segunda-feira, 13 de julho de 2015

Sermão do sopé da Penha (volume I)


Ai balha-me deuje...

Um dia estava a conversar com um dos "monstros sagrados" do jornalismo da nossa praça, quando ele me chamou a atenção para a ideia expressa por mim neste artigo, onde em jeito de desabafo digo que quem escreve ou de outra forma passa uma opinião - válida ou não, mas falo do primeiro caso - está como que a "falar para o boneco". Dizia-me ele "você que também escreve, e tanto, não pode estar a dizer uma coisa dessas, homem". Aceitei a crítica, claro, e a este ponto gostava de referir que esta pessoa de que falo "come mais sal do que eu como arroz" - o equivalente chinês de dizer que "o que eu sei, há muito que ele esqueceu". Por outro lado, talvez não tenha deixado bem vincado o que queria dizer com "falar para o boneco", e claro que não estava a chamar ninguém de "boneco", ou muito menos insinuar que há por aí muita gente com a cabeça "dura, ou mesmo "oca". Se alguém há que tenho entendido desta forma a mensagem, só me resta dizer "obrigado", pois confirma exactamente tudo o que digo nesse texto.

Tenho sido acusado de muitos lados de "querer ter sempre a razão do meu lado". Nem vou discutir, ou dizer que "não, que é isso, meu Deus, logo eu?", pois seria validar aquela afirmação, que dê por onde der, acaba sempre por sair. E porquê? Porque não sou (só) eu quem "quer ter a razão do seu lado". Aqui a razão é como aquele tipo que na nossa infância era o mais fixe da rua, do bairro, da aldeia, do que quiserem, e que não dormíamos descansados até cairmos nas boas graças dele, de mostrar a todo o mundo que "o conhecíamos", e que era "nosso amigo", e que o tratávamos por tu. Pessoalmente sempre achei isso um bocado triste, como quem queria ser o sol, mas no fim contentava-se em ser um dos lados da lua onde este reflectia. Mas a razão tem as suas razões, e por vezes nem aparece onde estão todos ao estalo e a chamar nomes feios uns nos outros, enquanto esperam que ela venha dizer de quem gosta mais. Posto nestes termos, podia ser ainda aquela miúda giríssima de quem os rapazes todos gostavam, mas que depois de dar esperança a todos começava a namorar com um pacóvio que conheceu dias antes, de fora do bairro, e com cara de mete-nojo. Tudo isto para dizer que mais importante do que ter razão é NÃO perder a razão. Ninguém, mas ninguém tem SEMPRE razão, e a tendência é para que quanto menos razão se tem, mais se fique convencido que se está cheinho de razão: a isto chama-se "presunção" (não, não, aquele que se come é "presuntão", que é outra coisa).


O Buda tinha sempre razão...e morreu na mesma!

Não devia estar aqui a escrever este "post", e se calhar devia fazer o que dizem as (poucas) pessoas que (ainda) se preocupam comigo, e perante certas agressões ideológicas, passo a citar, "cagar nisso". O problema é que cada vez mais se "caga nisso", seja o que for, e qualquer dia "caga-se" em tudo, até que a incontinência argumentativa passe ser uma forma de vida. Eu digo NÃO! Recuso-me a defecar nos assuntos, e se isto é teimosia minha da mesma forma que a prisão de ventre é teimosia do intestino, mantenho esta posição até à hemorroidal, se necessário. E se não devia estar aqui a lavar esta roupa suja de...bem, já chega de referências escatológicas; se estou aqui a falar nisto é porque alguma coisa ou alguém me deu a ideia. E foi isso que aconteceu, e neste caso foi "alguém", e a meio de uma troca de impressões perfeitamente pacífica e civilizada - pelo menos assim entendi, mas este é outro problema, pois não dá se pessoa que está do outro lado está a cerrar os dentes e bater com o teclado na mesa de raiva. Portanto a certo ponto, e já agora deixo bem claro que nem sequer era nada de importante, nem política, nem religião, nem desporto, a referida pessoas diz-me que "não estou a dizer que não tens razão, mas...". Bingo! Só faltou completar com "...quem tem razão sou eu". Mas que diabo, o que vai o mundo ganhar em que alguém tenha razão? E em alguns casos demos graça, pois há por aí cada IDIOTA com as ideias mais IDIOTAS, e habituado a que os outros fiquem calados para não terem que o aturar (não é a mesma coisa que dar razão), que quando alguém - ou por desconhecimento da idiotice do indivíduo, ou por comiseração - lhe chama a atenção, rosna, ladra, eriça-se mais que um porco-espinho, tudo como quem diz: "não quero saber se é assim ou não é, mas uma vez que eu disse que é, passa a ser, e pronto". Estes são uns tipos que até estão mais ou menos bem instalados na vida, e não fosse por esse facto e por outros como ele quererem tirar disso dividendos, era uma pessoa miserável e solitária - possivelmente até se tornava num tipo porreiro, com a falta de público que lhe desse "corda".

