terça-feira, 3 de junho de 2008

Os cínicos e os sínicos


O Instituto Português do Oriente (IPOR) está em ruptura financeira. A presidente Maria Helena Rodrigues tinha alertado em Novembro último das dificuldades que podiam advir do desinvestimento do Estado Português naquela instituição do ensino da língua portuguesa no território. Os leitores de português de Pequim, Cantão, Xangai e Huqiao não receberam os vencimentos referentes ao mês de Maio, bem como a direcção, sediada em Macau. A presidente do IPOR assegura no entanto que os restantes funcionários foram pagos. Maria Helena Rodrigues diz que se demite se a situação não for resolvida, mas não quer acreditar que se chegue a esse ponto.

Uma afirmação da sra. presidente tocou-me. Foi quando disse "tenho vergonha, como portuguesa, da situação do IPOR". Sra. presidente, com todo o respeito, eu que sou mais novo que a senhora já há muito que me tornei imune a esse sentimento. A receita para ser feliz é não acreditar em almoços grátis, principalmente vindos de quem tanto prometeu mundos e fundos, reafirmou isto e aquilo, comprometeu-se com o que agora simplesmente ignora. É uma vergonha, sim, mas é apenas mais uma a juntar a muitas outras. Só espero que quem ainda acredita que "Portugal não esqueceu Macau" vá arrumar a viola no saco e tocar para outra freguesia. Talvez esteja aqui a ser cínico, mas há já alguns que souberam ler a situação, e até já se tornaram...sínicos.

Saiba mais no Hoje Macau e no JTM.

12 comentários:

Anónimo disse...

São uns líricos aqueles que acham que Portugal não esqueceu Macau. O Portugal de hoje até se esqueceu de si próprio, quanto mais do resto...

Anónimo disse...

Pois... as coisitas andam trocadas... a curadora de museus está no IC e parece quem precisa do trabalho dela é o outro sócio...
De língua não percebe nada, nem nos leitorados nas Universidades e Centros de Língua aqui mais perto do burgo quanto mais de uma estratégia de longo alcance como representa(va) o IPOR em Macau!
Não falo mais que este assunto faz-me ficar hipertensa!

Anónimo disse...

Que tem Portugal no seu todo a ver com o comportamento do políticos que o (des)governam? Obcecados com o défice das contas públicas e com isso a empobrecer tudo o que mexe?Que coisa mais estafada essa acusação sem rosto. Caros compatriotas tornem-se sínicos se assim o desejarem, mas por favor não culpem os portugueses de tal sorte. Um abraço a todos os macaenses.

Anónimo disse...

Ah, então os portugueses é que insistem em pôr no poleiro o mesmo tipo de parasitas há mais de 30 anos e não têm culpa nenhuma? Boa anedota. Então a tal de democracia serve para quê?

Anónimo disse...

Infelizmente isto revela o que o Leocardo e tantos outros tem escrito na Blogosfera e imprensa local. A gritante falta de visão do Governo Potuguês.

Se existe lugar para se poupar, certamente não será na divulgação cultural e no ensinamento da lingua e cultura portuguesa, principalmente naquela que será (e que já é) uma das grandes potências económicas do Séc XXI...

Anónimo disse...

Uma mulher com eles:

Carta da Presidente do IPOR à Presidente do IC:

Senhora Presidente:



Recebemos, hoje, com satisfação, a informação, via fax, de que "vai ser transferido [quando?] o montante correspondente à contribuição associativa do mês de Junho bem como a antecipação da contribuição do mês de Julho."

A perplexidade vem da ordem (?!) de V. Exa, para que se destine esse montante "prioritariamente e exclusivamente (!) ao pagamento das remunerações em atraso dos leitores". Deve, então, esta Direcção entender, Senhora Presidente, que, recebida a verba que refere e pagos os vencimentos em atraso dos leitores, não poderemos, com o restante, proceder ao pagamento de outros vencimentos em atraso, como os professores que colaboram a tempo parcial, a Direcção e o Técnico Oficial de Contas?! Nem, pelo mesmo motivo, pagar as despesas de instações no Consulado, que já em Abril passado deixámos por pagar até recebermos o reforço de verba da Fundação Oriente, que certamente terá evitado ao Estado Português o enorme embaraço de ver em risco o funcionamento de uma representação diplomática?! Ou mesmo as facturas relativas a bens essenciais ao funcionamento desta instituição?! Efectivamente, V. Exa esclarece, na referida comunicação, que "a antecipação da transferência de verbas é feita a título excepcional, apenas para permitir a resolução imediata dos pagamentos em atraso dos leitores."

