sexta-feira, 30 de outubro de 2015

"Charles Oakfield" - eis o novo Carlos Carvalhal



A vida tem corrido mal a José Mourinho, treinador dos ingleses do Chelsea, que ultimamente tem sido notícia pela sua terrível mania de não conseguir ficar calado quando tem qualquer coisa para dizer, e também quando não tem - nada de novo, portanto. A diferença é que este ano o "special one" não executa a sua rotina do primeiro lugar da classificação, de onde pode atirar esse facto na cara dos potenciais críticos, mas sim do sexto lugar...a contar do fim. É mesmo assim tão grave, e a juntar a isso foi eliminado a meio desta semana da League Cup pelo Stoke City, ainda que no desempate por pontapés da marca de grande penalidade. Mas esqueçam lá o Mourinho, ó orgulhosos lusitanos sempre à procura de encher o peito de orgulho pelos sucessos alheios, com o pretexto de ser "um compatriota", pois o sabor do mês em terras de Sua Majestade é Carlos Carvalhal, que desde Agosto, data em que começou a treinar o Sheffield Wednesday, tornou-se o ídolo da rapaziada daquela cidade de South Yorkshire. E não é para menos, pois neste vídeo podemos atestar a grande forma dos "owls", que eliminaram o Arsenal na mesma League Cup que Mourinho venceu na época passada, mas que agora viu fugir-lhe uma possível revalidação desse título. E para que Arsene Wenger não se ficasse a rir do rival de Londres, o onze de Carvalhal espetou três "secos" nos "gunners", que devem ter deixado o treinador francês a pensar que ali estava alguma espécie de "Mourinho dos chineses" - das lojas chinesas, entenda-se.



Mas e que nada, e se pensavam que Carvalhal era ainda pior no domínio do inglês falado do que Mourinho e os seus "I 'sink' boringue is ten years-aidout a teitle", e outros atropelos à língua de Elias Chequespirro, engana-se! Vejam aqui como analisa "like a boss" a vitória que poucos estariam a imaginar ser possível, e logo por aqueles números. Sim, podia praticar um pouco mais o uso correcto dos artigos, melhorar um pouco a pronúncia, e aquele "probably" que sai "prubábli" é o mais gritante, e em comum com Mourinho tem aquele terrível hábito de traduzir directamente expressões em Português que noutras línguas não fazem sentido, ou que não são conhecidas. Mas tudo bem, isto é um elogio a Carvalhal, que nunca jogou nem treinou em Inglaterra até Agosto último, e como se sabe os jogadores da bola nunca foram alunos brilhantes a coisa nenhuma. E o que importa, se outros do calibre de Mancini (que depois aprendeu, e depressa), Benítez, Pellegrini ou Ranieri chegaram a clubes que o cobriram de ouro e nem um "thank you" conseguiam fazer sair da boca? Mauricio Pochettino, treinador argentino do Tottenham, vive há vários anos em Inglaterra e ainda fala como o Speedy Gonzalez, e Wenger é o pior de todos: em mais de 20 anos a treinar em Londres ainda diz "vee lust too playerz", e "a team vit qualetee of Sháfilde". E falando de Wenger...



Carvalhal o britânico, parte II: conferência de imprensa. Mais uma vez é de tirar o chapéu, a calma com que o homem chega aos microfones da nação do futebol, e fala de como fez gato-sapato com um dos seus três maiores emblemas. Eu começava aos pulos em cima da mesa, fazendo gestos de despeito e berrando: "TOMA! CHUPA! ARROTA! AH AH!" - assim como eu só consigo pensar no Maradona. É comovente ver o vídeo, e até se perdoa aquele momento em que Carvalhal fala da "geração perdida" dos fãs do Wednesday, que devem ter ficado muito bem sem entender o que senhor estava para ali a dizer deles. Wenger, por seu lado, que saiu do célebre estádio de Hillsborough com "trois melons" no saco, justificou-se com "a juventude da equipa", e outras desculpas de mau pagador, com destaque para o facto de ser ver obrigado a substituir Oxlade-Chamberlain aos 5 minutos por lesão, entrando para o seu lugar Theo Walcott, que doze minutos mais tarde sairia também ele lesionado. Ora bem, isto não é nada. Vejam só:


Em cima temos a cotação de mercado dos jogadores do Arsenal, em ordem descendente, e em baixo o valor total do plantel do Sheffield Wednesday. Como podem verificar, só Alexis Sanchez é mais caro que os vinte e tal jogadores da equipa de Carvalhal, e dos que estiveram em campo na terça-feira, era só somar dois arsenalistas para dar o valor total do onze dos "owls" - do onze, não do plantel, por isso até se pode dizer que em alguns casos chegava apenas um. Não deve ser culpa de mais ninguém senão de Wenger que a equipa quebre fisicamente, pois como "manager" tem também a responsabilidade de escolher os jogadores mais aptos - e vejam que opções de luxo que o Arsenal lhe proporciona. Era como se tivesse um Mercedes-Benz GL-Class, e fosse abaixo nas subidas numa corrida contra um Fiat 600, e ainda desculpar-se com os aspectos mecânicos. Quanto a Carvalhal...



...tem os fãs a entoarem cânticos com o seu nome, Deus meu! Ai se o homem soubesse disto nunca tinha ido para o Sporting levar com tomates daqueles gajos que querem tudo para ontem (como se estivessem habituados a ganhar, coitados), e ia antes responder a entrevistas na Inglaterra - nem que fosse numa equipa da "National League", o quinto escalão do futebol britânico. E isto que vemos nas imagens foi durante um jogo em Londres contra o Brentford, a contar para o Championship (assim se chama o segundo escalão do futebol inglês), no dia 26 de Setembro - UM MÊS antes deste desafio com o Arsenal, e apenas dois dias depois de terem vencido o Newcastle na eliminatória anterior. E para nós que estamos (mal) habituados a julgar as coisas pela medida do futebol português, as surpresas não ficam por aqui. Vide:


Esta era a classificação do Championship a 16 de Setembro, após a sétima jornada, e as coisas não andavam lá muito famosas, com um 18º lugar entre 24 equipas, e apenas um ponto acima da zona de despromoção. Depois de uma estreia vitoriosa na prova, seguiram-se seis partidas sem ganhar, o que em Portugal já lhe teria valido uma guia de  marcha, e quem sabe nem era preciso esperar pelo sexto "tropeção", e de nada lhe valeria o facto da prova em questão ter um total de 46 (!) jornadas. É improvável, mas não é de todo impossível que uma equipa perca os primeiros dez jogos, e ainda consiga conquistar o título, e o equilíbrio é a nota dominante, com as equipas de topo a desperdiçarem pontos constantemente. Sobem só os dois primeiros classificados, mas há o aliciante da terceira vaga para a Premier League da época seguinte  ser discutida num "play-off" a quatro, entre os terceiro e sexto classificados. Pode até ser que as duas eliminatórias da League Cup que o Wednesday venceu durante este período de seis jogos sem vencer para a liga tenham ajudado Carvalhal a ficar bem visto junto da direcção do clube, mesmo estando aqui a falar de partidas em casa contra Mansfield Town e Oxford United, ambas do quarto escalão. Mas valeu mesmo a pena ter paciência, porque agora:


E aí está, seis jogos com quatro vitórias e dois empates depois, eis o Wednesday de Carvalhal no nono lugar, a quatro pontos dos lugares do "play-off", e a mais um da subida directa. A juntar isto está o recorde decorrente de invencibilidade nas quatros divisões principais, a chamada "nationwide league", com nove jogos sem derrota em todas as competições. Se antes os adeptos entoavam cânticos, agora devem ter construído templos em homenagem a Carvalhal, que chamam simplesmente por "Carlos". O nome de Carlos Carvalhal traduzido directamente para inglês ficaria qualquer coisa como "Charles Oakfield", que nem fica nada mal. Se fosse um dos jogadores que conquistou o mundial de 66 pelos bifes, seria "Charlie Oaks". E tem sido crescente a adoração dos ingleses por quem em Portugal foi despedido de uma mão cheia de clubes por ficar um mês sem ganhar, imaginem só. Ali  só o despedem se fizer maus resultados, E se não estiver a fazer um bom trabalho - há clubes com treinadores que ficam anos, onde chegam a subir e descer de divisão mais que uma vez (exemplo recente e sem precisar de puxar pela cabeça: Steve Bruce no Hull City). E neste clube em particular, pode-se dizer que tem feito melhor que todos os seus antecessores desde...o século passado!


Este é mais um vídeo onde se vê como os adeptos e os cânticos em seu louvor têm seguido Carvalhal nesta aventura. Desta feita foi em Rotherham, no fim-de-semna passado, onde o treinador português obteve mais uma vitória por 2-1. O Wednesday foi campeão de Inglaterra quatro vezes, a última delas em 1930, e cinco anos mais tarde levantaria também a sua terceira FA Cup, que também foi até hoje a sua última. Contudo conseguiu manter-se várias décadas entre os grandes, e chegou mesmo a conquistar uma League Cup em 1991, e participou algumas vezes nas competições europeias. Sheffield divide paixões entre os "owls" e um outro emblema também em tempos ganhador: o Sheffield United, que agora anda pela League One, um escalão mais abaixo. Esta cidade era considerada "a fábrica do Reino Unido", ou ainda "a capital do aço", desde o período que se seguiu à Revolução Industrial, e até à falência do sector, que é no fundo igual a todas as falências, que eventualmente se seguem a anos de decadência, e nem nós próprios escapamos à regra: hoje feitos de aço, amanhã começa a aparecer a ferrugem, e quando mal damos por isso, a fábrica "fecha de vez". Após a despromoção da Premier League em 1999/2000, o Wednesday não mais voltou ao convívio dos grandes, chegando a ter duas passagens  pelo terceiro escalão, e o melhor que conseguiu foi o 9º lugar no Championship em 2006/2007. Isto vale por dizer que o clube está neste momento mais perto da divisão principal desde que foi despromovido, já lá vão quinze anos. E aparentemente graças ao contributo de Carvalhal, pelo menos em grande parte.


Como se pode ver pela apresentação da sua página pessoal, Carvalhal preocupou-se com a imagem, apresentando-se como um "internacional man of...uh...coaching". Pois. A julgar pelos vídeos é também um autêntico cavalheiro, e nem os ingleses vão querer meter-se com ele, "prubábli" - um verdadeiro anti-Mourinho. Eu confesso que  me enganei a respeito da ida de Carvalhal para o futebol inglês, e ainda bem que me enganei. Não sou nenhum "velho do Restelo", mas regi-me apenas pelos números e pela história, e nunca pensei que a ida do contingente luso para Sheffield (Carvalhal levou os atletas Marco Matias e Lucas João, que se juntaram a Filipe Melo e José Semedo, que transitaram da época anterior) fosse ter sucesso, ainda por cima com este destaque. De repente, e se a memória não me atraiçoa, só Mourinho triunfou na velha Albion, e Paulo Sousa teve passagens mais ou menos discretas pelo Leicester e pelo QPR. Sem "gimmicks" de ordem alguma, Carlos Carvalhal mete os exigentes adeptos ingleses a cantar para ele. Qual o truque? "No trick. Everything step by step" - como diria o nosso Carvalhal, que é o "Oakfield" mais conhecido dos britânicos.

Vitória moral (de cabeça erguida, como a selecção)


"Construir muros à nossa volta é definhar" - Catarina Martins. Ah?!?!?!?

