sexta-feira, 27 de junho de 2014

O annus horribilis



É tempo de ir de férias e dar fora de Macau durante uns tempos para espairecer. Não sei qual vai ser a minha disponibilidade para actualizar o blogue, mas sempre que puder mando uma linha ou duas. Não vão chegar a ter saudades minhas, pois daqui e menos de uma semana estou por cá outra vez (e depois vou outra vez embora, eh, eh). Entre um pé cá e outro lá, deixo-vos com o artigo de ontem do Hoje Macau. Até breve!

Pode-se considerar 2014 o “annus horribilis” deste III Executivo da Região Administrativa Especial de Macau (RAEM), e para o responsável máximo, Chui Sai On. Tivemos o “chumbo” da população à Lei do Regime de Garantias dos titulares dos principais cargos, as manifestações mais concorridas dos quinze anos de história da RAEM, a postura “gaffeuse” dos elementos mais próximos do Governo, e para piorar as coisas nem a saúde ajuda, depois do próprio Chui ter sido acometido de uma crise de gota, e a panda-gigante Sam Sam falecido de insuficiência renal aguda – e tudo isto em ano de eleições para Chefe do Executivo. É caso para se dizer que se para descer todos os santos ajudam, esta tem sido uma queda feita aos trambolhões. Chui Sai On anda a precisar de ir à bruxa, ou adaptando esta expressão à realidade local, ao mestre do “fong-soi”.
Como se não bastassem todos estes rombos no casco da nau da harmonia, eis que apanha pela frente mais um rochedo: a censura académica, que levou a que um professor da Universidade de Macau fosse suspenso alegadamente pelo sua participação em activismo político, e o despedimento de outro docente, este da Universidade de S. José, devido às suas intervenções políticas. Este é um Adamastor difícil de contornar para Chui Sai On, pois no lançamento desta “crise” o próprio garantiu que a liberdade de expressão no território “está bem e recomenda-se”, mas se as próprias instituições de ensino superior, que formam os quadros da RAEM de amanhã, mandam uma mensagem no sentido contrário; é caso para dizer que a opinião é livre, pois, mas “não se recomenda”. A ideia com que se fica é que sim senhor, escrevam e digam o que entenderem, mas fora da nossa folha de pagamentos. Fica difícil pensar com as contas por pagar e a barriga a dar horas.

Pode-se dizer que 2014 é o somatório de todos os erros. A especulação imobiliária, a inflação, a deterioração da qualidade de vida (qual qualidade de vida?), o adiamento “ad eternum” das infra-estruturas de que Macau necessita, nomeadamente um novo hospital público, a forma falaciosa como se interpreta a lei, ora de forma rígida e inflexível, ora através de interpretações livres e difusas, conforme o freguês, a dependência assustadora do sector do jogo na economia, e consequentemente da generosidade de Pequim e da sua política de vistos individuais, parece que tudo isto somado dá 2014. A população cansou-se de tanta indiferença, de tanta inércia, de tanta corporacracia e clientelismo desavergonhados. O tal diploma do Regime de Garantias foi a gota de água. Isto foi como querer passar clandestinamente com o Buda de Leshan na alfândega do aeroporto sem que ninguém desse por nada. Por acaso terá o Executivo confundido a tolerância e a paciência da população com indiferença e cobardia?
A nomenclatura não soube reagir à crise. Pensou que bastava bater o pé e lembrar aos contestatários de que “estamos na China”, portanto “cuidadinho ou levam no focinho”. Só que estes já não vão na conversa – medo do quê, se o próprio primeiro sistema torce o nariz à forma como em Macau se realiza o segundo? Chui Sai On começa a ficar sem coelhos para tirar do chapéu. De que vale o paleativo cheque uma vez por ano se depois tudo aumenta, e ainda por cima a inflação atinge o pique exactamente na altura da distribuição dessa migalha do bolo? Do que valem as seis mil patacas para a formação contínua, se toda a gente que usa este subsídio para tirar a carta de condução? Eu ainda não usei a minha parte, mas já repararam na publicidade que passa na TDM sobre a segunda fase deste plano? A mãezinha aprende culinária, o avôzinho aprende caligrafia chinesa, a filhota, que supostamente é menos submissiva que a mãe, aprende a filmar, e quem sabe um dia se torna numa espécie de Sofia Coppola. Quando vos calais, autocratas duma figa? Ninguém compra esta banha da cobra.
Não queremos para Macau um Governo musculado, não desejamos o primado da lei acima das liberdades e garantias, não nos convém um regime disciplinador que meta toda a gente na linha. O que queremos é gente competente, que nos sirva e não se sirva ela primeiro e se esqueça do resto. Gostamos muito do primado do segundo sistema, adoramo-lo e queremos que se mantenha, mas andam por aí muitas patas metidas na poça a sujá-lo de lama. É a altura para esta avestruz tirar a cabeça da areia e olhar à sua volta. Se for para acabar com isto e irmos todos ao fundo, lembrem-se: podem contar com muitos náufragos agarrados ao salva-vidas.

Vídeo da semana



Portugal no seu melhor: durante um debate no Parlamento onde se discutia a regulação do jogo "online", o deputado Duarte Marques do PSD chamou "palhaçada" à intervenção do seu colega (ou cúmplice, se preferirem) José Magalhães, do PS, e este respondeu: "O sr. deputado vá chamar palhaço ao seu pai, faz favor". Isto é que debate democrático, minha gente. Reparem na forma como o deputado "chuchalista" reage desta forma tão fulminante a uma provocaçãozinha, e no fim diz "faz favor". Lindo. É como se o tivessem pisado num pé, e em resposta ele dava um tiro na cabeça do agressor, e depois punha-lhe um penso rápido na testa. Podia ser pior, sei lá, qualquer coisa do tipo "palhaço é a tua mãe que me fez uma mamada ontem à noite e eu esporrei-lhe a boca toda que ela até se engasgou, a grande puta" - por exemplo. Mas dá-se um desconto aos "chuchalistas", coitados, que ultimamente têm andado sem rei nem roque, todos ao estalo uns aos outros, e por isso andam com os nervos à flor da pele de tal jeito que se alguém lhes pergunta: "desculpe, tem horas?" arrisca-se a ouvir algo do género: "são dois caralhos pelo teu cu acima, paneleiro dum cabrão". É apenas um aparte da nossa colorida democracia. Só fico com pena que a nobre profissão circense seja assim tão mal tratada, com comparações feitas a este tipo de gente. Será que quando um palhaço se zangam com outro palhaço também lhe diz: "olha lá, o meu político de merda", ou "grande deputado que me foste sair...".

Fim do sofrimento



Terminou ontem a participação portuguesa no mundial do Brasil 2014, que se saldou numa eliminação na fase de grupos, com uma vitória, um empate, e uma derrota. Esta foi a terceira vez em seis participações que Portugal fica pela primeira fase da prova, e como em todas as vezes que participou numa fase final de um campeonato do mundo, sai com pelo menos uma vitória, que chegou apenas no último jogo contra o Gana, em Brasília, por duas bolas a uma. Sofrida, sofrida, esta vitória, arrancada a ferros. Se foi Portugal que mereceu ganhar o jogo ou se foi o Gana que mereceu perdê-lo é difícil dizer, mas a exibição esteve a nível da globalidade da participação portuguesa neste mundial: entre o sofrível e o medíocre - um progresso, uma vez que na estreia contra a Alemanha "miserável" é a única palavra que me ocorre para definir a prestação portuguesa. Com um arranque daqueles, quem podia esperar que Portugal chegasse longe neste mundial? A Espanha pagou o mesmo preço, porque haviamos nós de ser diferentes? Pelo menos os nossos vizinhos ibéricos tiveram a dignidade de perder e não andar a fazer figuras tristes. Perderam porque não estavam bem, enquanto nós continuamos com aquela maldita mania de que somos os maiores do mundo e arredores, e quando algo não corre bem existe uma conspiração maldosa para nos derrubar.

Por um lado foi uma pena Portugal ter saído tão cedo do torneio, por outro lado é uma alívio. Uma selecção que chega a uma prova destas que requer que todos dêm o máximo de si com aquela postura arrogante, e ainda faz a figura que fez, não merece mais do que isto. E foi lisonjeiro para as nossas cores, pois no futuro alguém vai olhar para aquela classificação e pensar que Portugal "teve azar" ao ser eliminado na pior diferença de golos. Se depois for um resumo dos jogos, especialmente dos dois primeiros, vai ficar a pensar como foi possível uma equipa como o Gana, que tão boa conta de si deu contra a Alemanha, tenha perdido connosco. Mesmo assim voltámos a denunciar aquela atitude que tantas vezes nos faz deitar tudo a perder. Após o golo do empate dos ganeses, precisávamos de marcar pelo menos quatro golos, enquanto ao nosso adversário bastava apenas um para terminar à frente dos Estados Unidos, e os jogadores portugueses pareciam irritados com aquela maldita persistência do Gana em não nos deixar levar a nossa adiante. Pareciam estar a dizer "epá saiam da frente que temos que marcar", esquecendo-se que do outro lado estava uma equipa com ainda mais hipóteses que nós, e que também queria ganhar. Este tem sido o "autismo" que tanto nos tem custado nos momentos decisivos: sentimos sempre que estamos a jogar sozinhos, e os outros só sabem atrapalhar.


No momento de apurar responsabilidades, a corda rebenta sempre para o lado do mais fraco: o treinador. Fiquei surpreendido com o anúncio de Paulo Bento, dizendo que vai continuar à frente da selecção. Eu no lugar batia com a porta, e sentia-me enganado. Não foram estes rapazes que disseram que "estavam bem", quer fisicamente, quer animicamente, estavam motivados, e mais aquelas tretas todas. Tinha o melhor jogador mundo, mas este nunca pode dar o seu contributo da melhor forma que sabe e pode, condicionado pelo joelho - uma novela que pareceu ter reflexos negativos no resto do grupo. Os restantes jogadores acima da média estavam num farrapo: João Moutinho esteve irreconhecível, Bruno Alves errou mais do que o habitual, Fábio Coentrão lesionou-se sozinho, Postiga e Hugo Almeida foram "para o estaleiro" e deixaram Éder entregue às feras, Nani teve garra mas faltava-lhe ritmo, Raúl Meireles pensou que o ar exótico ganhava jogos, Pepe perdeu a cabeça logo no começo e comprometeu o grupo, e o resto, enfim, foi o que se pode arranjar com o pouco que se tinha. Se alguma coisa me pedissem para apontar a Paulo Bento, talvez o facto de não ter apostado em Beto logo no jogo de estreia, e já agora não entendo porque chamou o Rafa. Para ir lá desaprender? Em suma, duvido que outro fizesse melhor.

