Fujam! É o rato!

Eu até simpatizo com o período do ano novo lunar (principalmente com os feriados), e simpatizo com o rato, esse simpático roedor (e depois de "Ratatouille", provavelmente o melhor filme de 2007, mais ainda), mas é a chegada do novo ano lunar do rato que me assusta sobremaneira.

Para começar temos o frio. Costumo dizer que se me dessem a escolher, passava o Inverno aqui e o Verão em Portugal. Mas este ano tem sido mesmo, mesmo frio em Macau. A temperatura actual é seis graus, e enquanto escrevo estas linhas tenho as mãos geladas e os dedos cheios de pensos. O rato (do PC) está gelado, e o mais quente dos cacaus transforma-se num Nesquik fresquinho em minutos. Frigorífico avariado? Basta deixar a comida cá fora.

Mas à medida que o ano novo vai chegando e a maioria da população imigrante vê as suas férias canceladas devido à situação problemática na China, vai-se apertando o cerco para o cidadão comum que não festeja o ano novo lunar ou qualquer outro feriado religioso ou pagão, e que só quer gozar a vidinha tranquila e pacificamente como se nada fosse. Eu, por exemplo.

Aparentemente escasseia a carne de porco, normalmente a mais apetecida nesta época festiva, nos mercados municipais do território, e enquanto a China garante que o fornecimento da carne de suíno "vai satisfazer as necessidades", a populaça desconfia e opta por encher os frigoríficos de carne congelada. O que me vale em toda esta correria é ser um fiel cliente do mercado da minha área de residência, e da senhora dos congelados que me guarda os chispes e entrecostos.

A corrida às caixas multibanco é outro problema que (e este ano, felizmente, lembrei-me de evitar) persiste nesta época. Apesar das eternas promessas dos bancos em que as caixas estarão recheadas de pataquinhas por esta altura, a verdade é que são raras as caixas onde se pode encontrar a moeda macaense. Esta tarde assisti a uma pequena confrontação entre duas senhoras que discutiam "a vez" de levantar dinheiro numa das (poucas) caixas que oferecia patacas.

E durante o ano novo, não se esqueça de fazer as compras de supermercado o mais cedo possível (de preferência antes das 10 da manhã), pois quem festeja o ano novo a valer entope as caixas com compras de doces, chocolates, rebuçados e outras porcarias, o que é um grande transtorno para quem precisa de comprar água, azeite, cerveja ou outros artigos sem os quais é impossível viver.

Se por acaso pensa em almoçar fora nos próximos dias, esqueça. Pelo menos se estiver a pensar em petiscar num restaurante chinês. Na casa do Leocardo temos esta semana: coelho guisado à moda da Porcalhota, chispe com feijão branco, caril de galinha, "adobo manok" (prato filipino de galinha), caldeirada de lulas, arroz de polvo, entrecosto na brasa e bacalhau com todos. O seguro morreu de velho. E como diz o nosso Herbert Ramos: "stay warm, Macau".