O problema são as evidências, ou seja, aquilo que se consegue provar. E porque digo que é um "problema"? Devia ficar aliviado por existir uma forma de provar as coisas, caso contrário o mundo era dos mentirosos. Ou nem isso, na verdade sabemos lá o que podia ser se nada pudesse ficar provado? É "problema" por outro lado, isso sim, mas do lado da parvoíce. Uma vez que provemos que algo não é como fulano afirma que é, para ele não estamos a agir em nome da verdade, ou da reposição da mesma, mas sim "para o tramar". Podemos até ser o mais cândidos, cordiais e diplomáticos possível, chamá-lo à parte de modo a garantir que nem uma formiga nos escuta enquanto o desmentimos, mas isso não chega: desmentir alguém, mesmo com todas as provas na mão e seja em que circunstância for, é "descarar" essa pessoa. Talvez a culpa seja do estigma a que foram vetados os mentirosos, ao mesmo tempo que se valorizou a cotação da mentira - é um mundo f...o, este em que vivemos. A este ponto alguém poderá estar a pensar: "mas que disparate, há maneiras de dizer as coisas às pessoas sem as ofender!". Claro que há, mas a reacção será sempre a mesma, e se não for vai dar ao mesmo - se não ficam furiosas, ou se até agradecem pela correcção ou pelo esclarecimento, ficam ressabiadas, rancorosas, a pensar "aquele tem a mania que sabe tudo, e que é melhor que toda a gente". Aí está, "tudo", ninguém sabe, mas este consegue saber muito pouco, e certamente que não serei melhor que muita gente, mas serei melhor que este cromo, que ou é surdo, ou tão burro que nem ele próprio entende o que ouve vindo da sua boca. Ilustremos com exemplos práticos, e falo apenas da parte que me toca, do que tenho observado - para não dizer "aturado".


Este é o aspecto de um fanático religioso. Reparem bem na "espiritualidade".

Os religiosos, por exemplo, sofrem com um dilema que infelizmente ninguém lhes pode valer: têm medo de estarem a acreditar na maior mentira de toda a História. A este ponto relembro os leitores que sou agnóstico, e não estou a afirmar que os pressupostos da religião são todos falsos, ou que Deus não existe, nada disso. Não digo que não existe nem posso afirmar que exista, e por isso digo "não sei, mas é possível que não exista", como quem sugere que talvez algo que realmente existe nos pudesse esclarecer de uma só vez esta dúvida que chega a causar conflitos onde morre gente e tudo. Um simples "toque" do tipo "psst, aqui estou eu, agora shush!" evitaria todo esse mal-estar e precavia futuras tragédias de que a história é fértil, para mal da humanidade que ironicamente se diz que Ele criou. Enfim, se for mesmo mentira - e mais uma vez não estou a afirmar coisa nenhuma - não é vergonha nenhuma assumir que se foi enganado. Afinal trata-se de uma rede de possibilidades, algumas das quais já ficou provado serem fruto de suposições feitas em épocas onde não poderiam possivelmente ser desmentidas. Temos que admitir que tratando-se mesmo de uma única e grande mentira, foi bastante bem elaborada, e é normal cair nela. Agora o que acontece é acusarem-me de "não respeitar" a fé alheia. Ora bem, peço desculpa pela analogia "rasteira", mas foi aquela que me ocorreu agora neste instante: quem quer que lhe respeitem a sarna, não se coça para cima dos outros. Aqui posso ainda recorrer a um dos famosos diálogos, desta vez entre um crente e um não crente que pode ser um ateu, um agnóstico, ou alguém que se está simplesmente nas tintas:

- Acreditas em Deus?
- Hmmm...não sei, epá, não ligo muito a isso...
- Mas acreditas em Deus?
- O que é que queres que eu te diga? Sim, talvez...epá, a sério, não tenho paleio para esse tipo de conversa.
- Quer dizer que não aceitas Deus Nosso Senhor Todo Poderoso como único Deus no Céu e seu filho e nosso Salvador Jesus Cristo que morreu na cruz para expiar os pecados do mundo!?!?
- Meu, 'tás bem? Onde é que foste buscar isso tudo? Estás bem? Queres um copo de água? Querem eu ligue para te virem buscar, ou isso?
- Mau...temos o caldo entornado, respeita a minha fé fazes favor!
- Tudo bem, mas importas-te de respeitar também quem não partilha aí da tua "fé", que quase me entra pelos olhos adentro?
- 'Tás a ver? 'Tás a ver? Eu respeitei...tu é que parece que não estás a minha crença...

E é tal e qual: não partilhar dessa boa nova que só pode trazer maravilhas para todos (o quê, exactamente?) é o mesmo que "ofender". Desconfio que são assim que se fazem as tais "conversões".

