sexta-feira, 14 de setembro de 2012

O meu país também se engana


Como alguns leitores devem ter percebido, começoua colaboração deste vosso humilde servo com o diário Hoje Macau, com uma coluna que (espero) vir assinar regularmente às quintas. Gostava de agradecer ao director Carlos Morais José a oportunidade de levar o Bairro do Oriente a um público mais vasto, e ao editor Nuno G. Pereira pelo "cantinho" que me arranjou no jornal. Já agora um grande abraço à restante malta do Hoje, e uma festinha ao gato Pu Yi. O artigo pode ser visto aqui, e para memória futura vou ainda reproduzi-lo na sua íntegra aqui no blogue.


Os protestos de milhares de estudantes e pais na vizinha RAEHK contra a implementação da disciplina de Educação Patriótica nas escolas foi talvez o grande “happening” deste Verão aqui na região.

Uma tentativa frustrada do Governo central de impor uma ideologia nacionalista no seu aluno menos aplicado. O famigerado artigo 23 não pegou em Hong Kong, e daí partia uma tentativa de moldar as mentes mais frágeis e preparar a próxima geração. Alguns dos conceitos presentes no tal manual de Educação Patriótica podem parecer-nos estranhos, absurdos até, e o livrinho impunha uma série de ideias como “devemos dar a vida pelo nosso país” ou “devemos apoiar o nosso país mesmo quando está errado”.

Quando era pequeno o meu pai contava-me histórias de quando esteve na Guiné, nos tempos da Guerra Colonial. Dizia-me que o seu sargento apelava a que os seus soldados “lutassem até à última gota de sangue”. Eles sussurravam entre eles: “até à última não, até à penúltima; a última é para fugir”. E é assim mesmo, não há ideia de “pátria” ou “nação” que valha uma vida humana. Estes são conceitos ultrapassados, coisa que vigorava há uns cem anos, quando a vida humana valia menos que um saco de amendoins. Depois sempre veio a convenção de Genebra, saímos do século dos ideais e entrámos no século do indivíduo. Todos nós queremos viver mais e melhor e ninguém quer saber de conflitos armados e guerras.

Sou português dos quatro costados e orgulho-me de todos os méritos da minha nação, mas isso não significa que considere que o meu país “tem sempre razão”, mesmo quando não tem razão – e ultimamente tenho cada vez menos motivos para pensar assim, muito devido a quem anda a (des)governar o país há décadas. Orgulho-me dos feitos da minha nação, dos seus méritos, mas tenho sentido crítico e sei que o meu país também erra. Todos os países erram, e o conceito de que existe uma nação omnisciente e perfeita é risível. Somos acima de tudo cidadãos do mundo, e a nossa pátria e os seus interesses (os de poucos) não se sobrepõe ao nosso bem-estar.

É curioso que o regime chinês tente incutir este tipo de “amor” patriótico nos seus jovens. Afinal são eles os primeiros que criticam as tentativas japonesas de branquear o seu passado belicista e imperialista, e condenam as romagens de políticos japoneses ao santuário de Yasukuni, onde estão sepultados criminosos de guerra japoneses do tempo da Segunda Guerra – criminosos para as suas vítimas, claro, mas heróis para os nacionalistas japoneses. Que autoridade tem um país que quer incutir na sua juventude valores semelhantes para declarar errado que outra nação tente fazer exactamente a mesma coisa?

Numa altura em que os ânimos se exaltam no Sudeste Asiático devido à disputa de ilhotas que possuem recursos naturais importantes, parece estranho que se dê tanta importância à Educação Patriótica. É uma mistura explosiva aliar conceitos nacionalistas e disputas territoriais, e em nada ajuda a manter o frágil equilíbrio que existe nesta região nas últimas décadas. A Ásia não é exactamente conhecida por ser o continente “da paz”, e sem querer ser pessimista, pode bastar um acender de um rastilho para espoletar uma crise sem precedentes. É mesmo assim, tão frágil, esta suposta paz trazida pelos resultados da economia, quando misturados com conceitos patrioteiros.

O facto do actual Chefe do Executivo honconguense C.Y. Leung ter deixado “cair” a ideia da Educação Patriótica não significa que os cidadãos da região vizinha se tenham visto livres deste “problema”. A disciplina passou a ser facultativa, e espera-se que num futuro próximo existam incentivos (financeiros, entenda-se) para que as escolas da RAEHK incluam a cadeira nos seus currículos. Um problema que fica portanto apenas adiado. Resta aos resistentes contar as armas e prepararem-se para futuras batalhas. É preciso contudo não esquecer que provavelmente os cidadãos de Hong Kong se sentem chineses como quaisquer outros, só que não estão para deixar que os ditames do partido único da China se imiscua nas suas liberdades garantidas
pela Lei Básica. E só por isso há que lhes tirar o chapéu.

1 comentário:

Anónimo disse...

Este sentimento de ódio para com os japoneses sempre foi fomentado pelo Partido Comunista como forma de

1- manter a nação unida e coesa contra um (suposto) inimigo de fora que (alegadamente) não quererá mais do que a aniquilação da China.

2- desviar as atenções do povo para os problemas internos e controlar as tensões cada vez mais graves dentro da própria sociedade chinesa

Para quem visite a China, basta no hotel ligar a TV e passar uma vista de olhos pelas dezenas de canais. Quase 100% de certeza que estará pelo menos um deles a dar um filme de guerra sobre os chineses a combaterem heroicamente os invasores japoneses. Experimentem, garanto-vos que é praticamente infalível!

E depois esta palhacada destas manifestações, com a policia a fingir tentar apaziguar os ânimos, a pedir à população para ter calma, paninhos quentes e tal... LOOOOL

Se fosse para criticar o PC já estava tudo preso com o exército na rua e muitos certamente condenados depois à morte por subversão (isto sem antes levar com uma carga de porrada em cima, tudo sem direito a cameras da TV e jornalistas por perto, pois claro).


Mas que raio de país é este??

E depois essa treta de acusar os japoneses de querem apagar a história e não reconhecer nos livros escolares os acontecimentos da II Guerra Mundial há mais de 60 anos, quando eles próprios fazem exactamente o mesmo com a própria história!!!! Desde a Revolução Cultural ao Massacre de Tiananmen.


E isto tudo agora por causa da merda duns ilhéus vazios dos quais nunca quiseram saber, até ao momento em que descobriram que as águas em redor tinham vastas de reservas de petroleo e gás natural. Pois é!

Esta gente não tem vergonha nenhuma na cara.