segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Notas sobre o congresso do PCP


Terminou o XVIII congresso do Partido Comunista Português, mais uma vez marcado pela concordância, pelo monopensamento, muitos punhos cerrados e bandeiras vermelhas. Se há quem se admire de ainda ver tudo isto num país do Ocidente europeu em pleno século XXI, este é o Partido Comunista Português. Que o digam os renovadores, vítimas das famosas purgas, que pensaram que chegavam lá e adaptavam o partido às novas tendências, abandonando a velha retórica. Era o abandonas.

O PCP tem como secretário-geral um tal Jerónimo de Sousa, um afinador de máquinas de profissão. Dá imenso jeito, não vão as bicas faltar, e lá ficam os camaradas cheios de soninho. O PCP conta nas suas fileiras um montão de gente inteligente. O Bernardino Soares, o último dos estalinistas, Odete Santos, António Filipe, Carlos Carvalhas, enfim, um sem número de nomes de grande monta.

Gostei de ver um camarada dizer que "países como a China, Vietname, Cuba, Laos e Coreia do Norte" caminham para um "socialismo de sucesso". Bem, tirando a China, com provas dadas graças ao socialismo de mercado, não vejo bem como. Ainda há menos de vinte anos os comunistas contavam com dúzias de "povos irmãos". Na altura cantavam o "I Got the Power", dos SNAP. Hoje cantam o fadinho do "Só nos dois (ou neste caso, cinco) é que sabemos".

Achei piada à eleição do Comité Central. 1377 votos a favor, 17 abstenções e oito votos contra. Um exemplo de unidade. Odete Santos disse que isto é "um partido, não partidos". Tem graça. Quando oiço falar em comunismo vêm-me à ideia uma série de ideologias tão distintas e ao mesmo tempo tão próximas. O Marxismo-leninismo, o Estalinismo, o Trostskismo, o Maoismo...

Jerónimo de Sousa, o afinador, foi reeleito secretário-geral por unanimidade. Ora afinfa-lhes, Jerónimo. Mas não se pode dizer que o homem não seja um democrata. Afinal recusou votar na sua própria reeleição. A propósito, quem eram os outros candidatos?

Esteve no congresso um camarada vindo direitinho de Cuba, que ofereceu aos comunistas portugueses uma fotografia (autografada?) de Fidel e Raul, os irmãos que (des)governam Cuba. Será que também lhes ofereceu esta fotografia? Ou esta? E esta? E que tal esta?

Uma nota final para a juventude que ingressou nas fileiras do PCP. Muita malta jovem. Ser jovem é ser idealista, e uma vez até eu acreditei que o comunismo, em teoria, funciona. Mas quem sabe com o tão apregoado "falhanço do capitalismo", este ingresso é uma aposta no futuro? E que futuro!

1 comentário:

Paulo39 disse...

Também achei algo muito pouco positivo e até sinistro o facto de não ter havido o mínimo de debate político ao longo deste congresso. Nunca é bom quando todos pensam da mesma forma.. e ainda mais quando se assemelham a um grupo de carneirinhos que fazem e reproduzem tudo o que lhes põem na cabeça.