras, sensível, relativamente discreto, e helàs, figura conotada com a esquerda. Ficará pelo menos imortalizado pela caricatura feita por Herman José nos anos 90, "o Bastos", na sequência de uma série de entrevistas que o jornalista fez para o Público, e onde perguntava aos entrevistados "onde estavam no 25 de Abril". Era portanto, e conforme a paródia hermanesca - um combatente anti-fascista. Falando a sério, foi um opositor da ditadura, foi censurado, a PIDE tornou-o "inempregável", em suma, passou por tudo aquilo pelo que muitos passaram, indiferentemente da sua ideologia política (a não ser o "carneirismo", essa passava). O que eu não entendo são coisas como esta, esta...reacção panfletária!


Isto li na secção de comentários à notícia do falecimento do BB, no site da Renascença (link aqui). Alguém me consegue explicar que bosta é aquela que ali vai, e que vem acompanhada do auto-descritivo cabeçalho onde se lê "Lamentável"?! Deveras. Quer dizer que o jornalista Baptista-Bastos "jamais poderia ser um antifascista ou anti-ditador", porque ideologicamente era pior?! Planeou o quê??? Se ainda se estivesse aqui a falar do Saramago, ainda dava para olhar para o lado e assobiar a canção do pateta, mas, o pobre do BB? Aquele que não conseguia falar alto e usava um "papillon"? Perdoa-os, ó BB, que eu nunca leram um livro teu. Ou qualquer outro, para esse efeito.



Jairzinho e o "manes do Muntije"


Este é o vídeo integral e não-editado que mostra a agressão de um militar da GNR a um utente da Repartição de Finanças do Montijo, ontem, terça-feira. O utente, um brasileiro de nome Jair Costa, a residir em Portugal desde 2014, desentende-se com uma funcionária, gera-se uma pequena discussão, e no momento em que o garboso utente decide expressar a sua, ahem, "ralação" ao vídeo e ao vivo no Facebook, é abordado por um guarda, que depois de uma conversa de um minuto e meio com Jair, decide que a cabeça do brasileiro lhe ficava mal agarrada ao pescoço, e tenta arrancá-la, até o desgraçado perder os sentidos. Fui lendo durante o dia de hoje que aquilo se trata de uma técnica de defesa pessoal chamada de "mata-leão", e eu duvido. Se tivesse sido bem executada, não tinha demorado mais tempo de que uma matança caseira do leitão. O homem estrebucha ali preso nos braços do Rambo de ocasião, e ainda dá tempo para escutar as funcionárias da fazenda montijense a pedir ao imbecil que parasse de estrangular o brasileiro - umas cinquenta vezes.

Eu sou 1) funcionário público, e 2) do Montijo, portanto isto faz de mim mais do que uma autoridade nesta matéria. Faz de mim um pequeno-Buda do assunto, que tal? Não dá para saber o que passou antes do Jair entrar "live" das finanças do Montijo, mas seja como for o Jair é uma besta. Nem que seja pelo facto de desatar a cometer o crime de recolha e divulgação ilícita de imagem, com a agravante de o fazer numa repartição pública - seja qual foi o bicho que lhe mordeu, não é a cometer crimes que se vai ter razão, dê por onde der. Não interessa, pois o utente delinquente foi apresentado a um juiz na manhã de hoje, e indiciado dos crimes de coação a funcionário e desobediência às autoridades, o que torna ainda mais difícil de explicar porque carga de água foi aquele idiota do agente meter-se num sarilho ainda maior! Que diabo, o tipo estava armado, mas só em parvo, o que não é uma arma de fogo nem um objecto contundente. Indo até à página do Jair, dá a entender que ele é um adepto daquele grupo que agita frequentemente bandeiras da Lituânia, o que pode explicar alguma, digamos, "postura agressiva" por parte do agora autuado e igualmente queixoso. Quer dizer, o sr. guarda estava a tentar impressionar quem, com aquela bonita figura? As meninas da repartição de finanças do Montijo, ou o próprio Jair? Tanta falta, que faz a escola...


terça-feira, 9 de maio de 2017

segunda-feira, 8 de maio de 2017

O presidente, o aziado e o comediante




Obrigado, França! 





Cristiano Portugaldo



Como não é tarde nem é cedo, aqui fica o artigo da última quinta-feira do Hoje Macau. Esta semana há mais.

