quarta-feira, 9 de setembro de 2015

Deus é meu amigo (tenho medo Dele)


Já sei, já sei, vão-me acusar de não respeitar nada, de ser um palerma com a mania que é engraçado, blá, blá, blá, nem sei como não se cansam de repetir sempre a mesma coisa, e no fundo estão a dar-me mais corda. Estas imagens foram recolhidas por mim no último Domingo, perto da hora de almoço, aqui perto de casa, na Travessa do Mata-Tigre, por onde passo cada vez que me desloco à Rua da Praia do Manduco, e neste dia já nem me lembro ao que lá fui - julgo que para levantar dinheiro na caixa do BNU, mas isso é o que menos interessa. Resolvi recolher as imagens, e principalmente o som porque achei deveras pitoresco o que se estava ali a passar, na forma e no feitio. Não pude entrar para ver mais (ia dizer "saber", mas certamente que "desaprendia" mais do que poderia possivelmente aprender) mas detive-me a tentar entender o que dizia aquele coro de vozes filipinas desafinadas. Inicialmente parecia que entoavam qualquer coisa como "I am afraid of God/He gives me bread" - "tenho medo de Deus/Ele dá-me pão". A primeira parte ainda fazia algum sentido, e cheguei a pensar que estava perante um culto composto por gente bem-informada: quem lê MESMO o que está na Bíblia, vai ter medo de Deus. Depois o que não faz sentido nenhum e estarem a louvá-Lo, ou se "dar pão" é a razão pela qual o Criador lhes inspira pavor.

Aproximando o plano, ficamos a saber que este um culto que se denomina "Lord of the Nations", que lembra uma canção dos Black Sabbath adaptada para uso da UNICEF, e é mais uma de mil e uma semelhantes que, no fim de contas, são uma aldrabice. Aquilo não é uma "igreja", e sim uma fracção de rés-de-chão destinada a comércio, e se há algo que tive pena de não registar foi os "fiéis" a produzir os gritos de êxtase que se ouvem no meio da cantoria - isso é que ia ser só rir, verificar a temperatura da "fé" através das figuras ridículas a que certas pessoas se aprestam para provar...bem, para provar que se aprestam facilmente a figuras ridículas. Agora, podia dizer que "fui saber mais" sobre este culto, mas não fui, porque não interessa nem ao Menino Jesus (aposto que a criança chorava com o chinfrim), e quem quiser pode saber aqui no site oficial, que é deprimente, e outra coisa não seria de esperar, mas de onde tirei esta "mensagem" que talvez explique muita coisa:



Pois, como se pode ver, esta é uma daquelas "igrejas" onde é impossível ter uma conversa normal com qualquer um dos seus elementos que leve aquilo mesmo a sério. Já tive essa experiência, e garanto que a resposta desta gente para todas as perguntas é: "Deus". Se for uma pergunta difícil de responder (ou impossível, e quase sempre é) sai logo um "Deus sabe porquê". E quando falam de Deus, ficam com uma expressão gazeada, como que com um brilho nos olhos, e dá vontade de perguntar: "queres que eu vá embora para poderes saltar da janela à vontade"? Sinceramente, quem vive para depois da morte não está a viver de todo. Mas reparem na parte que destaquei, "a nossa missão". Amarem Deus e amarem-se uns aos outros (parece mais divertido do que realmente acaba por ser), viver "de acordo com a palavra de Deus", que alguém com toda a certeza lhe dirá qual é, Deus para aqui e para ali, Deus etc., e no fim "servir Deus, liderar, e com isso ter impacto em todos os aspectos da vida". Isto mais parece um plano com vista à dominação global e escravização de toda  a raça humana, mas deixem lá, que quem só arranja um buraco daqueles para louvar alto e bom som, não deve representar uma ameaça por aí além. O que eu queria saber mais era sobre a canção cujo refrão repetiam "ad naseum", e que me soava a "tenho medo de Deus". Fui pesquisar e cheguei à conclusão de que estava errado no acessório, mas certo no essencial. Por um lado não se cantava "tenho medo de Deus", mas fico a pensar que se calhar era melhor assim. Pelo menos não perdiam a réstia de respeito que ainda tinha por eles. Afinal há pessoas a quem a fé, mesmo esta de latão a fingir de prata, é tudo o que lhes resta. Coitados. Mas o que estavam eles para ali a balir, afinal?


