sexta-feira, 30 de outubro de 2015

Vitória moral (de cabeça erguida, como a selecção)


"Construir muros à nossa volta é definhar" - Catarina Martins. Ah?!?!?!?

Feliz coincidência o anúncio do fim da greve de fome de Luaty Beirão ter sido logo no dia seguinte ao artigo dedicado ao tema que deixei neste espaço, e até era capaz de ter um acesso de vaidade e dizer que ele "me leu", mas penso que ele não estava em condições de ler nada (mas aparentemente podia escrever...). Fiquei feliz por se ter evitado uma tragédia, a perda de uma vida humana, e tudo para NADA. Mas atenção! Há quem tenha encontrado neste embaraçoso episódio motivos para se rejubilar e fazer contabilidade: Catarina Martins, a personalização do despeito que o eleitorado português demonstrou pelos partidos do arco da governação nas últimas eleições, que quiseram "castigar nas urnas" o PSD/PP e o PS, e como dos outros dois que conheciam este era o que não tinha uma foice e um martelo, votaram nele. Ela pensa que não, que foi nela que votaram, e desde o dia 4 que já a ouvi dizer mais de cem vezes que nunca pactuará com isto, nunca aceitará aquilo, que não gosta da sopa, e sempre com uma cara de mázona. Há quem se refira a ela como "a sucessora de Odete Santos". Só se podem estar a referir "carinhosamente", fazendo esta comparação com a deputada histórica do PC, que é um anjinho mimoso comparado com esta, com esta...madame Miao! Isso, é como a madame Mao, só que mia. E mia demagogia. Todo o dia. OK já chega.

A propósito da libertação do activista angolano, vem dizer que foi "uma vitória". Então não, coração? Luatey Beirão abandonou o protesto, sem conseguir que se cumprisse uma única das suas exigências = vitória. Não me surpreende, pois ali o conceito de "vitória" abrange conseguir um número de assentos no Parlamento que inviabilize a possibilidade de formar uma maioria que possa governar - e por "governar" entenda-se tomar medidas que são necessárias para ver se pelo menos se sai de um buraco para outro menos fétido. Só que o Bloco, já se sabe, não quer o poder para nada: só quer  mandar. Aparecer na TV a mandar bitaites é mais "rad" do que ficar do lado do receptor das "bocas", e fazer melhor, pfff...vocês disseram "fazer"? Isso é trabalho, não é? Dispensa-se, que eles estão ali para "pensar",  para  "coordenar as linhas de orientação". O que acontece é que não sabem do que falam, e nem neste episódio dos detidos por delito de opinião em Angola dão uma para a caixa. Na conclusão do discurso de "vitória", a Mourinha das "liberdades" remata com "um jovem nunca deve ser detido só por estar a ler um livro". Eu quando a vi dizer isto saíram-me punhais dos olhos, na direcção do ecrã do televisor - eis mais uma espertalhona que só reza metade da missa, a que lhe convém, depois diz "Amém", vai-se embora e vai tudo mais "espiritualizado" para casa. Vou recordar qual é o livro de que a Rosa Luxemburgo da Vandoma está aqui a falar:


Ao ponto que isto chegou, que já não pode uma pessoa "destruir pacificamente" outra. Livra!

Bolas, e eu a pensar que era um livro do Rato Mickey, ou a última edição do magazine "Crochet & Ponto Cruz". Quer-se dizer, eu concordo com a ideia de que o governo angolano é do pior que há, um ferro em brasa pelo ânus acima deles todos, etc., mas...isto? O livro está banido EM ANGOLA, atenção, EM ANGOLA, e o seu autor encontra-se também ele detido. Por isso pelas leis DE ANGOLA, é ILEGAL, PROIBIDO. Se as leis nesse país ESTRANGEIRO, portanto OUTRA JURISDIÇÃO estão bem ou mal feitas, ou como foram eles manipular a acusação ao ponto de chegar a "tentativa de preparar golpe de Estado" é outra conversa - mas para eles não deve ter sido difícil, tal é a forma declarada e provocatória com que os activistas VIOLAM A LEI. Agora queria eu saber como é que o Bloco vai explicar ao seu eleitorado que apoia a anarquia, ou é contra o Estado de Direito e o primado da lei, e que se um indivíduo não concordar como uma lei avulsa qualquer, e  decidir-se por uma conduta à margem desta, "tem toda a liberdade de o fazer". Nem eles explicam, nem acreditam eles próprios nessa patranha. Quem não conhece o caso de Luaty Beirão e oiça o que Catarina Martins disse, vai mesmo pensar que o activista foi detido por estar "a ler um livro", sentado no banco do jardim, enquanto fumava cachimbo e afagava o lombo a um fauno. Se alguém que se diz "activista dos direitos humanos" considera "material de reflexão" um livro cujo título contém a frase "ferramentas para DESTRUIR o ditador", com uma imagem de um motim onde ao fundo se vê o que parece ser uma ou mais explosões, ando desactualizado nestas coisas de "resistência não-violenta". Querem ver que andam a pôr o Che na mesma panela do Gandhi? Como faz o Bloco de Esquerda, aliás.

