terça-feira, 29 de abril de 2014

Os sons dos 80: "one-hit wonders"


Musicalmente falando, diz-se que é uma "one-hit wonder" um artista ou grupo que obtém sucesso com um único tema e a partir daí não consegue fazer mais nada digno de nota. Foram tantos os "marinheiros de uma viagem" nos anos 80 que se tornaria um exercício fútil nomear aqui todos - ou metade deles. Mesmo assim consegui fazer um pequeno "pot-pourri" de alguns a quem gostariamos de perguntar hoje: "olha lá, só aquilo, mais nada?".


"Oh Mickey you're so fine, you're so fine you blow my mind, hey Mickey!". Certamente que já ouviram isto em qualquer lado não foi? De facto, trata-se de "Mickey", um single da autoria de Toni Basil, que foi nº 1 da Billboard, bem como dos tops da Austrália e do Canadá, e nº 2 no Reino Unido - nada mau, tendo em conta que os arrogantes britânicos certamente desprezariam esta coreografia de "cheerleader". Mas dwe bimba esta Toni Basil não tinha nada, até porque à altura do lançamento deste single, em 1982, tinha já a respeitável idade de 37 anos. Actriz desde os anos 60, tendo participado inclusivamente no aclamado "Easy Rider" (1969), entrou noutros filmes e séries de TV depois disto. Digamos que a música foi uma das suas "aventuras", e pelo menos ficou com uma para cantar (e contar) aos netos.


"Come on Eileen", dos Dexys Midnight Runners, foi simplesmente o disco mais vendido de 1982, e é tido como o exemplo supremos dos "one-hit wonders". É que o grupo de Birmingham conseguiu o nº 1 dos tops do Reino Unido e da Billboard, bem de como muitos outros países, e depois continuou a tentar. E a tentar...e a tentar...mas do limão não saiu mais nenhum sumo, até que desistiram em 1986. No entanto voltaram a reunir-se em 2003, e vão dando uns concertos por aí para fazer umas massas, que a vida está difícil para todos. E até sou capaz de adivinhar com que canção iniciam e terminam esses concertos.


Francamente não sei o que estavam a pensar as pessoas em inícios de 1983, atendendo ao sucesso deste "Safety Dance", dos canadianos Men Without Hats - e isso lá é nome que se dê a uma banda. A verdade é que esta momice suportada por um vídeo que recria uma daquelas feiras medievais da treta foi nº 3 da Billboard e nº 6 no top de singles do Reino Unido, e espalhou-se como o sarampo: nº 3 na Noruega, Irlanda e Suécia, nº 2 na Alemanha e Nova Zelândia, e na África do Sul atingiu-se o clímax da paspalhice, com o tema a chegar a nº 1. Dos "homens sem chapéus" nunca mais se ouviu falar depois disto, e ainda bem. Não sei se o mundo ia aguentar outra igual a esta.


Este quase que dá pena, não fosse pelo facto de ser tão foleirote, coitadito. Limahl, nome artístico de Christopher Hamill, gozou de algum sucesso no início dos anos 80 como vocalista dos Kajagoogoo, e seguiu para uma carreira a solo que atingiu o pique com "The Never Ending Story", tema composto por Giorgio Moroder para a banda sonora do filme juvenil com o mesmo nome. Com este single Limahl foi nº 4 na tabela de singles do Reino Unido, nº 17 da Billboard, mas chegou ao topo dos "charts" em alguns países europeus. Depois eclipsou-se, e no início dos anos 2000 chegou a ser visto na fila de agências de emprego. Mais tarde foi reabilitado por alguns nostálgicos dos anos 80, que se calhar queriam comparar o seu aspecto actual com aquela figura de menina que ostenta neste vídeo. Um docinho, o rapaz.


Aqui o problema não foi tanto o quê, mas como. A banda alemã Nena (sim, a banda chama-se Nena, a cantora é Gabriele Kerner) conseguiu em 1982 um êxito arrasador com "Neunundneunzig Luftballons", ou "99 balões vermelhos", um hino anti-nuclear, que apesar de ser cantado em alemão chegou a nº 2 da Billboard norte-americana (só dois anos mais tarde um tema em língua alemã chegaria a nº 1: "Rock me Amadeus", de Falco). No ano seguinte lançaram uma versão em inglês, "99 Red Balloons", para abranger um mercado mais vasto, e foram nº 1 no Reino Unido. Os britânicos deviam estar a ser sarcásticos, pois além de ser conhecida a sua pouca simpatia pelos alemães em geral, a Gabriele disfarrrça muito mal a prrronúncia alemã, ja? Depois disso muito se esperou dos Nena, sem que mais nada de semelhante tivesse surgido. Se calhar deviam ter ficado pelo alemão.


Os Dead or Alive eram uma banda britânica de New Wave que ficaram conhecido por este "You Spin Me Round (Like a Record)", primeiro em 1985, e depois outra vez em 2003 e em 2006. Da primeira vez, e vai para 30 anos, foram nº 1 no Reino Unido, Suíça, Canadá e Irlanda, em 2003 a reedição do single passou quase despercebida, e em 2006 voltou em força, com um nº 5 no top britânico, e tudo graças à visibilidade do seu vocalista Pete Burns, que participou no "Celebrity Big Brother", um "reality-show" reservado aos famosos - lá famoso ele ficou. Conhecido pelas inúmeras cirurgias estéticas que o deixaram com este aspecto, Burns é abertamente homossexual, apoiante das muitas causas daí derivadas, e uma vez acusou Boy George de ter "copiado a sua imagem". Ah, claro, e dos Dead or Alive, este tema é o que há, e pouco mais digno de registo.


Os T'Pau são uma banda inglesa que gozou de alguma popularidade na recta final dos anos 80, e voltou depois a regrupar-se em 1998, mantendo-se até hoje, se bem que despercebida. A sua líder e vocalista Carol Decker foi buscar o nome do grupo a um personagem da série de ficção científica "Star Trek", mais exactamente a um dos ansiãos do planeta Vulcano. O único grande êxito dos T'Pau foi "China in your Hand", nº 1 no Reino Unido, Bélgica, Noruega, Suécia e Países Baixos, e depois disso nem um top-10 para a amostra.


Finalmente este fenómeno que surpreendeu tudo e todos em 1988: Bobby McFerrin e "Don't Worry, be Happy", que foi nº 2 no Reino Unido, nº 1 na Billboard e muitos outros países. McFerrin, mais que um cantor, é condutor de orquestra, e à conta disso já ganhou 10 Grammy. Para este tema inspirou-se numa frase originalmente cunhada por Meher Baba, um "guru" indiano muito conhecido nos anos 60, e a particularidade mais interessante é não fazer uso de quaisquer instrumentos, usando apenas a voz. O músico (?) português Fernando Girão alega ter tido uma ideia semelhante antes de McFerrin, mas que na altura o chamaram de "maluco" - e tinham razão. Neste vídeo conseguimos reconhecer o actor Robin Williams a fazer algumas das suas habituais macacadas.

1 comentário:

Anónimo disse...

Pete Burns é bissexual, não homo.