Não têm nenhuma razão de queixa, os nossos rapazes. Foram bem tratados, foram acarinhados, tiveram tudo o que precisavam, desde os prémios de jogo em dia até 200 quilos de bacalhau, C. Ronaldo foi tão venerado por onde quer que passasse, que metia inveja aos Beatles, enfim, só não foram capazes de ser humildes, não respeitaram o "fair-play", deixaram-se levar pelo vedetismo, e agora...xixi, cama. Chegaram mal preparados, fisicamente debilitados, mal entrosados, e depois foi um chorrilho de desculpas para justificar a triste figura que nunca mais acabava. O provérbio popular que mais se adapta a esta selecção é "quando não se sabe dançar é porque a pista está torta". Vão de férias, meninos. Não porque mereçam, mas porque andam a precisar. Não esperem é ser recebidos com cânticos, loas e pétalas de rosa. Preparem-se para prestar contas. Quanto a nós, aqueles que ficaram de pé de propósito para assistir aos jogos de Portugal a horas indecentes podem ir agora na paz dos anjos, e os outros que gostam de futebol também ficam a ganhar, pois agora não precisam mais de se aborrecer. Já chega de "sofrer", e a palavra que melhor descreve esta participação de Portugal é essa mesmo: sofrimento. Não no sentido de "paixão, mas antes aquele mau, o doloroso.

Brasil 2014: Oitavos-de-final

Argélia-1 Rússia-1; Bélgica-1 Coreia do Sul-0




Classificação:

Bélgica-9 (4-1)
Argélia-4 (6-5)

Rússia-2 (2-3)
Coreia do Sul-1 (3-6)

Portugal-2 Gana-1; Alemanha-1 EUA-0




Classificação:

Alemanha-7 (7-2)
Estados Unidos-4 (4-4)

Portugal-4 (4-7)
Gana-1 (5-6)

quinta-feira, 26 de junho de 2014

Humor superior



A Universidade de Macau (UMAC) publicou na sua página oficial um comunicado (em inglês; sem versão portuguesa) onde lamenta o incidente do último Sábado durante a cerimónia de graduação, diz ter feito um inquérito ao sucedido, e reuniu-se com associações de estudantes, faculdades, funcionários e todos os envolvidos de modo a apurar os factos e discutir formas de evitar que aconteçam situações semelhantes no futuro. Diz ainda que está aberta a sugestões e esclarecimentos, e reitera o total respeito pela liberdade de expressão. Até aqui nada de mais, e fica-lhes bem esclarecer isso da liberdade de expressão, em tempo tão sensíveis como estes que agora atravessamos. Contudo é a partir do terceiro parágrafo, quando revala a sua versão do incidente, que começo a levantar sérias dúvidas sobre esta "honestidade a toda a prova" da parte da UMAC. A certo ponto detecta-se mesmo alguma ironia, senão mesmo um tipo de humor que só se pode incluir na categoria de "negro".

Eu não estava lá, eu não vi o que se passou, mas não consigo levar a sério certos detalhes do "filme" de Sábado, nomeadamente quanto à parte em que afirmam que o uso da força foi em último recurso, e que tanto a aluna Tou Weng Kei e o jornalista da Macau Concealers Choi Chi Chio foram avisados várias vezes, tratados com deferência, e descrevem o seu comportamento como tendo sido "desordeiro" - quase selvático, até. Não pude deixar de soltar uma pequena gargalhada na parte onde se lê que uma funcionária foi "abraçar" e "confortar" a aluna Tou Weng Kei, que se mostrava "demasiado nervosa". Ora bem, peço desculpa antecipadamente se todos os factos apresentados pela UMAC são verídicos, mas tenho sérias dúvidas quanto à sua validade. Há algumas fotografias do incidente, e em nenhuma delas a UMAC sai numa luz que se possa considerar positiva. Aliás é quase uma certeza, e quem lá esteve pode confirmar, que ninguém tinha dado por nada até à abrupta entrada em cena do pessoal da segurança, e se é isto que chamam "abraçar" e "confortar"...



...devo andar desactualizado. Sempre pensei que "abraçar" e "confortar" fosse mais ou menos assim:



Garanto que foi esta a imagem que me veio a cabeça ao ler o comunicado da UMAC. Aparentemente não foi nada disto que aconteceu. Adiante.



O grupo Macau Concealers refutou parte, ou melhor, quase toda a versão da UMAC, e a próprio Tou Weng Kei apresenta a sua versão, quer na sua página do Facebook, que na página da Macau Concealers, que foi partilhada até hoje, sexta-feira de manhã, partilhada 43 vezes, com um totla de mais de centena e meia de "likes". Sei que isso não quer dizer grande coisa, mas recomendo, para quem tiver tempo, que leia os comentários deixadas nesse post do Macau Concealers, alguns deles de gente bastante indignada.

Já agora deitem uma vista de olhos no que aconteceu aqui ao lado em Hong Kong ontem à noite, durante a cerimónia de graduação da Academy for Performing Arts, e tem inclusivamente circulado este vídeo no YouTube:



Nova ordem? Tomada súbita de consciência por parte das novas gerações? Um desafio que as instituições de ensino superior têm pela frente daqui em diante. Não vai ser com atitudes inquisitórias como a da Universidade de S. José ou com a "moca e paninhos quentes" da UMAC que vão lá, com toda a certeza.

Comunhão de adquiridos


Emilie Tran foi afastada do cargo de directora da faculdade de Administração e Liderança da Universidade de S. José (USJ), mas mantém-se como professora, noticiou o Ponto Final na sua edição de hoje. A notícia coincide com outra veiculada esta semana que dava conta da saída do professor de Ciência Política, Éric Sautedé, alegadamente por fazer comentários políticos nos meios de comunicação social - nunca em nome daquela instituição de ensino, entenda-se. O despedimento de Sautedé causou indignação entre a opinião pública e coincidiu com outra polémica: a suspensão de Bill Chou, professor da Universidade de Macau (UMAC), na sequência de um processo disciplinar levantado, ao que tudo indica, devido à sua participação no activismo político, e mais uma vez aqui, no âmbito da sua vida pessoal e nunca em representação da instituição de ensino onde leciona.

Toda esta sucessão de eventos levanta questões sobre o exercício de um direito consagrado na Lei Básica e pelo segundo sistema onde se inserem as regiões administrativas especiais de Macau e Hong Kong, e mais grave se torna atendendo que estamos a falar do ensino superior, que supostamente deveria encorajar os seus formandos ao exercício desse direito, formando assim pessoas inteligentes e com capacidade de raciocínio, e não monos e autómatos obedientes e servis. O reitor da USJ, Peter Stillwell, diz apenas que "os mandatos dos directores das faculdades são de um ano", que podem ser reavaliados a qualquer momento, e a decisão não lhe cabe apenas a si, mas de um conselho executivo. O sacerdote católico que é também reitor da Universidade Católica, "alma mater" da USJ, diz que tudo isto são questões internas do foro da Universidade, e que a situação é "o mais normal possível", atendendo à "agitação". Tudo normal portanto, e o facto de Emilie Tran ser despromovida nada terá a ver com o facto de ser casada com Sautedé. É apenas uma infeliz coincidência, portanto. É por isso que nunca vou à missa: não sou crente ao ponto de aceitar certos factos, mesmo os mais absurdo, como verdades.

Acreditem ou não, desconhecia por completo o facto de Eric Sautedé e Emilie Tran serem casados um com o outro. Conheço-os da imprensa há alguns anos, sendo o professor de Ciência Política o mais mediático, sem sombre de dúvida, mas não os conheço pessoalmente, e muito menos estou a par de detalhes das suas vidas privadas. À luz deste novo facto, fui espreitar a página do Facebook de Emilie Tran, que em relação ao iminente despedimento do seu companheiro e colega nada mais fez do que publicar um "link" para a notícia do Ponto Final, sem qualquer comentário adicional. É possível que a situação, que poderá não ser nova e já tenha gerado conflitos por mais de uma vez entre docentes e reitoria - e isto sou eu apenas a especular - possa estar na origem do afastamento de Emilie Tran da directoria daquela faculdade, mas se isto sucedeu apenas pelo facto de ser casada com Sautedé, então é grave, muito grave. Apesar dos laços que os unem, os dois docentes devem pensar cada um pela própria cabeça, e se Emilie Tran manifestou ou tivesse manifestado a sua indignação com esta lamentável situação, estaria no seu direito; nós estamos indignados, e ela tem ainda mais uma razão para estar. Mal seria se virasse as costas ao marido nesta altura para proteger o seu próprio cargo e se desmarcasse da polémica.

Estas são uma série de situações que não abonam nada a favor do ensino superior em Macau, e dão força ao argumento de que a única maneira dos jovens do território adquirirem uma educação digna e de qualidade é em universidades no exterior. Recorde-se ainda que a USJ esteve há algum tempo no centro de outra polémica, quando se comentou o facto de "facilitarem" a passagem a alguns alunos, e o ex-vice-reitor Ivo Carneiro de Sousa chegou a questionar a qualidade daquela universidade, numa controversa entrevista ao Ponto Final, em 3 de Setembro de 2012. Se a USJ está apenas a brincar às escolas, e tem apenas como fim o lucro (e já referi várias vezes este aspecto: a educação aqui assemelha-se mais a um negócio do que a um desígnio), então juntando esta espécie de saneamento com laivos inquisitórios, está na lama até ao pescoço, quando há poucos dias a lama lhe dava apenas pela cintura. Fica mal para quem dá a cara pela USJ, fica mal para a Igreja, fica mal para a Universidade Católica. Eu nunca viria com bons olhos um filho meu estudar naquela pseudo-universidade, nem a recomendo a ninguém. Antes pelo contrário.

Sem dó nem piedade


Kim Jong-Un está fulo com uma tentativa de assassinato da parte dos Estados Unidos. Quer dizer, não foi bem uma tentativa de assassinato, mas um filme parvo. É que uma nova "comérdia" de Hollywood, daquelas muito fraquinhas, conta a história de dois agentes americanos que são incumbidos de matar o presidente norte-coreano. Seth Rogen e James Franco desempenham o papel principal de "The Interview", realizado por Evan Goldberg, e é um tal de Randall Park que aparece no papel do ditador norte-coreano. Num comunicado da agência KCNA, a Coreia do Norte considera este filme uma "declaração de guerra", que é obra de "cineastas mafiosos", e caso os Estados Unidos não façam algo para impedir que o filme estreie em Outubro, conforme está programado, lançarão um ataque no território norte-americano "sem dó nem piedade". A conversa do costume, e isto vindo de uns gajos que nem conseguem lançar um foguetão a direito.


