sábado, 18 de abril de 2015

Milagre? Era bom, era...



Este é o vídeo de apresentação do novo campus da Universidade de Macau (UMAC), que em três minutos nos deixa saber o que três minutos e meio nos deixam saber. Uh? Não entenderam? Eu explico: acreditam em milagres? Aposto que a maioria vai responder "sim", ou então sai um "não" pouco convicto - queriam acreditar em milagres. E quem não gostava que acontecessem milagres? Mas o reitor Wei Zhao vem-nos garantir que não senhor, que não há milagre nenhum na génese do novo campus da UMAC, 20 vezes maior que anterior, só possível "graças à cedência de parte da ilha de Hengqin, território anexo a Macau, no âmbito do princípio um país, dois sistemas, (há que lhes tirar o chapéu por se lembrarem sempre de atirar com esta à hora certa), que ficou sobre a jurisdição de Macau, aumentando assim a área da RAEM em um terço". Ah sim, e dois mil milhões de dólares também, que os não-milagres saem caros.


A qualidade do corpo docente da UMAC está acima de qualquer suspeita, pelo menos nesse aspecto, mas ao contrário do que o vídeo sugere, nem o escritor Mo Yan, nem o economista Joseph Sieglitz, nem o físico Frankin Yang, todos laureados com o Prémio Nobel pelo trabalho nas suas áreas são ou alguma vez foram lá professores - foram convidados para falar, sim, mas o facto de terem aceite (e serem pagos por isso) não torna a UMAC mais espectacular que as centenas de Universidades, Institutos ou Academias onde já discursaram. "E depois Leocardo, lá estás tu outra vez..." - permita-me que interrompa e complete "....a pedir às pessoas que façam bem o seu trabalho e não tomem as outras por parvas?". Vir dizer que à UMAC "se juntaram docentes de categoria internacional", aparecer um ou dois deles e pelo meio três prémios Nobel sem indicar que são lá docentes, ou não os incluir na categoria de "convidados" (e uma vez só, claro) fica muito além daquilo que se pode considerar "elevados padrões de excelência".


Agora podem desvalorizar este "ranking", alegando que "rankings há muitos, seu palerma", mas optei por aquele mais simpático, onde a UMAC ainda surge no top-300 das Universidades Mundiais. Aqui na Ásia ainda se podem orgulhar de ficar à frente da Universidade do Punjab, em Chandigrah, mas cuidado que eles também têm um novo campus!

Não, não tem importância para mim, e provavelmente no futuro pouca importância terá para os residentes de Macau, uma vez que a tendência é para que a UMAC vá sobretudo ser mais uma alternativa às Universidades da China num futuro próximo. A jurisdição pode ser de Macau, mas os limites do próprio Campus não vão deixar os estudantes do continente saber muito mais do que a Universidade deixa - e nem há muito para saber, no fundo.

Tudo isto vale o que vale, não é o fim do mundo porque também não são grandes nem pequenas as expectativas: são o que são, e ninguém vai ficar à espera da sua aula de Literatura Chinesa com o Prof. Mo Yan. O problema é esta mania de dar uma capa de "suprema qualidade" às coisas e esperar que toda a gente diga que sim e não faça perguntas. O vídeo tem pouco mais de 3000 visualizações desde que foi posto no YouTube no início de Fevereiro, com 11 "likes" e 15 "dislikes" - os primeiros da parte de grupos e associações com mil ou mais elementos, e os últimos fui eu, 15 vezes. Ah desculpem, eu mais o Jason Chao, como diz a outra.

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