terça-feira, 9 de abril de 2013

Estou a ficar velho - parte II


Uma das maiores injustiças do processo natural de envelhecimento prende-se com as diferenças de género. Suponhamos que um casal em que ambos têm mais de 50 anos se divorcia. As possibilidades do homem ter sucesso na sua vida amorosa ou mesmo de voltar a casar são infinitamentes maiores que a da mulher. Enquanto os homens – contando que sejam saudáveis e tenham bom aspecto – ganham uma espécie de “segunda vida” e conseguem sucesso entre mulheres mais jovens, as mulheres estão condenadas à solidão, ou na melhor das hipóteses encontram um companheiro da mesma idade menos pretencioso. Muitas terminam os dias reduzidas a frequentar aqueles bailaricos próprios para a terceira idade, na esperança de amenizar o sentimento de abandono e isolamento. Muito triste.

Esta “vantagem” que os homens de uma certa idade têm sobre as mulheres é facilmente verificável. Enquanto uma mulher simplesmente envelhece, o homem “amadurece”. Algumas mulheres jovens procuram num eventual companheiro qualidades como a estabilidade financeira e a “experiência”. Não é raro encontrar uma mulher jovem e atraente na companhia de um homem muito mais velho, uma discrepância que em alguns casos chega a ser revoltante. Em alguns casos estas mulheres caem nas mãos de velhos tarados ou predadores sexuais, iludidas com essa fantasia da “experiência”. Os velhotes agradecem, claro, e aproveitam para se banquetear em coxas tenrinhas, ancas estreitinhas e peles lisinhas. Não convém generalizar, é claro, há homens muito mais velhos que a esposa que são maridos impecáveis, fiéis e carinhosos. Darei um exemplo mais à frente.

Esta atracção das mulheres por homens mais velhos começa cedo. Quando estudava no Liceu, os rapazes tinham tesão por professoras “sexys”, babavam-se nas aulas e à noitinha esgalhavam o pessegueiro enquanto pensavam no decote ou nas pernocas da “stôra”. Comportamentos típicos da adolescência. As meninas que se deslumbravam com algum professor mais giraço sonhavam fugir com ele, montadas num cavalo branco, a caminho de um castelo na Terra do Encanto onde iam ser felizes para sempre. Caprichos da biologia; as mulheres amadurecerem mais cedo que os homens. O que na juventude pode ser visto como uma vantagem, torna-se num problema quando se chega à idade adulta. Se a fruta amadurece mais depressa, também cai primeiro da árvore, e apodrece.

Quem se lixava com esta apetência das miúdas por homens mais “maduros” era eu, que fui sempre o aluno mais novo da minha turma até ao 9º ano de escolaridade. Tinha uma colega com 14 anos que namorava com um indivíduo que cumpria o serviço militar. O tipo teria uns 19 ou 20 anos, e um aspecto asqueroso, mas era “mais velho”, e por isso “maduro”, ao contrário da malta, que era “infantile”. Esta é uma aldrabice em que as mulheres acreditam facilmente; há tipos mais velhos que são umas autênticas cavalgaduras, e outros mais novos que até são porreirinhos e mais ou menos fiáveis. Nestas coisas dos relacionamentos a idade nem sempre é um posto.

Mas até nisto os tempos mudaram. Fosse nos dias de hoje, e o maçarico que namorava com a minha colega arriscava-se a ir parar à choldra. Este fenómeno que hoje chamam de “pedofilia”, que sempre existiu mas que hoje é amplamente denunciado, foi em tempos visto como apenas um “mal-entendido”, até alguém se lembrar que não é legítimo que um menor de idade mantenha relações sexuais com um adulto emancipado. O clero foi quem mais sofreu com esta nova tomada de consciência. Noutros tempos um miúdo que chegasse a casa e dissesse que o padreco o apalpou era tido como mentiroso e arriscava-se a apanhar um estalo. Hoje qualquer pai minimamente zeloso pensa duas vezes antes de deixar o seu filho a sós com padre. No caso de uma mulher jovem acompanhada de um homem muito mais velho já ninguém se importa, desde que se atinja a “idade do consentimento”. Existe homens que estão hoje na casa dos 30 anos que se envolverão no futuro com mulheres que ainda nem nasceram! Posto nestes termos é chocante.

Uma colega minha diz que leu numa daquelas revistas onde se publicam artigos de credibilidade duvidosa escritos por pseudo-sociólogos que as mulheres estão na sua maior pujança em termos sexuais por volta dos 40 anos, e os homens por volta dos 20, e por isso o “sexo ideal é entre uma mulher de 40 anos e um homem de 20”. Tentei ainda explicar que o “sexo ideal” será entre duas pessoas saudáveis que se amem, mas se nos reduzirmos ao animalesco mais primário será mesmo assim, como diz a tal revista. O problema é que não existirão assim tantos jovens de 20 anos dispostos a ter sexo com mulheres de 40, a menos que estas sejam ainda atraentes, e que o tipo de relação não passe disso mesmo: sexo. Por outro lado há mulheres de 20 anos ou pouco mais que vêem num homem acima dos 40 o parceiro “perfeito”. E isto vai muito além do sexo.

Disse um pouco mais acima que ia dar um exemplo em que este tipo de relacionamento paradoxal resulta. Nos últimos anos é comum observar em Macau um fenómeno interessante, e cada vez mais frequente. Alguns homens na casa dos 50 ou 60 anos, divorciados ou viúvos e já aposentados, casam com mulheres muito mais jovens, muitas na casa dos 20 anos, normalmente oriundas da China continental, Vietname ou outro país pobre do Sudeste Asiático. Assim têm companhia durante a velhice, e a reforma garante uma vida tranquila a ambos. Quando o homem acaba por falecer, a mulher, ainda relativamente jovem, usufrui da pensão. Isto pode ser entendido mais como uma parceria, uma sociedade: ele termina os seus dias na companhia de uma mulher jovem, e esta garante pelo menos uma fonte de rendimentos. Não é de todo censurável. Eu próprio faço planos de me aposentar aos 53 anos, e esta ideia é bastante convidativa.

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