Das viagens que tenho feito pela Ásia próxima (a Ásia próxima daqui, portanto), em todos os lugares há um nome com que os nativos se identificam quando lhes deixo saber a minha nacionalidade: Cristiano Ronaldo. Todos não, e não vos vou mentir; a Índia, onde o desporto mais popular é o intragável Cricket, o melhor jogador de futebol do mundo é relegado para segundo plano, até em termos de Portugalidade – Vasco da Gama ainda é o português com que muitos indianos ainda mais se identifica. De resto, seja no Cambodja, no Laos, no Vietname ou no Myanmar, qualquer adepto do desporto-rei ou pirralho que goste de dar uns toques na bola associa a palavra “Portugal” ao seu ídolo: é aquele país pelo qual Cristiano Ronaldo joga no mundial de futebol. De qualquer outra forma, nem nunca teriam ouvido falar de nós, ou pensavam que “ficávamos na Espanha”, como os broncos dos americanos. Mas têm alguma dúvida disso, meus caros?

Não é por acaso que Cristiano Ronaldo é a lenda, e ontem (madrugada de quarta-feira em Macau) encarregou-se de reforçá-la, assinando mais uma épica exibição na primeira mão da meia-final da Liga dos Campeões. Para quem não sabe ou não quer saber, esta Liga dos Campeões é a competição de clubes de futebol mais importante do planeta, e em tempos de (relativa) paz, e longe da era das lutas de gladiadores, é o palco onde se decide quem são os bravos entre os homens. Marcou mais um “hat-trick”, quebrou mais não sei quantos recordes, igualou outros tantos, marcou mais de 400 pelo Real Madrid, sei lá, para quem não se rende aos factos, renda-se pelo menos aos números. Estamos aqui a falar do melhor marcador de sempre da competição de clubes mais importante do planeta.

E foram golos de antologia, aqueles, dignos de constar de um eventual futuro museu da modalidade, numa distopia onde as guerras se substituíram ao futebol para eleger os maiores entre as nações. No primeiro sobe ao terceiro andar num cruzamento, enquanto o defesa que o marcava, um tal Savic, só consegue chegar ao segundo, não evitando que a redonda acabe no fundo das malhas da baliza de um tal Oblak (pelo nome até parece um oficial das SS, e para efeitos dramáticos digamos que faz de conta que é). No segundo e no terceiro demonstra toda a sua inteligência, qual mestre de xadrez, mas muito mais atlético, rápido e ágil. Uma bola que lhe salta à frente, e ele prepara um remate que fuzila o nefasto Herr Oblak; e depois uma outra em que recebe um passe que podia ter finalizado de calcanhar, mas prefere parar a bola e marcar um mini-penalty ao então moribundo guardião do Atlético de Madrid, e oficial nazi nas horas vagas. Nem é preciso gostar-se de futebol para apreciar isto como arte, minha gente.

Não surpreende que só Vasco da Gama possa competir com Cristiano Ronaldo como figura de proa de Portugal e dos portugueses; destes últimos, qual o que fez tanto ou uma décima parte para prestigiar o nome do país lá fora? Mas há quem não se convença, por incrível que pareça, e se a inveja está à cabeça dos motivos que levam a todo o desdém (ao ponto de se idolatrarem anões argentinos, numa súbita queda para o circo), outras razões para que se desdiga do nosso herói da bola incluem o facto de ter sido formado pelo clube rival. Em suma, tudo notas de rodapé, e não acredito que alguém nos confins do mundo que adora Ronaldo saiba sequer o que é o Sporting – os lagartos que me desculpem, mas é assim. A embirração chegou ao ponto de se protestar que se tenha atribuído o nome do jogador ao aeroporto do Funchal, na sua Madeira natal. Eu por mim rebaptizava o país inteiro com o nome do Cristiano Ronaldo, com uma breca. E fica já aí no título uma boa sugestão para o nome da nação. Agora, não sei é se o próprio CR7 nos dava essa honra. E sabem o que mais? Aposto que dava, como tem sempre dado tudo pelo nome do país cujas armas sempre orgulhosamente ostentou ao peito. Ele nunca pediu nada em troca, pois não?


sábado, 6 de maio de 2017

Sequinho e à sombra


Obrigadinho pelo aviso, ó Facebook, mas mais uma vez não me vou afastar um raio de mais de 20 metros da minha cama, neste fim-de-semana. 


