domingo, 27 de julho de 2014

Que vergonha de táxis


Um grupo de expatriados, portugueses e não só, e a com a participação (cada vez menos tímida) de alguns locais mantém desde o início deste mês um grupo na rede social Facebook a que deu o nome de "Macau Taxi Shame" - em inglês, que assim quase a toda a gente entende. Inicialmente com duas centenas de membros, o grupo conta actualmente com mais de 1300 - um crescimento notável. O motivo desta popularidade é contudo desagradável, pois aqui a finalidade é denunciar taxistas que se pautem por uma conduta deplorável, um problema com que Macau se tem debatido nos últimos anos. Entre os que se recusam a apanhar passageiros, ou que tentam negociar o preço da viagem, cobrando dez ou vinte vezes o preço de uma corrida normal medida pelo taxímetro, há de tudo um pouco neste sortido de comportamentos reprováveis que pouco dignificam a profissão de taxista. A espaços publicam-se algumas histórias de profissionais que se destacam pelo seu comportamento prestável ou pela sua simpatia, tão raros que não redimem os seus colegas que actuam à margem da lei.

Admiro a coragem dos participantes deste fórum do Facebook, que não se inibem de registar em fotografia ou em vídeo alguns episódios que revela o desplante de alguns taxistas, que ignoram por completo a sua função de trasportar quem solicite os seus serviços, seja ele quem for. Lamentavelmente esta coragem é superada pela insolência de muitos destes "piratas" de carro preto, que pouco se importam que os denunciem, pois muitos têm já sistemazido um plano que lhes permite transportar o menor número de passageiros com um lucro muito superior ao que teriam caso passassem o dia a apanhar os passageiros que lhes estendessem a mão. E fazendo de advogado do Diabo por um instante, entende-se que dois ou três passageiros que paguem 400 ou 500 patacas bem cada, é mais convidativo que 20 passageiros que paguem 30 ou 40 por uma tarifa normal - e fica-se com o dia ganho. Mesmo os mais honestos aceitam gratificações de hotéis, saunas e outros locais de entretenimento para levarem lá turistas "indecisos", pelo menos estes não escolhem, e se ganham um bónus por isso, sorte e sua. Assim passa, até se admite.

O que não se admite é que se comportem como mafiosos, o que acaba por acontecer a maior parte das vezes. Para os turistas do continente, é o que sabe, puxam de uma nota de quinhentos quase por impulso mal chegam ao terminal do Porto Marítimo ou das Portas do Cerco. Para quem não conhece Macau ou conhece mal, o que importa é chegar ao destino, e não se olham a despesas: é um misto de ostentação e de elevado pragmatismo, só que um bocado parvo. Mesmo os turistas mais incautos e menos endinheirados arriscam-se a ser "comidos", levados durante meia-hora por curvas e desvios que se calhar se faziam em cinco minutos praticamente numa linha recta. Se lhes serve de consolação, fazem logo à chegada um pequeno "tour" da cidade. Os residentes ficam indignados quando lhes são pedidas 200 patacas por uma corrida que sabem à partida ficar por menos de 50, e claro que se não se tratar de um caso de vida ou de morte, recusam essa espécie de extorsão, e não lhes resta senão ficar a dizer mal da sorte. No caso de urgência, paga-se, que remédio, e apelar à consciência do taxista será tempo perdido - a consciência diluiu-se na ganância.

O Governo, através da Direcção dos Serviços de Tráfico (DST), tem consciência do problema, garante que há fiscalização, mas esta não só é ineficaz como os próprios taxistas consideram que "compensa" ser multado uma ou outra vez. Quando o crime compensa, é sinal que chegámos ao faroeste. As razões deste estado de coisas dariam não só para um dossiê, mas para um enciclopédia em vinte fascículos, dedicados ao preço das licenças dos táxis, da origem obscura de alguns dos taxistas, aos padrões de comportamento variáveis conforme cada turno, e certamente o mais fascinante de todos, essa interpretação tão particular de liberalismo que vigora em Macau, onde impera receio de que uma moderação de certas actividades económicas abra as portas ao comunismo, e esse venha por aí a todo o vapor. Quando se resolverem a meter ordem em tudo isto, nem precisam de uma consulta pública ou de um estudo muito elaborado: basta irem à página do "Macau Taxi Driver Shame", no Facebook.

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