terça-feira, 2 de abril de 2013

O frigo é um amigo


Um frigorífico muito melhor que o meu.

Aproveitei os feriados para limpar o frigorífico, uma tarefa que parecendo simples, é de facto uma empreitada que pode levar mesmo algumas horas até que se obtenha o resultado desejado. Sendo 1) homem e 2) vivendo sozinho, é mais que normal que descure alguns aspectos do trabalho doméstico, e apesar de ter empregada, considero o frigorífico um “santuário” a que reservo o uso exclusivo. É completamente interdita a entrada a estranhos. O frigorífico é o melhor amigo do homem, uma extensão sua. É muito mais que um utilitário.

Posto isto, e depois de começar a notar um odor estranho vindo das profundezas do meu companheiro verde da Hitachi, resolvi deitar mãos à obra. A última limpeza foi em Setembro, já tinham passado uns bons seis meses, e certamente que iria encontrar produtos esquecidos lá no fundo das prateleiras que passaram do período reservado ao consumo. Resumindo, lixo. Para não dizer merda. Isto para não falar do gelo que se começa a acumular nas paredes do aparelho. Na realidade já se começavam a formar icebergues tão volumosos que me fazem questionar a teoria do aquecimento global e do desaparecimento progressivo das calotas polares.

Quase todos passámos por isto. Abrimos um pacote ou uma lata de qualquer coisa que não acabamos de comer, e atiramos para dentro do frigorífico. No dia seguinte a agulha do apetite vira-se para outro ponto cardeal, e vamos olvidando os restos do dia anterior. Quando se é desorganizado (como eu) e ao mesmo tempo económico, não se deita nada fora – dá pena deitar comida fora, com a fome no mundo e tudo isso – e alguns víveres são empurrados para a traseira até ao ponto de rotura, que é como quem diz, além do prazo de validade ou do nível de frescura mínimo recomendável ao consume humano. Enfim, guardamos coisas no frigorífico mesmo sabendo que nos dias seguintes não nos vai apetecer comê-las de todo.

Transferi o conteúdo do frigorífico para um alguidar, retirei as prateleiras, quebrei o gelo acumulado na traseira e procedi à tão necessária limpeza. Ao abrir a caixa dos legumes, encontrei a origem do odor que me levou a esta espécie de “limpeza de Primavera”: duas cenouras em avançado estado de decomposição. Mas que diabo, pensei, quem é que se lembra de comprar cenouras e depois guardá-las no frigorífico até ao ponto da podridão? Além das cenouras, encontrei pelo menos mais três ou quatro géneros cuja validade tinha sido ultrapassada, e ainda estou para perceber o que era aquela espécie de queijo selada num saco zip da Glad, e que já se assemelhava a uma cultura de fungos. Não ousei abrir sequer o saco. Há perguntas às quais não se deve procurar resposta. Não foi tudo mau, e tive algumas surpresas agradáveis. Então não é que tinha quatro pacotes de leite com chocolate Mimosa que só caduca em Junho?

Passada uma hora, depois de arejar o electrodoméstico, voltei a colocar os produtos que ainda respiram, e já agora de forma mais organizada: acomodados, em vez de simplesmente atirados. Prometi que não deixaria o fiel amigo chegar outra vez a este estado, mas já sei que me estou a enganar a mim próprio. Pelo menos tenho que corrigir esse irritante hábito de deixar dentes de alho e metades de cebola na prateleira da porta reservada aos ovos. O congelador não foi incluído nesta limpeza geral. Fica para outro dia. Com toda a certeza que será mais uma experiência alucinante, um mundo de surpresas a descobrir. Que boa é a vida de solteiro, caramba!

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