quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Os trabalhos de Helena


Helena Senna Fernandes é desde o início do ano directora dos Serviços de Turismo de Macau (DST), substituíndo o histórico José Costa Antunes, que exerceu o cargo durante mais de duas décadas e está agora a tempo inteiro à frente da organização do Grande Prémio de Macau. Gosto de Helena Senna Fernandes, uma pessoa simples e aparentemente simpática, que parece ter uma boa relação com as câmeras (apesar de começar e terminar quase todas as frases com “quer dizer”, um tique que lhe passará com o tempo, concerteza). Se é a pessoa indicada para o cargo, apenas o tempo o dirá, mas pelo discurso profissional e ambicioso, aposto que vai ter sucesso.

Um dos trabalhos que Helena Senna Fernandes tem pela frente é a diversificação da oferta turística, uma tarefa complicada, e com isso poder atraír ao território visitantes que não apenas os habituais, os da China continental e de Hong Kong. Os primeiros, já se sabe, são o pulmão e coração da economia de Macau, e os da RAE vizinha nem precisam de motivação suplementar para vir cá; enfiam-se no jetfoil e vêm a Macau “ver o campo”, como sempre fizeram, virando as costas à cosmopolita Hong Kong, fazendo as delícias dos nossos comerciantes. Só que Macau quer apontar baterias a outros mercados, nem que seja para variar, e já agora para dar o território a conhecer noutras paragens. A mensagem que é preciso passar é a seguinte: há mais em Macau que apenas casinos. Será mesmo assim?

Um dos mercados a que Macau aponta é o russo. Os turistas russos são dos mais apetecíveis actualmente, graças à pujante economia daquele país que foi durante oito décadas a nave-mãe do socialismo e hoje pratica um capitalismo agressivo, que produziu em poucos anos uma quantidade respeitável de gente abastada, que depois de passar a quase totalidade do século XX “engaiolada”, quer agora passear e gastar o dinheiro do petróleo e do gás natural, que já não é exclusivo dos agora falidos “camaradas” sovietes.

Alguns países do sudeste asiático já deram o primeiro passo, e é comum encontrar na Tailândia, Vietname e outras paragens em redor bares, restaurantes e outras comodidades onde estão disponíveis menus, ementas e “vouchers” em russo, e onde se fala a língua de Dostoievsky. Os russos são bem gastadores quando de férias. Lembro-me de ficar num resort de cinco estrelas em Kota Kinabalu, na Malásia, e ver turistas russos encomendarem serviço de bar e restaurant junto da piscina durante a tarde, entre o almoço e o jantar. A palavra de ordem entre os turistas russos parece ser mesmo “gastar”, e de forma quase compulsiva.

E o que tem Macau que possa interessar aos operadores turísticos russos e que os leve a nos que recomendem? Muito pouco, digo eu. Por acaso há alguns meses encontrei um casal russo na Av. Conselheiro Ferreira de Almeida, que me pediu direcções. Um senhor e uma senhora de meia-idade, super-simpáticos, e reconheci-os facilmente pelo carregado sotaque russo que aplicam no inglês mais ou menos fluente. Infelizmente seriam uma excepção, um caso raro, e não vou tão longe ao ponto de dizer que estavam “perdidos”, mas devem ter aproveitado uma visita mais demorada a Hong Kong para conhecer Macau. Eram gente bem educada, afável e agradecida, e seria interessante ter mais turistas deste tipo no território.

Como todos sabem, russas já nós temos há vários anos, por vezes acompanhadas pontualmente do seu “agente”, também ele russo. Mas o que queremos mesmo em termos turísticos é gente que venha aqui deixar dinheiro, e não levá-lo daqui para fora. Era lucrativo trazer aqui estes novos-ricos gastadores, que se calhar até iam cair que nem patinhos nas nossas teias casineiras, mas como? Macau não é “Russian friendly”, e apesar de termos um tal “Russian bar” (era uma piada) não temos meios para acomodar estes turistas que vêm do frio. E dessa forma eles não têm interesse em vir até cá.

Falta, por exemplo, um restaurante russo digno desse nome. E não me digam que não era necessário, ou que a experiência de visitar outro país passa por provar outra gastronomia. Estive num (excelente) restaurante russo em Langkawi, na Malásia, e estava cheio de turistas russos. Existem vários restaurantes russos em Hong Kong, e nem uma tasca que sirva um borsch decente em Macau. E acham que os russos iam gostar de sopa de fitas, que é praticamente tudo o que temos para oferecer em termos de restauração? Imagino o pânico que seria se um turista que falasse apenas russo quisesse alugar um quarto num dos hotéis de luxo em Macau. Se temos tanta gente na indústria hoteleira que fala tão bem mandarim, porque não um ou dois que aprendam russo? E não, acho que as tais russas que aqui temos não estão qualificadas para o efeito.

Além da Rússia existem outros mercados que poderiam trazer a Macau capital que não fosse apenas o chinês. O árabe, por exemplo, não seria despeciendo, e penso que todos concordam. Só que com o deboche que por aqui vai, estes preferem outros locais mais “halal” onde gastar os seus petro-dólares. É pena que Singapura consiga atraír jogadores da península arábica aos seus casinos e resorts, e isso seja ainda impensável em Macau. Mas boa sorte para Helena Senna Fernandes na sua tarefa, apesar dos serviços que agora dirige estarem sob a tutela de um secretário que é uma das pessoas mais curtas de vistas que compõe o executivo. Vamos ficar a fazer força.

1 comentário:

Anónimo disse...

O Mercado Russo sempre interessou a Macau há vários anos,basta ver aquelas russas que estão nas saunas e hóteis :)