sábado, 19 de julho de 2014

Cala a boca, parva!


Uma das notícias da semana, mais das páginas cor-de-rosa do que da imprensa convencional, foi a entrevista a Dolores Aveiro, mãe do futebolista internacional português Cristiano Ronaldo, estrela da equipa do Real Madrid e jogador mais bem pago do mundo. A entrevista coincidiu com o lançamento de um livro auto-biográfico com o título "Mãe Coragem", onde Dolores Aveiro fala da sua vida, das dificuldades que passou para criar os filhos, da pobreza em que viveu até perto dos 50 anos de idade, até o filho se tornar um milionário. Numa das passagens mais controversas, a mãe do CR7 confessa que chegou a considerar abortá-lo, pois quando soube que estava grávida pela quarta vez, tinha apenas 30 anos, e já eram enormes as dificuldades para suportar as despesas com Hugo, Elma e Katia, os irmãos mais velhos do jogador - um ponto a favor do "lobby" pró-vida, que se afirma contra o aborto, e pode agora alegar que "terão havido milhares de Cristianos Ronaldos que acabaram na incineradora dos resíduos hospitalares".

Mas tudo está bem quando acaba bem, e hoje Dolores Aveiro não precisa de fazer mais contas para "esticar" o salário do marido, o pai de Cristiano, entretanto falecido em 2005 devido a problemas de saúde relacionados com o alcoolismo. Não sou adepto deste tipo de literatura, e claro que pouco ou nada me interessa saber da vida da senhora, que como tantas outras neste mundo passou as passas do Algarve (ou da Madeira, neste caso) para criar a sua família, e ao contrário de muitas outras, esta ainda teve um final feliz. No entanto reconheço-lhe o direito de contar a sua história, e se há quem tenha encontrado um potencial de mercado na publicação do livro, então não me resta senão dar-lhe os parabéns. E os que ficam a ladrar enquanto a caravana passa são uns invejosos.

Entre esses que ladram, se bem que não sei se a posso incluir no grupo dos "invejosos", está a actriz Maria Vieira, aquela anã insuflada que ficou conhecida do grande público através da sua colaboração nos programas de humor de Herman José nos anos 80. Actualmente com 57 anos, Maria Vieira voltou à ribalta com a sua participação no filme "A Gaiola Dourada", do luso-francês Ruben Alves. Não vi o filme, que foi bastante elogiado pela crítica, mas tenho uma espécie de pressentimento de que não iria gostar; o problema é meu, se não quero ver ninguém me obriga, e não tenho de direito de criticar ou dizer se é bom ou mau, ou se Maria Vieira merece os elogios que lhe são endereçados. Ponto. O que me supreende é o fôlego com que a senhora ficou para se pronunciar sobre tudo e mais alguma coisa, usando para o efeito a sua página no Facebook. Em Maio tinha sido notícia a sua crítica à participação do actor Diogo Morgado num concurso televisivo, o que a deixou numa posição embaraçosa, e agora resolveu apontar as baterias à mãe de Cristiano Ronaldo. E se na apreciação que fez a Diogo Morgado já tinho sido inconveniente, desta feita tem um comportamento que vai para além de reprovável. "Nojenta" é a palavra que melhor descreve a forma como ataca Dolores Aveiro.

A actriz diz-se "indignada" com algumas das afirmações de Dolores Aveiro durante a entrevista desta semena, e escreveu no Facebook que “A senhora mãe do tal Cristiano Ronaldo afirma, após pergunta da senhora entrevistadora indagando qual seria o seu conselho para todas as mães portuguesas em desesperadas dificuldades, o seguinte, e passo a citar: ‘elas que pensem bem, trabalhem, têm dois braços, porque a gente há uma altura de maus momentos mas acaba-se por ter um fim feliz’!”. Pegando nisso, faz uma dissertação esquisita sobre as "verdadeiras dificuldades" que encontram as mulheres e mães quer em Portugal quer no resto da Europa, e acusa Dolores Aveiro de "falar de boca cheia", pois vive confortavelmente "graças à riqueza milionária angariada pelo filho", e acrescenta que "não entende a razão da publicação deste livro", especulando que a sua autora "procura fama, dinheiro ou reconhecimento. Conclui com uma espécie de piadola: "Esta mulher {Dolores Aveiro] vale o seu peso em ouro e, pesada como ela é, calcula-se que o seu peso dê para alimentar muitas famílias...".