Feliz coincidência o anúncio do fim da greve de fome de Luaty Beirão ter sido logo no dia seguinte ao artigo dedicado ao tema que deixei neste espaço, e até era capaz de ter um acesso de vaidade e dizer que ele "me leu", mas penso que ele não estava em condições de ler nada (mas aparentemente podia escrever...). Fiquei feliz por se ter evitado uma tragédia, a perda de uma vida humana, e tudo para NADA. Mas atenção! Há quem tenha encontrado neste embaraçoso episódio motivos para se rejubilar e fazer contabilidade: Catarina Martins, a personalização do despeito que o eleitorado português demonstrou pelos partidos do arco da governação nas últimas eleições, que quiseram "castigar nas urnas" o PSD/PP e o PS, e como dos outros dois que conheciam este era o que não tinha uma foice e um martelo, votaram nele. Ela pensa que não, que foi nela que votaram, e desde o dia 4 que já a ouvi dizer mais de cem vezes que nunca pactuará com isto, nunca aceitará aquilo, que não gosta da sopa, e sempre com uma cara de mázona. Há quem se refira a ela como "a sucessora de Odete Santos". Só se podem estar a referir "carinhosamente", fazendo esta comparação com a deputada histórica do PC, que é um anjinho mimoso comparado com esta, com esta...madame Miao! Isso, é como a madame Mao, só que mia. E mia demagogia. Todo o dia. OK já chega.

A propósito da libertação do activista angolano, vem dizer que foi "uma vitória". Então não, coração? Luatey Beirão abandonou o protesto, sem conseguir que se cumprisse uma única das suas exigências = vitória. Não me surpreende, pois ali o conceito de "vitória" abrange conseguir um número de assentos no Parlamento que inviabilize a possibilidade de formar uma maioria que possa governar - e por "governar" entenda-se tomar medidas que são necessárias para ver se pelo menos se sai de um buraco para outro menos fétido. Só que o Bloco, já se sabe, não quer o poder para nada: só quer  mandar. Aparecer na TV a mandar bitaites é mais "rad" do que ficar do lado do receptor das "bocas", e fazer melhor, pfff...vocês disseram "fazer"? Isso é trabalho, não é? Dispensa-se, que eles estão ali para "pensar",  para  "coordenar as linhas de orientação". O que acontece é que não sabem do que falam, e nem neste episódio dos detidos por delito de opinião em Angola dão uma para a caixa. Na conclusão do discurso de "vitória", a Mourinha das "liberdades" remata com "um jovem nunca deve ser detido só por estar a ler um livro". Eu quando a vi dizer isto saíram-me punhais dos olhos, na direcção do ecrã do televisor - eis mais uma espertalhona que só reza metade da missa, a que lhe convém, depois diz "Amém", vai-se embora e vai tudo mais "espiritualizado" para casa. Vou recordar qual é o livro de que a Rosa Luxemburgo da Vandoma está aqui a falar:


Ao ponto que isto chegou, que já não pode uma pessoa "destruir pacificamente" outra. Livra!

Bolas, e eu a pensar que era um livro do Rato Mickey, ou a última edição do magazine "Crochet & Ponto Cruz". Quer-se dizer, eu concordo com a ideia de que o governo angolano é do pior que há, um ferro em brasa pelo ânus acima deles todos, etc., mas...isto? O livro está banido EM ANGOLA, atenção, EM ANGOLA, e o seu autor encontra-se também ele detido. Por isso pelas leis DE ANGOLA, é ILEGAL, PROIBIDO. Se as leis nesse país ESTRANGEIRO, portanto OUTRA JURISDIÇÃO estão bem ou mal feitas, ou como foram eles manipular a acusação ao ponto de chegar a "tentativa de preparar golpe de Estado" é outra conversa - mas para eles não deve ter sido difícil, tal é a forma declarada e provocatória com que os activistas VIOLAM A LEI. Agora queria eu saber como é que o Bloco vai explicar ao seu eleitorado que apoia a anarquia, ou é contra o Estado de Direito e o primado da lei, e que se um indivíduo não concordar como uma lei avulsa qualquer, e  decidir-se por uma conduta à margem desta, "tem toda a liberdade de o fazer". Nem eles explicam, nem acreditam eles próprios nessa patranha. Quem não conhece o caso de Luaty Beirão e oiça o que Catarina Martins disse, vai mesmo pensar que o activista foi detido por estar "a ler um livro", sentado no banco do jardim, enquanto fumava cachimbo e afagava o lombo a um fauno. Se alguém que se diz "activista dos direitos humanos" considera "material de reflexão" um livro cujo título contém a frase "ferramentas para DESTRUIR o ditador", com uma imagem de um motim onde ao fundo se vê o que parece ser uma ou mais explosões, ando desactualizado nestas coisas de "resistência não-violenta". Querem ver que andam a pôr o Che na mesma panela do Gandhi? Como faz o Bloco de Esquerda, aliás.

Mais uma vez recordo que não simpatizo com o governo de Angola em NADA, nem pelo dinheiro que tem, do qual nunca vi um...quanto é que é um décimo do kwanza? Bem, agora uma coisa que me parece desajustada e esta táctica de combate a um regime ditatorial, opressor, e que se arma até aos dentes de leis que punam a dissentia, ou tribunais amestrados para as interpretarem como tal. Sabendo de tudo isto, fazem uma parada de ilegalidades mesmo à frente do nariz dos tipos, como quem cai para a boca do lobo de pirueta e ainda pede nota artística, e é suposto...o quê? Sensibilizar o mundo? Falando por ele, o sr. Mundo manda dizer que já sabia, mas obrigado na mesma. Isto nem parece de alguém que tem como inspiração Bob Marley - então e a "roots action"? É preciso minar o inimigo de dentro do sistema, tê-lo por perto, e não ficar atirado na choldra, marginalizado, e ainda menos morto. Essa é que ficou como um pedregulho nessa engrenagem, meu caro Luaty Beirão. A reacção do regime ao seu protesto tão "extravagante" foi metê-lo num hospital, a receber cuidados com a que a maioria dos angolanos nem sonha, à espera que caísse em si. Foi o que o mundo viu, só isso. "Uma vitória", diz aquela menina.


Um livro muito útil e pacifista, este - uma autêntica "ferramenta para destruir"

Usemos a lógica da "coordenadora" do Bloco de Esquerda: isto é "um livro". De facto isto das liberdades tem que se lhe diga, pois apesar de "Mein Kampf", que protela a ideologia que esteve na origem do Holocausto, ser proibido em vários países (na Rússia, por exemplo, porque "apela ao extremismo - quem diria...) é permitido na Alemanha! Claro, a Alemanha é um país livre e democrático, iam lá agora proibir "um livro"? Contudo salvaguardam-se desta perigosa "liberdade" que dão aos seus cidadãos, considerando um crime quem "usar o livro com fins violentos ou outros já previstos por lei". Recordo que na Alemanha é proibida toda e qualquer simbologia nazi, glorificar o Terceiro Reich, e até negar o Holocausto - dizer que "não aconteceu". Isto para a Catarina Martins deve ser "gravíssimo", acusar de um crime alguém apenas por ter uma opinião contraditória. Para ela deve ser "censura" quando o FBI e quejandos encerram páginas da net que ensinam a fabricar bombas caseiras, ou sente peninha daqueles pobres cinéfilos que ficam sem poder assistir aos seus filmes favoritos, só porque são pornográficos e os actores têm menos de 12 anos - um adulto maior e vacinado tem o direito de ver os filmes que lhe apetecer, não é ó dondoca, sua "morconga". Se ela for ver este artigo vai ficar indignada, e talvez arrepiada com a alusão que faço ao "Mein Kampf", que para ela "não é SÓ um livro", com toda a certeza. Vou ficar sentado enquanto espero que o Bloco se mexa, e vá exigir a libertação dos restantes 14 presos políticos do grupo do Luaty Beirão, entre os quais se encontra um tal "Hitler Samussuko" - se é nome artístico, deve ser um grande "artista", este. Aí vou contemplar esse momento único e impagável, quando a Catarina Martins aparecer com uma mão de punho em riste, a entoar o slogan que se lê no cartaz que empunha na outra e que diz: "Libertem o Hitler, e já!". Tremo e fico arrepiado de expectativa. Brrr...

É este o nível desta gente que se diz de "esquerda", e que junta no mesmo guisado um molho de ideologias caducas, que juntas foram pretexto para uns cem milhões de mortes só durante o século XX: não é mentira que foi "um livro" que esteve na origem da detenção de Luaty Beirão "y sus muchachos", mas não espere saber toda a verdade. É como chegar ao cinema e apanhar o fim do filme: sabe como acabou, mas não sabe porquê. E não vale a pena perguntar à Catarina Martins, que ela diz apenas "obrigado e boa tarde" (não que esteja mesmo a desejar-lhe uma boa tarde, entenda-se), e vira-lhe as costas. É assim que se ganham argumentos no campeonato dos intelectuais da treta: entram ao ataque, marcam um golo no início (quase sempre fora-de-jogo, ou com a mão), e logo a seguir abandonam o campo, dizendo que "ganharam". E lá perder não perderam, nem sequer na secretaria, como ficou provado com a forma que a notícia foi tratada, quer na imprensa, quer em 99% dos artigos de opinião que li a este respeito: foram mais os apelos ao fim da greve do fome, do que protestos indignados contra o regime angolano. E nem é isso que está aqui em questão, pois não restam dúvidas sobre a perfídia do regime de Luanda, que merecia acabar todo na choldra, na melhor das hipóteses. Mas como, se têm rios de nota, que é uma coisa que além de poder ser trocada por bens e serviços, também serve para fazer as Catarinas Martins desta vida irem dar a volta ao bilhar grande? Ela e não só, vejam: 

Este foi um comentário que apanhei por aí algures, que é uma das muitas reacções ao anúncio do fim da greve de fome de Luaty Beirão que é escrita por sonhadores que ficaram convencidos - ou querem convencer os outros de que sim - de que disto tudo saiu uma "vitória",  ou que o regime angolano ficou desacreditado e "não perde pela demora". Vá havendo petróleo, e é quanto a demora..."demora". Aquela contradição que o autor do comentário faz, e que eu assinalei a vermelho , não só diz tudo quanto à confusão que vai nestas cabecinhas de quem quer à força ser idealista, senão julga que "não existe", como ainda toca no ponto essencial - com que então a Europa "excomunga Eduardo dos Santos", mas é lá que ele "construiu um império"? Pois foi, de facto os regimes totalitários passam por uma formação profissional muito rigorosa onde lhes ensinam, entre outras coisas, a quem pagar para andar caladinho, e a quem deixar falar à vontade, que quase de certeza basta um mata-moscas para tirá-lo de comissão. E pagam a quem? A quem pode manipular a opinião, ou seja os média, e do "império angolano" constam empresas que compram jornais (e jornalistas, por aderência), e estes, onde se encontram os graduados da nova escola da "verdade relativa", dão a notícia da greve de fome, relatam os factos como eles se apresentam, muito bem, e cada um que tire as suas próprias conclusões. Para mim é simples: chocou-me a forma escolhida pelo activista para sensibilizar a opinião pública, que levando QUASE até ao fim a greve de fome, QUASE morrendo, e dessa forma o mundo QUASE ficou a par do horror que  é o regime angolano, e QUASE que ponderou tomar uma posição mais firme. Ou não, pois não era a primeira vez que acontecia aquilo que aconteceu, ou seja, nada. Este "nada" nunca "quase" acontece -  é recorrente. 

