quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Queridos inimigos


Costumo ver um senhor português quase todos os dias que é muito parecido com o António Sala, só que um pouco mais baixo. Tem um ar menos simpático que o Sala, mas o bigode, os óculos e até o cabelo oferecem uma semelhança extraordinária. Sou um pacifista, mas às vezes quase que me apetece discutir com ele por uma razão qualquer, só para lhe poder chamar “António Sala”. A sério. Quem estivesse a ouvir ia rir imenso, e eu fazia um brilharete. Tinha que ser uma situação assim do tipo o gajo meter-se à frente da minha mulher na caixa do supermercado, ou brigar comigo por um parque em frente ao Gourmet. Qualquer coisa assim, ao vivo e com muito público.

Não o conheço, nem é a única pessoa com que embirro pelo seu ar arrogante e carrancudo. No entanto gostava de o conhecer. De ser seu inimigo, rosnar quando o vejo, fazer cara de mau quando passo por ele na rua. E depois “resolver as diferenças”, tornar-me seu amigo, e depois rirmos daquilo que nos afastava, como já fiz tantas vezes quando era puto. Falta-me aquela adrenalina. Em Macau não há inimigos de verdade. Há mal-entendidos, desaguisados (palavra que detesto), e tudo regado com montes de hipocrisia e inveja, mantido por esse autêntico muro de Berlim dos maus fígados, que é o “respeitinho”. Neste grande restaurante da vida, gostava de pedir uma travessa cheia de “bom inimigo”.

Mais do que os falsos amigos, fazem-nos falta os inimigos. Os inimigos querem realmente saber de nós, fazem-nos bem, fazem-nos existir, sentir vivos. Sabem tudo sobre nós, sabem o nosso nome, seguem os nossos passos. Lêem tudo o que escrevemos, ouvem tudo o que dizemos. Gastam gigabites mentais de memória com as nossas acções, declarações e feitos. Criticam porque lhes dá prazer, porque lhes dá oportunidade para exercer o seu ódio de estimação. Às vezes parece que nos ignoram, mas não. Um inimigo que nos ignora não é um inimigo a sério. É só um menino que está a fazer uma birra.

Os ódios de estimação, ah, essa “delicatesse” da inimizade. Podemos ganhar o Prémio Nobel da Paz, um óscar, um Pulitzer. Para eles não importa, pois tudo o que fazemos é mau, ou numa versão mais em voga nos dias que correm, é um “plágio” de outra pessoa qualquer. Existem três artes nobres tão incompreendidas pela sua violência e elitismo: a tourada, a caça, e a colecção de ódios de estimação. Quem tem ódios de estimação, “pet enemies”, consegue fazer uma catarse, apenas igualada pelo prazer de gritar tudo o que se quer do alto dos pulmões numa ilha deserta ou no alto de uma montanha qualquer.

Claro que tudo isto não inclui qualquer tipo de confrontação física. Só as crianças brigam. Quem resolve os problemas à chapada arrisca a interromper o delicioso ciclo do ódio. Perde-se o inimigo. Os inimigos são as pessoas que mais nos querem bem. Ficam sinceramente preocupadas se estamos doentes, ou enfraquecidos. Assim já não lhes podemos dar luta, competir. Os amigos ou os amigalhaços nunca nos chamam a atenção quando dizemos disparates. Fazem cara de parvos e dizem-nos qualquer coisa como “olha que não é bem assim...”. O que nós queremos é um safanão do género “claro que não, sua besta” ou melhor “esse é o maior disparate que já ouvi nos dias da minha vida”.

Os bons inimigos não ameaçam, não concretizam, não usam subtefúrgios ridículos como acções judiciais ou queixas na polícia. Cerram os olhinhos como sinal indicativo de ódio puro quando nos vêem. Riem aos soluços com uma carga irónica quando dizemos qualquer coisa. Querem sempre saber o que vamos fazer a seguir. São os nossos maiores e melhores críticos. Quando fazemos mesmo bem, dizem com os seus botões: “afinal este cabrão sempre fez qualquer coisa de jeito”.

9 comentários:

Anónimo disse...

MUITO BEM!

Anónimo disse...

adorei, olha q ja vi o gajo e nao e'nada parecido com o Antonio Sala, exagerado. tem e'bigode farfalhudo.