Senhora Presidente, como V. Exa bem lembrou nas declarações prestadas à Agência Lusa, "Ainda que associado maioritário [51 por cento do capital], o IC não tem poderes para interferir isoladamente na gestão e funcionamento do IPOR". Pois não tem, não, Senhora Presidente! Pelo que a gestão das contribuições associativas, antecipadas ou não, à falta de orientações deliberadas em Assembleia Geral de Associados, são da exclusiva competência da Direcção a que presido. Assim, todas as receitas que derem entrada no IPOR, até à próxima Assembleia Geral serão, naturalmente, geridas por esta Direcção, que procederá aos pagamentos em falta e a outros que entretanto surjam, segundo critérios definidos por esta Direcção, de acordo, obviamente, com os Estatutos do IPOR e as deliberações já tomadas pelos Associadas em Assembleias anteriores.

Quanto ao lamento de V. Exa, na mesma comunicação, sobre o alegado desconhecimento da falta de pagamento aos leitores, de que terá sabido pelos jornais, surpreende-nos sobremaneira, em função do mapa de tesouraria por nós enviado a 28 de Fevereiro e de todos os ofícios posteriores, que terão levado V.Exa, aliás, a referir, na sua comunicação 000942, de 4-6-08, "Depois das inúmeras ameaças não concretizadas, soubemos hoje pelas notícias o não pagamento dos vencimentos aos leitores, o que consideramos de elevada gravidade." De elevadíssima gravidade, sem sombra de dúvida, dizemos nós, mas, Senhora Presidente, recebeu, então, "inúmeras ameaças não concretizadas (felizmente para todos, não é verdade?) sobre a impossibilidade, repetida por mim à exaustão, de continuarmos a pagar salários com as verbas que a Senhora Presidente acordou com a Fundação Oriente entregar como contribuição para 2008?! Mas isso não é uma notória confissão de pleno e atempado conhecimento da extrema dificuldade financeira em que o IPOR tem estado a trabalhar?! E afirma V. Exa, em documento oficial, que soube pelas notícias do não pagamento dos vencimentos aos leitores?! Como esperava V. Exa que fossem pagos esses e os outros vencimentos se insistentemente lhe foi comunicado que o dinheiro não chegava?! Que política, que estratégias, que critérios apresentou até hoje V. Exa para que fosse consciente e consequentemente definida a acção a desenvolver pelo IPOR? Que mais, para além da sempre repetida por V. Exa necessidade de reduzir pessoal e eliminar actividades culturais, propôs V. Exa nas reuniões de Asembleia Geral do IPOR de Março, Abril, Agosto, Novembro e Dezembro de 2007?! Ou em qualquer documento de que esta Direcção tenha conhecimento?!

Lamenta ainda V. Exa que venham "denegrir em muito a imagem de Portugal" as afirmações feitas pela Presidente do IPOR nos jornais. Não manifestou V. Exa essa mesma preocupação com a imagem de Portugal ao ouvir e ler os meus insistentes apelos, em nome do IPOR, alertando para o risco comprovadamente inevitável de se verificar muito em breve uma ruptura de tesouraria que nos deixaria sem dinheiro para pagar até salários. Se a imagem de Portugal tanto a preocupa, Senhora Presidente, que razões a levaram a deixar deteriorar-se esta situação até ao ponto realmente lamentável a que chegou, reagindo apenas quando este assunto vem a público?! Que motivos que não descortinamos poderão ter levado V. Exa a nem sequer dar resposta a muitos dos apelos que fazemos desde quase há um ano?!