Foi necessária muita ponderação para decidir se devia ou não meter-me no meio deste "trip" dos contestatários de pacotilha que acham que isto dos martírios em nome daquilo que eles chamam de "valores" é "o máximo", mas se forem os outros a fazê-lo, claro. Eles têm que ficar vivos, no conforto do lar, de barriga cheia, e então aí ditam o grande plano para tornar o mundo mais justo, mais livre, mais não sei quê, sabendo que isso só lhe faz mossa se acontecer mesmo - depois o que têm para  protestar, que é a única coisa que sabem fazer? Mas atenção, o que está aqui em causa para a Catarina Martins é a "liberdade", e vai lutar para que os jovens possam "ler um mero livro inocente", onde se sugerem "resoluções pacíficas" que passam por "destruir o ditador". Ah mas pacíficas elas são, de certeza, que depois do pelotão de fuzilamento terminar as execuções sumárias, ao bom estilo Che da "esquerda unida" que o Bloco representa, vai ser uma paz e um silêncio, e o cheiro a pólvora é o cheiro da liberdade, do pluralismo, e das eleições "livres e democráticas", onde os anjinhos vão deixar o povo decidir qual deles vai meter as unhas no dinheiro de Angola, manchado de sangue, e finalmente lavado pelos "investimentos" no exterior. E foram vocês votar nesta gente, apenas porque estão cansados de ter sempre os mesmos a "comer-vos a pinha", e querem mais um ou dois? Liguem para a Super-Catarina, que pode ser que ela escreva qualquer coisinha, "assim mudando completamente o rumo dos acontecimentos", "na direcção de um mundo mais justo". Bravo, parabéns, e as melhoras.

terça-feira, 27 de outubro de 2015

Mal crónico nacional



Tomei a liberdade de partilhar este vídeo, colocado na conta do YouTube do próprio autor, e onde se vê José Luís Peixoto a falar do seu último livro, que dá pelo título de "O Teu Ventre", e que aborda a temática das aparições de 13 de Maio de 1917 em Fátima. Esta frase que acabei de escrever como introdução já seria mais que suficiente para eriçar muitas "sensibilidades", pois temos aqui um tópico que é completamente tabu, mas com a "nuance" de o ser apenas para um dos lados da discussão. Confesso que fiquei preocupado, pois tive conhecimento quer do livro, quer da pequena entrevista de Alberta Marques Meneres na RTP3 de forma abrupta, e gosto do trabalho deste autor, li 2 livros e meio (o que ficou a meio foi por falta de oportunidade, e já que me lembrei disto agora, um dia destes vou terminar), e não encontro nada naquilo que JLP escreve que me faça suspeitar de que estou na presença de uma fraude, ou de um cabotino, ou de um Chico-Esperto que vive à custa da banha-da-cobra que impinge aos mais ingénuos. Para entender melhor tudo isto, vou mostrar fiquei a saber do novo livro de JLP:


E aqui está, uma segunda liberdade que decidi tomar, ao não ocultar a identidade dos autores dos comentários ao "post" inicial no Facebook, da autoria de um Nuno Roby Amorim, que após uma rápida vista olhos sobre o seu perfil, parece-me ser alguém ligado à comunicação social. E não me preocupei em ocultar os nomes, pois a julgar pelo timbre dos comentários, isto é tudo "gente fina", cheia de certezas, e que sabe do que fala. E além do mais que problema tem? Não sinto que estou a violar a privacidade de ninguém, pelo menos tanto quanto o nome do escritor José Luís Peixoto é aqui achincalhado, e nem chego a perceber bem o motivo. Reparem no clima geral de galhofa, misturado com surpresa e descrédito, como se JLP tivesse ido à RTP dizer que viu um fantasma, ou que falou com Deus - e nem seria de esperar outra coisa, a julgar pelo primeiro comentário, de Teresa Marques, que estabelece uma comparação com Alexandra Solnado. Quem se recorda, ou pelo menos tem uma ideia disso, a filha de Raúl Solnado sentiu-se aborrecida aqui há uns anos com a falta de protagonismo (e dinheiro) e decidiu anunciar ao mundo que "conversou com Deus", que lhe transmitiu uma espécie de ensinamentos de "aeróbica celestial", que de seguida passou a livro, e foi obter lucro à custa de gente muito infeliz e problemática. Não me atrevo a chamá-la de "maluca", mas entende-se porque fiquei preocupado com JLP. E sem razão nenhuma para tal, no fim de contas.

O que JLP faz no seu novo livro, e isto é o que aquele vídeo me dá a saber, é abordar o mistério dos milagres de Fátima de uma perspectiva pessoal, ao mesmo tempo que o insere no contexto histórico e e social da época. Recorde-se que a data das alegadas aparições é 1917, há quase um século, em plena I Guerra Mundial, e em vésperas da epidemia da gripe espanhola. Localizando os factos no espaço, encontramos uma zona rural e periférica de um país pobre, embrutecido e analfabeto - e a julgar por isto que ali vemos não mudou muito - e as únicas testemunhas são três crianças, pastores, com menos de 10 anos de idade. Posto isto é suposto não duvidarmos por um segundo de tudo o que consta da versão oficial dos eventos, urdidos e abençoados por um regime ditatorial fascista, que em conluio com a Igreja, usou a religião como ferramenta para controlar o povo, mantendo-o ignorante e supersticioso, até hoje; não vejo outra razão para uma reacção tão forte ao novo trabalho de JLP do que isso mesmo, a persistência na crença em algo que muito possivelmente não aconteceu, mas que mesmo assim tem o seu valor em termos espirituais, só que isso não chega: questionar os milagres de Fátima é para os crentes o mesmo que lhes apontar o dedo na cara e chamá-los de burros, e ao mesmo tempo dando gargalhadas de escárnio. Eu respeito a fé dos outros, apesar de não ser uma pessoa de fé, mas para para os crentes a minha descrença ofende-os, e é o mesmo que lhes estar a chamar de parvinhos, e que estão presos a mentira sem pés nem cabeça. E de facto eles lá sabem com que linhas se cosem - quem os manda acreditar no Pai Natal? 

É aqui que Portugal ainda não mudou nada desde 1917: se não acredita, não fale, não comente, não se expresse de nenhum jeito, e o mais importante, "respeite", e se estiver a procissão e o andor com a  santinha a entrar pela sua porta adentro, sirva-lhe chá e torradas - isto vindo de gente que diz "não impor nada a ninguém". Não admira que "até o padre tenha rido", ó sra. Paula Machado, ele lá sabe porquê. Se não foi por algum motivo atroz, foi por saber que ainda basta fazer aquele sorrisinho pérfido de condescendência para neutralizar de uma assentada quaisquer provas que se possam apresentar que desmintam algo já de si tão difícil de engolir. E o livro do JLP não é "prova" de nada, e  ele deixa isso bem claro. Nem sei desde quando é que este autor ou qualquer outro são obrigados a ser rigorosos naquilo que escrevem, ou em alternativa medir as sensibilidades antes de produzir uma  única ideia original que seja. E ele bem que diz ter pesquisado, e que se trata de uma perspectiva pessoal, e até quase pede desculpa, haja dó! É que o santo ofício e o seu índex andam aí vivinhos da silva, e que o diga a Paula Veiga, que no outro dia "ouviu um comentário" (ena!), "em que alguém dizia: agora toda a gente escreve um livro". Só não se recorda é onde ouviu esse comentário, se no  "metro, no autocarro, na paragem, etc.". Veja lá bem se também foi isso que escutou, pode ter sido outra coisa, e terá confundido, baralhado, esquecido, "etc.". É da idade, pronto, desculpa-se. Reze mais, que não resolve nada, e acaba surda e gagá na mesma, só que depois vai para o Céu. 

Desconheço qual é a intenção inicial de Nuno Roby Amorim com este "post", pois é evasivo no seu comentário, mas que é suficiente para se perceber que faltam berlindes naquele saco - com que então "não temos Governo", e por isso não se pode falar de outra coisa, é isso? Em caso afirmativo, só me resta desejar-lhe as melhoras, se bem que não lhe vou estar a mentir e dizer-lhe que "isso passa". Até porque a mentira hoje em dia, à cotação que está no mercado, não é coisa que se dê assim, de barato. Basta ver como foi só preciso deixar o portão mal fechado para que entrasse todo o tipo de bicharada, que foi logo chamar ao escritor todos os nomes, entre "maluco", "drogado", e outros impropérios. Há ainda quem ache graça, caso do Alex Days, cujo comentário consiste apenas numa gargalhada parva. No vídeo não vejo que dê vontade de rir a bandeiras despregadas, pelo que só posso depreender que ali o Alex estava sentado nalguma coisa dura e alta, que o divertia à brava. Ah sim, e depois de tudo isto, tenho duas quase-certezas: 1) acho que a maioria daqueles comentários partem de pessoas que não viram a entrevista, e 2) nenhum deles vai ler o livro, mas não se inibirá de falar mal. Porquê? "Porque faltou ao respeito a Fátima", ou "falou mal de Fátima". Claro que isto é simplesmente falso - JLP não fala mal de nada, mas fala DO mal. É aquela pequena diferença, sabem, entre a gente triste e uma tristeza de gente, que se atira de unhas a dentes a quem, vejam só, "escreveu um livro", e logo "sobre Fátima". Será que o JLP ainda tem fresca na memória a visita que fez à Coreia do Norte? Que lugar horrível, não é mesmo, onde as pessoas são obrigadas a acreditar em mentiras, ou caso contrário sofrem na pele as terríveis consequências? Ainda bem que foi lá. Assim já não lhe custa tanto.


segunda-feira, 26 de outubro de 2015

O pangiao "Concalves"


Sabem o que significa este "Arnaldo Concalves", que aparece num artigo de opinião da semana passada no jornal Ou Mun? Eu também não. Será que se come? Ou fuma-se? Não deve ser nome de gente, pois no contexto em que o autor o insere, trata-se de algo que tem a autoridade para se pronunciar sobre a legitimidade de uma candidatura ao cargo de deputado da Assembleia da República Portuguesa, o ramo legislativo dos orgãos de soberania. Se calhar enganaram-se e queriam dizer "Tribunal Constitucional", ou algo do género. Deve ser isso, um engano, e desculpa-se - é o que dá quando se fala do que não se sabe. Só que vem (mal) acompanhado, o autor do artigo: traz com ele o "Concalves". Haja fel para se deitar cá para fora sem parar durante semanas a fio, e ele é Coutinho práqui, Coutinho pracolá, chiça! Interessante contudo como o alvo de toda esta dor do corno - o próprio Coutinho - continua por aí, imaculado e sorridente, a fazer pela vida, indiferente aos invejosos. Fosse ele assim também tão reles e baixo e se calhar até "cantava" as verdadeiras razões porque algumas pessoas não o podem ver pintado. Ia ser um arraso, era só rir. Mas não, e louve-se a sua rectidão neste aspecto, pelo menos.

Chego a ficar estonteado com a falta de imaginação e de arte na hora de demonstrar o enorme ressabiamento que certas pessoas sentem pelo "senhor eleição". Sabem do que estou a falar, não é? Há por aí uns patetas-alegres que se dizem muito democráticos, mas que passam a vida a minar a democracia na sua essência, colocando em causa procedimentos e chegando mesmo a questionar a competência do eleitorado, que tem essa mania irritante de meter a cruz "no quadrado errado", segundo estes laudos guardiões da democracia, adeptos ferrenhos do pluralismo, "hooligans" da liberdade. O autor de mais esta diatribe assina pelo nome de Dong Chang, e sob o título "Part-time ou aliança dupla" faz comparações entre a candidatura do já deputado da RAEM à AR portuguesa com a instituição do casamento: "ninguém pode casar duas vezes, jurando fidelidade a duas mulheres ao mesmo tempo". Olha que analogia tão original, que aposto que nunca passou pela cabeça de ninguém. Não me surpreende que este tipo escreva para este jornal. Espera lá, aquilo é "escrever"? E a folha de couve em questão é um "jornal"? Aquilo é uma "opinião"? Podia até ser notícia, pois ninguém ia ler na mesma na mesma. Sugiro que para a próxima juntem a meio do texto a oferta de um vale de dez patacas de desconto em qualquer coisa e aí alguém é capaz de querer que leiam para ele, e que depois lhe expliquem.

