quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Anda comigo ver os aviões

É provavelmente o maior escândalo no ramo do imobliário desde a criação da RAEM: o governo anulou a revisão da concessão dos oito lotes de terreno onde ia ser construído o La Scala, mais um projecto de habitação de luxo, localizado perto do aeroporto internacional de Macau. A primeira concessão, de cinco lotes, tinha sido feita pelo ex-secretário Ao Man Long, que como se sabe apanhou anos de cadeia suficientes para contar todos os seus (poucos) cabelos várias vezes, a para tal recebeu subornos de dois empresários de Hong Kong, ainda a contas com a justiça. O despacho agora anulado foi assinado pelo actual secretário, Lau Sio Io. Se os primeiros cinco lotes eram "sujos", é natural que estes três que o actual responsável das OP validou fossem também "arrastados pela lama" em que tudo isto se transformou.

O La Scala, que retirou o nome da sala de ópera de Milão, é um projecto ambicioso; 26 edifícios que incluem apartamentos, áreas de lazer, espaços comerciais e uma área ajardinada. A concessionária responsável pela obra chama-se "Moon Ocean", outro nome cativante. Parece bonito, sem dúvida. Escusado será dizer que cada "tirinha" do La Scala ficaria à volta de dez milhões de patacas, ou mais. Chama-se em chinês Hoi Nam, ou seja, "mar do sul". Ali não se vê praticamente nenhum mar, quanto muito aterros, fica localizado mesmo junto do aeroporto, pelo que será possível ouvir o barulho dos aviões, e próximo da central de incineração da Taipa. Se fosse habitação económica que estivesse ali a ser construída, toda a gente lhe cuspia em cima, mas como é caro, só pode ser bom.

Este é mais uma daquelas coisas difíceis de perceber. Apesar de estar muito longe de concluído, o La Scala já tem compradores, que já fizeram entrar nos cofres da RAEM as avultadas quantias respeitantes ao imposto de selo, que agora pensam em ver devolvidas. Quem compra algo que custa milhões e nunca sequer viu? Mais um negócio "à Macau", o local que lava mais branco. Mas pronto, olha, se no futuro tivessem algum problema com a justiça, pelo menos sempre têm o aeroporto ali à mão.

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