E perante isto, membros do júri, não me resta senão pedir para declarar a falência dos cânticos e hinos religiosos. Ah afinal era "I am a friend of God" - "sou amigo de Deus" - e não "tenho medo de Deus" que estavam ali a bradar naquela tentativa de canto, e é "He calls me friend", "ele chama-me de amigo", e não "he buys me bread". Amigos, amigos, contas da padaria à parte. Deduzo ainda que os tais urros de êxtase deviam ser alguns elementos daquela pobre desculpa para um coro dizendo os últimos três versos, assinalados ali por "Bridge", ou "Ponte". Agora, o que é isto, e quem é o autor? Um tal Israel Houghton, que segundo a Wikipédia é uma celebridade do oculto mundo do "rock cristão". Nascido na Califórnia, filho de pai negro e mãe branca, esta engravidou dele aos 17 anos e considerou fazer um aborto - isto é terrível por inumeras razões, mas é o que lá está. Como é fácil perceber, acabou por não ir para a frente com o seu plano, e baptizou a criança com o nome "da primeira palavra que viu quando abriu a Bíblia, e assim descobriu Deus. Julgo que isto não é lá muito boa ideia, e Israel devia dar-se por contente por não se chamar agora "Fornication Houghton", ou  pior. Agora reparem nos primeiros versos desta e-la-bo-ra-dí-ssi-ma canção, que traduzidos ficam qualquer coisa como isto:
 Quem sou eu para que penses em mim
Para que me escutes quando te chamo
É verdade que estás a pensar em mim
O jeito como tu me amas, é fantástico
(Quem sou eu, Senhor?)
Peço desculpa pela tradução meio "despachada", mas também não se pode dizer que estamos aqui na presença de algum Bernie Taupin. Se não soubesse de antemão que isto é um tema de "rock" cristão diria que se tratava de uma canção "irópita" (para ir ao...pois, já perceberam), uma daquelas com Jon Bon Jovi "gave love...a bad name". Em suma, uma canção de engate, a cera que se passa no ringue da vulva antes de meter lá o careca a patinar, e acho que já me fiz entender com estas coloridas imagens. Mas atenção, que o reportório do artista não fica por aqui no toca a esta ambiguidade "amar a Deus/amar Deus a noite toda pela frente e por trás", nada disso. Vide:


Se excluirmos de mais esta elaborada letra deste muito original cântico a parte do meio, onde o autor  insiste em deixar saber que "venera Deus", como se estivesse a dirigir-se a alguém duro de ouvido ou de raciocínio lento, encontramos aqui a mesma tendência: "Senhor tu és bom, e a tua graça é eterna" no primeiro verso, e no fim "Tu és bom todas as vezes/todas as vezes tu és bom" - um toque mais sensual seria terminar com "tu és boooom". Blasfémia? Aparentemente Deus não se importa, ou até gosta. Ou não existe. Portanto, concluindo e resumindo, se eu tivesse o desplante de passar para o papel a adoração que teria por Deus, caso tivesse alguma, isto...
Senhor tu és tudo para mim
Deixa-me sentir a tua glória,
Deixa-me senti-la esta noite,
Toda à noite, por trás e à bruta.
Não me deixes sem sentir
Toda a Tua jactância, ó Senhor.
Deixa-a no meu rosto e nas minhas mãos.
...seria um cântico, também. Se chegaram até aqui, pode ser que alguns de vocês se sintam "ofendidos" pela forma leviana como me refiro ao vosso amigo imaginário predilecto, mas até prova em contrário, isto podia muito bem ser um êxito do "rock" cristão. Pronto, admito que está ligeiramente mais denunciado que os dois exemplos que dei mais acima, mas apenas LIGEIRAMENTE, portanto. Tira-se o "por trás e à bruta", por exemplo, os filipinos decoram em minutos, cantam com as velhinhas, toda a gente chora, e no fim todos ficam mais felizes. Especialmente o Israel Houghton, que nem precisa de esperar por um milagre para ver os dígitos aumentarem na sua caderneta bancária. Respeito? Aprendam a respeitar-se a vocês mesmos primeiro, meus anjinhos.

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