terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Não vai mais vodka para essa mesa


Todos sabemos que o povo russo é especial, diferente, às vezes pitoresco. São um tanto extravagantes; consomem avidamente o vodka, o equivalente à nossa aguardente, e têm uma certa tendência para eleger déspotas. Desde que se deixaram daquela parvoíce do comunismo e adoptaram o mercado livre, começaram a fazer umas massas e agora são uns gajos cheios de nota. Basta ir à Tailândia e outros países que dependem do turismo para ver brochures de hotel, ementas e outras indicações escritas em russo. Têm nota e não são tímidos em gastá-la. Não se pense que com esta pequena radiografia que faço dos russos tenho alguma coisa contra eles. Adoro russos, e das russas então nem se fala. Nunca conheci um russo que não fosse simpático, e é um dos povos com que é mais fácil comunicar e travar amizade.

Posto isto, em frente. O futebol é também o desporto-rei na Rússia, e os clubes russos têm beneficiado deste novo-riquismo generalizado. Um dos melhores exemplos é o Zenit de S. Petersburgo, que conheceu mais sucesso nos últimos cinco anos que em toda a sua história, graças ao investimento dos gigantes da Gazprom, e à semelhança de outros clubes russos, antes quase falidos, conseguem actualmente comprar jogadores por 40 milhões de euros como quem bebe um copo de água. O Zenit é bem conhecido dos portugueses, não só por ter eliminado o FC Porto da Liga dos Campeões a época passada, mas também por ter aberto os cordões à bolsa para adquirir duas estrelas do futebol português durante o último defeso: Witsel e Hulk. É também no Zenit que alinham os internacionais portugueses Bruno Alves e Danny, e também passou por lá o defesa Fernando Meira. Não é um clube desconhecido de todo para nós.

Mas um clube que conta com tantas estrelas estrangeiras nas suas fileiras, muitos deles de tez escura, não deverá ter problemas de natureza racista, e convivem todos muito bem, certo? Errado! Depois da polémica entre alguns jogadores russos e o ex-portista Hulk por questões relacionadas com os vencimentos, é agora um grupo de fãs do clube que vem publicar no seu website um polémico manifesto, apelando aos dirigentes que não contratem jogadores de cor, sul-americanos, asiáticos, australianos e homossexuais. Só isto, e gerou tanta controvérsia? Afinal eles até não se consideram racistas, mas a palidez do plantel, dizem, é “uma tradição do clube”, e o Zenit “não tem afinidades com África, América do Sul ou Austrália”. O Landskrona, assim se chama este grupo de adeptos, sugere que o clube dê preferência a jogadores russos, ou estrangeiros de origem eslava ou escandinava. Não especificam que não querem lá homossexuais, mas são contra o que chamam de “minorias sexuais”.

Além de todas as qualidades referidas no primeiro parágrafo, os russos são bastante orgulhosos, nacionalistas até. A direcção do Zenit está preocupada com este manifesto que pode ser entendido como uma forma de hooliganismo, e no futebol moderno, entendido tanto do ponto de vista comercial e desportivo, os jogadores são os “activos” do clube, e o que mais faltava eram condicionantes de ordem rácica ou geográfica. Sem os atletas homossexuais eles até passam bem, pois é um mercado ainda por descobrir, mas é quase certo que o Zenit regressaria rapidamente à medianidade se abdicasse do mercado sul-americano, ou que prescindisse por completo de jogadores africanos e outros de cor. Isto deve ser uma brincadeira de meninos que não têm mais que fazer. Até porque não é de ontem a actual política de contratações do Zenit. Não vai mais vodka para essa mesa, meninos.

2 comentários:

Pedro Coimbra disse...

Se quiserem devolver o Hulk..... :)))

Hugo disse...

O Mundial de 2018 na Rússia promete...