quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Deficiências


1) Terminaram no último Domingo os 14ºs Jogos Paralímpicos, realizados em Londres, onde algumas semanas antes se tinham realizado os jogos "normais". Tenho escutado e lido algumas críticas à pouca cobertura que é dada a esta competição, com uma transmissão televisiva internacional que se cifra apenas numa mísera fracção dos Jogos de Verão. Permitam-me fazer aqui de advogado do Diabo, mas não faz lá muito sentido que se dê uma cobertura mais mediática aos Paralímpicos. Talvez um pouco mais que o nada com o que somos brindados, certo, mas dificilmente se poderia entender se o destaque fosse o mesmo. Não tem nada de comercial ou sequer de competitivo ou emocionante ver nadadores sem braços, corredores cegos ou sem pernas, ou desportos adaptados a indivíduos que sofrem de deficiência mental profunda evidente. É preciso estômago para assistir a tudo isto. Existe ainda uma grande dose de comiseração que impede que estes jogos sejam levados a sério. Ninguém conhece os atletas Paralímpicos, talvez com excepção dos mais mediáticos (Pistorius, Zanardi), e os verdadeiroa heróis, os que batem recordes, os que vendem sapatilhas, camisolas e bebidas isotónicas, estão nos outros Jogos. Mas o que se retira destes Jogos Paralímpicos? Uma grande dose de esperança, sem dúvida. Olhemos para o exemplo de Macau, que levou dois atletas. Fosse Macau membro de pleno direito do COI, e dificilmente levaria um atleta que fosse aos Jogos Olímpicos (talvez a Paula Carion, apenas). Foram dois atletas, e outros há em Macau que trabalham no duro para atingir os mínimos que os permitam levar à competição mais importante para os deficientes (eu próprio conheço alguns). E é bom que haja quem leve o desporto em Macau a sério e de uma forma pelo menos semi-profissional. A mensagem que estes jogos transmitem é que existe esperança apesar de todas as adversidades, e é bom que as pessoas com deficiência se dediquem ao desporto, e que queiram competir e obter resultados. De nada adianta o tom paternalista de quem diz que "os resultados são o que menos importa". De certeza que os resultados importam para quem compete nestes jogos, mesmo que os outros considerem-nos apenas os "jogos dos coitadinhos".

2) Outra "deficiência" prende-se com a capacidade do regime chinês comunicar com o resto do mundo. O vice-presidente chinês Xi Jinping não é visto em público há 11 dias, e muito se especula sobre o que se passa com o homem que supostamente tomará as rédeas do país depois do 18º congresso do PC chinês a realizar no próximo mês. A passagem de testemunho de Hu Jintao para Xi parecia mais que certa há alguns dias, mas o desaparecimento do vice levanta uma onda de especulação preocupante. Alguma imprensa regional fala de um eventual problema de saúde, enquanto a imprensa ocidental especula sobre um volte-face súbito nos bastidores dos jogos de poder em Pequim, que terão virado a mesa contra Xi Jinping. Não são despiciendas as teorias da conspiração, uma vez que o cargo de líder máximo da RP China tem muito mais importância hoje do que tinha há 20 ou 30 anos. É claro que se estivesse tudo bem com o senhor ele já tinha dado a cara, até para acabar com este "diz-que-disse" que tem enchido a imprensa um pouco por todo o mundo. O planeta quer mesmo saber com quem negociar nos próximos dez anos, no que toca a uma das maiores potências económicas e militares do mundo. Em qualquer grande potência a informação corre a milhares de quilómetros por segundo, e neste aspecto a China ainda está a dar os primeiros passos. Ou quem sabe somos nós que estamos enganados, com esta nossa mania da "mentalidade ocidental"...

2 comentários:

Pedro Coimbra disse...

Mas hoje temos um escritor/académico brasileiro a afirmar que a China está avançada nos que se refere aos direitos humanos.
Será gozo, ou o tema de um novo livro de ficção?

Leocardo disse...

E não é que o senhor tem mesmo razão? Direitos humanos não são uma coisa de palanque, é o direito à habitação, saúde, educação, etc. E como todos nós sabemos todos os chineses vivem em palácios, mansões e vivendas, e têm acesso universal a cuidados de saúde, e nem são deixados na rua a morrer caso não tenham dinheiro para pagar as contas do internamento. Era para dedicar um posto a isso, por acaso, mas achei que não vale a pena. Quem sabe se o senhor se pode justificar pela idade?

Cumprimentos.