quinta-feira, 25 de julho de 2013

À boleia dos porcos (uma aventura à hora de almoço)



Macau, hora de almoço, chove a cântaros. Como uma bucha rápida e aproveito o resto da hora de folga para ir ao supermercado Welcome, junto ao Hoi Fu, comprar meia dúzia daqueles deliciosos papo-secos cozidos em forno de pedra e posteriormente congelados, que após aquecidos 5 ou 10 minutos no forno, matam as saudades de um pão como deve ser. Aproveitei para comprar ainda outras mercearias simples, paguei e fui à luta. A chuva caía como que dizendo que não estava ali para brincadeiras.

No regresso, e perante a incessante chuva, decido regressar de autocarro, e ponho-me na paragem do BNU da Av. Sidónio Pais. Já agastado pela molha que nem o guarda-chuva consegue evitar e pela forma como as pessoas andam na rua, ou melhor, não andam na rua, deparo com quatro autocarros, uns atrás dos outros. O costume, tal é a organização dos transportes públicos como os conhecemos.

Na paragem propriamente dita estava o nº 2, e logo atrás o nº 18A, à frente de outros dois que não consegui identificar. Pouco habituado a andar de autocarro e desconhecendo em pormenor as carreiras (e para quê, perda de tempo e espaço no meu disco rígido), faço uma consulta rápida nos cartazes da paragem, e descubro que o 18A é ideal: duas paragens, e estou na Rua do Campo, de regresso ao ponto de partida. Fecho o guarda-chuva e encaminho-me para a porta, e espero que o motorista me deixa entrar.

Foi neste momento que teve início uma sucessão de acontecimentos filha-da-puta, designação que assenta que nem uma luva ao homenzinho de cor-de-laranja sentado atrás do volante do tal nº 18A da Transmac ou da TCM ou da puta-que-os-pariu, cancro da língua para eles todos, só sei que não era da Reolian porque esses "há mas são verdes". Fitou-me por alguns segundos, hesitando em abrir-me a porta, com uma expressão de mete-nojo, que não fosse a minha imensa bondade, paciência e amor aos animais e plantas, valiam-lhe de imediato uma coronhada com o cabo do guarda-chuva que lhe deixavam exposto o miolo de pinhão que tem dento daquela cabeça de c%#$^^lho.

A sua hesitação devia-se ao facto de já ter deixado os passageiros entrar antes de mim e fechado a porta. Mas como nem tinha chegado sequer à paragem e agora estava ali eu, no pleno cumprimento das regras mais básicas da tomada de um transporte, que até uma criança de quatro anos entende, o que eu mais queria era que ele me deixasse entrar, e de seguida fosse levar no rego. Mas quem pensa que é aquele trinca-pilas para decidir sequer quem deixa entrar no autocarro, que nem é dele, pois não passa de um mero borra-botas que na eventualidade de morrer hoje, ninguém daria pela falta?

Ao ver-me gesticular, de dedo apontado ao céu como quem indica ao mesmo tempo de que está a chover, e que a minha próxima acção será bater violentamente no vidro da porta com o cabo do guarda-chuva, resolveu deixar-me entrar, e de imediato manifesto o meu descontentamento da forma mais educada possível, dada a situação e o facto de me ter deixado à porta feito parvo a levar com chuva na tola. Digo-lhe no meu melhor cantonense: "está a chover, porque é que não abrias a porta?". Emitiu uns grunhidos imperceptíveis em voz alta, como se tivesse a boca cheia de favas, e respondi-lhe com um "pok kai" entre dentes, não fosse perder o amor a uma das garrafas de água da marca Carvalhelhos que levava num dos sacos e lhe fizesse ali um baptismo "à lá minuta". Temos que admitir que seria um desperdício usar uma excelente água mineral gaseificada para afogar aquele ninho de piolhos.

A viagem durou três ou quatro minutos, e chegado ao destino saio calmamente pelas traseiras do veículo, chego à entrada onde ainda subiam alguns passageiros, e despeço-me com o tradicional dedo do meio estendido, como quem pergunta: "já almoçaste? cuidado e não te engasgues com o molho!". A cavalgadura urrou um sonoro "uaahhh", e se mais relinchou não sei, pois virei-lhe as costas triunfante e deixei-o a bufar sozinho. Que não lhe tenham saído os bofes pela boca, que o benza o Santo Buda.

Não sei o que pensam estes motoristas de autocarro, quando é do conhecimento público que a população está tudo menos satisfeita com o serviço das três companhias, qual delas a pior, venha o diabo e escolha. Talvez fosse altura de em vez de um puxão de orelhas no sentido figurado, seja a hora de passar aos actos, e literalmente encher-lhes os cornos de porrada, caso se comportem como este artista do nº 18A. Espero que tenha feito bom proveito do chouriço que lhe deixei como recordação do nosso breve mas intenso encontro. E que já agora aproveite a chuva para dar uma voltinha a pé, que assim refresca as ideias e aproveita para tomar banho, que já é hora. Fim.


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