Pelos vistos este Kim III não tem o mesmo sentido de humor que o paizinho, que aqui é retratado no filme "Team America - World Police", de 2003. É caso para dizer, como na canção "Why is everyone so fucking stupid?".

França-0 Equador-0; Suíça-3 Honduras-0


França e Equador empataram a zero no Maracanã, do Rio de Janeiro, em jogo da última ronda do Grupo E do mundial do Brasil 2014, o que valeu aos sul-americanos a nada honrosa menção de primeira equipa do continente americano a ser eliminada da prova. Os franceses não puderam contar com Yohan
Cabaye, suspenso devido à acumulação de cartões amarelos, e Didier Deschamps optou por fazer descansar alguns titulares, uma vez que apenas um cataclismo poderia eliminar a França, que bateu as Honduras por 3-0 na estreia, e a Suíça por 5-2 na segunda ronda. Assim Patrick Evra e Matthieu Valbuena ficaram no banco, e Loic Rémy, Oliver Giroud e Raphael Varane entraram apenas no segundo tempo. Se o objectivo era não perder e conquistar o 1º lugar do grupo, esse objectivo foi conseguido, e com a ajuda do adversário, pois aos 50 minutos Antonio Valencia foi expulso, complicando a tarefa ao Equador, e os gauleses estiveram mesmo mais próximos de vencer o jogo. Não têm saído satisfeitos os espectadores que ocorrem ao mítico Maracanã, onde se vai disputar a final a 13 de Julho, mas que tem assistido a mau futebol neste mundial. Primeiro foi o Argentina-Bósnia-Herzegovina, que terminou com a vitória dos primeiros por 2-1, depois o Espanha-Chile, que os chilenos venceram por 2-0, determinando a eliminação dos espanhóis, que talvez tenha o sido o melhor jogo naquele estádio até ao momento, e antes deste França-Equador houve o Bélgica-Rússia, que os belgas venceram com um golo já na parte final do encontro. Esperemos que não seja mau presságio para a final.


Na Arena Amazónia, em Manaus, jogou-se a última partida para a qual foi construído aquele "elefante branco". Com excepção dos jogos do mundial, esta infra-estrutura que custou mais de 200 milhões de dólares não servirá para mais nada, uma vez que em Manaus não existem clubes de futebol de nível para justificar 42 mil espectadores por jogo. Mas falando do jogo propriamente dito, o Suíça-Honduras, que terminaria com uma vitória fácil dos helvéticos por 3-0. A equipa de Ottmar Hitzfeld teve um final feliz nesta primeira fase, pois bastava vencer os hondurenhos, que tinham apenas uma ténue esperança em seguir em frente, desde que o Equador não vencesse a França - e foi o que aconteceu. O homem do jogo foi Xerdan Shaqiri, um refugiado Kosovar de etnia albanesa e de nacionalidade suíça que alinha nos alemães do Bayern, que marcou três golos - o segundo deste mundial, depois de Thomas Müller contra Portugal. A Suíça segue em frente e encontra a Argentina nos oitavos-de-final.

Argentina-3 Nigéria-2; Bósnia Herzegovina-3 Irão-1


Argentina e Nigéria encontraram-se ontem em Belo Horizonte, e os sul-americanos venceram por três bolas a duas, numa partida em que foram finalmente obrigados a jogar alguma coisa, perante uma equipa africana muito personalizada, sempre com o sentido na baliza adversária. A Argentina entrou melhor e marcou aos três minutos por Lionel Messi, mas os nigerianos mostraram que não vinham "dançar o tango", e empataram logo na jogada seguinte, por Ahmed Musa, que esteve com o pé quente em Minas Gerais. O jogo foi de parada e resposta, e os argentinos iriam para o intervalo em vantagem graças a um livre de Messi já nos descontos, um momento de inspiração que valeu ao avançado do Barcelona o seu quarto golo neste torneio, igualando o brasileiro Neymar no topo da lista dos melhores marcadores deste mundial. O Segundo tempo começou praticamente com o golo do empate da Nigéria, novamente por Musa, marcava o relógio 47 minutos. Três minutos depois Ezequiel Lavezzi, que tinha entrado ainda no primeiro tempo para o lugar do lesionado Sergio Agüero, bate um canto do lado esquerdo e surge no meio da área o central do Sporting Marco Rojo, que atira de cabeça a contar para o fundo da baliza de Vincent Enyema, que fez uma grande exibição. Messi seria substituído pouco depois, debaixo de aplausos, ele que foi o homem do jogo, e a Nigéria foi lentamente aceitando o resultado, sabendo que o Irão perdia com a Bósnia em Salvador da Bahia. Esta foi a terceira vez que Argentina e Nigéria se encontraram em mundiais, sempre na fase de grupos, e sempre com vitória dos sul-americanos; em 1994 o resultado foi de 2-1, no jogo que marcaria a despedida de Maradona da selecção argentina, depois em 2002 o desfecho foi de 1-0, num ano em que ambas as equipas ficaram pelo caminho na primeira fase, e agora no jogo em que se marcaram mais golos, ambos têm razões para ficar felizes.


E isto porque a Bósnia-Herzegovina resolveu finalmente dar um ar de sua graça, e para azar de Carlos Queiroz, cuja sua equipa, o Irão, estava necessitada de vencer por dois golos, contando que a Argentina batesse a Nigéria pelo menos por um. E foi isso mesmo que aconteceu, mas os bósnios resolveram finalmente dar um ar da sua graça, e dominaram por completo a partida, marcado o primeiro golo por Edin Džeko aos 23 minutos. O avançado do Manchester City já tinha marcado frente à Nigéria, mas havia sido (mal) anulado. Miralem Pjanić fazia o segundo aos 59 e dava tranquilidade à equipa europeia. O Irão marcou finalmente neste mundial aos 82 minutos, por intermédio de Reza Ghoochannejhad - "Reza" para os amigos - mas ainda os persas festejavam o ponto de honra, e logo no minuto seguinte a Bósnia repunha a vantagem de dois golos, com Avdija Vršajević a assinar o livro de visitas do Brasil 2014. Ambas as equipas regressam a casa, com o bósnios a reflectir sobre a nova experiência, e os iranianos a não conseguir mais uma vez a passagem à fase seguinte, após a sua quarta participação.

Empatarrr, ja?



Uma das esperanças na qualificação da selecção portuguesa, além da vitória robusta contra o Gana, reside também na eventualidade do jogo entre a Alemanha e os Estados Unidos não terminar num empate, resultado que qualificaria ambas as equipas, com os alemães em primeiro lugar e os norte-americanos em segundo. A FIFA já garantiu que vai ficar a atenta a uma eventual combinação do resultado, mas isso pouco adianta: estão proibidos de empatar? É um dos três desfechos possíveis, e há formas de fazer a coisa parecer "credível". O De Bild, diário alemão, faz capa com Jürgen Klinsmann, selecionador alemão dos Estados Unidos, dizendo-lhe que "hoje vai ver estrelas", como quem diz, os alemães vão mostrar aos "yankees" como se joga à bola. Isto deixava-nos tranquilos, não fosse pelo facto de Klinsmann ter uma relação profissional e pessoal óptima com Joachim Löw, se bem que este diz que ambos "são profissionais", e que a sua proximidade é mais uma fabricação da imprensa do que outra coisa. Só que o Bairro do Oriente tem uma mosquinha espiã com câmera e microfone e recolheu imagens que dão conta do contrário. E aqui estão elas:



- Ouvirrr, mein Jürgen, eu saberrr que você querrerrr passarrr a grrupo, ich nein? Se nós perrderrr ainda tem viel golen vantagem, ja? Porrtanto eu deixarrr vocês amerikanen empatarrr, e assim ich portugueisich schweinen unt Gana shwartzen irrr parra casa, sie möchten, dass?



- Ja, ja, eu querrerrr, mas não esquecerrr mein Joachim, FIFA unt herr Blatter vai ficarrr atenta...melhorrr nós fingirrr que querrr ganharrr. Sie nicht so denken? Assim nós jogarrr boa jogo, e empatarrr 2-2, zwei und zwei.

Portanto deixem-se de tretas, pá, pois mesmo que Portugal vença o Gana por cinquenta golos, os "boches" vão-se empatar um ao outro, e no fim fazem um "gruppensex" para festejar. E assino por baixo da previsão de Herr Klinsmann: empate a dois golos.

Mercenários? Nada disso: profissionais


A selecção do Gana ameaçou não comparecer no jogo contra Portugal caso o Governo ganês não mandasse 3 milhões de dólares para os jogadores, descontentes com o incumprimento da Federação no que respeita aos prémios de jogo. Seria a situação ideal para Portugal, uma vez que por falta de comparência venciamos por 3-0, e era só os Estados Unidos não comparecerem também no jogo contra a Alemanha, perdiam também por 3-0, e nós passávamos. Problema resolvido, e só mesmo assim, porque dentro das quatro linhas Portugal não mostrou argumentos para passar aos oitavos-de-final, e para quem ainda faz contas a uma eventual goleada no jogo contra os africanos, já se devia dar por satisfeito se Portugal não perdesse por muitos - o Gana demonstrou, especialmente contra a Alemanha, ter muito mais equipa que Portugal. Entretanto o dinheiro chegou, e em notas, pois segundo o treinador ganês James Appiah, algus jogadores "não têm conta bancária". Tudo bem, eles lá sabem com que linhas se cosem, e se quiserem guardar o dinheiro no colchão, isso é lá com eles.

A notícia veio passar uma má imagem para a selecção ganesa, cujos jogadores foram chamados de "mercenários", só que não estão sozinhos: António Boronha antigo dirigente da FPF, veio a público revelar que em 2000, antes da partida para a Holanda para disputar o campeonato europeu, o selecionador português Humberto Coelho exigiu 6000 contos - 30 mil euros na moeda actual - como adiantamente dos prémios de jogo, senão não embarcava. Esta verba não estava prevista no contrato com a FPF, mas Coelho não queria a questão dos prémios a atrapalhar o desempenho dos jogadores, portanto pediu a Boronha que falasse com Madaíl, senão nada feito. Convém sublinhar que a exigência de Humberto Coelho não era apenas em causa própria, mas em nome de todos os jogadores da selecção. Portanto não vale a pena chamar "mercenários" aos rapazes; eles não estão ali para nos fazer nenhum favor, e sem dinheiro não há palhaços. Olhem para o exemplo da Espanha, cujos jogadores receberam o prémio mais elevado para participar no mundial, e acabaram por fazer aquela triste figura. Mas para ir para ali durante o Verão, quando podiam estar de férias com as esposas ou com as namoradas, e ainda ter que aturar "bocas" vindas dos "treinadores de bancada", queriam o quê? Dinheiro na mão, bola no chão.

