O caso da bomba descoberta no passado Sábado numa pensão da Rua da Felicidade continua a merecer destaque na imprensa em chinês de Macau. Segundo o Hoje Macau, o jornal Ou Mun, o mais lido do território, destaca o incidente e alerta para a “comunidade de estrangeiros cada vez maior” que reside naquela zona da cidade. Diz que a população que ali vive sente-se desconfortável com “a crescente diversidade de comunidades”, e dá um exemplo de “um homem nepalês que tinha chegado de Banguecoque foi preso em Agosto de 2006 por possuir 900 gramas de heroína", e que se encontrava hospedado na Rua da Felicidade. Diz ainda que os baixos preços do alojamento ali praticados encorajam a vinda de prostitutas e “criminosos não residentes”, e voltam a mencionar os tais “indivíduos do Sudeste Asiático", que desde que se mudaram para aquela zona "houve um aumento significativo da criminalidade”.
Não sei se algo se perdeu na tradução, mas acredito que se trata de uma reprodução fiel de uma opinião (editorial?) expressa naquele jornal em língua chinesa. O que não consigo perceber é a relação entre a descoberta do engenho explosivo, que segundo o próprio jornal, é "um resquício dos conflitos entre tríades locais ocorridos antes de 1999", e factos sociais tão diversos como a prostituição ou o aumento do número de estrangeiros ali a residir ou a pernoitar. O que não percebo também é como um albergue não repara numa bomba lá deixada há dez anos. Deve ter sido desleixo por parte do pessoal da limpeza.
É certo que o Ou Mun deixa claro que inúmeros criminosos (segundo eles, que ainda não devem ter aprendido a ladaínha da "presunção da inocência") da China continental escolhem aquele bairro quando passam por Macau. É consequência directa da tal política dos vistos individuais, que tanto dinheiro tem trazido aos cofres do território através do jogo, mas que não descrutina quem vem gastar ou quem vem roubar. O que me deixa um pouco na dúvida e me faz levantar uma série de questões pertinentes é o seguinte: onde é que deviam ficar? Será que hoje em Macau é impossível ou proibido encontrar alojamento a preços acessíveis? Serão os tais "backpackers" uma praga? A direcção dos serviços de turismo faz mal em não deixar claro que "quem não tem dinheiro não deve visitar ou residir em Macau"? E mais uma vez, o que têm contra os estrangeiros?
A questão das prostitutas, que cometem o delito de não se inserirem no quadro da prostituição de luxo, commumente aceite e até bastante requisitada em Macau, é antiga. Toda a gente sabe que na zona entre a Avenida Almeida Ribeiro e a Praça Ponte e Horta existe um tipo de prostituição de rua, que não impede que cidadãos comuns, turistas e comerciantes continuem ali a fazer a sua vida normal. Quanto ao caso do nepalês apanhado na posse de 900 gramas de heroína, episódio que foi preciso desenterrar do baú de 2006, não sei se invalida o facto da PJ fazer quase todos os dias detenções relacionadas com heroína, ketamina e outras porcarias, em vários pontos da cidade. Será que o facto do traficante ser nepalês e ter sido apanhado na Rua da Felicidade faz toda a diferença?
E isto leva-me à questão dos "indivíduos do Sudeste asiático", vulgo filipinos, indonésios, nepaleses e outros. Sei que aquela parte de Macau, por onde passo praticamente todos os dias, é habitada e frequentada por imigrantes desses países (ver
este artigo), que dão um colorido especial ao território com as suas manifestações culturais, e que no fundo contribuem para o desenvolvimento e prosperidade de Macau. O que não está correcto é fazer deles bodes expiatórios cada vez que qualquer coisa corre menos bem. Nunca fui assaltado, molestado ou sequer incomodado por qualquer filipino ou nepalês. De que "criminalidade" é esta de que estão a falar? É preciso lembrar que a comunidade chinesa, por exemplo, é bastante numerosa e respeitada nesses países, e que foi um choque o que aconteceu na Indonésia ainda há dez anos, em que vários chineses foram perseguidos e assassinados, apontados como causa do caos político e económico que ali reinava.
Rejeito como português, povo por natureza emigrante, e rejeitaria ainda mais como chinês, pela mesma razão, que se imputem responsabilidades pelos podres de uma sociedade ou pela incompetência das autoridades nos estrangeiros. Os crimes são praticados por criminosos, independentemente da sua cor, nacionalidade, credo ou estrato social. Este tipo de opiniões são uma saída fácil que só levam ao preconceito e à descriminação. Sei que há leitores informados que não embarcam neste tipo de caça às bruxas, mas para os outros, isto não educa. E mais uma vez, o que é que tudo isto tem a ver com a bomba?
19 comentários:
aguOs chineses sao muito racistas e isto só demostra isso mesmo. Falta de cultura.
Eu bem os vejo a aparecer na televisão, encapuzados nas instalações da Polícia Judiciária, devido a uma parafernália de crimes. 99,9% são chineses, e a maioria do continente. Andam a distorcer a realidade deliberadamente. Só me pergunto uma coisa: se os chineses detestam assim tanto a multiculturalidade de Macau, por que raio é que não vão para lá do outro lado da fronteira? É que nunca ouvi os macaenses (os verdadeiros filhos desta terra) a queixarem-se do excesso de filipinos. Se calhar porque sabem que o que há é excesso de chineses do continente.
