1) O Gabinete para as Infra-Estruturas e Transportes (GIT) está debaixo de fogo, depois de relatórios que apontam graves falhas e derrapagens nas obras do metro-ligeiro, o tal que qualquer dia vai aparecer aqui pela RAEM. As derrapagens são apontadas pelo Comissariado de Auditoria (CA), que só não e percebe porque fica tão quietinho noutras situações que talvem mereçam um olhar mais atento, enquanto que as irregularidades, lá está, são apontadas pelo Comissariado Contra a Corrupção (CCAC). O aspecto mais mediático desta notícia prende-se com a putativa passagem do metro ligeiro pela Rua de Londres, no NAPE, onde há anos que os moradores se queixam: não querem ter o metro a passar perto da sua janela. Surpreendem-me os conhecimentos técnicos do CCAC, que basicamente dizem que o GIT "fez mal" em alterar o percurso original da Av. Dr. Sun Yat-Sen, alegando "critérios pouco claros e falta de rigor científico". Isto vale por dizer que os agentes do CCAC percebem mais disto que os engenheiros do GIT. Uma vitória para os moradores da Rua e Londres e Rua da Cidade do Porto, que assim poderão dormir mais descansados. O GIT coça a nuca, e muito provavelmente acatará as recomendações do Comissariado.
2) Quem também deu o braço a torcer foi o Executivo da RAE de Hong Kong, aqui ao lado, que depois de semanas de protestos não vai avançar com a ideia da Educação Patriótica nas escolas. Apenas seis escolas da RAEHK incluíram esta disciplina nos seus currículos, algumas aproveitaram o adiamento de um ano inicialmente proposto pelo Governo, enquanto as escolas baptistas deixaram bem claro: "nem daqui a um ano, nem nunca". A esmagadora maioria da população da RAEHK está contra esta iniciativa, que consideram uma intromissão nas liberdades garantidas pela Basic Law honconguense e uma tentativa de "lavagem cerebral" por parte do continente aos jovens da ex-colónia britânica. O chefe do executivo da RAEHK, CY Leung, cancelou mesmo uma reunião da APEC em Vladivostok, na Rússia, temendo uma escalada dos protestos, que incluiram greves de fome por parte de alguns estudantes. Assim a Educação Patriótica fica para as calendas gregas, e o executivo da RAEHK terá de encontrar outras formas de agradar aos patrões em Pequim. Parece que ao contrário do que aconteceu em Macau, os britânicos deixaram a lição bem estudada em Hong Kong. Sejam vós próprios e não aquilo que vos impõem. Uma bofetada de luva branca para aqueles que são mais papistas que o papa.
5 comentários:
Confesso a minha admiração pela população de HK que não "comem" tudo aquilo que lhes dão e mantêm o espírito crítico.
Aqui andam todos ocupados a brincar com os telemóveis e morrem de medo de quebrar a "harmonia" e esses tretas todas
Em relação ao segundo ponto, é absolutamente confrangedora a total apatia e desinteresse da população local em relação a este (e outros) assunto de cidadania e do futuro de Macau...
Desculpem-me a linguagem, mas esta sociedade actual de Macau é uma autêntica merda. Vazia de valores, princípios, ideais, identidade, horizontes... sem nada senão interesse por dinheiro. E mais nada!!
Esta gente nem sequer sabe o que quer na vida nem que Macau quer deixar para os filhos. A única coisa que conta é o ordenadinho no fim do mês e um chequezinho de vez em quando para comprar um iphone ou outra merda qualquer!!
Como é que Macau e Hong Kong podem ter níveis tão colossalmente diferentes de mentalidade?? Uns são capazes de olhar para o futuro e lutar por algo melhor enquanto os outros nem sequer são capazes de olhar para além do seu umbigo.
Recomendo a qualquer leitor que se interesse minimamente por estes assuntos que leia os conteúdos dessa tal Educação Patriótica para ver o escandalo que aquilo é!!!
Para terem uma ideia, aqui vão apenas 4 pontos tirados da imensa carrada de disparates que querem ensinar aos miudos das escolas:
...
"People should support their country even if they think their country is doing something wrong"
...
"A citizen should be willing to sacrifice his/her life for his/her country"
...
"We should stop outsiders from influencing China's traditions and culture"
...
"To help protect jobs in China, we should buy products Made in China"
(Isto para nem falar da lenga lenga de que "amar a pátria implica amar e aceitar o partido comunista").
Eu às vezes pergunto-me se a completa apatia desta gente de Macau não é também um reflexo da apatia e desinteresse que grassa no nosso país e é característica do nosso povo.
Se calhar aprenderam conosco. Afinal sempre foram 400 anos de governação...
Mas alguém sabe afinal quem é o responsável máximo deste GIT? É sempre o André Ritchie quem vem dar a cara. Será que esse outro senhor não tem nenhuma responsabilidade, ou só vai aparecer quando for para cortar a fita?
E' obvio que muito da mentalidade dos chineses de Macau foi herdada dos portugueses. Alias essa descricao que o anonimo faz da "apatia" e "desinteresse" dos chineses locais pode perfeitamente ser aplicada aos portugueses a residir em Macau.
Afinal que mais anda esta gente a fazer por ca' senao estar caladinha a ganhar o ordenadinho e esperar pelos cheques para tirar umas ferias na Tailandia ou coisa parecida?
Eu conheco varios amigos ingleses a residir em HK que participam activamente em movimentos civicos da cidade. Por ca' vemos algum portugues interessado em alguma coisa?
Valores? Participacao civica? Interesse genuino pelo futuro desta terra?
So' se for para sacar mais.
Hong Kong e Macau não têm comparação possivel. Basta ter uma conversa sobre assuntos da actualidade com um cidadão de Hong Kong e com um de Macau para ver o atraso, a ignorancia e o vazio desta gente.
Mas se perguntar quando vai saír o iphone5, aí têm toda a informação na ponta da língua.
É esta a triste realidade.
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