Acontece muitas vezes apontarem-me o dedo inquisitorial, acusando-me de fazer graçolas com certos aspectos da fé, nomeadamente cerimónias religiosas, o culto, os milagres, etc. Peço desculpa (vêem como não custa nada pedir desculpa?), mas não consigo resistir. Para mim a devoção incondicional e inquestionável cai mais ou menos no mesmo ridículo dos amores platónicos e outros não correspondidos, ou de alguém que está a ver um filme e não tem consciência que é um filme. Se estivesse aqui aqui a falar de "anjinhos", seria um indivíduo muito mal formado, sem dúvida, mas sabendo que caminha em terrenos íngremes e acidentados, e com uma boa dose de esqueletos no armário, a Igreja continua a recorrer ao medo e à superstição para poder sobreviver, e desencoraja o conhecimento que vá no caminho do contraditório, preferindo manter o "rebanho" na ignorância, temerário e sem saída. Por muito que vos custe aceitar isto, o meu problema não é o sagrado, mas o profano que o apregoa, as pessoas por detrás das religiões. Separando a componente divina da Igreja, vejam com o que ficam. É um exercício que proponho que façam quando tiverem especialmente inspirados para tal.


Melhor que beber água da sanita...ou não.

Passemos ao segundo grupo, um tipo de radicais que não fica muito longe dos religiosos em termos de fanatismo, mas com uma agravante: pulgas! Falo, obviamente, daqueles pobres que pensam que os animais têm direitos, ou os que advogam os "direitos dos animais". Aqui a falácia é evidente: se eu não reconheço que os animais irracionais têm "direitos", quer dizer necessariamente que sou "um sádico" que "odeia animais". Isto hoje em dia, na sociedade em que vivemos, onde os idiotas foram eleitos donos da palavra sabe-se lá como, é o equivalente ao desterro: quem não adora aos animais ao ponto de desprezar as pessoas que não nutrem a mesma...e outra vez peço desculpa mas é a única palavra que me ocorre...a mesma BESTIALIDADE, é posto do lado. Não vou aqui entrar pela via mais fácil, que é dizer que "os animais não pediram porra nenhuma", mas o meu argumento anda lá perto: o que é um "direito"?

Ora aí está: o que pode ser exigido e isto equivale ao quê, em concreto? Que um animal nunca poderia saber que lhe assiste um direito, por lhe ser impossível racionalizar esse conceito, e não pode expressar uma vontade. Um "direito" existe no momento em que se tem consciência do mesmo. Ah, pois, vão dizer que estou errado, e que "há cães melhores que eu", tudo bem, cada um chupa onde quiser, talvez isto ajude:


Estou a ver...acho que aqui  o cachorro estava expressar uma vontade, e ou muito me engano, é vontade de cagar. É ainda possível que tenho ido em frente e exercido o seu direito. Vai ser com agrado que o seu parceiro humano ("dono" não pode ser...quem é "dono" de quem tem "direitos"?) vai depois lavar os lençóis, pois poderá fazê-lo na constância de "um mundo melhor", onde os cavalos se sentam nas esplanadas ao longo do Sena, e os humanos andam pelos telhados a coçar o tomatal com os dentes.

E pronto, esta gente depois vai-me dizer que eu "detesto animais". Não se auto-intitulando "raça humana", que segundo eles "destrói tudo aquilo em que toca", em suma: demitiram-se da própria espécie, e julgam haver nisto uma espécie de "nova consciência" que os leva um patamar acima do resto da humanidade. Hitler foi o arquétipo desta nova geração torta de humanos. Ah, e é verdade, deixem-me então pegar naquela ideia de há pouco: OS ANIMAIS NÃO VOS PEDIRAM NADA! ASSIM SÓ ESTÃO A ABORRECER TODA A GENTE E A PREJUDICAR OS BICHOS! Isso mesmo, pois sem terem "expresso essa vontade" (aí está), os animais são representados por esta gente insana e delirante, expostos à violência de quem, não podendo agredir humanos (outra vez: OS HUMANOS SIM, TÊM DIREITOS E SABEM DISSO!) descarregam nos animais irracionais, que no fim não os vão identificar numa fila de suspeitos lá na esquadra. 


Atenção: o Eddie Murphy é um actor, e a voz que aparenta ser a do urso é de outro actor. Desculpem desiludir-vos...

Será que com aquela mania de vestir os cães e gatos com pantufas, e chapéuzinhos e sapatinhos estão a tentar que eles ascendam a um estado próximo da humanidade? Aquele cão do vídeo ali em cima, e muitos outros semelhantes que encontrei no YouTube é uma cobaia de uma experiência que procura ensinar os animais a falar? Lembram-se quando a propósito das religiões fiz referência ao facto de alguém estar a ver um filme e não distinguir o que está ver, que é ficção da realidade? Não tem graça nenhuma, meus caros. Chama-se "psicose".

Amanhã deixo-vos a conclusão do "Sermão do sopé da Penha", com o segundo e último volume.

(Continua)


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