sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Os blogues dos outros


No domingo os chineses celebram a entrada no Ano do Búfalo, conhecido pelo trabalho árduo e pela persistência, terminado desta forma o Ano do Rato que não deixará muitas saudades. Nesta altura, a população chinesa regressa a casa para celebrar a entrada no novo ano, provocando a maior migração do mundo. De acordo com previsões do governo, de 11 de Janeiro a 19 de Fevereiro deverão circular nos comboios chineses 188 milhões de passageiros! As ruas estão engalanadas com as lanternas vermelhas e muitas,muitas flores! Celebremos pois o búfalo! Kung Hei Fat Shoi!

El Comandante, Hotel Macau

A censura chinesa começou a visar Barack Obama logo no seu primeiro discurso à nação e ao mundo enquanto 44.º presidente dos Estados Unidos da América. Esta gente parece ter medo até da sua própria sombra! Tudo o que possa soar a reaccionário tem que ser mantido longe do povo. Para o zé povinho, esses básicos, bastam Jogos Olímpicos e taikonautas que cantam karaoke nos estádios e pavilhões. Trabalhem, comam, durmam e festejem umas coisas, desde que não armem muita confusão. Também não se reproduzam muito, que o país não suporta tanta gente. Podem ver televisão e aceder à Internet, mas com juízo. Podem falar de política, desde que não seja para dizer mal. Melhor, até podem dizer mal, mas só dos outros: dos americanos, dos israelitas, dos europeus (especialmente dos franceses da Carla Bruni e do Sarkozy). Pobre condição!

Nuno Lima Bastos, O Protesto

O gesto mais noticiado do primeiro dia da presidência Obama - a assinatura da ordem de encerramento da prisão de Guantanamo no período de um ano - não sendo inesperado, é preocupante. Não é inesperado porque Obama sempre afirmou que faria isto mesmo durante toda a campanha, e pode dizer-se, portanto, que está a cumprir uma promessa. Mas não está. O que Obama fez foi assinar uma ordem vistosa (e é a primeira pedrinha de preocupação), mas vazia (e é a segunda). Interrogado sobre todas as consequências que naturalmente ocorrem (para onde vão os prisioneiros, o que acontece aos processos, o que farão a Osama Bin Laden se o apanharem, etc.) o assessor de Imprensa, na sua primeira conferência do mandato, sorriu muito e não poude dar uma única resposta. Não se sabe, ninguém sabe, está para ver-se, será estudado. Preocupante, mais, é Obama ter tido tanta pressa de fazer notícia quando, para que a decisão tivesse conteúdo útil e conhecido, não poderia ter tanta. Ora, se decide com os olhos nos media quando se trata de terrorismo e guerra, como fará quanto ao resto? E sobre economia, a maior urgência? Sobre economia, a maior urgência, nada. Mas decerto que a salvação seguirá dentro de momentos.

José Mendonça da Cruz, Risco Contínuo

Da esquerda à direita, mas mais à direita, ontem foi dia para se avisarem os incautos. Que Obama não vai cumprir, porque nunca ninguém cumpre. Que Obama não é Deus, logo não fará milagres. Que Obama é igual aos outros, se não acabar por ser pior. Mas para quem é que estiveram a falar? Para um grupo de alucinados que, por o serem, jamais os iriam escutar, quanto mais entender? Não, estavam a falar para si próprios. É a actividade favorita dos cínicos, o solipsismo. Vir com essa conversa num dia de esperançosa e feliz celebração é apenas mais um egoísmo. Equivale a entrar numa festa de aniversário à socapa e, na altura em que a miúda de 8 anos avança para o bolo, puxá-la por um braço e dizer: Olha lá, não penses que a vida vai ser sempre uma festa. Daqui a nada estarás a sofrer com o período, depois vais assustar-te com os rapazes, invejar as raparigas, ficar triste com os homens, irritada com as mulheres, odiar os maridos, dizer mal das vizinhas. Terás doenças, pânicos e depressões. Irás enterrar os teus pais, familiares e amigos. A solidão irá cercar-te, invadir as células, uma a uma. Até que a morte comece a aparecer no espelho. Morte branca, rugosa, manchada. Aí, só te restará um consolo: entrar nas festas de aniversário, de miúdas como tu, e vingares-te nelas da miséria e absurdo dos teus últimos dias. Vai lá agora apagar as velas, vai.

