quinta-feira, 31 de julho de 2014

O que é Halal, afinal?


Já tinha falado da comida Halal(حلال) neste "post", de Maio de 2010, a propósito de um pequeno restaurante situado na Rua da Alfândega, propriedade de uma família iraniana radicada (parcialmente) em Macau, e que infelizmente encerrou devido à ditadura das rendas que vigora em Macau. Era uma delícia ir lá comer os "sheek kebab" de vaca ou de ovelha, as famosas "shawarma", a caldeirada de cabrito com arroz, o molho de beringela, perna de galinha com molho árabe, e dava para encher a barriguinha por menos de 50 patacas - com uma bebida e tudo.

No entanto há quem confunda o conceito de Halal com o método de chacina de animais conhecido por Dhabihah(ذَبِيْحَة), que consiste em matar um animal com um golpe na veia jugular enquanto este está ainda consciente, invocando o nome de Deus (que neste caso é Alá), e deixando-o sangrar até à morte - no fundo aquilo que fazemos com os frangos. Ninguém espera que os frangos adormeçam e depois lhes cortem a jugular, nem se aplicam as três injecções como nos condenados à morte por injecção letal, como nas cadeias dos Estados Unidos. Cortar a garganta do frango e assistir ao evaporar do seu sopro de vida pode parecer cruel, mas é um procedimento que nos separa de uma ave tonta que anda à cata do milho e um rosadinho a rodar num assador. Realisticamente, não existe uma forma "humana" de matar um ser vivo, pois morrem todos na mesma, e mesmo que pudessem não repetiam a experiência. Matar é matar, não gostam não comam.

E há quem não goste, e não coma: os vegetarianos, esses pequenos ditadorzinhos enfezados que "não comem produtos derivados de qualquer animal", ou na sua versão "hipocritus maximus", têm de vez em quando uma recaída. Mesmo assim afirmam que não concordam com os métodos assassinos de matança das vacas, e choram baba e ranho enquanto cortam um bife do lombo antes de o mergulhar naco a naco no molho tártaro e devorá-lo com um vulgar carnívoro, qual felino, tubarão ou crocodilo - e abutre, porque não. Como se já não bastassem estes paladinos da moral, carrascos das cenouras e dos repolhos, como se não fosse isso também "vida" (deviam era comer pedras), temos os que acusam uns de matar "pior" que os outros. "Ah e tal, o "dhabidah" (que a ignorância os faz confundir com o "halal" no seu todo) é crueldade, e os animais têm direitos, e vamos dar entrada a uma petição onde um borrego se queixa de estar muito bem a comer relva, e depois de lhe taparem os olhos dilaceraram-lhe a garganta, quando ele pensava que era uma borrega a brincar com ele às escondidas".

Ao contrário do que referiu o meu colega e amigo Hugo Gaspar, vulgo Firehead, no seu blogue, vegetais "halal" não são legumes "mortos enquanto conscientes". O que é afinal o Halal, então? Para quem se tenha dado ao trabalho de consultar algo tão fútil como a Wikipédia, ficava a saber que "halal" significa "permitido", oposto a "haram", que quer dizer "proibido", ou "interdito", ou ainda noutra versão, "impuro". Assim é "haram" tudo o que for produto derivado do suíno, da fermentação, onde entra o álcool bem como alguns tipos de queijo, tal como qualquer animal que tenha morrido de morte natural, asifixiado, espancado ou ferido de morte por outro animal, e que não tenha sido "morto em nome de Deus", e é aqui que entra uma das polémicas. Para quem acha que electrocutar porcos e vitelos antes de lhes enfiar uma faca na garganta, faz confusão que estes tipos falem "estrangeiro" no momento de limpar o sebo ao bicho; primeiro diz-se "Bismillah" (em nome de Deus), e depois "Allahu Akbar" (Deus é o maior). E com isto, segundo o entendimento de alguns, está-se a adorar Satanás.

Portanto "halal", significando "permitido", não está necessariamente relacionado com "carne", ou com o método de carnificina do animal em causa, deixando de parte o porco, obviamente. Outros produtos "halal", nos quais se incluem bebidas, vegetais, frutos secos, confeiteria, e até especiarias, significa apenas que são processados em locais onde não passa nada de "halal" - não se transforma produtos derivados do suíno ou de outros animais considerados impuros, produtos fermentados ou bebidas alcoólicas. Vegetais, duvido que exista algum dos mais comuns que seja "haram" - e não, a planta da coca, a papoila do ópio ou a mescalina não são "comuns". E de resto, quem é que se importa que os tipos digam duas ou três baboseiras que ninguém entende quando estão a ceifar a vida a um cabrito, ou a meter ervilhas num pacotes, a não ser eles próprios...e Alá?


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