Casamento gay em Macau? What the dickens?

Uma reportagem sobre a eventualidade do casamento gay em Macau nas páginas do JTM chamou-me a atenção. Isto nunca me passou pela cabeça, o casamento entre pessoas do mesmo sexo na RAEM, uma vez que apesar de existirem muitos gays no território (obviamente), homens e mulheres, não existe um lobby propriamente dito, como nos países ocidentais, que mexa os cordelinhos no sentido de, e segundo eles, "garantir os mesmos direito a todos os casais". Um eufemismo para "liberar a bichanice".

Em primeiro lugar, e como observa muito bem a reportagem, a sociedade local é muito fechada. De um lado a hipocrisia da Igreja (de lembrar que muitos homossexuais são católicos devotos), por outro lado a cultura chines, que apesar de aceitar bem a homossexualidade está muito longe de aceitar essas "modernices". Aliás falar de casamento entre pessoas do mesmo sexo no continente asiático é, em geral, muito complicado. A homossexualidade é ainda proibida em muitos países islâmicos (na Malásia e Indonésia existe ainda o crime de "sodomia"), e mesmo nas Filipinas, o país asiático onde a homossexualidade é "grupo" (passo a expressão) existe uma influência asfixiante da Igreja Católica-Romana que impede quaisquer veleidades por parte da máfia cor-de-rosa. Se um dia se legalizar o casamento entre pessoas do mesmo sexo em algum país asiático, suponho que será o Japão a tomar a iniciativa, uma vez que é de longe o país mais sociologicamente apetrechado para o efeito. Antes disso, népias.

Nunca em Macau existiu algo parecido com uma "marcha gay", e não existem notícias de discriminação no acesso ao emprego, educação ou outra coisa qualquer. Por um lado sinto-me feliz de viver numa cidade que não discrimina ninguém devido à sua orientação sexual, mas não me agrada muito a forma dissimulada e até suja com que ocorrem os encontros homossexuais, com engates furtivos na rua, casas-de-banho públicas, tudo assim muito estilo George Michael. Todos nós conhecemos um ou outro casal abertamente gay, mas penso que estão muito felizes sem o tal do casamento. Julgo que até acham alguma piada ao facto de apenas os heterossexuais serem castigados com a "benção" do casamento (vá lá, não preferiam ser solteiros, às vezes?).

Se em Hong Kong a questão do casamento gay poderá começar a ser discutida "dentro de 20 anos", em Macau demorará muito mais tempo. Nós aqui somos mais expeditos quando se trata de legislar o artigo 23 e outras mais corriqueiras. Contudo fico um pouco surpreendido com as declarações do deputado Pereira Coutinho, que como é já de seu apanágio, diz que "existem outros problemas mais urgentes". Eu sou contra o casamento gay por motivos que nada têm a ver com moral e religião, mas se essa discussão frutificasse em Macau, porque não haviam os srs. deputados de debater o assunto? Ou só sabem tratar de uma coisa de cada vez?