Cara Maria,
Acompanhou este artigo do Leocardo e as respectivas mensagens?
Saudações,
V.
Leocardo: muito bom o seu artigo. Parabéns.
Permita-me que o cite no seu próprio espaço:
"Rejeito (...) que se imputem responsabilidades pelos podres de uma sociedade ou pela incompetência das autoridades nos estrangeiros. Os crimes são praticados por criminosos, independentemente da sua cor, nacionalidade, credo ou estrato social. Este tipo de opiniões são uma saída fácil que só levam ao preconceito e à descriminação. Sei que há leitores informados que não embarcam neste tipo de caça às bruxas, mas para os outros, isto não educa."
Caro Vitório: este parágrafo podia muito bem ter sido escrito aqui em Portugal a respeito dos artigos do género do que é criticado (e bem) na imprensa portuguesa a propósito da falsa dualidade estrangeiro/criminoso. É frequente e há documentação, informação e investigação bastante que demonstra que esta associação não tem razão de ser. Mas isso não faz de todos os portugueses racistas... e não dá direito a ninguém de se referir aos portugueses como racistas e xenófobos. Há aqueles que são e os que não são. Assim como os chineses, os holandeses, os timorenses, os brasileiros, os macaenses, os espanhois, os franceses, os australianos, os... os... os...
Cumprimentos.
Xenofobia numa das cidades que mais tem a ganhar com a multiculturalidade no mundo.
Esta sociedade vai por um bom caminho, vai.
Isto não tem nada a ver com o post mas quero partilhar convosco.
A TSF tem um link na sua página desportiva para se poder seguir os jogos em directo:
http://tsf.sapo.pt/Paginainicial/Desporto/JogosEmDirecto.aspx
Se se clicar no tão aguardado jogo Portugal-Turquia de próximo Sábado, houve algum engraçadinho que já se adiantou, oxalá não esteja enganado...
ilustre anónima Maria
deixas de ler a revista Maria e passa a ler mais o blog http://passaleao.blogspot.com/
Saudações
Vitório Rosário Cardoso
Maria, cuidado com este último comentário, que é outra vez do falso vitório. É fácil constatar, se não conseguirem avaliar pelo estilo: basta clicarem no nome. O perfil do verdadeiro Vitório está disponível, o do falso vitório não.
Cara Maria,
A respeito do seu comentário das 15:34, nas linhas gerais, tendo em concordar. E mais, o racialismo ou racismo nunca fez parte da essência do portuguesismo, da portugalidade. Há quem o seja, mas concerteza que de português nada terá, apenas aculturações estrangeiras/ "europeias".
É recorrente um erro gramatical que denuncia logo o falso vitório. Este tem de aprender a distinguir o uso do presente do indicativo e o modo imperativo... Pela minha experiência é alguém que será de Macau ou a sua estada em Macau já vai longa...
PS: Não tens piada nenhuma, seu pateta...
Quanto ao post, quem conhecer verdadeiramente os chineses (han), certamente dirão que, no mínimo, são etnocêntricos....
bye-bye
Caro Vitório
Não sei se o comentário é seu ou não; infelizmente não tenho como confirmar, embora me pareça estranho atendendo à troca de comentários anterior. Mas depois disto:
"ilustre anónima Maria
deixas de ler a revista Maria e passa a ler mais o blog http://passaleao.blogspot.com/ "
fica-me pouca vontade para continuar a conversa. Lamento, porque eu estava neste debate a sério.
Cumprimentos.
Maria: posso garantir que esse comentário é do falso Vitório, que já há muito deixou de ter piada.
Maria, às vezes custa-lhe perceber as coisas, não é? Já lhe explicaram não sei quantas vezes o quão é fácil distinguir o verdadeiro Vitório do falso, mas você insiste em confundi-los. Não lho vou explicar outra vez, que já vi que não vale a pena.
Caro anónimo das 15:30
Fiquei tão irritada que nem vi o que dizia a seguir (suponho que seja o mesmo anónimo...); a questão é que mesmo sendo falso chateia! (e de facto não podem haver grandes dúvidas que é falso, porque o comentário não bate certo com a troca de observações anterior). A si, desculpe não ter tido em conta as suas explicações - que já testei...
Ao Leocardo, obrigada por ter vindo esclarecer a situação.
Ao Vitório, desculpe a reacção a quente... Mesmo irritada não devia ter reagido porque o debate tem sido, além de interessante, produtivo!
Cumprimentos.
não percebi porque o verdadeiro ou falso vitinho começa a responder maria, se ela antes nem tinha comentado
Cara Maria,
Não tenho nada que ficar sentido com as suas palavras, porque vi que estavam descontextualizadas.
Sabe, a grande diferença nestas e noutras discussões, com os vários intervenientes presentes é a maneira como percepcionamos a vida, a sociedade.