Comecemos pela última parte. Não sei quem foi que disse a Maria Vieira que era engraçada, ou que tinha queda para humorista, mas enganou-a bem - e nós é que ficamos a levar as mãos à cabeça de desespero, de tamanha presunção desta pobre criatura. É curioso que se refira ao peso da mãe de Cristiano Ronaldo, pois apesar da sua actual aparência, Maria Vieira era facilmente identificável pela sua baixa estatura e larga envergadura que lhe conferiam o aspecto de um barril de tintol, e aquela irritante voz de cornete de plástico, daquelas que se compram na feira. Se o Herman a usava nos seus "sketch", era certamente com a finalidade de acrescentar ao seu humor o elemento do cómico de imagem, da mulher baixa, desengonçada, gorda e refilona. Para ilustrar melhor esta ideia, dei-me ao trabalho de editar este vídeo do programa de passagem de ano de Dezembro de 1991:



Quanto ao facto de Dolores Aveiro viver hoje da riqueza de Cristiano Ronaldo, o que tem Maria Vieira a ver com isso? Apesar das dificuldades e das privações por que passou, a senhora fez o melhor que estava ao seu alcance para dar uma educação ao filho, e tanto ela como o marido estimularam o talento do jovem, e apoiaram-no desde o início da sua carreira - caso raro em pais que vivem com dificuldades económicas, que consideram isto do futebol uma "fantasia". Dolores Aveiro não obrigou o filho a trabalhar nas obras, a roubar ou a prostituir-se para os muitos turistas pedófilos do norte da Europa que procuram a Madeira e as suas crianças pobres para contribuir para as despesas. E o que devia ele fazer depois de alcançar o sucesso e auferir o salário astronómico de atleta que agora o leva a encabeçar a lista dos futebolistas mais bem pagos? Ignorar a família? Mantê-los na pobreza, só para calar a boca a Maria Vieira e ser um "exemplo" para os outros? Há famílias com menos juízo que mal os filhos assinam o primeiro contrato profissional como jogador endividam-se até aos ossos antes do rapaz fazer sequer o seu jogo de estreia, e muitos acabam pior do que estavam antes. Pelo menos aqui o Cristiano Ronaldo geriu o produto do seu esforço e partilhou-o com a família.

Fosse Dolores Aveiro uma pessoa rancorosa e vingativa - e do pouco que vi da entrevista parece continuar a ser bastante humilde e simples, apesar da "toilette" mais vistosa - respondia à letra, e podia muito bem não reconhecer qualquer legitimidade na actriz em fazer comentários desta índole, pois enquanto ela batalhava para educar os filhos, Maria Vieira ia ganhando a vida a fazer palhaçadas na TV. Quem respondeu foi Katia Aveiro, a irmã de Cristiano Ronaldo, que disse a Maria Vieira para "ter vergonha na cara", esperando se "o seu triste texto não sirva para recuperar a fama de atriz que perdeu". De facto se alguém que andou "à boleia" do sucesso de Cristiano Ronaldo foi a sua irmã Katia, e caso Maria Vieira a escolhesse como alvo desta sua diatribe, eu até era capaz de concordar com ela, pelo menos em parte. Agora atacar uma mãe de quatro filhos que passou três quatros da sua vida na pobreza, e agora usufrui do investimento que fez no seu filho, parece-me baixo e completamente despropositado.

Na sua página do Facebook, Maria Vieira emite opiniões e juízos de valor sobre tudo e mais alguma coisa, dando primazia ao mundo artístico e mandando ainda um ou outro "bitaite" aos políticos e à política. Curiosamente não vejo lá os comentários que fez sobre Dolores Aveiro, pelo que assumo que a reacção negativa que obteve levaram-na a retirá-los, o que prova a falácia dos seus argumentos. Deve andar a querer encaixar-se no painel de um daqueles programas televisivos de má língua da treta, se calhar. Interessante como a actriz antevê o "feedback" negativo que ia obter ao atacar alguém que não fez mal a uma mosca, e ainda faz birrinha: "Eu também já publiquei quatro livros de viagens que não interessam a ninguém e que eu sou invejosa e má... Mas, para esses, eu gostaria de fazer notar que a minha filha não joga no Real Madrid, não casou com o Bill Gates e nem sequer é sobrinha do Tio Patinhas!”. Mais uma vez, abstenha-se dessas tentativas de fazer humor, por tudo o que é sagrado. E olhe lá uma coisa, porque carga de água me haviam de interessar as suas viagens, que são do âmbito da sua vida particular? O que a leva a pensar que a sua vida e os seus passeios são mais interessantes que a história da mãe do Cristiano? Se eu estiver interessado neste ou naquele destino turístico, procuro antes a opinião de profissionais, e não a sua, que tem tudo de ostentação e vaidade - olhe, por que é que não leva consigo algumas daquelas mães pobrezinhas que não tiveram a sorte de ter um filho a jogar no Real Madrid ou de passar a maior parte da vida a fazer momices para os outros se rirem? Olhe minha senhora, o melhor é mesmo evitar pronunciar-se sobre as opções de vida de cada um, dos concursos onde participam ou se escreveram uma auto-biografia. Vá lá mas é procurar daquele "zairinos" que "ao fim de meia-hora já se queria ir embora". Que feio.



1 comentário:

Fiona disse...

Subscrevo amplamente.
E só lamento que a língua portuguesa seja gasta em alguém tão insignificante.