As razões pelas quais o Ou Mun, publicação que nem se digna a disfarçar a linha editorial pró-Governo e pró-Pequim (redundância) não gosta do deputado são exactamente essas: trata-se de um "desalinhado" - isto para eles, é claro, que devido à pala da bajulação que levam colada nas orelhas nem se apercebem que Coutinho "alinha em qualquer coisa", desde que dê votos, lá está. A urna é o pote onde o homem mata a sede, por assim dizer. Gostos, outros há que preferem edifícios inteiros oferecidos pelo Governo com o pretexto de se instalarem, ocupam parte dele e sub-alugam o resto, metendo ao bolso o dinheiro da renda. Essa gente super-honesta vai depois publicar insinuações torpes e ameaças veladas disfarçadas de opinião, falando de incompatibilidades que afirmam existir, mas que não justificam com nada de nada que esteja na lei, limitando-se a fazer mais uma tórrida declaração de amor à Pátria, insistindo que o deputado Coutinho é uma espécie de "traidor" ou "agente duplo". Para dar a tudo isto um revestimento de credibilidade, citam "um académico da área do Direito", e aqui entra o tal Concalves. Esqueceram-se foi de acrescentar "...e semideus", à frente de
"Direito".

Para o "Concalves" e outros compatriotas seus, o que incomoda em Coutinho é a sua "máquina eleitoral", os seus "soldadinhos de chumbo", e isto sou e eu apenas a citar. É daquelas coisas que não se explicam, pronto, Coutinho arranja meia dúzia de milhar de pessoas de carne e osso para meter numa urna um voto em si, enquanto outros nem meia dúzia de braços numa reunião de condóminos conseguem levantar a apoiar uma ideia sua. Para o Ou Mun, a quem as únicas eleições que contam são as que têm um candidato apenas e quem se atreve a fazer oposição é "mau patriota", os "Concalves" desta vida servem para usar e deitar fora. Sinceramente, até parecem as crianças da Escola Primária: "olha, o gajo tá tramado pá, e foi o Concalves, que sabe tudo e manda naquele coiso lá de Portugal que disse". As pessoas até acreditariam, se lessem, e os eleitores de Coutinho até eram capazes de exclamar qualquer coisa como "ai é? ohh...coitado, que chatice". Depois na próxima eleição a que o presidente da ATFPM concorrer, eles vão lá e votam nele, na mesma, e lembram-se lá deste nada - um nada de nada, e recordo que Coutinho NÃO foi eleito para a AR, e entre o tempo que se soube que ia ser candidato até sair o resultado, andou tudo caladinho, caladinho. Se calhar estavam na expectativa, e no caso dele ser eleito mudavam de casaca para uma onde se lesse "Coutinho 4ever", e iam "colar-se" ao "senhor deputado da nação", ui ui. Não me surpreenderia, de todo.

O que têm estes dois em comum, o Ou Mun e o "Concalves"? - A boca seca, de tanto paleio. Ai o deputado Coutinho está metido num sarilho por ter sido candidato a um orgão de soberania de uma potência estrangeira? Então suponho que estará suspenso do seu cargo na AL, pelo menos até à conclusão do inquérito, certo? Não há inquérito? Ah sim, esqueci-me que a tal "incompatibilidade" de que falam, a haver alguma, não vão essas cabecinhas larocas que vai detectar, e vai ser um parto difícil para se encontrar algo que previsse uma situação desta natureza. Mas alguém pensa que o dr. Pereira Coutinho, também um jurista, tinha enlouquecido e ia fazer suicídio político? Farto de saber que não lhe acontecia nada estava ele, e até deve ter previsto que algo deste tipo ia acontecer, mas e depois? Estrebuchem, filhos. Ai não gostam? Comam só as batatas. Parecem velhas relhas a tagarelar a janela, bruxas, a dizer mal de tudo e todos, consumidas pela inveja e pela demência.

A este ponto gostaria de reafirmar que não nutro pelo deputado Pereira Coutinho qualquer tipo de simpatia política (nem por nenhum outro) nem tenho procuração passada por ele para me indignar perante este tipo de ataques à sua "persona política" - ele que se defenda, e se não o faz é porque se calhar anda muito ocupado com os cargos para que insiste em ser eleito no lugar dos "Concalves" desta vida. O que eu não aceito é que tomem por tontinho, a mim e a toda a gente com dois palmos de testa, e que já percebeu que aqui é mais uma vez o despeito e a cagança de mãos dadas a poluir o prado, com o desespero a chegar ao ponto de se afirmar, como cita o autor do artigo, que "Coutinho não percebe nada do sistema político em Portugal, nem de democracia". E isso agora é crime onde? Nem um político em Portugal andava à solta, fosse essa uma falta grave. Eu ainda entendo os tipos do Ou Mun, que fazem aquilo porque precisam de comer, tem contas para pagar e tudo mais, mas…o "Concalves"? E que tal demonstrar um pouco de desportivismo, de rectidão, e de dignidade? Que vergonha.

M@rtir (... e metam mais tabaco)


Eu bem tentei evitar falar de Henrique Luaty Beirão, activista angolano que definha numa cama de hospital em Luanda devido a uma greve de fome que iniciou há mais de um mês na prisão, onde se encontrava desde Julho, acusado de preparar um golpe de Estado. Evitei porque há muito que desconheço sobre este caso, ou desconhecia, e não fosse pelo circo mediático que tem sido feito à volta deste infeliz, não teria a curiosidade tentar entender a sua motivação. E juro que procurei saber o porquê deste cidadão com dupla nacionalidade portuguesa e angolana optar por esta via extrema, absurda e contraproducente de demonstrar a sua oposição ao regime de José Eduardo dos Santos, mas não consegui, e senti-me culpado. Culpado por julgar não ter a sensibilidade para simpatizar com o martírio de um homem em nome da liberdade, por não perceber o que move este candidato a mártir dos amordaçados de Angola, dos que estão detidos por delito de opinião, e que tal como Cristo diz disposto a dar por eles a vida. E tem 33 anos, curiosamente. Desconfiei quando notei nos aficionados destas causas que têm como mote os direitos humanos e a liberdade de expressão uma reacção anormal a este caso. Vejo-os apelar à humanidade quando normalmente o tom utilizado é o da exigência, a caminho da ameaça, e sempre com muito paternalismo à mistura. Não vejo ninguém a chamar nomes feios ao presidente de Angola, e em vez disso quase que se implora que tenha misericórdia daquela alma, que aparentemente - e aqui vai o que eu não queria dizer mas é verdade - não sabe o que faz. E uma das coisas que fez sem saber foi transformar José Eduardo Santos num Pilatos, em vez de um Judas. Fez tudo errado, e prepara-se para cometer o maior equívoco de todos: fazer com o que o regime se veja livre dele, sem que para isso seja necessário sujar as mãos - ou mexer sequer uma palha, quanto mais.



Para perceber onde EU quero chegar, e não que Luaty Beirão pretende, pois isso é completamente impossível, vejam dois momentos neste vídeo: o primeiro ao 1:00, onde sob o nome artístico de "Ikonoklasta", canta um "rap" onde ataca José Eduardo dos Santos, que trata por "Zédu", nome familiar com que os angolanos se referem ao seu presidente; e o segundo a partir dos 5:50 onde o activista declama uma espécie de prosa contestatária onde critica...bem, onde se auto-critica, suponho? E digo isto por razões que são conhecidas, mas que podem ficar para tratar mais à frente. Vejam então os dois momentos do vídeo, tirem as vossas próprias conclusões, e depois comparem-nas com o que diz o site Esquerda.net, que chama a isto "heroísmo", aplaudindo a sua iniciativa de Luaty Beirão em "mobilizar a juventude angolana através da sua música", e que "aconteça o que acontecer" no fim desta greve de fome - e infelizmente teme-se o pior - o activista "já é um herói". Certo, e será levado em ombros, dentro de um caixão, enterrado, esquecido, e enquanto isso o regime de "Zédu" soma e segue. São capazes de mandar uma coroa de flores junto com uma nota onde se lê "obrigado". Estes cromos do Bloco de Esquerda, que só não vão lá porque agora andam ocupados em criar a sua própria "cantera" de "boys", para ir formar governo com os "chuchas" -  e por falar nisso, não é o "Zédu" também ele de esquerda, e o MPLA de ideologia marxista-leninista? Então e lá isso é coisa que se faça aos "camaradas", pá? Mais um exemplo da ofuscante coerência vindo destes comuDistas. Não é engano, não, é mesmo isso que eles são.

Nesse mesmo artigo o Esquerda.net alega que "ele [Beirão] e outras 14 pessoas foram presas, sob uma acusação absurda de preparar um golpe de Estado". Lançada a lebre do "absurdo", vou tentar racionalizar este conceito, defendido também pelos advogados do activista: "os jovens apenas liam um livro com soluções de luta pacífica contra o regime", e "mánada". Sem dúvida que parece estarmos aqui perante mais um caso de prisão arbitrária, própria das ditaduras, que cortam o mal pela raiz, indiferentes se dali se vai gerar algum mal (para eles, claro) ou não - o autoritarismo no seu esplendor. Mas que livro é este que propões "soluções de luta pacífica"? Será a Bíblia? Ah que disparate, "política" e "pacífica" só pode ser algo da autoria de Gandhi, ou Martin Luther King, ou por eles inspirado, certo. Errado.


Alguém me explica como que "solução pacífica" é esta que passa por "destruir o ditador"? Destrói-se pacificamente, portanto, assim como ao estilo da Revolução Cultural, talvez? Pendura-se um cartaz com palavras feias ao pescoço do tipo e leva-se-o em parada pelas ruas? Na, nem isso se pode considerar "pacífico", antes pelo contrário. Não sei até que ponto numa democracia funcional isto não seria suficiente para os jovens seguidores do evangelho da "solução pacífica destruidora" passarem pelo menos uma manhãzinha na esquadra (ou nos serviço secretos) a explicar uma ou duas coisinhas. Já se sabe que a liberdade de expressão em Angola não existe, e os tipos são uns sabujos desconfiados e fdp do pior que há, mas até onde iria essa liberdade se eu fizesse circular em Portugal um livro intitulado "Como destruir o presidente e reinstaurar a monarquia"? Será que lá no SIS ia toda a gente dar barrigadas de riso do que só poderia ser entendido como "uma boa piada", ou ignorar o que no fundo não passa de "opinião"? Nos Estados Unidos da América, onde compraram uma democracia muito jeitosa de que se orgulham muito de que passam a vida a gabar-se, basta alguém entrar com um passaporte com o nome "Hussein" para ficar duas horas a ser interrogado sobre as suas "verdadeiras intenções" em visitar "a terra prometida". Já agora, sabiam que entre os 14 activistas detidos juntamente com Luaty Beirão estava um tal de "Hitler Samussuko"? Entre a hipótese de ser "Hitler" da parte da mãe e "Samussuko" da parte do pai, ou andar muita confusão debaixo daquela carapinha, inclino-me para a segunda hipótese.