Anónimo disse...

A unica vez que fui ver um programa do Herman Jose ao vivo, foi "os Parabens", e o convidado era precisamente o Antonio Sala, um arrogante de merda que praticamente era odiado todos os presentes,tal era a sua petulância e vaidade mas o Herman Jose quando entra em cena para cumprimentar o convidado Antonio Sala manda-lhe esta:

- ve la' que um destes dias no intervalo de um evento qualquer encontrei a tua mulher, demos dois dedos de conversa e perguntei-lhe se a podia levar a casa.
Ela respondeu-me que nao podia porque estava ""coç Sala"".

aquilo foi uma risada geral o Antonio Sala foi-se embora ofendido; tiveram que curtar a gravacao e o Herman teve de lhe pedir desculpa sobra a "coçadela" da mulher.

por mais tempo q passe n me esquecerei de toda aquela presunção do burro do Sala a ir agua abaixo pelo Herman Jose em poucos segundos :)

Anónimo disse...

O gajo é muito parecido com o Sala... tem uma mulher de aspecto simplesmente horrivel.

Anónimo disse...

Não me parece correcto escrever um post sobre uma pessoa que não se conhece, num sítio tão pequeno quanto Macau

Leocardo disse...

Mais uma vez denoto as habituais sensibilidades ofendidas. Não estou aqui a falar de ninguém em particular, ou a mencionar nomes. Se calhar há mais que uma pessoa parecida com o Sala, e se calhar não estamos a falar do mesmo (não conheço os portugueses todos em Macau). A ideia deste post era simplesmente: "mais vale um inimigo sincero que um falso amigo".

Cumprimentos.

Eu (Me) disse...

Não conseguia descrever melhor como são os inimigos em Macau. Digo em Macau porque são a espécie mais perfeita :)

Anónimo disse...

"mais vale um inimigo sincero que um falso amigo”

Uma coisa não deve levar à outra.

A meu ver, é bom ter inimigos mas, única e exclusivamente, pela experiência de vida que é ter inimigos. Pois, ter-los sempre, acho que, em nada ajuda ao nosso, comum, objectivo de vida...que é ser feliz. Atingir a felicidade.

Os falsos amigos é uma subespécie de um inimigo. É um inimigo traiçoeiro, medroso, é um daqueles inimigos que, quando descoberto, é repugnado pelos amigos e pelos inimigos do inimigo.

Ou seja, não concordo que “Mais do que os falsos amigos, fazem-nos falta os inimigos. “ Não, efectivamente, eles não fazem falta nenhuma. Uma vez por outra, se aparecer algum individuo com um destes propósitos, até se pode, e deve, reflectir um pouco acerca do que se passou, das suas intenções e das nossas reacções (para nos ajudar a termos consciência do caminho que não queremos seguir.) Mas é uma vez por outra! Pois, se estivermos sempre a fazer isto.... desfocamo-nos do nosso objectivo de vida, que é..... atingir a felicidade.

Contrariamente a ter inimigos, ou subespécies destes, bom é ter divergências, conflitos, discussões. São os choques de ideias que mais nos desenvolvem, que mais contribuem a acertarmos no caminho a seguir para atingir o nosso objectivo.

Os inimigos, e subespécies, gostam de atenção, são egoístas e egocêntricos. E, decerto, que gostaram de ter um post dedicado só para eles.

N.S.
(o anónimo das 6:14 do post Os gajos de Macau; das 23:22 do post Impressões sobre o 8º festival de gastronomia; das 5:57 do post Franceses viciados)

Anónimo disse...

Acho que o Leocardo, mais do que transmitir uma oinião sincera, gosta de eercitar a escrita. Às vezes faz bem, outras vezes menos bem, e diverte-se imenso com os comentários (se não gostasse moderava o blogue, como faz o seu ídolo Severino). Não acredito que o Leocardo ou qualquer outra pessoa goste de ter inimigos, e o post até é engraçado se for levado na brincadeira. Identifico-me com algumas partes, como a dos amigos não serem tão sinceros connosco como os amigos, ou a rivalidade "saudável" que pode existir com outras pessoas. O problema é que há muita gente séria que leva tudo a sério...

Saudações