sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Liberdade para que te quero


Carlos Morais José está de volta das suas (merecidas) férias, um regresso que sempre se saúda, e voltou às lides opinativas nas páginas do seu Hoje Macau. O seu editorial de hoje abordou três tópicos, o Museu de Ciência, os motins ingleses e os táxis. Não sei muito sobre o primeiro tema (não me interessa, nunca lá fui) e concordo em relação aos táxis, mas não posso anuir com o que o CMJ pensa das razões dos recentes eventos em Inglaterra e do quadro negro que pinta.

Primeiro o pior já passou, as coisas estão mais ou menos pacíficas agora, e quando os pequenos hooligans regressarem à escola tudo voltará ao normal. No fundo partir vidros de lojas e andar a brincar à tourada com a polícia foi a actividade de verão que escolheram este ano. Claro que isto agora vai ainda fazer correr muita tinta, pois o primeiro-ministro David Cameron prometeu castigar os criminosos, e foram feitas milhares de detenções. Muito vão ter que fazer os tribunais ingleses durante o próximo ano judicial.

Não concordo que a Inglaterra seja um dos países mais atrasados do primeiro mundo, por muito que me desse prazer dizer isso dos arrogantes súbditos de sua majestade. Primeiro porque o Reino Unido é, helas, um país desenvolvido, e continua a ser um eldorado e uma terra de sonhos para muitos. Que o digam os encarregados de educação de Macau mais endinheirados e os outros que fazem todos os esforços possíveis para mandar os seus filhos para estudar em Inglaterra, o que é sempre a melhor opção - pelo menos para eles. Não sei se uma criança sairá mais "educada" se estudar na Inglaterra em vez de estudar em Portugal, na China, ou ficar mesmo por Macau, mas a verdade é que adquire uma bagagem e alarga os seus horizontes de uma forma que não conseguiria noutro sítio. A Inglaterra ainda é uma nação com uma tradição e cultura ímpares.

Falemos do multi-culturalismo, pois, que é bastante importante. Penso que a Inglaterra, e apesar de tudo, consegue ser um bom exemplo de como pessoas de origens diferentes conseguem conviver juntas. É certo que a maioria dos ingleses despreza os estrangeiros, e de um modo geral não existe uma miscigenação como existe noutros países. Estive no Reino Unido algumas vezes, e apraz-me verificar como os imigrantes das ex-colónias inglesas se integram bem na outrora metrópole - é preciso lembrar que o Paquistão, por exemplo, de onde são originários os "problemáticos" pakis foi parte do Império Britânico da India. Fazem a sua vidinha, têm os seus negócios, alguns são parte integrante da sociedade. Lembro-me de ver na TV aquando dos confrontos um chefe de polícia de origem indiana que usava um turbante. Quando CMJ diz que existem "guetos rácicos e religiosos em Inglaterra", está a usar uma expressão fortes. Guetos existiam (e existem) em Portugal, por exemplo. Casal Ventoso, Vale do Jamor, Cova da Moura, os exemplos nunca mais acabam.

É verdade que tanto para mim, talvez para o CMJ e um ou outro leitor que ainda acredita "no amor e uma cabana" a culpa é sempre do grande capital, e dos interesses que se movem em seu torno. Também eu tenho pena que a civilização ocidental se esteja a desmoronar por causa da gula dos senhores do cifrão, que tanto compraram, venderam, especularam e roubaram que temos agora um saco roto cheio de gente lá dentro. Mas fazer o quê? E as alternativas? O tal "novo modelo que vai limitar as nossas liberdades individuais"? Estou em crer que se as nossas liberdades individuais vão ser mais limitadas no futuro, foi por causa do que fizemos delas.

Nota: Este post era para ter sido publicado ontem à noite, mas tal não foi possível devido a uma avaria no PC. Aos leitores as minhas mais sinceras desculpas.

Sem comentários: