Realizou-se este fim-de-semana mais uma edição do Festival da Lusofonia, a 11ª. E diabos me levem, não é que a festa está cada vez melhor? Cada ano que passa mais genuína, mais autêntica, mais original. Todos os anos se reinventa, tem mais visitantes e curiosos, mais paparoca (deliciosa, toda ela) dos países e territórios onde os portugueses molharam a sopa. O sarapatel, a cachupa, a muamba, o calúlu, o caldo de chabéu, o bobó de camarão, tudo de deixar água na boca, de chorar por mais.
E ali com a Igreja do Carmo como pano de fundo, que outro lugar do mundo se pode orgulhar de tão deleitoso cenário? Somos uns afortunados. Quem não gosta, ou que se queixa que é caro, ou que estava “muito vento” (ele há gente que nunca está contente com nada) pode dar a volta até à vila e comer lá um min, e depois voltar.
Lá em baixo os miúdos faziam maratonas de matraquilhos, as barracas dedicadas aos países lusófonos apresentavam os seus produtos e os traços da sua cultura. Como sempre destacou-se o Brasil, com aquela alegria natural e contagiante das suas gentes, que ora aviavam caipirinhas, limonadas ou brigadeiros, ora davam um passo de samba. Como dizem os ingleses, “never a dull moment”.
Este ano a barraca de S. Tomé e Príncipe contou com a presença do chefe João Carlos Silva, apresentador do programa “Na roça com os tachos”, que tivemos oportunidade de acompanhar através da RTPi. Cabo Verde trouxe a cantora Maria de Barros, ensinou a arte tradicional da tecelagem, e vendeu o seu delicioso grogue.
No palco da Lusofonia passaram os O2 e os Xaile, de Portugal, a Banda Pau e Corda, do Brasil, RM, de Moçambique, Kalú Mendes, de S. Tomé e Príncipe, Pascoal Fada, da Guiné-Bissau, além das habituais presenças dos grupos locais, da Tuna Macaense, dos alunos da Escola Portuguesa, o grupo de danças e cantares de Macau, e até um grupo de acrobacia de Shenyang, da RPC, que veio dar um colorido especial ao espectáculo, provando que a Lusofonia está afinal, ao alcance de todos. Se isto foi o que se fez com "orçamento reduzido", então nem quero imaginar o que teria sido feito com um pouco mais de dinheiro.
Só tenho pena que ao contrário da nossa comunidade lusófona, que vai, fica e participa, os residentes e turistas chineses ficam-se pela curiosidade, tiram umas fotografias (se calhar também acham “very typical”), provam uns petiscos, quando se calhar se deviam juntar à festa. Mesmo os que não falam português, deviam pelo menos sentir, partilhar a experiência, ainda para mais se são de Macau, que já foi território português.
A Lusofonia é a oportunidade de partilhar experiências, de aprender mais, para alargar os horizontes, para sentir outros ritmos, cores e sabores, praticamente sem sair de casa. E é por isso que eu amo Macau, minha gente. Culturamente, Macau não é China da mesma forma que não foi Portugal. Macau é um pouco de tudo, é paragem de todas as raças, culturas, origens, que aqui se juntaram e nos deram estas características tão especiais.
Macau é gengibre, é caril, é açorda, é
chau min, é um pouco de tudo. É Ásia com um trago de África, uma pitada de Europa, a piscar o olho à América. É fado, é samba, é corridinho, é kuduro. É indescritível. Deixai a política para os políticos, e vinde viver este sonho. Não nos interessa destruír o que foi acontecendo quase naturalmente como respirar. Interessa continuar.
4 comentários:
Excelente posta, caro Leocardo. A minha opinião? Esta festa tem tudo para ser um dos grandes cartazes turísticos do território- ao nivel dos "Três Grandes": Festival De Artes, Festival de Música e Grande Prémio de Macau.
Porém, Éé preciso mais investimento em publicitar o evento nos média, nomeadamente na televisão. Vemos agora uma grande aposta do Governo na publicidade do Grande Prémio nas cadeias de Hong-Kong e mesmo em algumas internacionais...Porque não apostar o mesmo na Festa da Lusofonia? Claro que seria preciso subir ainda mais a fasquia na qualidade do evento, tal como trazer ainda melhores espectaculos e interpretes dos vários países lusofonos, mas julgo que a base está aí para realmente se estabelecer um Festival único e de grande interesse na Ásia!
Parabéns Leocardo, grande posta mesmo. Lá está a essência de Macau, para não se tornar apenas a RAEM da China.
Bela posta. Como o primeiro comentador disse, esta festa tem tudo para ser um excelente cartaz turístico da região.
Na minha visão, mil vezes mais interessante que o Grande Prémio
Reitero a opinião dos comentadores anteriores: isto sim, é uma festa só possível em Macau. Parece é que está a ser negligenciada por alguém, uma vez que quase um ano antes já sei quando é que vai ser o Grande Prémio, enquanto que o Festival da Lusofonia já está a decorrer e eu ainda nem um mísero programa consigo arranjar para saber em que dias e em que locais é que vai estar X ou Y. Uma coisa é certa: é talvez o sítio onde consigo ver mais caras bonitas e de todas as raças (isto sim, é o velho mundo lusófono, de quando Portugal era do mundo, e não europeu). E confesso que terem agora metido a China no meio da Lusofonia pareceu-me estranho a início, mas agora afirmo que foi uma aposta ganha e que veio dar ainda mais interesse a uma festa já de si muito interessante.
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