Rui Unas apela ao Gana

quarta-feira, 25 de junho de 2014

O silêncio de Agnes


Well, well, well...por onde anda a nossa amiga Agnes Lam Iok Fong, a cagadora de sentenças na forma de opinião inócua que ninguém pediu favorita de alguma da "intelligenzia" daqui do burgo? A última vez que a vimos foi por alturas do 25 de Maio, onde apareceu na TV a dar uns lamirés sobre a manifestação, dizendo aquilo que toda a gente sabia e toda a gente viu, e depois remeteu-se a um silêncio sepulcral, quando os seus milhares de adeptos - quatro, para ser mais preciso - aguardam ansiosamente pelas suas pérolas de sabedoria. Ela que tem uma opinião sobre tudo e mais alguma coisa, esta salvadora da pátria em miniatura, a auto-intitulada representante da classe média de Macau, de que foi fundadora.

É no mínimo estranho que mesmo após as últimas atribulações na Universidade da Montanha, a vestal da minoria esclarecida, dos intelectuais e artistas, não tenha vindo a terreno soltar um traque opinativo que fosse. Será que anda muito ocupada? Deve ser isso, pois na sua página do Facebook lê-se uma mensagem de alguém que suponho ser um admirador seu, ou algo que lhe valha, deixada no último Domingo, onde se pergunta a sua opinião sobre os incidentes durante a cerimónia de graduação no dia anterior. Nesse mesmo dia Agnes Lam deixa um "post" onde comenta a morte da panda-gigante Sam Sam, sem responder à questão colocada. Na manhã seguinte o mesmo utilizador insiste, deixando a seguinte mensagem, poucos minutos antes das 10 da manhã:

大學應該是教導學生獨立思考,應該有更加廣闊的胸襟容得下不同的聲音,小鳳姐妳好像是教人民科學的,在這方面應該有個人的看法,懇請指導以便驗證我舊年立法會選舉所投的一票是正確無誤的,謝謝.

Resumindo, o seguidor da professora da UMAC relembra que Universidade de Macau tem a obrigação de ensinar os seus alunos a pensar de forma independente, ter uma visão ampla e escutar as diferentes opiniões, e apela a Agnes Lam que expresse a sua opinião pessoal sobre a questão levantada no dia anterior, uma vez que "ela ensina o método científico", e deixa mesmo saber que "votou nela". Sem resposta, volta a insistir na terça-feira ao fim da tarde, com a seguinte mensagem:

不是這麽難答吧!- Não deve ser assim tão difícil responder!

Finalmente esta noite Agnes Lam dignou-se a responder, nestes termos:

不好意思,遲了回覆。我那天不在現場,沒有目擊事件發生經過;而且,我在大學除了教書,還兼有行政職務,不適宜公開評論,以避免身份衝突。可是,我會循校內渠道反映自己的意見的。

Traduzindo isto para uma lingua cristã, Agnes Lam pede desculpa pela demora na resposta, diz que não estava na cerimónia quando se deu o incidente, pois estava ocupada com "afazeres administrativos", e que não quer emitir uma opinião sem se inteirar primeiro dos factos, para não ser injusta, e que "vai consultar os canais apropriados", de modo a poder pronunciar-se sobre o assunto. O interessado responde poucas horas depois, agradecendo a atenção, e esperando que a verdade seja apurada.

Agora digo eu: prrrrrrrruuttt!!! Sabem o que é isto? Um sonoro peido para esta treta. Quer dizer, a tipa tem opinião formulada sobre tudo e mais alguma coisa, e fica calada com aquilo que um analista político, como ela tanto se orgulha de dizer que é, considera uma mina de ouro? Até um sapateiro ou um trolha têm uma opinião formada sobre este caso, que tem sido escalpelado tanto pela imprensa, como pelas redes sociais. Meus amigos que fostes pôr na urna o vosso voto com uma cruzinha ao lado desta menina: fostes enganados. "Fu" e mal pagos. Não sejam tão crentes da próxima vez: este anjinho só manda postas de pescada quando a caldeirada está morna ou fria, pois quando faz calor na cozinha, é a primeira a pular fora.

Até entendo que se tenham deixado seduzir pelo seu "discreto charme da burguesia", só que a mim a Agnes Lam nunca enganou: é óbvio que aquilo que a mocinha quer é juntar-se à festa, mas para tal insiste em ser eleita através do voto popular, só que não tem a arte para obter os votos necessários para o efeito, e falha no essencial: ninguém a conhece na Areia Preta. Não entendo como é que face às notícias que dão conta da suspensão de Bill Chao, e supostamente de mais cinco professores da Universidade onde leciona, a Miss Bitaites não dê um pio. Não quero dizer que ela esteja obrigada a ficar do lado de Bill Chao ou de quem quer que seja, mas então, só se fala quando não se passa nada? Vozes dessas já temos por aí a mais, obrigado, dispensa-se a sua.

...e bens que vêm por mal


A notícia do dia na imprensa portuguesa foi, como não podia deixar de ser, a demissão do professor de Ciência Política da Universidade de S. José Éric Sautedé. Os três directores assinam editoriais dedicados ao assunto: no Hoje Macau temos Negros Hábitos, de Carlos Morais José, no Ponto Final, que divulgou a notícia em primeira mão, A Idade das Trevas, de Maria João Caetano, e "last but not least", José Rocha Dinis com Males que vêm por bem, no Jornal Tribuna de Macau.

Falando deste último, adoro como o director do JTM vira o bico aos pregos de forma tão deliciosa. Não entendo o que têm os estatutos da USJ a ver com o caso, a além do mais isso são balelas, que ninguém vai para ali estudar para ser padre, madre ou freira. Eu sei que custa admitir que esta onda de intimidação que tem vindo a ser feita de modo a calar as vozes críticas lhe custa a aceitar, assim como lhe custa a dar a braço a torcer e admitir que afinal isto é mais do que uma simples "birra" de Bill Chou y sus muchachos, mas já agora gostava que me explicasse como é que Sautedé vai contribuir como comentarista, se fica no desemprego? Desconheço se o professor de Ciência Política tem algum meio extra de subsistência, mas creio que exercia as funções de docente na USJ em "full-time". Mas adiante.

Quem está a ser apontado como principal responsável deste acto de censura reprovável e preocupante é o padre Peter Stillwell, que é também responsável máximo pela USJ. A justificação que o reitor encontrou para terminar o vínculo contratual com Sautedé é mais descabida que a teoria da criação, ou que a fábula da Arca de Noé. Nunca fui muito com a cara daquele padreco de barbinha branca, a fazer lembrar o avô da Heidi - e até posso dizer que tive sempre boas relações com sacerdotes católicos e quejandos. Com esta atitude Stillwell vem provar que não passa de um inquisitorzeco de merda, um Torquemada da treta, um Bernando Gui de trazer por casa. Fosse eu católico praticante e nunca mais punha os pés numa missa dada por este "bife" canalha. Que vá para o raio que o parta.

Sautedé estará a pagar o preço de fazer a única que sabe: comentário político, e tiro-lhe o chapéu por isso. Fui "espreitar" na sua conta do Facebook, e reparei como ele tem acompanhado com interesse as recentes manifestações de descontentamento com o desempenho do Executivo, com início a 25 de Maio, bem como a vigília que assinalou o 25º aniversário do massacre de Tiananmen, no dia 4 de Junho - qual destas valências custou ao docente o seu emprego venha o Diabo e escolha, mas aqui o mafarrico teve um expeditor da encomenda: Stillwell, o lobo com pele de cordeiro. Não lhe falta a lãzinha branca nem nada. Quem pode censurar Sautedé por se interessar por algo que é da sua área? Afinal é suposto ele ser professor de Ciência Política ou mordomo da nomenclatura, incumbido da função de ensinar os meninos que estudam na USJ a portarem-se bem e fazer o que o "sodotor" manda?

Quem fica muito mal na fotografia é ainda o bispo José Lai, que diz não ter sido consultado, que não sabe de nada, rebéubéu pardais ao ninho, e delega esse assunto para a competência do reitor. Faz-me lembrar um certo prefeito da Judeia que ficou célebre por ter lavado as mãos, mas deixem lá. Se calhar este recado não lhe foi dado a ele, enfim, ao contrário do que sucedeu com um certo caso que envolveu o jornal Clarim, que os mais esquecidos podem recordar aqui (epá estou a ficar com um artigo quase tão vasto como a Torre do Tombo), portanto com esta trafulhice ele não tem nada a ver, e fica a assobiar para o lado o "Laudate Dominum", de Fredrik Sixten. Dá gosto ver como a Igreja reparte tão irmamente as tarefas.

Ficamos mais uma vez confusos com esta insistência da parte dos "suspeitos do costume" de que a somos todos burros ou que andamos a dormir na forma. Quem é que insiste nos passar para as mãos esta peneira tão ramelosa que já não enxuga meio pacote de esparguete, e nos manda olhar para o sol com ela? Realmente o "timing" tem sido aqui um problema e pêras, e quem sabe se na tal cadeira de Ciência Política deviam dedicar um capítulo ao "senso comum". Quão preocupados devem estar estes mensageiros de Deus, questionando-se "Porquê senhor, porque não temem mais eles o fogo eterno dos quintos dos Infernos?". Ora, para quê temer um mal que já nós conhecemos tão bem?