Pessoalmente, acredito que o homem seja uma criatura de instintos, emoções e razão. A prudência, o preconceito, a experiência e o hábito são melhores guias do que a razão, a lógica, as abstracções e as metafísicas. A Verdade existe não em preposições universais mas em experiências concretas. Por outro lado, excepto no sentido moral, acredito que os homens sejam desiguais, a organização social é complexa e para sempre incluirá uma variedade de classes, ordens, grupos. A diferenciação, a hierarquia, a liderança são caracteristicas de qualquer sociedade civil. Por acreditar nisto tudo, no historicismo, no tradicionalismo, na ordem e por ser realista em toda a acepção da sua palavra, considero-me conservador-reformista. E como tal, as críticas descabidas (i.e. de alguns anónimos e do clone) pouco me atingem, porque, acredito que a comunidade seja superior ao indivíduo, os direitos do homem derivam das suas obrigações e o Mal está enraizado na natureza humana, e não em alguma particular instituição social.
O tempo é o melhor soro da verdade.
Isto é ser também "Burkiano", acreditar em Deus, na natureza e no homem.
Sds,
O racismo e a má vontade para com os naturais de Macau continua a manifestar-se neste post.
Caro anónimo 7:12, não creio que só os de Macau ou os cuja estada em Macau vai longa precisa de aprender os tempos verbais. Infelizmente Portugal tem uma elevada taxa de analfabetismo e de iliteracia!
Há que não generalizar e estereotipar.
Pela minha experiência (palavras suas), é racista ou a sua estada em Macau foi devido ao bom sabor da pataca.
Caro Vitório, e para quem estiver interessado, a propósito do racismo desta vez deixo uma sugestão de leitura:
http://www.scielo.oces.mctes.pt/pdf/spp/n33/n33a01.pdf
Quanto às referências às patacas, a mim parece-me evidente que quem sai da sua casa para atravessar o mundo ou mesmo para localizações mais próximas das fronteiras portuguesas o faz pensando nas melhores condições de vida que daí podem advir. Ninguém emigra pensando ficar em piores circunstâncias do que as que tem. Por isso é claro que as patacas, os euros ou outra moeda qualquer são factores a ter em conta nas decisões de partir. O contrário é que seria de estranhar. Ainda bem que há portugueses em Macau, e noutros locais, bem posicionados e com boa situação financeira e social. As migrações não têm de ser todas do betão e das limpezas (sem qualquer desprimor para os que desenvolvem estas tarefas, que são tão necessárias quanto as outras). Na generalidade os portugueses em Macau são profissionais qualificados e isso poderá distingui-los dos que se encontram noutros destinos migratórios onde o grosso não se enquadra nesta categoria. Não quer dizer que não existam profissionais portugueses menos qualificados em Macau, como também não quer dizer que não existam profissionais portugueses qualificados noutros destinos onde a maioria não o é. Mas, em todos os casos, o factor económico conta. A mim não me incomoda.
Cara Maria,
O que quis dizer, assim rapidamente, ou melhor, o que critico, é o snobismo (De SNOB - abrev. de "Sem NOBreza") dos tais "emigrantes" que não se singram na sua terra de origem e se armem aos cucos lá fora.
Tenho profunda admiração aos que tiveram de emigrar para encontrar melhores formas de sustento, que infelizmente não conseguiram na sua terra natal, mas que mantém a sua humildade, a sua nobreza, o seu apego e amor pela terra natal que nesse momento não os pode ajudar, não virando costas ao seu povo, à sua Pátria, por meras questiúnculas materialistas. Essas pessoas para mim são mesquinhas, materialistas, e moralmente egoístas e sem carácter.
Os tais emigrantes que continuam a nutrir grande amor pela sua Pátria, esses sim demonstram uma lição de vida, de altivez e carácter.
Sobre a questão das "cunhas" está mais do que comprovado que não é mau de todo, se se for utilizado como um sistema de informação, pois como todos sabemos, existe um tipo de desemprego que é o "Desemprego friccional" que deriva do lapso de tempo que demora entre a tomada de conhecimento sobre a vaga, no caso de quem procura emprego e da oferta, no caso do empregador. De resto, tem que ver com o desempenho real tanto do contratado como do empregador. Se a pessoa se revelar válida acaba por ficar, senão, não é racional uma empresa ou organização manter um recurso pouco eficiente e que gera desperdício.
Se a "cunha" funcionar APENAS em termos de melhoria do mecanismo de divulgação de informação tanto da oferta como da procura, porque não?
É lógico, se eu fosse um empregador, preferir um recurso humano válido para as funções que tenha tido boas referências de uma fonte segura, do que um recurso que não conheça de lado nenhum, é a questão de minimização de riscos e de danos, pois a questão "confiança" é muito importante.
A sociedade chinesa que é conservadora e tradicionalista, não falo da organização política, mas sim da sociedade civil, baseia-se na relação "Guanxi", "relações", ou "cunha", caso contrário, nada é feito. Nem tanto ao mar, nem tanto à terra, obviamente há por outro lado o perigo de se perder um bom recurso, até então desconhecido. Neste sentido há os tais recrutamentos em massa e outros por recomendação. Eis a prudência, um valor Conservador a funcionar.
Sds,
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