domingo, 28 de abril de 2013

Descaramento


Uma das notícias da semana prende-se com a intenção expressada pelos jovens Jorge Neto Valente Jr. e Duarte Alves de se candidatarem à posição de deputados na Assembleia Legislativa num future próximo. O primeiro é filho do actual presidente da Associação de Advogados de Macau e também ex-deputado da AL, Jorge Neto Valente, e o segundo filho do advogado Leonel Alves, que ocupa actualmente uma vaga no hemiciclo da RAEM, eleito pela via indirecta.

Ambos os “candidatos a candidatos” são actualmente empresários, e no caso de Duarte Alves, a comunidade portuguesa conhece-o mais como dirigente-mor da equipa de futebol do Benfica de Macau. As intenções políticas destes filhos de personalidades conhecidas e respeitadas na sociedade de Macau foram recebidas ao mesmo tempo com surpresa e indignação; o sector democrata acusa-os de querer comprar um cargo politico, e a generalidade da opinião pública pergunta simplesmente: “Quem são?”.

O director do Hoje Macau, Carlos Morais José, assinou na edição de quinta-feira um editorial sobre o assunto, destacando a inexperiência de Neto Valente Jr. e Duarte Alvesm e o facto de conhecerem pouco da sociedade de Macau, derivado de terem nascido “em berço de ouro”. A opinião de CMJ foi mal recebida pelo menos pelo primeiro, que expressou o seu desagrado pelos comentários do jornalista numa rede social. Apesar de não ter nada contra Neto Valente Jr. ou Duarte Alves, e reconhecer o direito a qualquer cidadão da RAEM de se candidatar a um cargo politico, não me resta senão concordar com o director do Hoje.

Não é segredo nenhum que o desempenho de um cargo politico pode trazer vantagens lucrativas para os seus titulares – e isto torna-se ainda mais verdade em Macau, onde é bem conhecida a promiscuidade entre o interesse público e os interesses privados. Além disso, e se for mesmo esse o caso, é preocupante que a filiação destes dois “candidatos a candidatos” lhes proporcione alguma espécie de vantagem. O maior exemplo que temos deste tipo de sucessão hierárquica política na região é o da Coreia do Norte, e temos que concordar que se trata de um péssimo exemplo.

Não sei em que circunstâncias Neto Valente Jr. e Duarte Alves manifestaram a ambição a uma carreira política, mas se estão mesmo a falar a sério, o “timing” não foi o ideal. Ambos deviam dar-se a conhecer melhor antes de dar um passo tão importante, deixar saber onde se colocam no plano ideológico, de como poderão contribuír para o debate politico e em que termos podem fazer a diferença a serviço da população ou dos grupos de interesse que os elegerão. Assim saídos do nada, manifestando este tipo de ambição, serão apenas acusados de descaramento. E com razão.

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