1) O fim-de-semana foi marcado por uma onda de protestos por várias cidades da China contra a aquisição pelo Japão das ilhas Diaoyu, uma espécie de novo desígnio patriótico. Curioso observar alguns manifestantes que muito provavelmente nunca tinham ouvidoo falar daquelas ilhas até há meia dúzia de anos, e agora dizem que "são parte inalienável da China", como se se estivesse aqui a falar do Tibete ou de Taiwan. A mesma bitola serve para qualquer um dos casos. A intensidade com que as manifestações decorreram em algumas cidades tem uma leitura muito ampla. Entre os manifestantes que estavam mesmo preocupados com aquilo das ilhas misturaram-se outros que aproveitaram ora para protestar contra outra coisa qualquer, ora para cometer saques. Algumas das lojas alegadamente vítimas desta animosidade anti-nipónica foram "limpinhas" sem que se tivesse arrombado uma única porta ou partido uma única janela. Em Macau contudo
no pasa nada, com os restaurantes de sushi e as lojas da Daiso completamente cheias, como sempre, enquanto os Hondas e os Toyotas circulavam pacificamente nas ruas. Brandos costumes, dirão alguns, mas eu pessoalmente acho que é antes um exemplo de civismo. Ao governo chinês pode-lhe até agradar este furor com que o seu povo defende a integridade do território nacional, mas continua a torcer o nariz a turbas, reuniões e levantamentos populares. Quem sabe se com razão. Quem tem telhados de vidro...
2) Também em Portugal o povo saíu à rua, mas manifestações mais concorridas desde o 25 de Abril, imagine-se. Em causa estão as medidas de austeridade que fazem com que os nossos compatriotas apertem cada vez mais o cinto. Só em Lisboa terão sido perto de meio milhão de portugueses a manifestarem-se contra a troika e contra o primeiro-ministro Pedro Passos Coelho. Num dos serviços noticiosos de ontem assisiti a uma cena triste: um senhor já com bastante idade para ter juízo gritva "O povo unido jamais será vencido" (imbecil, néscio, demagogo), e acrescentava um bem audível "Passos Coelho vai pró c...". Isto é deveras lamentável. Tenho a certeza que o chefe do governo - apesar de estar a fazer um trabalho que deixa muito a desejar numa altura de crise como esta - não tira nenhum prazer sádico da situação de caristia em que os portugueses vivem. Não merece ser assim insultado. E os insultos não se ficam pelo primeiro-ministro, e estendem-se a toda a sua família. Quer dizer, somos um povo divertido, com um humor revisteiro e tal, mas o que seria da nossa "democracia" se toda a gente com quem discordamos fosse mandada para o c...? Haja um pouco de bom senso, e tentemos ser mais construtivos e menos ordinários. Ah sim, e para o próximo fim-de-semana estão marcadas novas manifestações para as principais cidades do país. Isto de certeza que será um óptimo negócio para os vendedores de febras, coiratos, pão com chouriço e imperiais. E viva a liberdade!
3) O mundo muçulmano anda agitado com um filme que insulta o Islão e o profeta Maomé. O filme em questão, "Innocence of Muslims" (veja
aqui um pequeno excerto de menos de dois minutos, por sua conta e risco) é pura e simplesmente um insulto a uma religião que é conhecida pela sua pouca tolerância a este tipo de coisas. O único objectivo deste "filme", que está entre aspas porque é mal representado, mal produzido e mal todo-o-resto, é chatear os maometanos. E pegou! E ninguém assume a autoria do filme, e mesmo os actores são virtuais desconhecidos. As embaixadas americanas um pouco por todo o mundo árabe têm sentido a ira dos radicais, que como se sabe facilmente mobilizam os fiéis para queimar bandeiras americanas ou assassinar diplomatas. E nem é preciso uma grande desculpa: "Ó Abdul, queres ir incendiar uma embaixada americana?" - "Bora lá, Ahmed! Eu levo a gasolina e os fósforos".
1 comentário:
As ilhas, o caraças!
O problema são as lutas de poder na China, no partido.
As ilhas são só mais uma das IMENSAS disputas territoriais em que a Ásia é fértil.
Não tinha esta dimensão, nem semelhante, se não se aproximasse uma transição de líderes na China.
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