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1) Perto de 150 motociclistas fizeram ontem uma marcha lenta pela cidade, para protestar contra a forma como as autoridades têm aplicado a lei rodoviária que entrou em vigor em Outubro de 2007. A marcha foi organizada por Lei Kin Yun e a sua Associação do Activismo para a Democracia. Parece no mínimo um pouco estranho que esta associação vá organizar um evento desta natureza - com a respectiva entrega da petição na sede do Governo - a três semanas das eleições para a AL. Cheira a campanha. Em todo o caso, não sei exactamente do que se queixam os motociclistas, mas eu tenho razão de queixa deles; estacionam onde lhes apetece, conduzem em cima do passeio, ignoram sempre a passagem para peões e no outro dia riscaram-me o carro. Não surpreende que se queixem das multas. Isto para os milhares de motociclistas, não para os 150 que participaram da festarola de ontem.
2) A conclusão do relatório emitido pelo Comité para a Eliminação de Discriminação Racial da Comissão de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas diz que Macau tem que fazer mais para acabar com a discriminação racial e o tráfico humano Macau. Muito bem, a meu ver. A questão de integrar os trabalhadores não-residentes parece-me cada vez mais essencial. Não falo que qualquer um que apareça por aí a trabalhar em Macau, mas existem muitos que vivem no território há vários anos, fazem um esforço enorme para se manter em situação legal e mesmo assim correm o risco de ser despedidos e ter dez dias para abandonar o território. Alguns destes trabalhadores viveram metade das suas vidas em Macau, constituíram família a têm poucas ou nenhumas ligações ao seu país de origem. É importante que se premeie quem também contribuíu para o desenvolvimento de Macau, fazendo-o usufruír dos mesmos direitos e das mesmas obrigações dos outros residentes, independente da sua etnia e da sua nacionalidade. É claro que terão que dar provas de que estão completamente integrados, o que na maioria dos casos a que me refiro não é assim tão difícil. É triste ver que outros que obtêm o estatuto de residente através do casamento ou de meios pouco claros tenham mais garantias que aqueles que deixam todos os dias o seu suor, e muitas vezes em trocas de migalhas. Uma situação a repensar.
3) São cada vez mais as lojas e moradias de rés-de-chão abandonadas em Macau. A manutenção, limpeza e até apresentação destes estabelecimentos é - ou devia ser - da responsabilidade dos seus proprietários ou arrendatários. É deprimente passar por lojas abandonadas onde se acumula pó e lixo, contas da água e da luz do ano passado, e que servem de abrigo a ratos, sem-abrigo e toxicodependentes. E não me digam que o conteúdo destes estabelecimentos é do âmbito privado dos seus proprietários. Existem vizinhos, existem transeuntes, existem questões de saneamento, segurança pública, e porque não, estética. Onde os proprietários faltam, devia haver mão do Governo. Isto da propriedade privada não consiste só de direitos. Acarreta também responsabilidades.