Le Pen e os sikhs


Pois bem, e agora também sabemos em quem os 10 mil sikhs franceses vão votar: em Emmanuel Macron. A sra. Le Pen pelo menos não deixa de ter razão numa coisa, pasme-se; os seguidores do sikhismo na França não são assim tantos que valha a pena investir nesse segmento do eleitorado. São apenas um quarto dos "sikh" ingleses, e um terço dos americanos. Na Índia, onde estive recentemente, são 22 milhões, a quinta religião mais seguida do país, e apesar de representarem menos de 2% da população indiana, 9 em cada 10 sikhs do planeta são indianos.



Esta é a khanda, o símbolo do sikhismo, uma seita fundada no século XVI pelo Guru Nanak. Como é um seita que se separou originalmente do islamismo, a indumentária é recorrente do mesmo, nomeadamente o uso do turbante e da barba, nos homens, enquanto as mulheres se quedam por vestidos discretos, mas nada de burkas e afins. Apesar da aparência "ameaçadora" para grande parte dos padrões ocidentais, os sikh são uma gente pacífica - o motorista que nos levou ao Taj Mahal e depois de volta a Nova Deli era sikh. Não surpreende portanto que a sra. Le Pen não tenha notícias deles. É que um dos pilares onde assenta o sikhismo é "levar uma vida honesta e auferir honorários honestamente", portanto é possível que a líder da FN não conheça nada sobre deles, de todo.


A imposição do imposto


Mais uma vez, não podia estar menos de acordo com mais este delírio do partido hilariante. Desta feita faz-se um ataque ao habitual conjunto de iniciativas culturais realizado pela Câmara Municipal de Lisboa, e que são "contra" o "ideário nacionalista" (?), por conterem referências "multiculturais e esquerdistas", dando-se como exemplo os "arrais" (deve ser "arraiais") gay. Como já vem sendo habitual nestes casos, o PNR faz um truque infantil de prestigiditação, fazendo mira ao "bolso dos portugueses", que assim "pagam com os seus impostos" por coisas que eventualmente não lhes dizem respeito, ou que não gostam. Ora ainda bem que isto aconteceu, pois assim posso finalmente dizer o que penso disto dos "nossos impostos", e do que é ou não é pago "com o dinheiro de todos".

Esta propaganda (triste, nunca é demais referir), "paga pelo dinheiro de todos blá blá blá" (não interessa...), insere-se na campanha do presidente do PNR, José Pinto-Coelho...


Pois, eu não sei se há mais alguém a quem esta imagem recorre quando pensa no nome do senhor em questão, mas acontece comigo. Portanto, se este poço de sabedoria e coerência fosse eleito presidente da Câmara Municipal de Lisboa - como pretende agora, depois de ter concorrido ao Parlamento Europeu, sendo anti-europeista, e à Presidência da República, sendo monárquico - acabava-se a palhaçada: não havia mais chinesices nem paneleirices para ninguém. E o dinheiro? E o orçamento? Entrava direitinho no bolso dos portugueses? Hmmm...


Esta é a Estrada Nacional A24, que como podem ver é linda - e custou uma fortuna! Um balúrdio, os olhos da cara, e ui que rica festa que a gente fazia com esse dinheiro todo, ah? "Mas ó Leocardo, esta é a estrada que liga Viseu a Vila Verde da Raia, junto à fronteira espanhola" - ...em Feces de Cima, na província de Ourense na Galiza, acrescento eu (juro que é verdade). Ora, isso para mim são "peanuts", e estou-me nas tintas se os Viriatos vão ou não comprar caramelos à Badajoz deles: foi construída com o dinheiro dos meus impostos, e eu não preciso daquela m... para nada! Outro exemplo: o ti Zé Couves de Carrazeda de Ansiães meteu-se no carrascão com os amigos, apanhou uma comatose e precisou de ser assistido no INEM mais próximo, onde esteve a recuperar dois dias, com o dinheiro de todos nós. Eu também não sou obrigado a pagar as pielas do ti Zé Couves, pois não? Sou pois, e ele pelas minhas, porque não?

Pois aí está a falácia dessa ideia de que os impostos estão a ser "mal geridos", ou desperdiçados. Estão a ser aplicados em cada um de nós, também, indiferente àquilo que os outros pensam ou deixam de pensar. Era o que faltava se agora que cada vez que alguém apanhasse uma gripe, o fossem acusar de dormir destapado, e assim "esbanjar os nossos recursos". Bardamerda, pá. O truque mais baixo de todos passa por tentar iludir os contribuintes de que o 1 (um) euro ou menos com que cada português contribui "dos seus impostos" para a requalificação da zona da Mouraria, lhes ficava no bolso caso a tal mesquita não fosse construída, e assim é menos uma bica que bebem. Mas dali o que seria de esperar, para além de desonestidade?