Valupi, Aspirina B

- Fez-nos a vida negra, armou os terroristas da UPA que cometeram atrocidades inomináveis no norte de Angola e, no fim, foi ao MPLA que coube o poder em Luanda.
- Abandonou Cuba aos guerrilheiros da Sierra Maestra e depois não deu aos anti-castristas o apoio de que necessitavam para evitar a implantação do regime concentracionário de Fidel.
- Envolveu os EUA na guerra do Vietname e tudo fez para que o regime católico de Ngo Dihn Diem (Vietname do Sul) fosse deposto por uma camarilha de generais corruptos amestrados nas academias norte-americanas. Dez anos volvidos, os EUA saíam derrotados do Sudeste-Asiático.
- Facultou pleno apoio à preparação e execução do golpe de Estado do Ba'ath no Iraque. No fim da década, o Iraque estava alinhado com a URSS e convertera-se na mais bem conseguida experiência totalitária no Médio Oriente.
- Prometeu maior liberdade e direitos civis, mas não teve coragem para ir mais além, pelo que coube a Lyndon Johnson o papel de verdadeiro emancipador dos negros norte-americanos.
JFK foi um logro, produto da política de lóbis, da imensa fortuna da família e dessa infantil crença de um sonho que parece só bafejar a plutocracia que se pode dar ao luxo de vestir, falar e pensar como as "working classes". Quando vejo tanto entusiasmo por Barack, só lhe desejo que não siga as funestas pisadas desse falso aristocrata do dinheiro em cuja presidência se cometeram tantos erros. No fim desta maratona-festa de investidura, ficou a sensação de uma enorme campanha de relações públicas destinada ao pouco sofisticado universo mental dos americanos - onde não faltou a patética dança do casal presidencial - e, sobretudo, um imenso paternalismo denunciando o jamais resolvido problema racial. Para bem de todos nós - e continuo a pensar tratar-se de um senhor e um ser bem intencionado - espero que Obama consiga fazer uma boa presidência.


Miguel Castelo-Branco, Combustões

Fernando Rosas, com os espinhos que caracterizam o sénior do Bloco de Esquerda, fartou-se de zurzir contra a criação de um quinto canal de televisão. Sublinhou a recessão do mercado publicitário nas televisões e nas rádios, o despedimento que tem atingido o jornalismo e o futuro incerto que se abate sobre a imprensa escrita. Ao fazê-lo, um lapso toldou-lhe o discurso, quando apontava o dedo à «imprensa escrítica». Por mim, o engano deve ser aproveitado e entra directamente nos neologismos com interesse. Não são apenas a crise que se apodera do jornalismo e o agravamento da autocensura que o poder fomenta: são também as televisões e as rádios que abarrotam de opinadores. Nada melhor, pois, do que repor o papel essencial daqueles que conservam um olhar lúcido sobre as actuais incertezas e ainda têm a coragem de o fazer em letra de forma para a posteridade. «Escrítica» parece-me uma ideia brilhante: redefine e promove uma tarefa respeitável. Espero que os seguidores de Malaca Casteleiro tenham anotado.

João Carvalho, Delito de Opinião

Um grupo com capitais angolanos comprou o semanário 'Sol'. Pronto, que chatice! No sábado já não teremos a manchete a anunciar quem foi o ministro do Governo Guterres que entrou no cambalacho Freeport. Que chatice, teremos mais um jornal sem liberdade de informação. Que chatice, teremos mais um jornal a definhar até ao encerramento final. Que grande chatice, lá continuamos a ser colonizados por Angola...

João Severino, Pau Para Toda a Obra

Dificilmente encontraremos um período de tanta suspeição no futebol português.
O presidente do Braga pediu árbitros estrangeiros para as competições nacionais. Sucedem-se as situações de ordenados em atraso. Os regulamentos causam problemas interpretativos risíveis, como o que advém do uso saloio da expressão inglesa goal average. A Comissão Disciplinar da Liga perdeu qualquer credibilidade com a arrogância enfatuada com que o seu presidente se quis exibir. O Conselho de Justiça da FPF, há meses, deu um espectáculo deprimente – os seus novos membros, há dias, ignoraram alegremente as determinações do Supremo Tribunal Administrativo. Perante isto, o eterno Gilberto Madaíl quer co-organizar um Mundial. Quem vier atrás que feche a porta.


Carlos Abreu Amorim, Blasfémias

Ainda não terminou a luta contra a avaliação, que por artes mágicas se transformou em luta contra o estatuto, e já os sindicatos dos professores encontraram mais uma bandeira para alimentarem a confusão nas escolas, agora querem que se continue a entrar para a carreira de professor prestando menos provas do que as exigidas para cantoneiro. É um sinal evidente de que a última greve esteve muito longe dos 91% de adesão e que o PCP precisa de encontrar mais bandeiras para envolver na luta não só os que são professores como os que o pretendem ser. Uma forma de alimentar manifestações.

Jumento, O Jumento

1 comentário:

Anónimo disse...

Deste apanhado de opiniões, destaco a do Jumento, que prova fazer jus ao nome que para si próprio escolheu. Dou-lhe os parabéns por isso.