Espero que me esteja aqui a fazer entender: não tenho nada contra Luaty Beirão, admiro a sua coragem, e só posso mesmo concluir que quando ele se auto-intitula "kamikaze", e diz que aquela "é a sua missão", estava mesmo a falar a sério. O problema é que esta maltósia da esquerda "gira", para quem vigora o conceito do "rebelde sem causa", pensava que o rapaz estava apenas a cantar, pronto, e que no fim deu aquele "rap" muito giro, e tal. Talvez isso explique o desconforto pouco habitual com que lidam com mais esta "causa dos direitos humanos", levando-os a piar baixinho. É que este tipo de confrontação directa com um regime, sabendo dos métodos que utiliza para eliminar opositores e desencorajar a dissensão, só pode mesmo ser considerado uma forma de suicídio, só que muito mais lenta e com mais espalhafato do que cortar as veias, rebentar os miolos ou atirar-se de um décimo andar. E pelo meio acontecem "coisas estranhas", como em 2011, quando foi apanhado com 1,7 kg de cocaína à chegada ao aeroporto da Portela, alegadamente vítima de uma cilada. O próprio explicou num vídeo publicado no YouTube uma semana depois:



Pronto, damos-lhe o benefício da dúvida, mesmo que fosse mais fácil incriminá-lo armando a mesma cilada em Angola e não em Portugal, onde tem uma respeitável legião de apoiantes. Agora a parte do filme que não encaixa com o resto, e é logo a parte do meio: quem é afinal Luaty Beirão, e o que o distingue do comum dos dissidentes angolanos? É filho de João Beirão, falecido em 2006, e que ironicamente era próximo de José Eduardo dos Santos e do regime. As surpresas não ficam por aqui: o pai do inimigo mais mediático do regime de Luanda era nem mais nem menos que fundador e director da FESA - Fundação Eduardo dos Santos. Quem desconhecia este facto e consegue digerir tudo isto e ainda manifestar simpatia pela CAUSA, atenção a CAUSA, não a pessoa, então tem que me explicar como se faz. Temos aqui, como é conhecido aliás em Angola, "o filho ingrato do regime", nome que lhe assenta como uma luva. Questionado sobre este facto, Luaty Beirão disse que "não está obrigado a seguir a linha de pensamento do seu pai". Pois não, mas existe uma coisa chamada "meio termo", e outra ainda mais importante e que ele parece ignorar por completo e que se chama "bom senso".

O mesmo regime que o leva agora a este extremo, é o regime que fez dele o que ele é - no fundo pode-se dizer que não fosse pela proximidade com o tal "Zedú" que agora satiriza para lá do óbvio, tinham-lhe cortado as asas antes que ele pudesse acabar de dizer alto a frase "Abaixo o re...". Pimba. É o que acontece aos outros, a 90 e tal por cento dos angolanos que não tiveram a mesma sorte dele, que estudou nas melhores escolas de Angola, e depois da Europa. Quis ser "rapper", foi "rapper", teve tudo o que quis à custa do "tio", que foi depois detonar em vez de lhe dizer...obrigado? Sei lá, ele tem todo o direito de pensar e dizer o que quiser, e poderá depois acarretar com as consequências disso, portanto digam-me lá os "melhores seres humanos do que eu" que nunca estiveram em Angola e só têm acesso a saber o mesmo que toda a gente, qual o farol que vos faz encontrar neste personagem uma gota de legitimidade? E isto?



Quando fala da pobreza, da miséria, da corrupção e da opressão que grassam no seu país, fala com conhecimento de causa? Talvez, mas de que lado, da vítima ou do carrasco? Do inocente condenado ou do cúmplice que pactua com aquele estado de coisas, e que chega mesmo a falar do que só poderia saber graças à sua intimidade com o seu "inimigo de estimação". E digam lá, foram assim tão pouco condescendentes com ele quanto se pinta, os cães de fila das elites angolanas, de que ELE faz parte? Será aquela prosa em que fala dos que só criticam e não passam à acção, uma autocrítica, como referi mais acima? E agora a pergunta de um milhão de kwanzas, seja lá quanto for: o que pensa ele conseguir com isto, e o "isto" a que me refiro é "morrer". Morrer, ficar morto, quinar, deixar de existir, e consequentemente deixar de poder fazer seja o que for, e tudo porque "quer aguardar o julgamento em liberdade". Que raio. O julgamento, esse, está marcado para o mês que vem, e o seu advogado fez o que pôde para demovê-lo deste enorme disparate. O advogado e não só; reparem neste artigo de opinião do director do Correio da Manhã, que quase implora a Luaty Beirão "que coma". Ó meu amigo, a este ponto que tal dizer-lhe para não ser parvo, e deixar-se de merdas? Kamikaze? Ia, podes crer, check it out mudafucka etc., mas passo, obrigado, que dessa erva não fumo. Pode ser fácil para mim ter pena do moço, mas é-me impossível identificar-me com a causa. E porquê? Qual a validade deste martírio anunciado, deste calvário da era digital, que assim se torna antes num c@lv@rio? O que seria de Mandela se tivesse optado pelo mesmo caminho, em vez de ter passado metade da vida na prisão? Se ao fim de três meses encarcerado na sua cela na prisão da cidade do Cabo mandasse um "tweet" com exigências, ou caso contrário "recusava-se a ser símbolo da resistência anti-apartheid"? E que raio de comparação esta, não é mesmo?


Não, e pelos vistos não há limite até onde o ridículo pode chegar. Sei que estou a remar contra uma multidão que vai de olhos vendados, indiferente às cabeçadas que vai dando nas paredes, mas outra vez: percebem porque não percebo isto? Qual é a bota que não bate com a perdigota? Não quero insinuar nada de maldoso quanto às intenções de Luaty Beirão, mas nós que nem desta missa sabemos a metade, estamos plenamente cientes de que só ele, e através daquilo que ele (não) faz, é virtualmente impossível mudar seja o que for em Angola. E o regime aqui sai a ganhar por falta de comparência do adversário. E se nós estamos cientes, o mesmo não se pode dizer deste rapaz, que certamente levou longe demais uma obsessão derivada de alguma causa, que não tiver a ver com algum desequilíbrio do foro psiquiátrico, permanecerá para sempre um mistério. Lamento muito o que lhe está a acontecer, e lamento ainda mais pela família, especialmente pela filha dele, que em tenra idade fica a conhecer os totós do "vai em frente, força, que se morreres vamos estar aqui sentadinhos a debitar cagança, contribuindo para um mundo...de cagança, pronto, é o que há. E quem fez desta gente o corneteiro do batalhão? Já para a frente de combate, e depressa. Ou em alternativa deixem-se de tretas. Olha, metam mais tabaco. }

Uber allas...daqui para fora


A Uber chegou a Macau! A companhia criada em 2009 por dois americanos (apesar do nome alemão da empresa), e sediada em San Francisco aterrou onde devia ter chegado logo no segundo dia, mas ameaça desaparecer ainda mais rapidamente do que chegou. Porquê? Ora, já se esqueceram que em Macau o que não é legal é...ilegal? Melhor: o que não é previsto em qualquer legislação, regulamento ou folha das regras do jogo da burra, e não dá jeito a quem engorda à custa de gozar com a nossa cara, é imediatamente ilegal. A Uber tem causado este tipo de reacção por onde passa, e não é por acaso, pois "mete a colher" na sopa de uns tipos super-porreiros e tão honestos que só lhes falta as asinhas para serem anjinhos: os taxistas. A Uber providencia uma aplicação no "smartphone" que permite ao seu utilizador chamar um táxi, ou veículo de aluguer (lembro que em Portugal, por exemplo, não existem táxis nas localidades), deixando apenas indicado o lugar onde pretende ir. O motorista, que na prática é um empregado da Uber, apanha o cliente e leva-o ao destino, cobrando uma tarifa conforme a distância percorrida.

A ideia foi bem recebida em jurisdições onde escasseia o transporte do tipo particular, caso de algumas cidades do continente africano, da América do Sul ou da India, mas tem encontrado resistência da parte dos taxistas, que sentem no bolso o peso da concorrência - neste caso sentem menos peso, para ser mais exacto. Em Nova Iorque, por exemplo, os taxistas falam de prejuízo, e para fazer face à concorrência foram obrigados a baixar o preço da bandeirada. Contudo a companhia dos célebres "táxis amarelos" não se deixou impressionar e manteve o preço das licenças inalterado, chegando mesmo a declarar um aumento dos lucros na ordem dos 4% no ano fiscal de 2014. E foi igualmente em 2014, mais precisamente em Julho, que a Uber chegou a Portugal, com os taxistas a fazerem-se ouvir de imediato, com pretextos que nem sequer primam pela originalidade: a companhia não tem licença para operar no nosso país, não paga IRS, o costume. No entanto existe um vazio legal na lei - possivelmente o mesmo que permite que um cidadão automobilizado dê boleia a outro, e este lhe ofereça uma gratificação pecuniária, e o que tem a lei a ver com isto? - e assim a Uber foi mesmo buscar os portugueses que requisitavam os seus serviços, e levá-los onde eles queriam. Como ninguém chegava a nenhuma conclusão quanto à legalidade da companhia, os taxistas tomaram conta do caso pelas próprias maos, chegando mesmo a registar-se casos de agressão a motoristas da Uber, - isto sim, tenho a certeza que é completamente ilegal, e só no mês passado a PSP recebeu quatro queixas deste tipo. Aparentemente os taxistas são uma classe homogénea, quer em Portugal ou aqui, na China.

Analisemos os quatro pontos essenciais do parágrafo anterior: 1) a Uber oferece um serviço ao consumidor, e não contra os taxistas. A decisão fica ao critério de cada um - não se está a substituir uma opção por outra, mas a apresentar-se uma alternativa, no sacrossanto regaço da livre concorrência. 2) Os taxistas sabem de antemão que esta concorrência lhes vai causar prejuízos, pois ficaram acomodados com o monopólio que detinham deste tipo de serviço, e tornarem-se mais competitivos apresenta-se como uma solução mais complicada do que comportar-se como um troglodita: se não for proibido, eles partem aquela m... toda. Muito democrático. 3) As companhias de táxi assobiam para o lado, e parece que isto da Uber, que tem um impacto indesmentível em termos de mercado, não é nada com eles, e portanto os preços das licenças não são directamente influenciados pela concorrência. Isto não faz qualquer sentido, é lógico. Seria o mesmo que o preço do barril do petróleo cair em flecha, e aumentarem o preço da gasolina logo no mesmo dia. Finalmente, e o mais importante, 4) os consumidores preferem a Uber, e a ideia agrada à grande maioria de quem necessita de recorrer a um veículo particular, em vez de apanhar o autocarro ou o metro, ou em alternativa ir a pé, que parece que é a única alternativa que os fascistas dos motoristas de táxi apresentam à roubalheira que praticam. Para que não restem dúvidas, deixo aqui o "link" para uma petição levada a cabo no Facebook, que contou com 13 mil "likes". Isto vale o que vale, é claro, mas pessoalmente acredito que não é obra de meia dúzia de tipos que embirram com os táxis, e que foram abrir 13 mil contas na rede social "só para chatear" (há quem faça este raciocínio, imaginem).