Mais uma vez recordo que não simpatizo com o governo de Angola em NADA, nem pelo dinheiro que tem, do qual nunca vi um...quanto é que é um décimo do kwanza? Bem, agora uma coisa que me parece desajustada e esta táctica de combate a um regime ditatorial, opressor, e que se arma até aos dentes de leis que punam a dissentia, ou tribunais amestrados para as interpretarem como tal. Sabendo de tudo isto, fazem uma parada de ilegalidades mesmo à frente do nariz dos tipos, como quem cai para a boca do lobo de pirueta e ainda pede nota artística, e é suposto...o quê? Sensibilizar o mundo? Falando por ele, o sr. Mundo manda dizer que já sabia, mas obrigado na mesma. Isto nem parece de alguém que tem como inspiração Bob Marley - então e a "roots action"? É preciso minar o inimigo de dentro do sistema, tê-lo por perto, e não ficar atirado na choldra, marginalizado, e ainda menos morto. Essa é que ficou como um pedregulho nessa engrenagem, meu caro Luaty Beirão. A reacção do regime ao seu protesto tão "extravagante" foi metê-lo num hospital, a receber cuidados com a que a maioria dos angolanos nem sonha, à espera que caísse em si. Foi o que o mundo viu, só isso. "Uma vitória", diz aquela menina.


Um livro muito útil e pacifista, este - uma autêntica "ferramenta para destruir"

Usemos a lógica da "coordenadora" do Bloco de Esquerda: isto é "um livro". De facto isto das liberdades tem que se lhe diga, pois apesar de "Mein Kampf", que protela a ideologia que esteve na origem do Holocausto, ser proibido em vários países (na Rússia, por exemplo, porque "apela ao extremismo - quem diria...) é permitido na Alemanha! Claro, a Alemanha é um país livre e democrático, iam lá agora proibir "um livro"? Contudo salvaguardam-se desta perigosa "liberdade" que dão aos seus cidadãos, considerando um crime quem "usar o livro com fins violentos ou outros já previstos por lei". Recordo que na Alemanha é proibida toda e qualquer simbologia nazi, glorificar o Terceiro Reich, e até negar o Holocausto - dizer que "não aconteceu". Isto para a Catarina Martins deve ser "gravíssimo", acusar de um crime alguém apenas por ter uma opinião contraditória. Para ela deve ser "censura" quando o FBI e quejandos encerram páginas da net que ensinam a fabricar bombas caseiras, ou sente peninha daqueles pobres cinéfilos que ficam sem poder assistir aos seus filmes favoritos, só porque são pornográficos e os actores têm menos de 12 anos - um adulto maior e vacinado tem o direito de ver os filmes que lhe apetecer, não é ó dondoca, sua "morconga". Se ela for ver este artigo vai ficar indignada, e talvez arrepiada com a alusão que faço ao "Mein Kampf", que para ela "não é SÓ um livro", com toda a certeza. Vou ficar sentado enquanto espero que o Bloco se mexa, e vá exigir a libertação dos restantes 14 presos políticos do grupo do Luaty Beirão, entre os quais se encontra um tal "Hitler Samussuko" - se é nome artístico, deve ser um grande "artista", este. Aí vou contemplar esse momento único e impagável, quando a Catarina Martins aparecer com uma mão de punho em riste, a entoar o slogan que se lê no cartaz que empunha na outra e que diz: "Libertem o Hitler, e já!". Tremo e fico arrepiado de expectativa. Brrr...