Colômbia-4 Japão-1; Grécia-2 Costa do Marfim-1



A Arena do Pantanal em Cuiabá, Mato Grosso, foi testemunha de um "show" de bola por parte da Colômbia, que goleou o Japão por 4-1, com James Rodríguez a demonstrar que tem tudo para ser o melhor jogador do mundo. O árbitro português Pedro Proença assinalou uma grande penalidade a favor dos colombianos aos 17 minutos, que Juan Cuadrado converteu no primeiro. O Japão empataria em cima do intervalo por Shinji Okazaki, que meteu quase por acaso a cabeça na área colombiana a um livre de Keisuke Honda. Na etapa complementar entrou Rodríguez para o lugar de Juan Quintero, e foi o início do "cha cha" em Mato Grosso. Primeiro o nº 10 faz um toque para o portista Jackson Martínez aos 55 minutos para o 2-1, e aos 82 faz um passe de morte, que "corta" a defesa japonesa, deixando para Martínez trabalhar o remate e bater pela terceira vez o guarda-redes Eiji Kawashima. Pouco depois entraria o guardião Faryd Mondragón para o lugar de David Ospina, e torna-se aos 43 anos o jogador mais velho de sempre a actuar numa fase final de um mundial. E ainda havia tempo para Rodríguez deixar a sua marca, fazendo o 4-1 numa jogada de génio, em que "come vivo" um defesa japonês, e remata cruzado, fora do alcance de Kawashima. A Colômbia joga um futebol que dá tesão, e merece inteiramente a vitória no Grupo C.


Vale a pena rever o quarto golo da Colômbia, uma obra de arte de James Rodríguez. O defesa japonês Maya Yoshida vai precisar de terapia depois deste golo - quer renal, quer psiquiátrica. Eu vou-lhe mandar um postal virtual de melhoras, a sério.


Surpreendentemente, ou talvez não, a Grécia despertou do coma e quebrou o enguiço em mundiais, e qualificou-se para os oitavos-de-final pela primeira vez em três participações, à custa da Costa do Marfim, que mais uma vez deixou a nu o grande problema das equipas africanas: uma grande ingenuidade, aliada à falta de disciplina táctica e de coesão. É um facto que o "penalty" que deu a vitória aos gregos não existiu, mas a Colômbia venceu por 3-0 a mesma Grécia, e os marfinenses, que mesmo assim são superiores como equipa, não tiveram o engenho de se desembaraçar dos helénicos em 90 minutos de tempo útil. Fernando Santos faz história, e haja um treinador português que tenha razões para celebrar neste mundial do Brasil.

Uruguai-1 Itália-0; Costa Rica-0 Inglaterra-0



Uruguai e Itália disputaram em Natal, Rio Grande do Norte, a partida para apurar quem acompanharia a Costa Rica nos oitavos-de-final do mundial Brasil 2014. Um jogo que como se esperava, foi bastanta táctico, com os italianos a não arriscarem muito, uma vez que o empate lhes bastava para seguir em frente. E foi assim, em contenção e na expectativa do contra-golpe que a Itália encarou esta partida, o que se revelaria uma estratégia arriscada, já que os uruguaios contavam com Edison Cavani no sector criativo, e Luis Suarez lá na frente. A primeira parte não teve história, mas na segunda deu-se a expulsão de Claudio Marchisio, uma decisão algo duvidosa, mas não escandalosa, e a "azzurra" passava a jogar com dez elementos. Diz-se que é mais difícil atacar contra dez do que contra onze, mas os sul-americanos beneficiaram do génio de Diego Godín, o central goleador, que ficou famoso pelos golos decisivos no Atletico de Madrid esta época, que correspondeu a um canto de Gaston Ramírez do lado direito, e marcou de costas para a baliza de Gianluigi Buffon. A Itália ficava perdida no mato sem cachorro, e nem a habitual calma dos transalpinos nestes momentos de pressão lhes valeu. O jogo terminaria após o sexto minuto de descontos, quando foram anunciados apenas cinco, o que gerou protestos entre os uruguaios, assim como a expulsão de Marchisio levantou sérias dúvidas. Má arbitragem do árbitro mexicano Marco Rodriguez. No final da partida o Uruguai garantiu a qualificação, e Cesare Prandelli demitiu-se do cargo de selecionador.


Um dos momentos mais polémicos do encontro foi a "dentada" de Luis Suarez em Giorgio Chiellini, pouco antes do golo do Uruguai. O árbitro, mas Suarez reincidiu na sua atitude "vampiresca", que já lhe tinha custado suspensões enquanto ao serviço dos holandeses do Ajax, e nos ingleses do Liverpool. Resta saber o que vai a FIFA fazer quanto a mais este acto de canibalismo do avançado uruguaio.


Entretanto no Mineirão em Belo Horizonte jogavam Costa Rica e Inglaterra, encontro que terminava empatado a zero, servindo os interesses de ambas as equipas; os ingleses, já eliminados, colocavam em campo uma equipa alternativa, e os costa-riquenhos garantiram o primeiro lugar. Jogo sem história, onde na primeira parte só houve uma remate à baliza.


terça-feira, 24 de junho de 2014

What do you got?


Quando ouvi Jason Chao, presidente do Novo Macau Democrático (NMD) e fundadar do grupo Consciência Macau falar ontem na televisão sobre o incidente do último Sábado na cerimónia de graduação da Universidade de Macau, não pude deixar de sorrir. Isto porque a certo ponto Jason Chao afirma que "não conhecia" a jovem que empunhou o cartaz que deu origem a toda a polémica, e que "apareceu como voluntária" na manifestação de 25 de Maio. Nesta imagem em cima, publicada na conta do Facebook de Tou Weng Kei em 3 de Julho de 2013 - há quase um ano, portanto - é possível vê-la acompanhada de alguns conhecidos elementos dos grupos pró-democratas de Macau, alguns próximos de Jason Chao. Tou está do lado direito, de camisa verde e boné vermelho, e no extremo oposto podemos ver de óculos com uma garrafa de água na mão Scott Chiang, que foi nº 2 de Jason Chao na terceira lista do NMD nas eleições de Setembro último.

Tudo bem, a menina é membro do grupo, pode não ter sido uma manifestação espontânea, aquela a que assistimos no Sábado no campus da Ilha da Montanha, mas o que interessa? Não havia necessidade de Jason Chao "abri ôlo falá mentira", como se diz por cá. É bom que exista gente jovem que queira aderir aos grupos onde se discute política, onde se pratica o activismo, onde se pensa pela própria cabeça, enfim. Desde que seja feito de forma pacífica, coerente e assente em ideias válidas, não há vergonha nenhuma. Sei que pareço um adepto incondicional deste tipo de participação cívica, e que por vezes dá a entender que sou anti-poder, mas nada disso. Nem sempre concordo com os pontos de vista destes grupos de jovens, e por serem isso mesmo, jovens, é preciso dar-lhes uma margem de erro mais larga, e só após o necessário amadurecimento, o crédito que merecem - se o merecerem. O importante é que exista a tal participação cívica, seja ela qual for. Insistindo no silêncio e na apatia, deixando que os outros pensem por nós, é que está provado que não nos leva a lado nenhum.

Mas o que faz com que tantos jovens saltem do anonimato, ou arrisquem a não conseguir um emprego, ou perder o que têm, para embarcar nesta coisa do activismo político? Nos últimos anos assistimos ao aparecimento de uma nova geração de activistas, e começaram a surgir na imprensa nomes como Jason Chao, Scott Chiang, Lei Kin Yun, Sulu Sou, Kam Suet Leng, e agora também Choi Chi Chio e Tou Weng Kit, os protagonistas do "happening" do último Sábado durante a cerimónia de graduação da UMAC. É realmente pena que tenham aparecido apenas agora, pois entre os "veteranos" destas andanças, casos de Ng Kwok Cheong, Au Kam San e poucos mais, existe um fosso geracional tremendo. Não existem elementos ligados ao sector da democracia na casa dos 30 ou até dos 40 anos. Pelo menos de renome, ou que inspirem confiança suficiente para realizar a necessária renovação da liderança nesse sector. Mesmo Jason Chao, que já tem alguns anos de experiência e é de facto presidente do NMD é ainda considerado "muito verde", e o seu "rating" de aprovação, ou a falta dele, ficou demonstrado nas últimas eleições.

A minha mulher diz-me que figuras como Sulu Sou, que se tem destacado pelos seus dotes retóricos e intervenções onde demonstra grande sentido de oportunidade, ou Kam Suet Leng, que ficou célebre pela indumentária "sexy" no 1 de Maio do ano passado, "não têm medo de nada, pois ainda são jovens". Pessoalmente considero que quanto mais velho se vai ficando, menos medo se tem da morte, e os jovens prezam mais a vida, e valores como a liberdade, mas consigo ler nas entrelinhas aquilo que a minha cara-metade queria dizer: é o tal "ímpeto" próprio da juventude que os leva a dar a cara, a aparecer na linha da frente a favor do que consideram justo ou contra o que não podem aceitar, a dar um murro na mesa. Se durante os primeiros dez anos desde a criação da RAEM tivemos sobretudo uma enorme dose de conformismo, o tempo é agora de malhar o ferro enquanto ainda está quente. Para mim isto surge como um alívio. Foram anos e anos a questionar-me: onde anda a massa crítica em Macau? Que jovens são estes que não querem nada, não dizem nada e não pensam em nada?

Como em Macau não se faz política (e não me canso de repetir isto) e a economia funciona a velocidade de cruzeiro, sempre no piloto automático, não é hábito levantarem-se muitas ondas. Tempos houve, até muito recentemente, que bastava a dialética do "pão e circo" para que a população ficasse satisfeita, e que considerasse até "com muita sorte", atendendo ao panorama de crise económica que teve o seu auge em 2009, e de que ainda não estamos completamente recuperados. O problema é que aqui no oásis há quem já esteja farto de comer só pão, e tenha percebido que o circo não é grande coisa. Quem sai do território e visita outras paragens, e nem precisa de ir muito longe, apercebe-se que Macau está muito atrasado em vários aspectos, e se o que apregoam é que os resultados financeiros são "espectaculares", então do que estão à espera para fazer desta cidade uma cidade moderna, igual às Hong Kongues, Kuala Lumpures, Tóquios e afins? Já tiveram mais que tempo suficiente para isso, afinal. Quem é que anda a pisar na cauda do progresso e a adiar a concretização da RAEM onde os seus residentes ambicionam viver?

O Executivo lê os sinais mas não os entende. Não sendo capaz de olhar para além do seu próprio umbigo, insiste nas mesmas estratégias desadequadas à realidade, dos mesmos intérpretes de que está toda a gente farta, dos mesmo métodos de dissuasão, do mesmo vazio de ideias e falta de soluções. Já ninguém compra o conceito de que tudo está bem, que o nosso papel é trabalhar e não reclamar, e que depois deles é o caos. É um discurso oco, sempre foi, e agora aberta a casca fica-se a saber que não há nada lá dentro. Não se vende um conceito tão abstracto como a "harmonia" a alguém que não consegue comprar algo tão concreto como uma habitação. Os dirigentes andaram tão entretidos naquele joguinho do Monopólio onde andaram a comprar as casas e os hotéis e as estações todas (um deles foi parar à cadeia e não tinha um cartão que o safasse), que se esqueceu de nós. Agora pede-nos juras de amor eterno, que casemos com eles, mas quem casa quer casa, com as casas a custar tantos milhões, nada feito.

Estes jovens que hoje tomam as ruas conquistaram a simpatia da opinião pública, que os ouve. Fartos de promessas vãs, de números no papel mas nada no bolso, começam a reparar que afinal estes não são os tais maluquinhos, os agitadores a soldo de uma potência estrangeira que visa destabilizar o regime e derrubá-lo. Aqui o regime arrisca-se a ser derrubado pelo próprio regime, isso sim. Se eles andam por aí, os Jasons, os Sulus e as suas "mui-muis", é porque ganharam um espaço, intervêm no tecido social da sociedade, e que diabo, angariam milhares de outros como eles, que outrora remetidos ao silêncio, marcham agora de cartazes na mão a pedir contas a quem tanto lhes prometeu e tarda a cumprir. São rebeldes com causa, se lhes perguntarem "o que vos faz ser rebeldes", eles nem precisam de responder "what do you got?", como no clássico com James Dean - têm tanta coisa. E uma delas é o futuro desta região que amamos, ou ainda não se convenceram disso?



É preciso ter lata



O director do JTM, José Rocha Dinis, assina hoje nas páginas do seu jornal um editorial que só posso mesmo descrever numa palavra: lamentável. O não sei se o sr. Rocha Dinis, por quem tenho uma enorme estima como pessoa, faz isto de propósito, e se aquilo que diz na última página da Tribuna é fruto da sua mais firme convicção. A sério, gostava que ele me dissesse, e se estiver a ser sincero, respeito a sua posição, mesmo que discorde das suas ideias, mas o que me dá a entender aqui é que ele anda, como se diz em português escorreito, "armado em esperto" - sem ofensa, reitero.

Basicamente o sr. director do JTM (e recomendo que leiam o editorial) atribui ao calor e à humanidade próprias da época alguma da animosidade que se tem verificado pelo território nos últimos tempos. Eu próprio considero que este clima é para lá de desagradável, e mesmo residindo em Macau há mais de vinte anos, não me consigo adaptar e duvido que alguma vez consiga. É possível que o mesmo calor e humidade que agitam os ânimos e deixam algumas pessoas à beira de um ataque de nervos possam agravar também alguns quadros clínicos, nomeadamente os casos de gota, ou até afectar as funções renais de alguns marsupiais originários de outras paragens mais temperadas. Mas isto são coisas sérias com que é melhor não brincar, certo? Então com o que é que a gente brinca, para ver nos abstraímos do tempo incómodo, dos aguaceiros repentinos, e da roupa sempre colada ao corpo?

Pois é, os "maluquinhos" dos democratas, que estão sempre dispostos a partir a loiça toda, e estragar a festa à malta que só quer viver em harmonia. Que diabo, sempre a inventar estes gajos, e ainda por cima contam com a cumplicidade desses incompetentes que gerem as instituições de ensino superior do território, como por exemplo a Universidade de Macau (UMAC). Por exemplo, não, são o único caso, e...esperem lá, o sr. director do JTM chega hoje ao escritório, cantando e rindo, como é do seu timbre, e ao dar uma vista olhos pela "concorrência" depara com isto:



Bolas! A sério? Querem lá ver isto, ah? Agora os padrecos da São José também andam com os fusíveis fundidos com o calor. Pois, pois, as universidades "não têm obrigação de renovar o contrato a nenhum dos professores", mas estes nem sequer se dignaram a disfarçar nem nada. Ai o senhor docente é professor de Ciência Política e atreve-se a fazer comentários sobre...política??? Onde é que isto já se viu? A cadeira de Ciência Política faz parte do currículo de algum dos cursos, claro, mas não é suposto chegar ao ponto de ensinar os estudantes a pensar, ou dar este mau exemplo, fazendo comentários sobre política. Nota dez para a Universidade de São José. Já pensaram em mudar o nome para Universidade do Santo Ofício?

Mas adiante, o director do JTM levou as mãos à cabeça com o comportamento da UMAC, que escolhei a pior altura para anunciar a suspensão do professor Bill Chou: a cerimónia de graduação. Que raio, lá está outra vez o "timing". Há um "timing" para tudo, meus amigos, seja para aprovar leis ridículas que atribuem super-poderes ao Chefe do Executivo, para despedir professores que pensam pela própria cabeça, e para cometer homicídio - já agora, porque não? A melhor altura para "tratar" destes assuntos é o Inverno, que anda tudo muito parado por causa do frio e não apetece protestar - ninguém vai dar por nada, é limpinho.

Assim como fizeram as coisas é que não; a UMAC, só para chatear, deu publicidade ao processo contra o professor Bill Chou exactamente na semana que decorria a cerimónia de graduação, o que levou uma aluna a exibir um cartaz onde apoiava a liberdade académica - que audácia - e esta diz que foi retirada "de forma rude", e "pôs-se aos gritos". A histérica. Mas terá sido mesmo assim? Recordemos:




Valha-me Deus, quer dizer, na imagem em cima vemos a estudante a sair pelo próprio pé, e na imagem de baixo vemo-la cá fora "aos gritos", como se lhe tivessem feito mal. Eu estava em casa e ouvi os gritos da menina, mas pensei que se tratava de ópera chinesa, e os seguranças estavam tão encantados com o seu canto que ficaram cá fora a ouvi-la. Depois de ter exibido pacificamente um cartaz onde pedia "liberdade académica", e segundos depois ser acossada por meia dúzia de marmanjos e marmanjas que lhe destruiram o cartaz e arrastado cá para fora, ela devia era ter ido para casa, coitadinha. E ir fazer bolinhos para todos. La, la, la.

E depois o sr. director do JTM recorda ainda o momento em que os seguranças "rufias", não satisfeitos com o acto de censura exibicionista que tinham acabado de cometer, se "altercaram" com um "auto-denominado jornalista". Ora aí está, o rapaz não é jornalista, porque o tal "Macau Concealers" não é um jornal. Contudo estava acreditado para aquele evento, exibia de forma visível o cartão que provava essa mesma acreditação, mas pronto, não devia estar ali, enfim, o que querem que vos diga? Já quanto à funcionária dos Serviços do Saúde que se fez passar por jornalista e intrometeu-se num domicílio onde se realizava um esclarecimento reservado a profissionas da imprensa, e para qual não estava acreditada, tudo bem, já não é grava. Aliás o próprio director dos SS veio dizer que ela "agiu bem", e se ele disse é porque só pode ser verdade. Afinal o homem foi agraciado com uma medalha de mérito pelo Chefe do Executivo num 20/12 destes, bolas. É um santo.

Mas o tal pseudo-jornalista foi expulso "com algum dramatismo", e "diz ter sido agredido no pescoço". Portanto "algum dramatismo", e "diz ter ter sido agredido", alega V. Exa. Vejamos:





Portanto as duas imagens de cima só podem ser fotomontagens. Em vez de lhe terem arrancado à força o material fotográfico e de seguida derrubarem-no, os seguranças da UMAC pediram-lhe com modos para que se retirasse, deram-lhe dinheiro para o táxi, e presentearam-no com duas lapiseiras com o logotipo daquela instituição de ensino, mais um brochura e alguns postais com bonitas imagens do novo campus. Mas o sacana usou as lapiseiras para se auto-flagelar, e lá fora aguardava-o uma falsa ambulância, propriedade desses grupos de malandrins agitadores que por aí andam a dar cabo da harmonia, que o levou ao hospital, onde em conluio com um médico (ou auto-denominado médico) obteve uma declaração de que foi agredido. Só pode ser isso, com toda a certeza.

Agora falando a sério, meu caro José Rocha Dinis, e mais uma vez repito: não é nada de pessoal. Penso que chegou a altura de percebermos que o tempo de deixar os insatisfeitos cá fora a falar sozinhos e fazê-los passar por maluquinhos já lá vai. Também eu sou apologista de uma sociedade harmoniosa, com toda a gente feliz, etcetera e tal, mas perante tanta inércia e tanta indiferença da parte de quem deve proporcionar esse estado de coisas, o que acha que as pessoas devem fazer? Ficar sentadas enquanto os mesmos vão enriquecendo, enquanto os jovens não conseguem adquirir habitação própria? Que as elites se metam num barco ou num avião particular e vão tratar da saúde saúde aqui ao lado em Hong Kong ou no estrangeiro enquanto os velhos precisam de esperar horas e horas por um consulta que marcaram com meses de antecedência? Que passem leis que lhes garantem mais benefícios e imunidades que levantam suspeitas, e a população ria e bata palmas, e ainda agradeça o cheque anual que já mal chega para tapar buracos?

Eu fico feliz que em Macau a população, nomeadamente a mais jovem, desenvolva uma consciência cívica e política, e para mim já vai tarde. Se eles estão organizados, tanto melhor, mais mérito para eles. Não estou do lado do ninguém nem contra ninguém, mas já é tempo do Governo tirar a cabeça da areia e olhar à sua volta, ver o que faz falta fazer, e responder às necessidades da população. Sim, porque Macau é sobretudo a sua população, e não só os casinos, os turistas, os restaurantes e o imobiliário. Há gente cá dentro. Não vai ser a silenciar as vozes incómodas que vão lá, nem a passar atestados de burrice às novas gerações, dizendo-lhes que não precisam de pensar ou ter opinião formada, e que da política tratam eles - não têm tratado de nada, e não só não fazem como ainda não deixam fazer! Sei que o José Rocha Dinis esteve envolvido nas lutas estudantis nos seus tempos de estudante em Coimbra, e deve ter sentido na pele o que é ser tratado como um "mau elemento", uma "ovelha negra" ou um "maluquinho". Não caia na tentação de ficar do lado contra o qual lutou, por se manter firme aos valores que acreditava.

