Talvez pouca gente tenha reparado, mas ontem foi dia de futebol internacional no território. A selecção de Macau realizou um amigável com a sua congénere de Hong Kong, aqui mesmo no território, e perdeu...por 1-9. Mas que diabo. Um-a-nove? Perderam por uma bola a nove, que até parece uma bola de neve?
Mas qual foi a ideia de realizar um internacional desta natureza se nem sequer estavam preparados, e inscrever uma página negra na história do confrontos com a região vizinha, que apesar do registo negativo, não chegam ao ponto de se perder por uma cabazada deste tamanho. Se calhar deviam ter ido para casa ao intervalo, em que já perdiam por cinco secos, em vez de, ahem, esperar para ver se conseguiam dar a volta ao resultado (oh, oh, oh).
Não se percebe como o futebol em Macau não consegue evoluir. Temos mais infra-estruturas, mais campos, mais atletas e até mais população que antes, mas os resultados passam de maus a muito maus, e de muito maus a exasperantes. Basta olhar para o ranking da FIFA para perceber que Macau regrediu; do 156º lugar em Setembro de 1997, ao 197º lugar actual, o pior de sempre, e atrás de países como o Tonga, Aruba ou Comoros, onde provavelmente nem existem relvados em condições.
Os técnicos que realmente têm vontade de trabalhar voltam as costas a Macau como o Diabo foge da cruz e o futebol fica entregue a um grupo de amadores e brincalhões cuja formação passa por visionar os jogos do Arsenal e do Chelsea na Macau Cable TV.
Outra coisa que não se compreende é o fascínio pela contratação de técnicos japoneses. É verdade que o Japão é o país asiático que mais evoluíu nos últimos vinte anos, um modelo a seguir no contexto da AFC, o parente pobre do futebol mundial, mas é essa a ambição das gentes do desporto em Macau? Tornar a selecção numa espécie de Japão em miniatura? Talvez fosse altura de olhar a alternativas, investir um pouco e tornar isto um pouco mais sério, e talvez pensar em trazer alguém com ideias novas.
Já sei que vão dizer que ninguém se interessa pela selecção, e que “não vale a pena”. Mas se calhar não se interessam porque ninguém gosta de andar sempre a perder, e não vale a pena porque dá trabalho. Outros vão dizer que isso não é o mais importante, mas numa cidade onde há dinheiro e os problemas que existem não se resolvem, o que é importante, afinal?
O campeonato local é uma anedota, com resultados fabricados, audiências de meia dúzia de espectadores (nem as famílias dos jogadores vão ver os jogos), arbitragens zarolhas e uma organização terceiro mundista, tudo realizado num estádio (o da Taipa) moderno e bem equipado que faz inveja a países como o Laos, o Belize, as Seychelles ou as Ilhas Caimão, todos classificados bem à frente de Macau not tal ranking da FIFA.
O futuro não augura nada de bom. Não existem campeonatos de jovens, o que vale por dizer que os que ainda se interessam em imitar os seus ídolos vão fazendo uns treinos, e tal, mas não tomam o gosto à competição, às tácticas, aos resultados, e por isso não conseguem progredir. É verdade que o desporto só por si é uma actualidade saudável, mas também não é menos verdade que “o que importa é competir”, e em Macau não se proporcionam sequer condições para isso.
As únicas tentativas de formação dignas desse nome foram estranguladas à nascença por não pactuarem com a filosofia de mediocridade que tem sido imposta no futebol macaense. Que o digam os responsáveis do Benfica de Macau, só para citar um exemplo mais concreto.
A ambição de um território onde se vive bem, em paz, e onde o nível de vida é acima da média, é que exista um campeonato decente e uma selecção funcional. O objectivo devia ser perder por poucos com os mais fortes, dar luta aos ligeiramente melhores, discutir o resultado com os iguais, e vencer os mais fracos. Ao olharem para resultados como os de ontem, o que os jovens vão pensar? É para eventualmente um dia integrarem esta selecção de coxos que treinam e sonham ser um dia como os seus ídolos? Se for para isto, se calhar o melhor era mesmo acabar. Assim ninguém se chateava, não é?
2 comentários:
Jogaram contra o Brasil? Deixe lá leocardo, ninguém quer saber da selecção de Macau. Talvez haja a hipótese do Queirós vir a treiná-la.
vai dar opiniao
http://www.gov.mo/basiclaw23/public/suggestion.jsf
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