terça-feira, 1 de janeiro de 2013

E ele pimba!


Estive no outro dia a ver a RTPi pela noite dentro, aproveitando os múltiplos feriados que este ano a quadra nos proporcionou, e assisti por acidente à gala que elegeu a melhor canção do ano de 2012 em Portugal. A iniciativa partiu do programa Portugal no Coração, onde decorreu a pré-selecção, e dos 24 temas escolhidos inicialmente, sairam 10 finalistas que no último Sábado desfilaram na gala apresentada por Sílvia Alberto – pelo menos não foi pela Catarina Furtado, valha-nos o santo Buda.

Não sei se os leitores viram esta gala, que em Portugal ficou aquém do esperado em termos de audiências (500 mil espectadores), mas muitos já sabem quem foi o vencedor: Emanuel, com “Baby, és uma bomba”. Não, não estou a brincar. Quem venceu o prémio da Canção do Ano em Portugal, votada pelo público português (e arrisco-me a dizer, na maioria jovem) foi o cantor Emanuel, o padrinho do “pimba”. E este não foi um acto de “rebeldia” como aconteceu em 2011 no Festival da Canção quando ganharam os Homens da Luta. O Emanuel ganhou porque o público gosta mesmo desta canção. Leiam os comentários a este video na página do YouTube, e o que mais se lê são coisas como “espectacular”, “grande música” ou “grande Emanuel”.

Isto será apenas o fruto de anos de trabalho deste “grande artista”, que aparentemente está em alta. Há dois anos gravou o tema “O Ritmo do Amor – Kuduro”, que conta já com mais de 11 milhões de visualizações no YouTube. Recorde-se que Portugal tem menos de 10 milhões de habitantes, e mesmo com os emigrantes não somos mais de 16 milhões, o que me leva a concluír que o “Kuduro” do Emanuel foi bem recebido entre o resto da Lusofonia, onde tem muitos fãs, mesmo no Brasil. Os anos que levo fora de Portugal tornaram-me num “careta” ultrapassado. O Emanuel é que é, o Emanuel é que está a dar. E nós pimba!

Entre os 24 temas pré-selecionados encontravam-se algumas canções de qualidade que marcaram o ano civil de 2012 na música portuguesa, e que andaram pelos “tops”. Desses destaco alguns, como “Sexta-Feira”, de Boss AC, “Os maridos das outras”, de Miguel Araújo ou “São gestos”, de Paulo Gonzo. Outros ainda que mesmo não sendo um sucesso de vendas, são temas excelentes de artistas com créditos firmados: “Scratch my Back”, de Áurea, “What is life for”, de David Fonseca, “Bomba-relógio”, de Sérgio Godinho, “Primavera”, dos The Gift, “A pele que há em mim”, um lindíssimo dueto de Márcia com JP Simões, ou “Imperdoável”, do grande Jorge Palma. Meus amigos, destes temas NENHUM chegou aos dez finalistas. Nem mesmo o Boss AC. Até outros pesos pesados como Ana Moura, Carminho ou os Buraka Som Sistema ficaram de fora. Surpresa?

Então e quem passou à final? Quem são os dez iluminados que fizeram o melhor da música portuguesa em 2012? Bem, além do Emanuel, temos os Anjos, o David Carreira e o seu irmão Mickael, ou um tal Richie Campbell, que além de nunca ter ouvido falar, tem um nome muito pouco português. É disto que o meu povo gosta. Até me admira como é que o Toy e o seu “Vou chorar outra vez” não passou também à final, mas existem três explicações possíveis: 1) erro na contagem dos votos, 2) ficou a um voto, mas uma bimba que ia ligar ficou sem carga no telemóvel ou 3) os deuses do Pimba estão zangados com o Toy.

Dos restantes finalistas nem tudo era mau; tinhamos Miguel Ângelo, João Só e os Abandonados, Filipe Pinto ou António Zambujo. Contudo a minha favorita era “Desespero”, de Jorge Fernando, que mesmo assim bateu alguma da forte concorrência pimbalheira e ficou em 3º lugar. Mas foi o Emanuel que levou tudo à frente, aquele maroto de olhinho azul que canta com um ar angelical aquelas canções com letras malandrecas. É verdade que o país está em crise, mas será esta crise necessariamente extensível ao ouvido musical? Os cotonetes estão assim tão caros?

1 comentário:

Unknown disse...

Realmente há coisas que eu não compreendo... ou todos os meus amigos são fãs de música popular à escondidas ou então somos, de facto, uma minoria que não aprecia tanto este género de músicas. Quer dizer, não tenho nada contra a música pimba, e tal como em qualquer género musical, haverá músicas boas e más, mas estes sucessos são tão... nem sei!