E em que fundamentos se baseia, Senhora Presidente, para ousar afirmar que a Presidente do IPOR se revelou "incapaz de justificar ou rever proposta de redução de intervenção e financiamento face a uma estrutura de financiamento pesada que pouca margem deixa para realizar o seu objecto principal, como seja a preservação da língua e da cultura portuguesas."?! Não recebeu V. Exa, logo a 25 de Janeiro de 2008, um documento com a descrição de funções de todos os colaboradores ao serviço do IPOR, a que juntámos um mapa com as categorias, remunerações mensais, tempo de serviço e datas de início e fim de contrato, e ainda cópia do extracto do diploma legislativo que regula a denúncia unilateral de contrato, no ordenamento jurídico de Macau, para que V. Exa dispusesse de todos os elementos eventualmente necessários a uma avaliação da tal "estrutura pesada" que lhe permitisse pronunciar-se, com o devido conhecimento, sobre essa mesma estrutura, propondo aos restantes Associados a sua reformulação, em função, naturalmente, de uma definição clara do que pretendam os Associados fazer do IPOR enquanto coadjuvante da execução da política linguística e cultural externa do Estado Português, para que serve, afinal, o Instituto Camões?! Que uso mereceu a V. Exa toda essa informação, se a 14 de Março se limitou a recomendar, numa carta conjunta com a Fundação Oriente, para a desejada redução de despesas fixas, a nível de pessoal, uma "rigorosa avaliação dos meios humanos necessários", devendo o IPOR apresentar uma nova proposta de orçamento, com a "indicação dos nomes dos funcionários e colaboradores, devendo as suas funções ser descritas em anexo"? Os nomes dos funcionários, Senhora Presidente?! Estranho pedido, na verdade, mas que não hesitámos em satisfazer, na linha da nossa actuação de sempre de disponibilizar aos Associados toda e qualquer informação solicitada! A descrição de funções, Senhora Presidente, tinha ido já, como disse, a 25 de Janeiro, com, repetimos, um mapa com as categorias, remunerações mensais, tempo de serviço e datas de início e fim de contrato, e ainda cópia do extracto do diploma legislativo que regula a denúncia unilateral de contrato, no ordenamento jurídico de Macau. E é V. Exa que se arroga o direito de acusar a Presidente do IPOR de se revelar "incapaz de justificar ou rever proposta de redução de intervenção e financiamento"?! A Presidente do IPOR que, em Abril de 2006, acatou naturalmente as deliberações da Assembleia para retirar a leitora de Jacarta e se viu acusada por V.Exa de agir mal e sem autorização, ao dar execução a essa deliberação que V. Exa mesma subscrevera?! A Presidente do IPOR que apresentou, em Março de 2007, um Plano de Actividades e Orçamento que V. Exa rejeitou por propor a concentração da actividade do IPOR na RAEM e na RPC, face à crescente procura de cursos de Português e à impossibilidade de lhe dar resposta condigna com o Orçamento que sofrera já cortes em relação ao ano anterior?! A Presidente do IPOR que, em Junho de 2007, lhe enviou um extenso documento com uma análise cuidada e fundamentada do que deveria ser a acção do IPOR nesta região do Sudeste Asiático, face aos condicionalismos orçamentais, análise essa decorrente do profundo conhecimento das realidades locais em que se processa a divulgação da língua e cultura portuguesas nesta Região do Sudeste Asiático, adquirido em muitos anos de investigação e de trabalho no terreno?! A Presidente do IPOR que viu novamente rejeitada a sua proposta de Orçamento, na reunião de Assembleia de Novembro, exactamente porque a Senhora Presidente se recusava a aceitar a responsabilidade pelo financiamento total de três leitorados e três centros culturais, que até então o Estado Português tivera a sorte de suportar apenas em 51%, graças às contribuições dos restantes Associados do IPOR?! A Presidente do IPOR que viu, finalmente, aprovado, a 27 de Dezembro, o Plano de Actividades e Orçamento, que mais não eram que a actualização, no tempo, da proposta inicialmente apresentada em Março, obrigando o IPOR a viver de duodécimos e numa tremenda instabilidade que tanto prejudicou a instituição?! A Presidente do IPOR que apresentou, em Dezembro de 2007, um Plano de Actividades e Orçamento para 2008, profundamente condicionado por um determinado montante imposto pelo Instituo Camões e pela Fundação Oriente e que é, como tenho vindo desde então, a afirmar, manifestamente insuficiente para equilibrar receitas e despesas, no quadro dos Estatutos em vigor e da estrutura orgânica e funcional que é o IPOR?! A Presidente do IPOR que viu, mesmo assim rejeitada essa proposta por ter inscrito nas receitas um montante de receitas extarordinárias provenientes da anunciada venda de um apartamento, de cuja avaliação para efeitos de venda lhe tinha sido pedido que tratasse?! A Presidente do IPOR que aguarda, desde 27 de Dezembro de 2007 que lhe sejam comunicadas linhas orientadoras para a sua acção, em sintonia com a política externa que o Instituto Camões tem por missão planificar e executar?! Acredita, Senhora Presidente, que alguém mais que V. Exa, com responsabilidades superiores nesta área de intervenção, poderá subscrever essa sua tremenda e leviana acusação de incompetência minha no lugar que desempenho, e, mais ainda, nas condições adversas que me têm vindo a ser impostas?!