Em Macau pega-se nisto tudo, mistura-se e faz-se bolo rei tão intragável que induz ao vómito só de se pensar nele. Curiosamente quando foi noticiada a chegada da Uber ao território, vi na televisão um responsável do Governo a louvar esse facto, talvez aliviado por se ter dado um passo para resolver um dos problemas com que a população mais aquece as orelhas ao Executivo: a falta de táxis, e o comportamento criminosos dos taxistas. Só que o alívio deste responsável governamental durou pouco, pois os taxistas foram a correr pedir à sua representante, a deputada Melinda Chan, que fosse denunciar a ilegalidade que constitui esta Uber. Aposto que nem quiseram saber se era ou não ilegal, mas se não é, que passe a ser, e lá foi a sra. deputada alertar o Executivo, fazendo um ar de quem anuncia a chegada de milhares de ugandeses infectados com o Ébola, e que já andam a lamber os chupas-chupas que as crianças de Macau metem depois na boca. Eu até compreendo a Melinda, coitada, que não precisando de táxi nem Uber nenhuma para ir onde muito bem lhe apetecer (se for preciso apanha um helicóptero), até deve estar solidária com as queixas da população, mas teve um grande azar: do grande maranhal que compõe o eleitorado que vale votos que por sua vez valem mandatos, no caso dela o único da sua lista, foram-lhe calhar os taxistas. Que grande azar, mesmo. Por isso é bom que ela venha dizer que a Uber é do pior que há, e que é a transportadora oficial dos altos dignitários japoneses ao mausoléu de Yasokuni, algo desse género.

Mas desta vez nem foi preciso, qué d'zer, pois logo a seguir, qué d'zer, veio a directora do Turismo, Helena de Senna Fernandes (coitada, a sério...) qué d'zer, qual bombeiro que apaga um cinzeiro que poderia transformar-se num incêndio dantesco, qué d'zer, anunciar que "não existe nenhuma sociedade com o nome Uber registada na RAEM, qué d'zer, e por isso é ilegal, qué d'zer". Nem foi preciso vir o Gabinete de Protecção dos Dados Pessoais, ou a Capitania dos Portos ou outra porra qualquer deturpar o espírito de uma lei ja existente para lixar a Uber. Mas isto leva-me a outra conclusão: existem sociedades comerciais ou comerciantes em nome individual registados que se dedicam à agiotagem, que assim sendo não é uma actividade ilegal, afinal. Sim, refiro-me ao caso daqueles espertalhões que foram passar as suas economias para as mãos da "Dore", e que no fim ficaram fu, indo de seguida pedir ao governo para intervir, chegando mesmo a  ponderar pedir a intervenção do Governo central. E tudo porque perderam dinheiro que de outra forma estariam a ganhar de modo ilegal, através de agentes que são, tecnicamente falando, e numa só palavra, criminosos. Desculpem, estou a ser demasiado radical. "Marginais", que tal?

Pois é, não se pode resolver essa pouca vergonha que é ter os taxistas a cobrar tarifas muito acima daquelas estabelecidas por lei através dos bons modos, as queixas caem em saco roto, e as multas para eles são como as balas no peito do Super-Homem: nem chegam a fazer cócegas. Indiferentes a tudo isto e à revelia da lei, do bom senso e até das ciências naturais, se quiserem, as operadoras especulam com os preços das licenças, como quem especula com tudo por aqui - interessa é sacar o mais possível e já, antes que alguém se lembre de meter ordem nesta barafunda.  Agora, aqui funciona um princípio da instância que para além de parvo é tão denunciado que não engana ninguém: se for "ilegal", com ou sem aspas, mas não chateia nenhum "saco grande" aqui da tribo, passa. Se for MESMO ilegal, e ainda dá lucro a estes que acabei de referir, passa a ser "ilegal, mas útil", por isso "não interessa", e se for preciso até vêm cá para fora dizer que a lei "está mal feita", acrescentando que "assim é impossível diversificar a economia", terminando com um elogio à livre concorrência que é apanágio do segundo sistema.

Quem se lixa é o mexilhão - eu e o leitor, quando precisamos de um táxi. Ainda no Sábado vinha a voltar da Taipa, fiz sinal para um táxi que passou mesmo à minha frente E NÃO PAROU. Fui a correr atrás dele, chamei-lhe os nomes todos, a ele e à progenitora, e dei-lhe murros no capô. Podia até defecar em cima do tejadilho, que ele não me ligava puto, mas se eu tivesse um cartão da Uber, ai ai. E ai ai mesmo, é tudo o que podemos dizer. Querem o quê, batatinhas?

domingo, 25 de outubro de 2015

Obrigado, e já agora...


A propósito do artigo Coutinho não ganhou, mas também não perdeu (e muito menos se pode falar de empate), do dia 18 do corrente, recebi este comentário do leitor Prata do Povo (sei que é "leitor" e não "leitora" após uma rápida vista de olhos no seu perfil da Google). Em primeiro lugar obrigado duas vezes: uma pelo comentário em si, e outro pela simpatia - a sua primeira frase até à parte "fiquei na mesma" é o melhor elogio que me podia ter feito. Feito o agradecimento, deixe-me dizer-lhe que se ficou "na mesma", certamente que não será por culpa minha, uma vez que não o conheço pessoalmente, e como tal ignoro quais as respostas que procura. Contudo posso adiantar-lhe que se as suas dúvidas se prendem com qualquer coisa que tenha a ver com a situação política em Portugal ou a mais recente novela mexicana baseada nesse romance de cordel, fazê-lo rir é a única coisa que está ao meu alcance. E agradeço por conseguir ter reconhecido o meu mérito (isto modéstia à parte, claro) de conseguir fazer graça com uma coisa que não tem mesmo piada nenhuma. A selva da política portuguesa não passa de um pretexto para levar a cabo o saque de um país "pobrezinho" de finanças, e só realmente pobre de espírito - pobres de verdade são os refugiados sírios e quejandos, a quem os pobres de espírito chamam "criminosos". A política em Portugal é, se a quisesse resumir em duas palavras, "vigarice encartada", e só está ao alcance de quem consegue ser "esperto" em vez de simplesmente "espertalhão" - essa faculdade é tão comum no nosso país, que deve mesmo ser inata. Para quê ficar de maus fígados com estes "artistas", se podemos rir (que faz bem à saúde, aparentemente), enquanto lhe dizemos ao mesmo tempo "engana-me que eu gosto"? Não é lá muito producente, tenho que admitir, mas desde quando é que "producente" é um vocábulo que se encaixe na política em geral? E ficar a dizer deles o que Maomé não diria do proverbial toucinho resolve o quê, exactamente?

Ainda a respeito do seu comentário, há dois aspectos que gostava de deixar bem claros: não sou nem nunca fui simpatizante do Prof. Cavaco Silva, que considero esteticamente repulsivo, sem uma única nota  de charme ou bom gosto que o redima. Quanto ao dr. Pereira Coutinho, respeito-o como pessoa, mas prefiro distanciar-me da sua metade política, que parece ter tomado controlo do todo, sendo esta aparentemente a conduta que ele considera a mais indicada - e se calhar é, atendendo à exiguidade de Macau, e de como fica fácil cair na contradição do "faz o que te digo e não faças o que eu faço". Posto isto, considero que Cavaco Silva esteve no lugar certo, no tempo certo. Se era o homem certo, não posso afirmar com nenhuma das certezas de bolso que parecem andar por aí na casaca de tanta gente, mas se algumas tenho é de que aqueles que o sucederam teriam feito muito pior - como ficou aliás provado, e duvido que por muito "mal" que o economista de Boliqueime tenha feito "à nação" (um exagero assustadoramente comum), exista alguém com argumentos sólidos para o meter a ver o sol a nascer aos quadradinhos, como aconteceu com o penúltimo dos seus sucessores (um tipo cheio de lata, diga-se de passagem). Mas se com Cavaco falo por falar, e quem me quiser acusar de falar à distância dos factos (quais?), duvido que isso o faça feliz, ou uma pessoa melhor, mas esteja à vontade, com Coutinho o caso muda de figura. E vivendo eu a paredes meias com esse caso particular, tenho pelo menos uma opinião formada. Permita-me que elabore.

O deputado Pereira Coutinho, que ultimamente tem sido mais sacudido do que uma "piñata" na festa de aniversário de uma criança mexicana, é a caricatura perfeita da política portuguesa - ou "lusófona", se quisermos reconhecer a existência de tal figura, e não é todo descabido que o façamos.  O que Coutinho fez não foi mais do que deixar a nu o que representam os políticos e a política numa democracia pequena e relativamente jovem como a nossa: aquele "nós", ou "os portugueses" a que os nossos políticos se referem nos seus discursos (eufemismo para "rol de mentiras proferidas por mentirosos que ainda por cima mentem mal") são "eles" - ele e a cambada que compõe o seu "aparelho partidário" - e são portugueses, sim, de facto, tecnicamente isto é verdade, sendo a única no meio de tudo o que dizem. O tal "aparelho", ou "máquina", que em vez de funcionar com moedas ou cartão opera com vantagens diversas (aquilo que se conhece por "tachos") é algo que Coutinho também tem, e de que faz uso para angariar votos, mas parece que no caso dele "é mau", ou "não pode", ou ainda "é uma aberração democrática". Diagnóstico: a vaselina que o Dr. Pereira Coutinho usa não é tão boa como a do Dr. António Costa, por exemplo. Incomoda a muito boa gente da praça que o candidato do "Nós, Cidadãos" pelo círculo de fora da Europa tenha alegadamente "ajudado" a preencher os envelopes contendo os votos, mas já não faz mal nenhum que meses antes  das legislativos o líder socialista tenha programado uma visita não-oficial à China, onde se apresentaria como "futuro chefe do Governo de Portugal". 

É por isso que insiste tanto em formar Governo, o senhor Costa, sendo esta para ele a "única garantia de estabilidade" - a dele e a da sua quadrilha, lá está. É por isso que subitamente se lembrou dos partidos "à esquerda" do PS: os comunistas, que de tantas décadas à espera de poleiro têm mais pó nos fatos do que o pó inerente à sua condição de múmias, e os bloquistas, que antes tinha o "trotskista" Louçã com cabeça de cartaz, e agora está nas mãos de umas mulherzinhas quaisquer que alguém se esqueceu de mandar calar a matraca e irem lavar a loiça. Como a memória não é curta, recordo-me como se fosse ontem de ouvir os "chuchalistas", especialmente os da "geração dourada" com António Coelho na frente do pelotão, dizerem cobras e lagartos dos comunistas, que estavam "acabados", eram "desfasados da realidade", e que tinham um "discurso anacrónico". Só que isso foi antes, quando a previsão de que um partido assente numa base ideológica considerada "criminosa" em grande parte do mundo ocidental se iria eclipsar - foi só mais uma das muitas previsões que o PS fez que lhes saíram frustradas. É o que dá deixarem as contas para o Guterres fazer, e depois é o que  e sabe. Aos bloquistas começaram a chamar de "demagogos", quando estes começaram a ganhar mandatos à custa dos eleitores à esquerda do PS (demagogos?), que encontraram ali a sua praia, sem necessitar de apanhar uma queimadura de segundo grau debaixo do sol escaldante do Verão quente, e as dos amanhãs e alvoradas rubras com a cortesia de Moscovo. Os bloquistas podem ser sonsos e idealistas mas não são nenhuns parvinhos, e sabem muito bem o que o os socialistas querem, e de que andam a suspirar desde 2011, e que no fundo é aquilo que o Bloco também quer: inaugurar uma equipa de "boys". Proponho que baptizem este novel entendimento de Tescoma

Estes dias dramáticos que se seguiram ao ENORME insulto que foi para os anjinhos da democracia a candidatura de Pereira Coutinho, que teve pelo menos o condão de ter sido transparente nas intenções, culminaram com Cavaco a nomear um Governo sem pernas para andar. Nem que se desenterrassem e ressuscitassem Platão, Leonardo da Vinci, Einstein e Martin Luther King para fazer parte de um executivo de Pedro Passos Coelho, a tal "coligação de esquerda" que nunca existiu e em que ninguém no seu perfeito juízo reconheceria como alternativa de voto, o programa do Governo seria aprovado. É para chumbar, claro, e em nome do quê? Da "governabilidade", da "estabilidade", de um gabinete ministerial com uma placa na porta onde se lê "Catarina Martins", e outras onde ora cheira a haxixe, ora se comem criancinhas ao pequeno-almoço. E você, votaria nessa sandes mista de cogumelos psicotrópicos com Thousand Offshore Island sauce?  Nesta salada soviete fora do prazo? Nesta liga dos últimos? Nesta "opção" que nunca o foi. Se se pode acusar o PR de alguma coisa é de falta de sentido de humor; ele bem quis evitar a tropa fandanga que ia ser o Governo que infelizmente só conseguiu adiar. Ah pois é, a "vontade popular", e a "Constituição", que já vi interpretada de manhã no sentido de achar isto "perfeitamente legítimo", e de tarde bradando-se "inconstitucionalidade". É verdade isto tudo era a propósito do quê? Um Governo estável que transmita confiança aos mercados, e que bem precisamos, tal é a fama de caloteiros e mandriões que temos no contexto da UE? Podem juntar a isso "gulosos e sacaninhas". A dívida, qual dívida? Pois.

