Nota: este post não é indicado para menores e pessoas sensíveis.O
shenkui (ou shen-k’uei) é uma desordem cultural dos chineses em particular, e dos asiáticos em geral. Tão bizarra quanto rara – ou nem tanto assim – este desordem é provocada pela perda excessiva de sémen, ora através da frequência da actividade sexual, da masturbação, das emissões nocturnas ou da “urina turva”, um tipo de urina que contém sémen. Acredita-se na cultura chinesa que esta patologia se dá com a perda do
yang (o sémen), e portanto do equilíbrio fundamental à vida e à saúde. Alguns dos sintomas incluem tonturas, dores, cansaço, insónia, fadiga e disfunções sexuais (ejaculação precoce ou impotência). A etnopsicologia (uma ciência relativamente nova) faz um paralelo entre o
shenkui e a ansiedade e outras doenças do foro físico relacionadas com a perda do
yang. Na medicina tradicional chinesa, o
shenkui é tratado como uma doença renal, uma vez que se acredita que uma das funções dos rins é transformar o sangue em sémen (
shenkui traduzido à letra significa “rins fracos”). Na cultura indiana o
shenkui é conhecido por
dhat.
Isto é tudo muito interessante, muito místico, muito oriental, mas então e para nós? O que é isto da perda do sémen e do balanço do
ying e do
yang? No fundo somos “todos diferentes e todos iguais”, e esta história do sémen deitado à terra tem o seu
je-ne-sais-quoi de cristão, de muito nosso também. O leitor mais perspicaz já deve ter percebido que vou falar aqui da auto-gratificação masculina, um tema que não me causa qualquer desconforto, uma vez que qualquer homem normal já terá passado pela fase da descoberta do seu próprio corpo. Disse uma vez D. Manuel Martins, ex-bispo de Setúbal, “quem nunca teve a tentação da carne que procure um médico, pois é doente”, e assino por baixo. Todos os jovens púberes e outros corações solitários por uma vez ou outra fizeram aquilo que em linguagem popular se define por “esgalhar o pessegueiro”, entre outras definições menos simpáticas, e o que não faltam são anedotas e trocadilhos brejeiros conotados com o assunto.
Fui numa linda noite de Verão que...esperem, não vou contar aqui a minha experiência pessoal, mas garanto que não difere muito do vulgar varão. Tive contacto com outros casos hilariantes ou desesperantes, mas já lá vamos. A geração anterior à minha deve estar lembrada da Revista Gina, a primeira brisa de primavera democrática em Portugal, seguida de outras publicações, livros outrora censurados, foto-novelas, calendários de garagem, posters do jornal “Êxito”, Playboys estrangeiras e tudo mais. Nos meados dos anos 80, e com o evento dos clubes de vídeo, era considerado “de bem” um jovem casal alugar um filme pornográfico (ou “para adultos”) para visionar numa sexta-feira ou sábado à noite. Os nossos “velhos” por vezes deixavam as cassetes à mão de semear, e a malta lá tirava umas aulas de educação sexual clandestina. Quem tinha um irmão maior de 18 anos era um sortudo: juntavam-se uns trocos e mandava-se o matulão ao Videomania alugar as últimas americanices porno. O laxismo de alguns clubes de vídeo permitia que menores alugassem esses filmes. Era o voyeurismo inocente em todo o seu esplendor.
Hoje em dia, com a internet, temos mil e uma formas gratuitas de visionar pornografia sem precisar de “dar nas vistas”. Basta entrar no YouPorn, no Tube8 e outros links à margem para ver filmes, e a única verificação de idade é um simples “Tens 18 anos? Sim/Não”. Basta escrever qualquer nome feminino no “Yahoo! Images” com o filtro desligado para aceder a imagens de nudez, sexo explícito e um sem número de outras modalidades de chavascal e pouca vergonha (bukkake, creampie, hentai, etc.). Há quem não se contente apenas com isto, e inscreve-se “a pagantes” em websites de pornografia, que depois nunca mais o largam, para uma experiência “de melhor qualidade”. Basta olhar para certas revistas de Hong Kong que se vendem nas lojas e tabacarias do territórios para ver imagens na capa de modelos, actrizes e cantoras semi-nuas e em poses provocantes. É caso para dizer que “o sexo vende”. Seus malandrins, seus “ham-sap lous”. Alguns dizem que “vêem para aprender”, mas eu também sou um grande mentiroso.
Em Macau chama-se ao acto da auto-gratificação “da fei-kei”, literalmente, “bater o avião”. É muito engraçado ter filhos macaenses e bilingues; uma vez quando o miúdo era bebé, fi-lo juntar as palavras “bater” e “avião” à mesa do
yum-cha, na presença da família toda, e deu-se aquele efeito de choque que eu tanto aprecio, sempre com a desculpa de que sou “kwai-lou”, portanto “bárbaro”, e “não tenho maneiras”. Uma vez uma assistente social de Macau confessou-me que trabalhava com um jovem que se masturbava 25 vezes por dia! Isto dá mais ou menos uma em cada meia-hora, durante o tempo que se está acordado! Foi também em Macau que ouvi a estória mais engraçada (lenda urbana?) sobre auto-gratificação. Há muitos anos, um jovem macaense divertia-se a apanhar moscas com um saco de plástico, de seguida introduzia o orgão no saco, e deliciava-se com as patinhas do insecto a andarem pela glande e pelo prepúcio. Só tenho um comentário a fazer: não tentem isto em casa!
Quanto ao facto da masturbação ser tabu, a culpa é mais uma vez da Igreja (desculpem, mas é). Foi o clero cristão que cunhou o tal princípio de que “a masturbação pode cegar”, aqui bem ilustrada com o slogan “cada vez que te masturbas, Deus mata um gatinho”. Os brasileiros criaram a ladaínha de que “crescia pêlo na palma da mão”, talvez inspirados pelo lobisomem do folclore do país irmão. Tinha amigos muito doidos quando era adolescente. Um deles aproveitava todos os intervalos de dez minutos na escola para se auto-gratificar, especialmente depois de uma aula com uma professora (qualquer uma de saia ou calças apertadas servia), e outro, mais endinheirado, usava um preservativo cada vez que brincava com o pacheco, “para aquilo não ir parar no tecto”, tamanha era a jactância. Um dos nossos colegas e amigos, o David, tinha olheiras quase até aos joelhos, andava magro e pálido, com as unhas todas brancas. Nós avisámo-lo que tinha que parar com aquilo, senão “desaparecia”. Se eu soubesse disto do
shenkui, tinha-o aconselhado a guardar o “sumo”, não fosse ele perder o balanço do
yang, e começar a procurar aconselhamento junto da medicina oriental. Ai estas asiáticas. (Suspiro).