quinta-feira, 16 de junho de 2016

Bah! (Nido)


É possível quem haja quem considere que tenho um carácter que muitos descreveriam com a mesma palavra com que se designa o sujeito passivo de uma cópula divertida e apaixonada - como os entendo. Se é defeito ou feitio, desconheço, mas prefiro pensar que é feitio, mesmo, e quem prefere pensar que não, está no seu direito, mas faça o favor de me desamparar a loja, e já agora ir pentear macacos. Tudo isto a propósito de um texto publicado no mesmo papiro onde eu próprio exteriorizo algumas das minhas percepções, até alguns desabafos, mas sempre com o maior cuidado possível para não enveredar pela via da demagogia, tentar não "inventar" se o tema requer algum tipo de conhecimento técnico ou específico, ora científico, ora sociológico, e sobretudo manter o "fair-play". A certo ponto o autor desse texto que está assinalado como de opinião, chega a questionar se é "adequado" trazer questões pessoais para o espaço que considera ser supostamente do interesse geral (pelo que entendi, posso estar enganado), ou traduzido para essa nova "trend" que é desprezo pelo politicamente correcto, "se deve usar o jornal para fazer queixinhas e lavar roupa suja". Garanto que até quase metade do verbatim julguei tratar-se de um texto humorístico, ou satírico, ou pelo menos uma tentativa nesse sentido, mas é quando leio que a temática é "do interesse público" que dei um pulo na cadeira, rectifiquei a postura coloquei-me em sentido. Tivesse ali uma corneta e tocava a reunir - afinal sé é do interesse público diz respeito a todos. De uma coisa tenho eu a certeza: aqui não é o jornal, portanto vamos aproveitar para colocar uns pontos nos "i" (neste não é preciso, porque já tem). Ah, mas primeiro deixem-me fazer uma mudança de cenário.


A razão porque disse julgar tratar-se de um texto humorístico ou satírico prende-se com a percepção que o próprio autor tem da "falta de massa crítica" em Macau, e se coloquei aquele termo entre aspas, é porque estou a citar...o mesmo autor. Curiosamente é uma expressão a que ele recorre aqui, outra vez aqui, e também aqui, e mais um ou outro sítio que tenho a certeza tê-lo visto atirar com esta carta da "falta de massa crítica" como obstáculo à saída das cavernas, e consequentemente do Paleolítico Inferior em que se encontra a indústria das artes e da cultura em Macau - e não é por acaso, digo eu. Agora vou fazer um "truque" que sempre quis fazer, mas que faltou...hmm...a "lata" necessária para o efeito. Cá vai: estou aqui há 23 anos, e ao contrário de outros que "chegaram ontem" (epá soube tão bem, este paternalismo de pacotilha, nham nham), vi "artistas", com e sem aspas, a virem, verem e das duas uma: ficarem ou "bazarem". Vencer é que não se pode dizer que aconteça, ou que seja muito viável, uma vez que o conceito de "arte" é variável conforme os paladares, e o mercado nem a isso chega: não existe, simplesmente. Mas essa da "massa crítica" tem muito que se lhe diga, e quem o diga. Eu, por exemplo, e tenho aqui uma demonstração de "massa crítica" no seu estado mais "hardcore": este. Se forem ler, e é um texto com meia dúzia de parágrafos com quatro ou cinco linhas cada, não vão encontrar lá nenhum reparo por aí além, com excepção da referência ao som do filme, no último parágrafo, que no entanto foi q.b. para que o visado trepasse pelas paredes e me riscasse da lista de "criaturas merecedoras de O2". Realmente há gente muito mázinha. Basicamente grande parte dos artistas que vêm cá parar entendem a importância da crítica construtiva como medida da sua arte, mas nenhuma crítica é realmente construtiva, e a tendência é que as opiniões partam apenas de amigos e "well wishers", que se limitam a bater palminhas e a "encorajar", como se estivesse ali um deficiente a necessitar de "energias positivas", e quem destoa deste quadro é "do contra", "não faz nem deixa que façam", e "assim ninguém fazia coisa nenhuma". Quanto a esta última asserção, às vezes era melhor que ficassem quietos, realmente. Afinal para quê desperdiçar subsídios que "não chegam" para fazer uma coisa que não presta? É uma pescadinha de rabo na boca, e não é lá muito fresca, diga-se de passagem. Adiante e mudando outra vez de cenário.


Quanto ao motivo concretamente dito que leva o autor a lamentar que o seu génio seja assim , incompreendido: um "saneamento" levado a cabo pela estação pública de televisão, a PIDE TDM, que deixou de solicitar os seus serviços, apesar de ter ficado combinado que "depois ligavam", e que "iam oficializar o noivado". Há homens que não sabem respeitar um compromisso - o que é feito da palavra de honra? Parece-me grave! Ou citando o escriba, "tenebroso". Eu diria mais: uma caça às bruxas, e só porque se tem o cabelo desgrenhado, isso não significa necessariamente que se seja originário de Salem, Massachusetts. Alguém leu alguma coisa no BO, ou sabe se andou circular alguma missiva, ou quiçá terá reparado nalgum dazibao pregado numa parede, sei lá? Deve haver uma prova qualquer, ou talvez não, como já vamos ver mais à frente. E que serviços eram estes que constavam daquele contrato invisível? Comentários aos jogos de futebol transmitidos pela TDM. Ah...por acaso há bocado estava a ver o jogo entre a Eslováquia e a Rússia, e a certa altura, pouco depois dos russos terem reduzido para 1-2, oiço o comentador dizer "os espectadores eslovacos que me desculpem, mas o golo da Rússia deu outro ânimo ao jogo". Nestaráme, takže sa nemusíte báť! - terão respondido os eslovacos. Não sei quem foi que disse aquilo, e nem tem qualquer importância. É simpático que comentem os jogos, até para nos avisarem de alguma incidência durante um momentâneo lapso de atenção, mas a qualidade dos comentários não é condição sine qua non para apreciar os jogos. Sei lá, parece que para uns isto é um assunto de Estado. "De interesse público", voltando a citar. Ou será apenas isto? Vamos mudar de cenário primeiro.