É este o nível desta gente que se diz de "esquerda", e que junta no mesmo guisado um molho de ideologias caducas, que juntas foram pretexto para uns cem milhões de mortes só durante o século XX: não é mentira que foi "um livro" que esteve na origem da detenção de Luaty Beirão "y sus muchachos", mas não espere saber toda a verdade. É como chegar ao cinema e apanhar o fim do filme: sabe como acabou, mas não sabe porquê. E não vale a pena perguntar à Catarina Martins, que ela diz apenas "obrigado e boa tarde" (não que esteja mesmo a desejar-lhe uma boa tarde, entenda-se), e vira-lhe as costas. É assim que se ganham argumentos no campeonato dos intelectuais da treta: entram ao ataque, marcam um golo no início (quase sempre fora-de-jogo, ou com a mão), e logo a seguir abandonam o campo, dizendo que "ganharam". E lá perder não perderam, nem sequer na secretaria, como ficou provado com a forma que a notícia foi tratada, quer na imprensa, quer em 99% dos artigos de opinião que li a este respeito: foram mais os apelos ao fim da greve do fome, do que protestos indignados contra o regime angolano. E nem é isso que está aqui em questão, pois não restam dúvidas sobre a perfídia do regime de Luanda, que merecia acabar todo na choldra, na melhor das hipóteses. Mas como, se têm rios de nota, que é uma coisa que além de poder ser trocada por bens e serviços, também serve para fazer as Catarinas Martins desta vida irem dar a volta ao bilhar grande? Ela e não só, vejam: 

Este foi um comentário que apanhei por aí algures, que é uma das muitas reacções ao anúncio do fim da greve de fome de Luaty Beirão que é escrita por sonhadores que ficaram convencidos - ou querem convencer os outros de que sim - de que disto tudo saiu uma "vitória",  ou que o regime angolano ficou desacreditado e "não perde pela demora". Vá havendo petróleo, e é quanto a demora..."demora". Aquela contradição que o autor do comentário faz, e que eu assinalei a vermelho , não só diz tudo quanto à confusão que vai nestas cabecinhas de quem quer à força ser idealista, senão julga que "não existe", como ainda toca no ponto essencial - com que então a Europa "excomunga Eduardo dos Santos", mas é lá que ele "construiu um império"? Pois foi, de facto os regimes totalitários passam por uma formação profissional muito rigorosa onde lhes ensinam, entre outras coisas, a quem pagar para andar caladinho, e a quem deixar falar à vontade, que quase de certeza basta um mata-moscas para tirá-lo de comissão. E pagam a quem? A quem pode manipular a opinião, ou seja os média, e do "império angolano" constam empresas que compram jornais (e jornalistas, por aderência), e estes, onde se encontram os graduados da nova escola da "verdade relativa", dão a notícia da greve de fome, relatam os factos como eles se apresentam, muito bem, e cada um que tire as suas próprias conclusões. Para mim é simples: chocou-me a forma escolhida pelo activista para sensibilizar a opinião pública, que levando QUASE até ao fim a greve de fome, QUASE morrendo, e dessa forma o mundo QUASE ficou a par do horror que  é o regime angolano, e QUASE que ponderou tomar uma posição mais firme. Ou não, pois não era a primeira vez que acontecia aquilo que aconteceu, ou seja, nada. Este "nada" nunca "quase" acontece -  é recorrente. 

Foi necessária muita ponderação para decidir se devia ou não meter-me no meio deste "trip" dos contestatários de pacotilha que acham que isto dos martírios em nome daquilo que eles chamam de "valores" é "o máximo", mas se forem os outros a fazê-lo, claro. Eles têm que ficar vivos, no conforto do lar, de barriga cheia, e então aí ditam o grande plano para tornar o mundo mais justo, mais livre, mais não sei quê, sabendo que isso só lhe faz mossa se acontecer mesmo - depois o que têm para  protestar, que é a única coisa que sabem fazer? Mas atenção, o que está aqui em causa para a Catarina Martins é a "liberdade", e vai lutar para que os jovens possam "ler um mero livro inocente", onde se sugerem "resoluções pacíficas" que passam por "destruir o ditador". Ah mas pacíficas elas são, de certeza, que depois do pelotão de fuzilamento terminar as execuções sumárias, ao bom estilo Che da "esquerda unida" que o Bloco representa, vai ser uma paz e um silêncio, e o cheiro a pólvora é o cheiro da liberdade, do pluralismo, e das eleições "livres e democráticas", onde os anjinhos vão deixar o povo decidir qual deles vai meter as unhas no dinheiro de Angola, manchado de sangue, e finalmente lavado pelos "investimentos" no exterior. E foram vocês votar nesta gente, apenas porque estão cansados de ter sempre os mesmos a "comer-vos a pinha", e querem mais um ou dois? Liguem para a Super-Catarina, que pode ser que ela escreva qualquer coisinha, "assim mudando completamente o rumo dos acontecimentos", "na direcção de um mundo mais justo". Bravo, parabéns, e as melhoras.

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