Macau pode mesmo vir a ser um tubo de ensaio para as experiências da RP China no grande plano para a integração das regiões administrativas especiais no grande regaço da pátria-mãe. Esta manhã o politólogo Martin Chung defendia que uma vez que a ideia da educação patriótica não foi bem recebida em Hong Kong, poderá ser implementada em Macau, para dar a entender à RAE viinha "que não é assim tão má", como já tinha acontecido com a legislação do artº 23 da Lei Básica, que como se sabe originou protestos em Hong Kong, mas foi acolhida quase sem oposição na RAEM. Até hoje ninguém foi indiciado por crimes de lesa-pátria no território, pelo que custa a entender a urgência em legislar nesse sentido, para "proteger" os interesses da nação.
Ainda ontem cerca de 30 estudantes do ensino superior da RAEM juntaram-se aos seus coleguinhas de Hong Kong e manifestaram o seu apoio à oposição àquilo a que chamam "lavagem cerebral". Tarde e a más horas, diria eu. Se Hong Kong é mesmo aqui ao lado e as aulas no ensino superior tiveram início há mais de 3 semanas, porque demoraram tanto tempo estes jovens a reagir? E o que pensam alunos e encarregados de educação sobre esta ideia da educação patriótica? Inquiri alguns dos meus colegas, que se opõem veemente a esta iniciativa, mas será isto suficiente para impedir que chegue às nossas escolas? Terá esta educação patriótica alguma oposição, por exemplo, na Assembleia Legislativa? Duvido e faço pouco.
Pode-se esperar que as inúmeras associações de "patriotas" do território venham buscar estórias da carochinha de que "é importante defender a nação", e ir buscar mais uma meia dúzia de inimigos invisíveis, e vasculhar o passado alegando que "muitas mulheres chinesas foram violadas", e que "bebés foram mortos", ou ainda que "faltou água, luz e gás" para deixar o pobre povo ignorante e deprimido simpatético com noções de que é preciso "dar a vida pela pátria", ou que é preciso apoiar a nação "mesmo que não tenha razão". É como um clube de futebol: mesmo que faça merda, não se muda. Muda-se de mulher, de casa, de cidade, de sexo, mas nunca se muda de clube...ou de pátria.
Não surpreende que em Macau exista tanta boa vontade, portanto. Basta perceber como a China nos presenteia com o maná dos vistos individuais que produzem os resultados do jogo e enchem os cofres do erário público, e é quase
verbotten irritar os meninos, senão temos que desmontar estas tendas todas que tanto trabalho deram a montar. Por isso toca a aceitar tudo o que seja "integração" e miscigenação, seja na forma de incentivos para obter residência através do investimento ou de casamentos falsos, ou na forma o artº 23, ora na forma de educação patriótica. É que nós em Macau somos os bons meninos,e tudo o que vem de cima são bons exemplos. E já gora, as Diaoyu vão ser nossas outra vez!
Shi lai!
4 comentários:
Macau: saca bicos à China mesmo quando ela não quer
Meu caro,
É muito simples - como com o artigo 23, a China apalpou o pulso em HK.
Deu barraca.
E veio a Macau.
Onde tudo passa e nada acontece.
A educação patriótica segue dentro de momentos (próximo ano lectivo?)
Tudo o que os camaradas de HK rejeitam e contestam, Macau acolhe sem o menor barulho, pois o que interessa é comprar telemóveis e tretas do género
É confrangedor ver a completa apatia e desinteresse que esta sociedade actual de Macau (especialmente os jovens) demonstram sobre tudo o que lhes rodeia e que não tenha a ver com o material, supérfulo e imediato.
É só trocar uns dedos de conversa para perceber a pobreza (ou vazio) de pensamento, ideias e conteúdos desta gente.
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