Olha que burrito tão simpático. O que estará ele aqui a fazer, e porque zurra, tão aflito? Quem sabe se o motivo do saneamento bárbaro de que aquele amante da liberdade (liberdade! vem já para casa!) foi vítima o leva a carpir da única maneira que sabe - mesmo que depois a sua voz não chegue ao Céu. Pois bem, a causa de todo este desagravo: um artigo de 17 de Fevereiro no mesmo media, onde o mesmo autor tece considerações sobre a TDM, e com o sugestivo título "Para que serve a TDM?". Pergunta muito pertinente esta: para que serve uma estação de teledifusão? Para servir amêijoas à Bulhão Pato? Para salvar as baleias? Ou será que se pode usar como um bom substituto para um creme protector solar? Um mistério. Precisei de ir procurar o referido artigo para saber qual era a razão do surúrú, ou se o autor deste "disclaimer" foi além do mero direito ao exercício da liberdade de expressão, e já vou revelar as minhas conclusões. Contudo houve algo que me chamou a atenção, e não foi o texto propriamente dito, mas antes um comentário que surge no fundo da página electrónica onde se encontra o artigo, e que dá conta de nessa mesma semana em que saiu este "manifesto" a TDM passou um filme realizado...pelo mesmo senhor. Pode ter sido apenas coincidência, mas convenhamos que no contexto de um desabafo que a TDM "não aposta nos conteúdos made in Macau" é um tanto ou quanto..."falta de pontaria"? A propósito, confirmei aquilo que foi deixado no tal comentário como sendo verdade. Foi exactamente na mesma semana. Pelos vistos "o andar da carroça" deve ser a razão porque o nosso amiguinho ali em cima se encontra naquele estado de aflição. Vamos para o último acto, e para o efeito voltemos a mudar de cenário.


Yuck, que coisa mais desagradável, esta peste portadora de maleitas, uma das criaturas mais desprezíveis existentes à face da Terra. Claro que me refiro àquele mamífero na imagem, e que mau gosto para ilustrar esta conclusão, sinceramente, e ainda por cima destoa. Claro que a crítica no tal artigo em Fevereiro "não é pessoal", nem dirigido a ninguém: é para "a tutela", e já agora para "a administração". Como todos sabem, a TDM funciona em regime de cooperativa, onde tanto o seu presidente, como os administradores, os "cameraman" e a mulher da limpeza têm todos deveres e direitos iguais. É uma "mera opinião", que incidentalmente inclui sugestões de como gerir a estação, administrar o orçamento e até dá uma achega sobre o tipo de conteúdos a que a TDM devia dar primazia. Só faltou deixar uma grelha de programas, já agora. Not  too shabby, para quem ia apenas "comentar jogos de futebol", dá a entender que tem a noção completa do que ali vem e do que ali vai. "Nada de pessoal", reitera-se, e este "responsável pelo banimento" a que só faltou o carimbo vermelho a letras garrafais onde se leia "CENSURADO" não é ninguém em particular. É "a tutela". Repito: "não é nada de pessoal". Isto não existe:


Quanto a esse chá da manhã, passo, uma vez que ainda me arriscava a apanhar uma salmonela. E não, não digo "obrigado".  Eu trabalho, tenho obrigações com a minha entidade patronal, que é a que me paga o salário, e as únicas directivas que cumpro são aquelas por ela emanadas. Não admito que venha alguém de fora, por muito frequente que seja a sua presença, se foi ou não convidado, ou quanto sabe ou ignora do que se passa no âmbito do cumprimento dos meus deveres, me diga como devo cumprir o meu dever, ou me recorde das minhas obrigações. Muito menos admito que se coloque em causa o uso da liberdade de expressão - e aqui sim, o interesse passa a ser "público" - porque uma primadonna queixinhas e pedinchona tem  problemas de ordem pessoal com este ou com aquele. E aproveito para deixar claro que nada disto que estou a fazer é em benefício ou em prejuízo de seja quem for. Quem tem dois olhinhos no cara tire as suas próprias conclusões, agora a "liberdade de expressão" é que está a mais nesta caldeirada. Mas nunca de se deve dizer nunca, ao contrário do que fez a mesma pessoa em tempos, quando jurou que "nunca, mas nunca" queria ter nada a ver com certa publicação local, que por acaso, e só por acaso, é a mesma onde agora vem tirar estes coelhos da cartola. Pode ser que a carroça mude de direcção, nunca se sabe, e esse seria apenas mais um a juntar aos inúmeros malabarismos da parte de quem obviamente pensa que veio da Espertalhândia para aterrar na Parvónia. Ó, a ironia.

Podem-me perguntar, se quiserem, e já o fizeram, qualquer coisa como "ó Leocardo, porque é te metes nestas salganhadas que são uma perda de tempo?". Eu respondo, e sempre com a mesma  ou mais diplomacia que aquela com que a pergunta que me é colocada: do meu tempo eu é que sei se e quando o dou por "perdido", e quanto ao "porquê", permitam-me que responda com outra pergunta: porque é que tantas vezes deixamos as causas à solta, só para depois nos queixarmos das consequências? Pensem nisso, ó "defs".

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