Holanda-2 Chile-0; Espanha-3 Austrália-0


Holanda e Chile encontraram-se na Arena Corinthians, em S. Paulo, para decidir o vencedor do Grupo B do mundial Brasil 2014. Ambas as equipas somavam seis pontos e tinham já o apuramento garantido, e os holandeses partiam com vantagem para esta partida, com um goal-average de 5 golos a favor, contra 4 dos chilenos, pelo que bastava um empate à "laranja mecânica" para vencer o grupo. O facto dos jogos do Grupo B se realizarem antes da decisão do Grupo A mereceu a crítica de Louis Van Gaal, pois o Brasil podia "escolher" o adversário, consoante o resultado do Holanda-Chile. Scolari respondeu, e muito ao seu estilo, acusou o treinador holandês de ser "ou burro, ou mal intencionado". Por um lado é verdade que o calendário havia previamente estabelecido, mas não se entende porque na abertura do campeonato do mundo jogam as selecções do Grupo A, e depois o B termina primeiro. É uma daquelas coisas que não foram feitas para se entender, enfim. Mesmo assim era quase certo que o Brasil venceria o Grupo A, pelo que os chilenos fizeram o que esteve ao seu alcance para vencer, e evitar encontrar outra vez os brasileiros, que os eliminaram das duas últimas ocasiões em que passaram da fase de grupos. Os holandeses jogaram em contenção. Com Van Persie suspenso por um jogo, Van Gaal apostou no veterano Dick Kuijt no ataque, mas seria do banco que viriam os autores dos dois golos. Primeiro por Leroy Fer, que aos 77 minutos, apenas dois minutos depois de ter substituído Wesley Sneijder, e depois por Memphis Depay, que correspondeu a um cruzamento de Arjen Robben, que voltou a ser o maestro da Holanda, que vai defrontar o México nos oitavos.


Em Curitiba, no Paraná, jogaram Espanha e Austrália, ambas já eliminadas e desmotivadas. A desmotivação da Espanha sobrepôs-se à dos "socceroos", e os jogadores habitualmente suplentes da "roja", a quem Del Bosque prometeu dar uma oportunidade, mostraram serviço. Primeiro foi David Villa, ainda na primeira parte, aos 36, a abrir o marcador, e já na etapa complementar seria Fernando Torres a fazer o segundo, e o 3-0 partiu de uma jogada entre jogadores saídos do banco; Fabregas assiste Juan Mata, e o avançado do Manchester United faz o golo com que a Espanha se despediu do mundial.

Brasil-4 Camarões-1; México-3 Croácia-1


Realizou-se ontem a última ronda do Grupo A do mundial do Brasil 2014, com vitórias da equipa da casa e do México, que seguem para os oitavos-de-final, por essa ordem. Em Brasília, e perante 70 mil espectadores, na emsagadora maioria brasileiros, o "escrete" goleou a frágil selecção dos Camarões por 4-1, mas apesar do resultado volumoso, voltou a revelar fragilidades que lhe podem sair caro contra formações com mais qualidade. Neymar fez o primeiro aos 17 minutos, e nove minutos depois Joel Matip empatava, naquele que seria o único golo dos camaroneses neste torneio. Neymar fez o segundo aos 34, e o jogo foi para intervalo com o público em Brasília a gritar o seu nome. No início do segundo tempo Fred fazia o terceiro, numa jogada que teve a participação do central David Luiz, que tinha ficado mal na fotografia aquando do golo dos Camarões. Neymar daria o seu lugar a Willian aos 71 minutos, e aos 84 o Brasil mostrou que sabe marcar mesmo sem a estrela do Barcelona em campo, com Fernandinho a assinar o quarto golo. O Brasil sai vencedor do grupo e defronta o Chile, 2º classificado do Grupo B nos oitavos-de-final. Curiosamente é a terceira que isto acontece; em 1998 e 2010 os brasileiros encontraram os chilenos nesta fase da prova, e em ambas as ocasiões o Brasil goleou, por 4-1 e 3-0, respectivamente.


Na outra partida do grupo, realizada à mesma hora em Recife, Pernambuco, México e Croácia discutiam a outra vaga nos oitavos-de-final, bastando aos centro-americanos o empate, graças ao 0-0 imposto frente ao Brasil na segunda ronda, que os deixou com mais um ponto que os croatas. E por isso cabia à equipa de Nico Kovac assumir as despesas do encontro, mas voltaram a deparar com uma equipa mexicana muito organizada, que sobretudo defende muito bem. Aos 72 minutos, já com os croatas a gastar os últimos cartuchos, os mexicanos marcaram pelo capitão e veterano Rafael Marquez, e três minutos depois fizeram o segundo por Andres Guardado. Estava resolvida a questão do apuramento, mas Javier "Chicharito" Hernandez, que voltou a ser suplente, ainda fez o terceiro aos 84 minutos, e o melhor que os croatas fizeram foi reduzir três minutos depois por Ivan Perisic, que teve o mérito de ser o primeiro a bater o guardião Guillermo Ochoa neste torneio. O México vai defrontar a Holanda, vencedora do Grupo B nos oitavos-de-final.

Ténia Cristina


Ainda falando de higiene alimentar e afins. Uma senhora chinesa, identificada apenas pelo apelido "Li", viu-lhe retirada uma ténia de 2,4 metros de comprimento - na vertical seria mais alta que qualquer jogador da NBA. A ténia é um verme parasita que se aloja nos intestinos e "rouba" os nutrientes do seu hóspede, sem que seja notada durante um longo período. O único sintoma é um aumento do apetite, aquilo que conhecemos por "solitária", e o verme vai crescendo sem que ninguém dê por nada, até que chega ao córtex cerebral, e provoca aquilo que a comunidade científica chama de "morte". Alguns mais sortudos acusam sintomas como diarreia, vómitos, tonturas e febre, em suma, tudo aquilo que implica ser o hóspede de um parasita. Foi caso da sra. Li, que acusando esses mesmos sintomas, recorreu à medicina chinesa, que com o recurso a vermífugos, eliminou a ténia. Pelo menos a medicina chinesa serve para eliminar a bicharada, valha-lhes isso. A ténia aloja-se no hóspede através da ingestão de carne mal cozinhada, e durante muitos anos era associada ao consumo de carne de porco. Mas se é verdade que o parasita deposita os seus ovos nos músculos do suíno, e estes só são eliminados através da cozinhação. A carne mal passada leva a que os ovos passem pelo sistema digestivo, e uma vez chegados aos intestinos, estabeleçam-se e germinem - isto visto ao microscópio é como um filme de terror. Mas não se pense que isto é exclusivo da carne suína, pois há casos verificados com o consumo de carne de vaca, bem como em algum peixe, especialmente o da faina fluvial. Portanto já sabe, cozinhe tudo a preceito, senão arrisca-se a ter um "alien" a chupar-lhe as entranhas. E para quem conhece a série de filmes de ficção científica com o mesmo nome, sabe como isso pode ser desagradável.

Ai é? Come tu!


Muhammed Karim, cozinheiro britânico de ascendência bengali (os "bengalis" são os naturais do Bangladesh, ó ignóbeis que não sabem o que é "bengali"), criou um prato tão picante que precisa de usar uma máscara de gás quando o cozinha. Karim, 34 anos, é proprietário do restaurante "Bindi", em Lincolnshire, e é também o criador do molho que atribui a esta iguaria um sabor letal, e a que chamou "Atomic Kick Ass", que traduzido à letra pode-se chamar em português "pontapé no cu atómico". Tudo bem, mas para isto chegar ao cu tem que passar por um processo que a Biologia mais elementar determinou chamar de "digestão". Este processo começa na boca, passa pelo esófago e o resto penso que já sabem, etcetera, etcetera, até chagarmos ao cócó. Só que neste caso quem ousar comer as coxas de galinha preparadas pelo chefe Karim, arrisca-se a dar um peidinho incendiário durante a fase final da tal digestão. O próprio cozinheiro define a sensação que se tem ao degustar o prato criado por ele como "um ferro quente deixado em cima dos lábios". Uau, que isto já me está a abrir o apetite e tudo. Karim lançou um desafio: quem conseguir comer dez coxas de galinha com o molho mortífero, ganha qualquer coisa como 1500 patacas. Um preço pequeno para pagar COM A VIDA, uma vez que os sintomas observados em quem provou o prato incluem paralisia facial, choque térmico corporal e hemorragia interna. Os 20 idiotas, perdão, voluntários que aceitaram o desafio não foram além de duas coxas de galinha. Tivessem comido as dez, e ficariam com as tripas de fora. Mas não faz mal, não faz mal! O pessoal do restaurante recebeu treino em primeiros-socorros na eventualidade de alguém comer o cozinhado e sentir-se mal, antes da chegada da ambulância - ou do médico-legista. O molho "especial" é feito de Moruaga Scorpion e Carolina Reaper, duas espécies de malageta, e mais uma "pimenta especial", que leva a que a mixórdia chegue aos 3 milhões de pontos na escala de Scoville, que mede o calor do picante. Karim diz ainda que "isto é um doce", pois a sua mãe, ainda residente no Bangladesh, tem a receita de molho "ainda mais picante". Terroristas, é o que estes gajos são. E já agora, como é que este gajo espera que alguém com o mínimo de dignidade aceita comer algo que o tipo cozinha com a auxílio de uma máscara? Come tu, ó monhé!

Forca Portugal!


Isso mesmo, "forca", sem cedilha, e não "força", porque isso do "Força Portugal" é normalmente associado ao apoio à selecção portuguesa, e da maneira que as coisas estão, só com "força" já não chegam lá - "velinhas a todos os santinhos Portugal" é o mais indicado. Agora isto da forca tem a ver com uma notícia que dá conta de um caso de "ultraje aos símbolos nacionais", nomeadamente à bandeira. Quando oiço falar em "desconsagração" ou "ultraje" à bandeira nacional, imagino um tipo que está no Parque das Nações a assistir a um jogo da selecção em ecrã gigante, dá-lhe um aperto, vai à casa-de-banho, e só depois de se aliviar repara que não há papel higiénico, e tudo o que tem à mão a bandeira nacional, e...bem, acho que já ficaram com a ideia. Mas não, Balalão! Aqui quem dessagrou a nossa amada bandeira foi um "artista", um tal Élsio Menau (só o nome é já deOs si muito "artístico"), que há dois anos desenvolveu uma instalação artística na conclusão do seu curso de licenciatura em Artes Visuais, que consistia na bandeira nacional pendurada numa forca de quatro metros de altura, que ficou implantada num terreno provado perto de Loulé, Al-Gharb.