 A última parte do seu comentário, onde fala dos elementos que compõem a plataforma "Nós, cidadãos", leva-me a suspeitar que entendeu mal as minhas intenções. Eu não estava de jeito algum a menosprezar os candidatos dessa lista, mas simplesmente a referir que pela aparência de "gente normal" não fazem parte da nossa fauna política. É bom quando assim é, mas talvez seja menos bom quando lhes foge a asa para o tacho. Mas fazer o quê afinal, se já diz o povo e com razão: "Quem não rouba nem herda, nunca sai...", já se sabe como acaba. Se estes de que falo nos dois parágrafos roubaram ou herdaram? Bem, que eu saiba não lhes morreu ninguém rico. Meias palavras para terminar assim, em jeito de "discurso político". Obrigado e cumprimentos.


Só não falava (mas acho que sabia ler)



Estou como o vidro, outra vez. Estava um dia destes a sentir-me nostálgico, e fui até essa maravilhosa invenção, o YouTube, recordar algumas memórias reminiscentes da minha infância/adolescência/juventude (não sei bem identificar as épocas, uma vez que fui sempre assim, inteligente e bonito). Paradoxo aqui, paradoxo ali, e lá me fui sentindo deliciosamente deprimido com a convicção de que tudo o que os miúdos vêem e ouvem hoje é uma bosta, e que no meu tempo é que era bom - mais uns anos e já começo a achar qualquer música popular "só barulho. É o início da decadência, apenas interrompida pelo conforto do abraço da Morte. Bom, e dizia eu enquanto estou vivo e as minhas faculdades mentais não entrarem numa fase de regressão irreversível, deparei com o "jingle" desta série, que imediatamente me deixou com um sorriso pateta nos lábios. Não me recordo do título da série em Português, talvez por ser uma daquelas traduções tão escusadas que mais valia ficarem quietos, mas através do nome da canção cheguei lá: "Maybe Tomorrow", do cantor "country" Terry Bush.


E a série era esta, "The Littlest Hobo", e agora que se dissipa a neblina da memória, penso que o nome em português era efectivamente "O Pequeno Vagabundo", que vendo bem as coisas até é uma tradução fiel à original. Ainda bem que não se caiu na tentação de lhe dar um título daqueles mesmo parvos, tipo "Farrusco, o vingador", ou "Cajó, o cão camarada".


A série internacional que passou também em Portugal foi gravada entre 1979 e 1985, e a estrela era (e digo bem, "era", e apostava qualquer coisa) um cão-actor que dava pelo nome de "London". Menos na hora das cenas mais perigosas, em que se usava um cão pateta qualquer, que dependendo do risco, podia ou não voltar a fazer outra. Pelo menos não pedia "caché", não deixava viúva e filhos, não era necessário preocupar-se com seguros nem nada - era só "carne para canhão". O enredo era sempre o mesmo em todos os episódios: guiado por uma força mística desconhecida (ou pelo cheiro a toucinho...), o animal chegava a uma cidade diferente todas as semanas, e socorria um humano que estivesse em dificuldades. Eu desconfiava, até porque os sarilhos tinham tendência para aparecer, ou para se agravarem com a chegada do cachorro. Mas pronto, estou aqui a falar de uma série "familiar/juvenil", portanto não se racionaliza, ou não se pensa tanto nesses detalhes. Mas o "London" representava mesmo, o raio do quadrúpede; como não podia falar, e não era capaz de explicar que perigo a pessoa que ia ajudar estava a correr  - às vezes nem a própria pessoa tinha consciência disso - ou que estava ali para ajudá-la. Os personagens humanos adoptavam-no na mesma, ainda que temporariamente, e no fundo isto não fica longe da realidade - afinal quantas vezes já não nos apareceu pela frente um cão qualquer que nunca vimos na vida, e resolvemos mete-lo no carro e levá-lo para casa, apesar de termos problemas sérios para resolver? Se por alguma azar formos mortos ou ficarmos presos, ele que trate sozinho do jantar, ora essa.


Aí está ele nas imagens, ora A LER o nome do sítio onde acabou de chegar, a levar uma espingarda, a saltar de pára-quedas, e depois de entregar as provas à bófia e meter o humano que acabou de ajudar na caminha, pede boleia para a cidade seguinte, onde lhe espera mais uma boa acção. Ah sim, mas antes disso: quando ficava o problema resolvido, o tipo ou tipa que o cão acabara de salvar explica a terceiros que contou com a ajuda do bicho "que lhe apareceu do nada, e...mas...onde é que ele está?". Depois via-se o "London" já pronto para partir na direcção do próximo destino, olhando para trás com as orelhas espetadas e a fazer olhos de cachorrinho mal-morto. E o humano fazia um ar resignado, de como entendeu tudo o que se tinha passado, e deixa o cão ir à vida. Outra vez, quantas vezes não nos aconteceu a mesma coisa? Mas é como digo: fiquei comovido. Recordar isto trouxe-me de volta ao tempo em que era inocente (pois...), e ignorante (mais ainda que agora). Fiquei mesmo como o vidro...


sábado, 24 de outubro de 2015

Futebol holandês, de A(a)Z (passando por PSV, VVV, MVV, etc)


Hoje dedico mais um capítulo ao absurdo, ao surreal, aos nomes que não cabem numa linha, e desta feita vou abordar os clubes de futebol holandeses, e os escondem por detrás daquelas siglas, de todos os AZs, MVVs, VVVs, NECs e NACs (especialmente este, um delírio!). Sim, hoje vou finalmente derrubar barreiras, quebrar tabus, revelar aquilo que está ao acesso de qualquer outra pessoa, bastando para tal uma consulta na Wikipedia. Pois é leitor, é o que dá não nada melhor do que fazer tanto tempo nas mãos. Mas que já que aqui chegou, demore-se um pouco mais, e desespere com a tentativa frustrada de comédia! Verwelkomen! E por falar nisso...



Lembram-se deste personagem do "Muppet Show" ("Marretas" são os gajos que arranjaram aquela bosta de nome em português)? O cozinheiro sueco? Sim, fique assente que é sueco, e não estou a "confundir", mas isso pouco ou nada interessa: tanto os suecos como os holandeses, noruegueses, dinamarqueses, e toda essa cambada loira e imberbe com carinha laroca de bebé expressa-se recorrendo a idiomas que parecem o som que se ouvia quando dávamos um safanão no gira-discos e a agulha saltava para cima da etiqueta do disco. Isso explica a quantidade de nomes impronunciáveis para a nossa alma lusitana, livre, fresca e morena. Aqui vai knoflook (alho, em holandês).


E pronto, só com esta já deixei 6 milhões a espumar da boca, e com fumo a sair das orelhas: eis o...PSV EINDHOVEN. UAHAHAHAHAH! Certamente que todos se recordam daquele momento lindo para os adeptos deste clube, e para todos os portugueses que não apoiam ou simpatizam com o Benfica - e o que há para simpatizar? Vamos recordá-lo mais uma vez:



Ali está ele, que lindo, quase sexual. Quem não quiser ver as restantes defesas daquele nazi, pode ir directamente para os 0:52, que é quando António Veloso, que em quase 20 anos a jogar pelo Benfica é sobretudo recordado por este momento, mostra como NÃO se marca um "penalty", e manda uma Taça dos Campeões para Eindhoven, local completamente desconhecido pela grande maioria dos portugueses até o PSV nos ter livrado de uma chuva torrencial de cagança - e tem sido assim desde então, de vitória em vitória, até à derrota na final. Em 2014 uns tais Oscar Cardozo e Rodrigo prestaram homenagem ao antigo capitão do Benfica, ao mandarem uma taça da Liga Europa para Sevilha, mas é impossível igualar a arte do defesa encarnado de bigode: a responsabilidade...a paradinha...a azelhice. Vamos relembrar o momento seguinte àquela obra de arte:


Lindo...eu também chorei, sabem? Mas foi de comoção, movido pelo momento único em que o grande FC PORTO teve um sucessor à altura, um ano depois da final de Viena, primeira das quatro taças europeias que o maior ganhou entretanto, enquanto a podridão rubra ficou a chupar na asa mais três vezes. Mas larguemos os passarinhos fritos e passemos então ao tópico principal: o que quer dizer PSV, afinal?


PSV significa "Phillips Sport Vereniging", ou "União Desportiva Philips", foi oficialmente fundado em 1913. Mas antes disso, em 1910, os trabalhadores da fábrica da Philips fundaram o seu antecessor, o "Sport Philips", cujo brasão vemos em cima na imagem, e onde é possível ver aquilo que aparenta ser uma lâmpada. Sim, uma lâmpada meio psicadélica, não fosse o próprio clube oriundo de um país conhecido pela elevada tolerância das autoridades no que toca ao consumos de substâncias dissociativas. O nome da cidade de Eindhoven não consta sequer do nome do clube, que os holandeses conhecem apenas por "PSV", ao contrário de nós portugueses, que acrescentamos aos nomes do Vitória Futebol Clube e ao Vitória Sport Clube as cidades de onde são originários: Setúbal em Guimarães, respectivamente. Já sadinos e vimarenenses tratam os seus clubes por "Vitórria", os primeiros, e "Bitória", os outros. Mas "PSV" ainda consegue ser uma das abreviaturas menos extravagantes, pois a fauna clubística nos Países Baixos chega a ser absolutamente delirante. Passemos a outros exemplos mais obtusos...