Afirmou V. Exa ainda à Lusa, aguardar, da minha parte, que "reveja de forma justa e legal..." Insólita afirmação, Senhora Presidente! Acaso estará V. Exa a acusar a Presidente do IPOR de algo menos justo ou ilegal? É que essa poderá ser a interpretação de pessoas menos informadas ou até de má fé, que não conheçam a minha integridade pessoal e profissional. Essa seria uma acusação que ninguém me faria impunemente, Senhora Presidente. A simples insinuação que pode ser entendida de tão desastrosas palavras ofende, per se, a
diginidade da Presidente do IPOR e da cidadã portuguesa Maria Helena Rodrigues.

Senhora Presidente do Instituto Camões, faça um favor a Portugal e aos portugueses e demita-se!


Maria Helena Rodrigues

Anónimo disse...

Caro anónimo das 7:29

Poderá escrlarecer como é que esta carta se tornou pública? Isto é, pode informar-me se esta carta é uma carta aberta à Presidente do Instituto Camões pelo que será então do domínio público? Ou é "fuga" de informação e não pode ser usada? Usada, aqui, quero esclarecer, é no sentido meramente académico - por razões que se prendem com trabalho científico recolho desde há algum tempo toda a informação que vem a público sobre a língua portuguesa (em Macau e não só) e esta carta é bem ilustrativa das políticas de língua levadas a cabo pela(s) institição(ões) que têm essa função. Mas como calcula, preciso de saber de que forma aparece no espaço público, se é mesmo uma carta da Presidente do IPOR à Presidente do IC. Não quero nem ser acusada de usar algo indevidamente nem quero causar problemas a ninguém.
Obrigada.

Anónimo disse...

Fuga. E a intenção é denunciar a incompetência de quem está no poder em Portugal e louvar a acção da pessoa que teve a coragem de escrever esta carta.

Anónimo disse...

Leocardo, aqui está: um exclusivo! Sem verificação de fonte, mas parece-me legitimo...

É uma vergonha... Triste... Muito triste... É esta a visão de futuro desse País...

Anónimo disse...

E o que me parece estranho é já passarem dois dias e ninguém perceber que este blogue tem um exclusivo: a presidente do IPOR pede directamente por escrito à presidente do Instituto Camões, uma pessoa bastante conhecida em Portugal, que faça o favor aos portugueses de se demitir.

Leocardo disse...

Não se pode confirmar a veracidade desta carta, mas se é autêntica, terá sido reproduzida por alguém a quem ela teve acesso. O ideal teria sido enviá-la para um jornal, mas fica da responsabilidade de quem aqui a deixou.

Anónimo disse...

Verdade ou mentira, caro Leocardo, está de parabéns, porque isto é um sinal de que o seu blog é bem frequentado e visto como um local de informação e de debate livre e não tendencioso.

Parabéns. Se este blog não existisse, provavelmente nunca teriamos acesso a este documento (verdadeiro ou falso). Espero que outros sigam o exemplo e não tenham receio de partilhar frustrações e situações que, e falo por mim, como cidadão de Macau me possam fazer compreender melhorinformado, o que está a falhar nas relações entre Macau, China e Portugal. Porque todos vemos o potencial desta ligação.

Queremos saber o que torna tudo isto tão dificil e como situações tão graves como esta podem acontecer...