Taxistas filhos da mãe

Ah Macao, Saturday night in cheap Vegas. Fui hoje depois do jantar dar uma voltinha a pé pelo Largo do Senado, para ver as montras e beber um cafezinho. Não estava assim uma noite muito agradável, está calor e a humidade estará, como diria o Gabriel Alves, "muito acima dos 100%".

Quando voltava para casa encontrei dois casais brasileiros (um dos homens era alemão) que olhavam estarrecidos para um dos muitos imperceptíveis mapas afixados na cidade, este junto dos Serviços de Turismo. Como percebi que falavam português perguntei-lhes se precisavam de ajuda, e disseram-me que procuravam as ruínas de S. Paulo. Como estavamos perto levei-os até lá, e pelo caminho fiquei a saber que trabalham na fábrica da Bosch de Changsha, província de Hunan, que estão na China há dois anos, enfim, como eles dizem, "papo furado".

Pelo caminho perguntaram-me ainda "como é que saíam para a China", e respondi-lhes "pelas Portas do Cerco", mas teriam que se apressar pois tinham menos de uma hora antes da fronteira fechar e não dava para ir a pé. "A fronteira fecha???", perguntou um deles surpreendido. "Pois é", disse eu, mas isso não é nada comparado com o que se seguiu. Foi assim que fotografaram muito rapidamente a fachada da Igreja de S. Paulo, e de seguida fomos procurar um táxi.

Foi aí que a porca torceu o rabo, pois nem no centro nem junto dos hotéis foi possível encontrar um maldito táxi. Subi com eles até à entrada principal do antigo Hotel Lisboa onde pedi encarecidamente àquele indivíduo vestido de forcado "que chamasse um táxi para estas pessoas, que tinham que estar nas Portas do Cerco em menos de meia hora". Disse-me que tinha muita pena, mas que tentasse a sorte "ali em baixo", apontando para perto do Hotel Presidente. Ainda pensei em ir a casa buscar o carro e levá-los, mas não dava tempo.

Finalmente apanhei um taxista, que estava "fora de serviço", um indivíduo muito mal encarado com bigodinho de gato, e expliquei-lhe novamente o problema. Antes que eu pudesse dizer alguma coisa, uma das brasileiras aprontou-se a oferecer-lhe 200 patacas pela corrida. Fiquei surpreendido, e pelos vistos na China continental parece que têm o mesmo problema com os táxis.

O indivíduo fez um ar enfadado, disse "Portas do Cerco...hmmm...impossível", que até parecia que lhe tinha pedido para levar as pessoas ao bosque onde mora a bruxa má. Ofereci-lhe primeiro cem patacas, ao que disse logo "hmm tak, hmm tak", e só aceitou quando chegou às duzentas, e mesmo assim com uma cara de parvo. Uma corrida normal do Hotel Lisboa às Portas do Cerco, ainda por cima à noite e sem trânsito, nunca ficaria por mais de 40 paus. Isto se Macau fosse uma cidade normal onde uns taxistas de cu cagado ditam a lei da selva.

Não há pachorra para isto; se Macau quer ser uma cidade internacional este problema tem que ser resolvido e depressa. E se por acaso não tivesse encontrado este corruptozinho no bólide preto? Lá ficavam as pessoas apeadas em Macau até às sete da manhã. Que grandes filhos da mãe, para não lhes chamar outra coisa.