A esta "obra de arte" o Dr. Menau deu o nome de "Portugal na Forca". Sim, faz todo o sentido, um bocado de pano pendurado num madeiro obliteram de uma assentada mil anos de história e deixam pendurados pelo pescoço 10 milhões. Foi por isso que cinco indivíduos, provavelmente pertencentes ao PNR, apresentaram queixa por "ultraje aos símbolos nacionais", crime contemplado no Código Penal, no artº 332, nº 1: "Quem publicamente, por palavras, gestos ou divulgação de escrito, ou por meio de comunicação com o público, ultrajar a República, a bandeira ou o hino nacionais, as armas ou emblemas da soberania portuguesa, ou faltar ao respeito que lhes é devido, é punido com pena de prisão até 2 anos ou com pena de multa até 240 dias". Já agora para quem não consegue ficar muito tempo sem ultrajar símbolos nacionais, recomendo que o faça antes com a bandeira de uma das regiões autónomas, que se arrisca apenas a um ano de prisão ou 120 dias de multa, segundo o nº 2 do mesmo artigo. Portanto isto das bandeiras tem o seu peso, e a da Madeira ou dos Açores valem metade da bandeira nacional (qual é a pena para ultrajar a bandeira do Benfica, já agora?).

Um dos queixosos invocou o crime de traição à pátria, que no texto que lhe é dado pelo artº 308 do CP, diz que "Quem por meios violentos (...) Tentar separar da Mãe-Pátria, ou entregar a país estrangeiro ou submeter à soberania estrangeira, todo o território português ou parte dele; ou Ofender ou puser em perigo a independência do País; é punido com pena de prisão de 10 a 20 anos". Confirma-se que os tipos que apresentaram queixa eram do PNR, mas escutai, não foi isto um "meio violento", enforcar a bandeirinha, ah? Os militares da GNR que vieram dois dias depois retirar aquele insulto à nação até perderam o apetite para o xarém do almoço quando depararam com o cenário da bandeira ali toda sufocada, coitadinha. Tivesse ela língua, e de certeza que estaria de fora. E não foi isto uma tentativa de submeter o território português à soberania estrangeira? Imaginem que passavam por ali uns visigodos, ou uns suevos ou ainda uns alavos? Viam a bandeira pendurada numa forca, e interpretavam aquilo como um sinal de que era a altura certa para invadir Portugal. Portanto não surpreende que em vez de os mandar à fava, as autoridades tenham recebido a queixa dos maluquinhos, e Élsio Menau tenha sido chamado à PJ e identificado.

Depois disto a instalação esteve exposta na Galeria de Arte do Convento de Santo António, em Loulé, no âmbito de uma exposição colectiva promovida pela Universidade do Algarve, e ainda figurou no "videoclip" de uma banda de rap portuguesa, os Tira-Nódoas (lol), e a canção (?) chama-se exactamente "Portugal na Forca" - podem ver o vídeo aqui, mas não recomendo. Refira-se ainda que o tal trabalho recebeu 17 (dezassete) valores no curso de Belas Artes de Menau. Como a justiça portuguesa é célere cumó caraças, o caso foi agora a julgamento, e o Ministério Público pediu a absolvição para o artista, alegando que "o trabalho em causa fez parte de um exercício universitário relacionado com arte e design e que nunca houve intenção de ofender os símbolos nacionais", e que Menau "exerceu um direito que hoje está consagrado constitucionalmente que é expressar artisticamente a sua opinião”. Aqui nesta do "artisticamente" é que permitam-me que discorde, pois se há alguém que devia ir a tribunal era o gajo que deu nota 17 a este "artista".

Ando um bocado fora destas coisas da arte, mas aparentemente aquilo a que chamam "instalação" é a combinação de dois objectos que já existiam, supostamente de modo a transmitir alguma "mensagem" . Já tivemos recentemente o caso daquela instalação que foi alegadamente censurada numa exposição em Pequim, que consistia em massas fritas despejadas por cima de um mapa-mundo a que se deu o título "Yumi Chop Suey". Assim eu também sei ser artista, estão a ver? Por exemplo, ligo uma ventoinha e um secador em frente um ao outro e chamo-lhe "quente e frio", ou junto um pacote de tampões, uma embalagem de vaselina e uma garrafa de tequila e chamo-lhe "fim-de-semana estragado". É simples. Mas este Élsio Menau aparentemente teve o engenho de ser ele próprio a a montar a forca, a juntar as traves e não sei que mais, mas no máximo isso podia-lhe valer um prémio de carpintaria, não em Belas Artes.

Isto dos símbolos nacionais e do ultraje aos mesmos é uma daquelas coisas que me faz confusão, e incomoda-me que exista uma lei que puna os patetas que se dêem ao trabalho de vandalizar uma bandeira. Eu próprio considero que existem outras maneiras melhores de ocupar o tempo do que andar por aí a queimar ou rasgar pedaços de pano - como ir dormir, por exemplo. Quem não estiver satisfeito com a vida ou com o seu país não vai ser atacando um rectângulo composto por 95% de nylon e 5% de spandex que vai ficar com mais dinheiro no banco. Olha, pode emigrar por exemplo, como fizeram tantos. E é também por essa razão que os tipos que se ofendem com o "ultraje dos símbolos nacionais" deviam era antes ter juízo e não andar a empatar a justiça com tretas destas. Mas além da publicidade que o tal Élsio Menau conseguiu com este caso, aproveita-se ainda mais uma coisa. Da próxima vez que vir um nacionalista cheio de pressa, pergunto-lhe: "o que foi, vais tirar a bandeira da forca?".

River Douro's Eleven


Ele há gente sem coração. Na madrugada de Domingo para segunda-feira, um grupo de "ocean's eleven" do rio, uns "river's eleven" por assim dizer, assaltaram a lota de Matosinhos, levando consigo 3,8 toneladas de sardinha acabada de pescar, no valor de 38 mil euros (380 mil patacas). Fresquinha, tão fresquinha que até depois de grelhada ao ponto de carvão ainda se podia vê-la a mexer-se. Estes bandidos cometeram este elaborado saque exactamente na véspera da noite de S. João, onde a cotação da sardinha atinge o seu valor mais alto em Wall Street, chegando a custar no dia seguinte 10 euros ao quilo na lota, e 25 euros no mercado. É inadmissível como foi negligenciada a segurança na lota; esta é uma altura em que as sardinhas deviam estar ser vigiadas por milícias para-militares armadas de lança-rockets e bazucas - não, bazucas não senão ainda apareciam lá uns moçambicanos a pensar que ia haver sardinhada com bazucas para empurrar. Lança-rockets, pronto. E semi-automáticas. À hora em que se descobriu o golpe já iam os ladrões tão longe que nem a PJ armada com uma cambada de gatos vadios pisteiros lá chegava.

Maria José Lopes, peixeira, 54 anos, que monta a barraca na lota de Matosinhos há 31, nem queria acreditar no que viu quando lá chegou de madrugada. "Esta era sardinha da boa, da melhor que há. Foi pescada esta semana...", disse com os olhos lavados em lágrimas. "Andam por aí a vender porcaria que nem os gatos comem. Veja só que até sardinha argentina e marroquina andaram por aí a vender, os (censurado)", acrescentou, enquanto o repórter tapava os ouvidos com um dedo, não fosse o berreiro da velha rebentar-lhe com os tímpanos. E realmente fala quem sabe; quem é que vai querer sardinha argentina, que passa o dia inteiro a olhar-se ao espelho, ou marroquina, que sabe a haxixe? O assalto não podia vir na pior altura, pois a pesca foi fraquinha este mês, e os preços aumentaram - até a sardinha congelada aumentou, chegando a custar dez euros o quilo, mas Maria José garante-nos que é boa: "É portuguesa! E foi pescada na semana passada". Assim ficamos mais descansados. Imaginem o que seria um S. João com as fatias de pão de quilo a jazerem ali, branquinhas, sem uma sardinha que lhe deixasse o óleo, as espinhas e as tripas em cima, e as pessoas sem os dedos a cheirar a peixe? Era um drama humanitário.

Porque?



A Rádio Euskadi venceu o prémio na categoria "Bom uso da música ao serviço de uma ideia" no Festival de Publicidade de Cannes com este anúncio, onde conta com a participação (involuntária) do "nosso" José Mourinho. Simples, curto, bem conseguido, e divertido. Às vezes o sucesso reside apenas na simplicidade. Pode ser que o próprio Mourinho tire disse as devidas ilações.

segunda-feira, 23 de junho de 2014

心心 (2008-2014)



Rosberg acreditado na Áustria



Há vida para além do mundial de futebol do Brasil, se bem que os restantes desportos ficam "acanhados" durante o mês em que se realiza a competição máxima do desporto-rei. Para quem gosta de futebol mas não anda completamente absorto com a acção nos relvados brasileiros, sabe que ontem se realizou a oitava prova do mundial de Fórmula 1, no circuito Red Bull Racing em Spielberg, na Áustria. A qualificação foi dominada um tanto ou quanto surpreendentemente pelos Williams-Mercedes, com Felipe Massa e Valtteri Bottas a ocuparem os primeiros lugares da grelha de partida, seguidos do Mercedes de Nico Rosberg e do Ferrari de Fernando Alonso. Os Red Bull, a correr em casa, estiveram bastante discretos, com Daniel Ricciardo a largar do 5º lugar e o tetra-campeão mundial do 12º, enquanto Lewis Hamilton, colega de Rosberg na Mercedes, saía da nona posição. Os Mercedes fariam uma largada fantástica, com Hamilton a ganhar quatro posições e Rosberg a pressionar os Williams. Vettel por seu lado começou com problemas mecânicos logo na segunda volta, abandonando à 33ª. Rosberg viria a passar Bottas na ida às boxes, e Hamilton ia ganhando posições, enquanto Ricciardo fazia uma corrida abaixo das expectativas. Os Mercedes por se superiorizar aos Williams, mas ambas as escuderias equipadas com os motores alemães terminariam nas quatro primeiras posições, por esta ordem: Rosberg, Hamilton, Bottas e Massa. Alonso foi quinto, e no final admitiu que o seu Ferrari não tem capacidade para competir com os Mercedes. O mexicano Sergio Perez, em Force India, fez uma excelente corrida, terminando no sexto lugar, enquanto Ricciardo não foi além do oitavo, atrás do McLaren de Kevin Magnussen e do Force India de Nico Hulkenberg, e o Ferrari de Kimi Raikkonen fechou os pontos. Após o GP da Áustria, que regressou ao calendário da FIA 11 anos depois, Nico Rosberg ficou mais líder do mundial de construtores, somando agora 165 pontos contra 136 de Lewis Hamilton, ambos já com grande vantagem sobre Daniel Ricciardo, que tem 83 pontos, Fernando Alonso com 79 e Sebastian Vettel com 60. Nos construtores o domínio da Mercedes é esmagador, com 301 pontos, seguindo-se a Red Bull com 143, Ferrari 98, Force India 87 e Williams 85. A próxima etapa do mundial de F1 é a 6 de Julho em Silverstone, no GP da Grã-Bretanha.