quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Cavar é preciso


Um dia destes estava aqui sentado em frente ao PC a trabalhar no Bairro do Oriente, quando a minha filha me pede para usar o computador por alguns minutos, para "alimentar as pessoas". Fiquei comovido com tão nobre gesto vindo de uma menina de apenas 11 anos, e pensei que se tratava de um daqueles websites onde se dá arroz aos países do terceiro mundo, ou isso assim. Mas afinal tratava-se de um jogo o Facebook, o "Restaurant City", e tinha chegado a hora de alimentar os empregados, cozinheiros e faxineiros. Fiquei perplexo. Que perda de tempo!

A rede social, da qual não faço parte (caso estejam curiosos, mas ainda vou pensar nisso), serve normalmente para amigos trocarem mensagens, fotografias, ideias, ou juntarem-se a grupos. Mas muita da malta que anda pelo Facebook passa o tempo inteiro em joguinhos onde não se aprende nada: "Mafia Wars", "Farmville", "Cafe World", "Fish World" (um aquário virtual), o já mencionado "Restaurant City" e outros. Depois de uma consulta rápida pela conta dos miúdos, encontrei alguns jogos que até têm algo de educativo. Por exemplo o "Word Challenge", uma espécie de "scrabble" onde se pode testar o conhecimento vocabular, o "How big is your brain", um teste de QI, ou o "Geo Challenge", onde se testam conhecimentos de Geografia. Mas pouco mais.

O Ou Mun publicou ontem um artigo onde falava de um desses jogos, um tal de "Happy Farm", que à semelhança do "Lil'Farm Life", "Farmville" ou "Yoville", os jogadores tratam de uma plantação. O que mais choca o articulista é o facto dos jogadores poderem "roubar" parte das colheitas dos outros jogadores, o que consideram "um mau exemplo". Não estou em crer que alguém se vá tornar um ladrão a sério apenas por surrupiar umas melancias ou uns morangos virtuais, nem que sejam questionados quaisquer valores. É um jogo, pronto.

A pensar neste artigo, entrevistei hoje uma colega que joga o "Happy Farm". Ficou felicíssima por responder às minhas perguntas, e considera este "o jogo mais divertido do Facebook". Perguntei-lhe ainda se utilizava a rede social para mais alguma coisa que jogos, e respondeu-me que "não". Afirmou ainda que joga "uns seis ou sete jogos", não sabendo precisar exactamente quantos. Escusado será dizer que gasta algum do seu horário laboral a "tratar da quinta". E não é a única. Conheço muito boa gente (sim, até portugueses) que o fazem. Na maior parte dos casos gente com mais que idade para ter juízo.

É grave que se chegue ao ponto de perder o emprego por passar o dia todo à volta dos melões e das batatas em frente a um computador quando se devia estar a trabalhar, e mau para quem usa a internet no trabalho para qualquer coisa de mais útil, pois pode perder esse privilégio por causa de gente que não aprendeu a parar quando está a ir longe demais. Pior ainda é quando se regula a vida inteira pelo horário das cenouras. Acredito que hajam pessoas que tenham pressa para voltar a casa ou encontrar um PC antes que o vizinho lhe assalte a horta.

Li hoje um artigo da Wikipedia sobre o "Farmville" que diz que muitos agricultores consideram o jogo "irrealista", pois algumas das plantações que se podem fazer ao mesmo tempo não crescem na mesma época. Penso que a malta se está completamente nas tintas para esse detalhe. Não sei se toda esta apetência para se dedicarem à agricultura ou à restauração se deve ao facto de Macau ser uma cidade tudo menos rural, e alguns deles nunca terem visto um canteiro de flores ou um pé de ervilhas. Mas pelo menos aqui em casa cortei o mal pela raíz: querem tratar de plantações, restaurantes ou aquários, façam-no na escola, ou na casa da avó. Haja paciência...

16 comentários:

Anónimo disse...

Na escola??????? Sim senhor, então agora é na escola que se deve fazer isso e não em casa...

Luigi Pirandello disse...

A vida está cheia de uma infinidade de absurdos que nem sequer precisam de parecer verosímeis porque são verdadeiros.

Anónimo disse...

O Bairro do Oriente já tinha poucos malucos, ainda apareceu mais este das citações...

Leocardo disse...

Sim, na escola. Lá existe uma biblioteca equipada com internet para os alunos passarem os tempos livres.

Cumprimentos.

Anónimo disse...

Toca a banir o Facebook, para bem da canalhada, em Macau! Igual ao que fez Pequim! Ao lado da pátria mãe é que estamos bem. Força camaradas.

AA

Anónimo disse...

Acho muito bem que o Leocardo tem bom senso em nao alinhar no Facebook, Linken, etc. estas porcarias que nao serve para nada senao chuchumecar.

Anónimo disse...

Embora os politicos queiram transformar a escola num centro social de ocupacao de tempos livres de modo a que os paizinhos estejam mais disponiveis para serem explorados, devemos lutar contra essa tendencia.
A escola devera continuar a ser um local centrado no conhecimento, e para esse fim trabalham professores e alunos.
Esses joguinhos nao passam de artigos de consumo, e como tal o seu lugar e em casa.

Anónimo disse...

pelo menos estão entretidos na internet,sempre é melhor que estarem metidos na droga

Anónimo disse...

Na escola ?? com ideias destas agora percebe-se a razão ou uma das razões do insucesso escolar da tugada,

Anónimo disse...

Para quem gostar de "jogar" online, aprendendo ao mesmo tempo + qualquer coisa (Línguas, Arte, Geografia, Matemática e Química) e ainda ajudando quem passa fome, aqui fica uma sugestão: http://www.freerice.com/

Anónimo disse...

Se fizerem um joguinho para o Facebook de rotos e rabetas a engatarem-se uns aos outros, aposto que o Leocardo é dos primeiros a aderir ao jogo.

Anónimo disse...

Anónimo das 3:27,
Metes nojo. E não és o mesmo que anteriormente falou do facto de o Leocardo referir de vez em quando os gays, pois esse sou eu. Tu és mesmo gay e nojento

Leocardo disse...

Comentários ignorantes que resvalam na dura carapaça da minha indiferença.

Cumprimentos.

Anónimo disse...

Não podia estar mais de acordo com os anónimos das 10:22, 13:29 e 22:35. Se o Leocardo acha que a biblioteca equipada com internet é para joguinhos do Facebook, prova-se que é mais um desses pais que fizeram da escola um depósito de crianças em vez de um local de conhecimento. Com a conivência das autoridades (in)competentes.

Leocardo disse...

"Se o Leocardo acha que a biblioteca equipada com internet é para joguinhos do Facebook...". Não acha nem deixa de achar, é para aquilo que eles quiserem nos TEMPOS LIVRES. Eu disse nos TEMPOS LIVRES.

Congratulo-me que hoje em dia a escola tenha forma de atraír os miúdos para que eles lá fiquem quando têm um "furo", por exemplo. No meu tempo saíam, iam jogar bilhar ou matrecos, alguns metiam-se nos copos, envolviam-se em brigas ou acidentes.

O anónimo das 12:38 é primo do Zé Trocas, que acha que para os miúdos os computadores são só para estudar.

Cumprimentos.

Anónimo disse...

Ó Leocardo, engana-se muito em relação ao Zé Trocas. Ele é que transformou ainda mais a escola na bandalheira que é hoje. Ele e a sua cadela de guarda, de nome Lurdinhas, que acha que o problema da escola são os professores.