...e por ordem crescente, e já agora por ordem alfabética, também. Este é o símbolo do AZ Alkmaar, conhecido pelos holandeses simplesmente como "AZ". Acrescentar "Alkmaar" ao nome do clube é ao mesmo tempo uma redundância e uma falta: "AZ" quer dizer "Alkmaar Zaanstreek", referindo-se à cidade de Alkmaar e o distrito que inclui as cidades de Zaanstadt e Wormerland, atravessadas pelo rio Zaan ("Zaanstreek" e "Zaanstadt" significam "distrito de Zaan" e "cidade de Zaan", respectivamente). Mas os nomes das localidades já chegaram a constar do dístico do clube, pelo menos inicialmente:


Aí está, com um moinho e tudo, para que se fique com a garantia de origem. O AZ'67, que como o nome indica foi fundado em 1967, nasceu da fusão de dois clubes: o Alkmaar'54, cujo ano da  fundação penso não ser necessário referir, e o FC Zaanstreek, que em 1964 tinha dado continuidade a outro fundado em 1910, mas que havia deixado de ser profissional: o KFC. Juro que não estou a brincar, vejam:


Isso mesmo, KFC, ou "Kooger Football Club". E isto aconteceu antes do célebre coronel do Kentucky ter inaugurado a sua cadeia de restaurantes. Se fosse ao contrário, os holandeses eram processados por violação dos direitos da marca. Mas pronto, num dos KFCs come-se frangos, no outro dão-se frangos, e ficam todos na paz do senhor. O AZ passou a ser conhecido apenas por esta sigla composta da primeira e última letras do abcedário a partir de 1987, e depois foi o que se sabe. O quê, exactamente? Sei lá. O que se sabe, quer dizer, o que andaram por aí a fazer, e tal...olha, foram campeões em 2009, vinte e oito anos depois do primeiro título, e antes disso, em 2005, discutiram uma meia-final da Liga Europa (então ainda chamada de Taça UEFA) com o Sporting, com vantagens para os lagartos tugas, que final seriam violados em grupo pelos russos do CSKA, em pleno estádio de Alvalade. Realmente os clubes holandeses inspiram uma nostalgia do caraças aos adeptos portugueses. Seguinte!



Den Haag, ou "A Haia", ou como as pessoas práticas lhe chamam, apenas "Haia", é a cidade onde fica sediado o governo holandês, e excepcionalmente no contexto da Europa, a capital do país não fica aí situada, mas sim em Amesterdão. Futebolisticamente falando (e não só), esta Haia é um pouco como Bona, a capital da antiga Alemanha Ocidental, e que depois da unificação parece ter deixado de existir. Mas ao contrário de Bona, esta Haia tem um clube de renome - pelo menos a nível interno - o ADO Den Haag. Este clube disputa a primeira divisão holandesa, mas anda normalmente pelos lugares da cauda da tabela, não conseguindo rivalizar com os "grandes", como o PSV, Ajax e Feyenoord. Talvez uma das razões que explica a pequenez do ADO tenha a ver com os seus adeptos, caloteiros e esquisitos, que nos primeiros anos do clube "recusavam-se a pagar as cotas", e além disso em Haia o cricket era o desporto mais popular. Ora bolas, e de "curling", não gostam? Mas a perseverança é o lema do ADO, até patente no próprio significado desta sigla: ADO quer dizer "Alles Door Oefenen" - "tudo se consegue através da prática". Ora bem, que linda mensagem, só que com um defeito: É O NOME DO CLUBE, PALERMAS! É que ao adoptar esta elaborada designação dos clubes, em vez de se limitarem a lhes chamar "Clube Desportivo", "Atlético Clube" ou "Futebol Clube" qualquer-coisa, os holandeses abriram uma verdadeira caixa de Pandora. Senão vejam:


Este não é abreviado, mas não deixa de ser intrigante. Na cidade de Deventer, a cem quilómetros de Amesterdão, os seus cerca de 90 mil habitantes não têm outra escolha em matéria de agremiação desportiva de renome do que este...Go Ahead Eagles - "vão em frente, águias". Mas que m..."vão em frente"? Para onde? Não devem estar a falar de futebol, certamente, pois "em frente" é que eles não têm ido, de jeito nenhum. Na época passada, por exemplo, foram despromovidos da divisão principal, onde se vinham aguentando (mal) desde 2013, e isto depois de 20 anos de ausência, "indo em frente" na direcção errada, por assim dizer, arredados pelas divisões secundárias. E isto ainda não fica por aqui, pois quando o clube foi fundado em 1902 pelos irmãos Hollander, estes baptizaram-no de..."Be Quick" - "sejam rápidos". Epá ninguém me convence que não há aqui paneleirice metida nesta história; como ainda tinham a anilha estreitinha e andava-lhes a custar ficar sentados, pediram aos machos para que "fossem rápidos", mas depois de se habituarem à palhaçada mudaram o nome para "vão em frente", como que a convidar os larilas holandeses a estacionarem o foguetão na sua estação espacial. A parte do "eagles" foi acrescentada em 1971 por sugestão do treinador Barry Hughes, um galês radicado na Holanda, e que é creditado por ter "descoberto" Ruud Gullit, que levou a assinar um contrato com o Haarlem, clube de que era treinador em finais dos anos 70. Cheguei a suspeitar que isso da "águia" fosse algum código rabeta para uma prática contra-natura, e nem consigo imaginar qual (e é melhor assim), mas afinal a tal águia consta do brasão do clube, bem como da própria cidade de Deventer.


Este fez-me rir tanto que ainda me dói a barriga. O PEC Zwolle é um clube que nos últimos anos tem dado o brado, depois de décadas como "equipa ioiô" entre a divisão principal e as secundárias, obtendo na época passada o sexto lugar na Eredivisie, a sua melhor classificação de sempre, juntando a isso a Taça da Holanda, conquistada pela primeira vez em 2014. O PEC é o maior rival do Go Ahead Eagles, os "vão em frente, águias", e isto pode-se explicar por motivos de bairrismo, uma vez que as cidades de Zwolle e Deventer estão separadas por 32 km. Mas com a dimensão dos Países Baixos é possível que num raio de 10 km à volta destas existam uma outra meia dúzia ou mais de equipas a disputar as duas primeiras divisões, e por isso fui tentar saber o que quer dizer PEC, e deparei com aquilo que se vê ali em cima: Prins Hendrik Ende Desespereert Nimmer Combinatie. Este "combinatie" quer dizer "combinação", ou seja, a fusão de dois clubes inicialmente existentes, que neste caso foram o "Prins Hendrik" (Príncipe Henrique) e o "Ende Desespereert Nimmer", que quer dizer "...e nunca desesperem"! Ahahahahahahah! Ahahahahaha!!! Que raio de nome para se dar a um clube, este. Nunca desesperem??? Mas isto ajuda a explicar a rivalidade com o Go Ahead Eagles; estes disseram ao "Príncipe Henrique" para "ir em frente", mas este recusou, e apesar de ter sido educado, dizendo aos brincalhões para "não desesperarem", as águias fanchonas ficaram ressabiadas, e desde aí tem existido "rivalidade". Ficaria tuido resolvido com uma simples prospecção do Príncipe no bujão das águias, mas pelos vistos não estão para aí virados. Se calhar é melhor pedir a outros, por exemplo...


...o RKC de Waalwijk. E porquê? "RKC" quer dizer "Rooms Katholieke Combinatie" - combinação dos católicos romanos. Ui, isto agora dava pano para batinas, mas vou deixar os católicos em paz. Coitados.



Antes de terminar com mais duas "combinaties" deliciosas (a última é do caraças) gostava de fazer referência ao meu clube neerlandês predilecto, de todos estes com siglas que encerram estas curiosidades fabulosas: o VVV-Venlo - três "vês", que significam "Venlose Voetbal Vereniging", ou "união futebol ven...", ven quê? Venlosa? Venlense? Venloense? Não ven que não ten? Quando frequentava os fóruns de futebol do IRC nos anos 90, foi-me dito por adeptos holandeses que "bastava dizer VVV", pois o primeiro destes vês já fazia referência a Venlo, cidade da província de Limburgo, de onde o VVV (esteticamente um mimo, este nome) é originário. Tudo bem, entendo que até pode ser uma redundância acrescentar "Venlo", mas e que tal irem dizer isso ao próprio clube, uma vez que tanto no brasão como na página electrónica consta o nome da cidade.  E isto vindo de gajos que se referem aos clubes da capital portuguesa como "Sporting Lissabon", e "Benfica Lissabon". Lissabon mas não é para os teus dentes, ó socas. Passemos ao momento alto desta dissertação pelos relvados com tulipas em pano de fundo.



Uma das "combanities" mais conhecidas entre clubes holandeses esteve na origem do NEC, o principal emblema da cidade de Nijmegen, que como 80% das cidades daquele país, "fica entre meia hora e uma hora de comboio de Amesterdão". NEC significa "Nijmegen Eendracht Combinatie" - combinação de Nijmegem com união. Este "união" foi ele próprio uma combinação de outros clubes, entre eles um tal "Quick 1888", que se dedicava principalmente ao cricket. Fica outra vez evidenciada a fixação dos holandeses pelas "rapidinhas", e pelo cricket. O NEC voltou este ano ao escalão principal, depois de em 2014 ter sido despromovido, após um tempo recorde de 19 anos consecutivos entre os grandes. Para os gajos isto tem uma importância enorme, uma vez que antes da sua estreia no escalão principal, em 1955, os seus rivais tratavam-os por ""Nooit eerste classer", ou "nunca na primeira divisão. Que maldade. Agora vimos o NEC, vamos ao NAC.


O NAC é um clube da cidade de Breda que se encontra actualmente no segundo escalão, depois de ter sido despromovido da Eredivisie na época passada. Oh...paciência. O clube mudou de dístico várias vezes, como se pode verificar pela imagem acima, mas por altura do centenário, em 2012 decidiu regressar ao inicial, que diga-se de passagem, é o mais foleirote. O anterior era tão catita que serviu de mote para uma marca de cerveja com o nome NAC, que provavelmente sabe a cerveja, e pode ser apreciada por quem aprecie a bebida, menos por adeptos do Willem II de Tilburgo, e do Feyenoord, ambos emblemas que nutrem uma rivalidade nem sempre saudável com o NAC. Ora bem, e o que significa NAC? Esta é uma história que vale mesmo a pena contar.


Como se pode ver aqui pela tapeçaria à entrada do Rat Verlegh Stadium, em Breda, o NAC nasceu da fusão do NOAD e do ADVENDO, outros clubes da cidade, mas e estes, o que queriam dizer as suas siglas? Bem, NOAD significa Nooit Opgeven, Altijd Doorzetten!, ou "Nunca desistas, sê perseverante!", enquanto ADVENDO é Aangenaam Door Vermaak En Nuttig Door Ontspanning, ou "Agradável para o entretenimento e útil para relaxar". Agora digo eu: que grande porra, pá! E que tal uma ou duas palavras que quisessem dizer a mesma coisa? Em Espanha, por exemplo, temos o Osasuna, orgulho de Navarra, e que significa "vigor e bem estar", pronto. Agora...isto? Ah sim, e quando os clubes se decidiram juntar, os tipos do NOAD sugeriam que se chamassem NOAD ADVENDO, que dava...NOAD. Isto não deixava lá muita escolha para os tipos do ADVENDO, e só posso deduzir que os outros eram uns brincalhões. Isto era o mesmo que a diplomacia de Taiwan chegar-se perto do governo de Pequim e dizer: "olha, a gente aceita a reunificação, mas já que "República" e "China" são os nomes que temos em comum, que tal chamarmos ao país unificado "República da China". Bestial, para quem gostava de ver mísseis a cair em Taipé. Portanto NAC significa nem mais nem menos que Nooit opgeven altijd doorgaan, Aangenaam door vermaak en nuttig door ontspanning, Combinatie Breda. Se um dia encontrarem um adepto do NAC, perguntem-lhe o que significa a sigla do clube, e escutem o delicado som a lembrar o cozinheiro sueco do "Muppet Show". Zo veel plezier en gekkigheid!