A vitória de Barack Obama entra para História como a coisa mais normal do mundo. Um negro (ou mulato, ou mestiço, enfim, um “não-branco”). Na América não é nada de extraórdinário, atendendo que mais de um terço da população é negra ou hispânica. Seria muito mais extraórdinário que fosse eleito um presidente negro na Alemanha, na Grécia, na China, ou mesmo em Portugal, onde a descolonização é um facto relativamente recente. Mas não é a América o melting pot? São sinais dos tempos.
Já tivemos um japonês no Perú (foi mau, mas isso são outras contas), temos um húngaro no Eliseu, e porra, até um algarvio em Belém. Claro que a questão racial existe. Fugir do tema é tapar o sol com uma peneira. A América é racista? Claro, mais a América profunda, onde ainda é difícil aceitar o facto de um negro ir agora ocupar a Casa Branca. As ideias dão lugar ao preconceito, e quem sabe se não seria muito mais fácil para os Democratas mudar o candidato do que mudar as mentalidades. Mas não aconteceu. Obama venceu.
E Obama nem é o negro médio americano; não se chama Jackson ou Wilson, nasceu no Hawaii (um estado “atípico”), viveu na Indonésia, tem raízes muçulmanas, enfim, nunca foi fácil pensar que se iria tornar o 44º presidente dos Estados Unidos. Como ele próprio admitiu, não é parecido com os presidentes que aparecem nas notas de dólar. Não havendo alternativa melhor (McCain é um cepo e George W. andou 8 anos a f… o país em nome dos Republicanos), Obama ganhou de goleada, vencendo todos os estigmas e desconfiança.
O fantasma do racismo ainda está presente, muito por culpa da América branca, mas a América negra não fica isenta de culpas no cartório. Já se passaram 140 anos desde o fim da escravatura, e há ainda quem não esteja satisfeito com as liberdades e direitos que são hoje inerentes a todos os americanos, independentemente da cor ou credo, e exija “redempção”. A mensagem de violência e ódio é passada tanto por grupos de extrema-direita como por “rappers”. Não há aqui ofensores e vítimas, são todos culpados.
É muito fácil falar mal dos americanos. Em alguns quartéis até “fica bem”. Que são racistas, autoritários, violentos e burros. Quanto a este segundo ponto, seria curioso encontrar um país com mais de 300 milhões de habitantes onde não houvesse pelo menos umas boas dezenas de milhão deles que não fossem estúpidos que nem uma porta. Mas eu admiro a América, aquilo sim, é uma democracia com D grande.
Há quem diga que a América, que acusa outros países de violação dos direitos humanos, é o país “que mais viola os direitos humanos”. Só pode brincadeira, para ter graça ou para justificar os seus próprios atropelos. Em qual outro país se valorizam tanto as artes e os artistas? Onde a liberdade de expressão é total, e onde um Zé Ninguém pode um dia ser alguém? Violência policial? Pfff…atirem a primeira pedra.
Consigo assim de repente pensar numa mão cheia de países em que o resultado destas eleições dava logo merda, confusão, tanques na rua. No entanto, candidato derrotado apressou-se a congratular o vencedor, mesmo antes da divulgação dos resultados definitivos. As palavras de Condoleeza Rice tocaram-me profundamente. Apesar de estar do outro lado da barricada, sente-se orgulhosa como afro-americana de ter em Obama um presidente que fez História.
Eu pessoalmente nada tenho contra americanos, desde que não me chateiem. Conheço alguns pessoalmente, e o que a América nos dá a conhecer através da sua cultura aplamente difundida pelos media é mais que suficiente para saber o que a casa gasta. Daí que não me surpreenda que os americanos queiram impor os seus ditames onde quer que cheguem, a tal "american way" que muitos chamam imperialismo.
Nada de preocupante. Se alguém tem que desempenhar o papel de "polícia do mundo", penso que os americanos são preferíveis aos árabes, japoneses ou russos. Nada de pessoal, apenas algumas lições da História que todos aprendemos no passado recente. O que me surpreende é que alguns senhores que se auto-intitulam iluminados e detentores da verdade recebam primeiro os americanos de braços abertos, só para mais tarde se queixarem que afinal são assim e assado. Nada que a maioria de nós não soubesse, afinal. Não é mesmo assim?
6 comentários:
Essa boca final era para o Neto Valente, claro. Também pensei o mesmo quando ouvi aquele discurso na abertura do ano judicial.
Barack Obama vai ser o 44º presidente americano. Ainda faltam uns 500 anos para chegarem ao 144º.
Não discordo totalmente com a sua opinião, até concordo na maioria dos pontos. No entanto, digamos que a América é capaz do melhor, mas também do pior. Olhemos para Guantánamo.
Mas concordo totalmente na sua preferência pela América para policiar o mundo em vez de outras nações menos equilibradas. O problema é que essas nações como a China, Rússia, etc, estão a crescer muito rapidamente e prevê-se um grande confronto entre esses países emergentes e a América, e aí é que elas vão doer... vamos ver em que estado ficamos nós, Europa, que já não temos grande poderio militar.
Sim, claro que é 44º, foi um lapso. A boca não foi para ninguém em particular. Aliás, serve para muito boa gente. Cumprimentos.
viva o vitinho eleito presidente da associacao portuguesa de macau, delegacao de macau
Só e pena que o Leocardo não inclua tambem a China nesse grupo de paises que não queria ver como policias do mundo.
Apesar de todos os defeitos que nós reconhecemos nos americanos, acho que de todas as grandes potencias , emergentes ou não emergentes, que existem no mundo, os americanos ainda são aqueles em quem se pode desconfiar menos.
Principlamete se não forem governados por burgessos tipo Bush.
quanto á China e Rússia, Deus nos livre.
e quanto á Europa... o que é isso? Isso existe?
Foi preciso os americanos terem eleito um preto para que o Leocardo os tenha elogiado, coisa que eu nunca vi neste blog.
Assim como tambem deixei de ver neste blog tanta bajulaçao á China depois do escândalo da melamina.
O Leocardo está a evoluir:)
Parabéns:)
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