Passou há momentos na RTPi uma pequena homenagem ao saudoso actor Mário Viegas, com testemunhos de pessoas que o conheciam e que com ele trabalharam. Foi muito agradável recordar Mário Viegas, uma figura da nossa cultura merecedora de todos os encómios e mais alguns. Excelente actor dramático com incursões pela comédia - todos nos lembramos com carinho dos curtos "Filmezinhos" de Sam - um natural do teatro, com uma respeitável carreira na televisão e no cinema. Uma vez disse que o teatro "era a arte da representação por excelência, mas é na fita que ficamos imortalizados". Um estudioso apaixonado da nossa literatura e da poesia, declamador exímio e narrador inconfundível, Mário Viegas deixou muitas saudades. Consciente da realidade do país, um homem muito culto e amante da liberdade, era também conhecido pela sua participação cívica, chegando mesmo a lançar uma candidatura à Presidência da República, que se viria a revelar fictícia - eu votaria nele. A sua orientação política era de esquerda, e sendo apartidário, afiliou-se na UDP - opção reprovável, que contudo se entende como apenas uma forma de poder passar o seu discurso ideológico. Era um homem cordato e sociável, um excelente amigo, que deixa a quem teve o privilégio e a honra de trabalhar com ele um sorriso nos lábios. Como disse Lia Gama, "como pessoa faz muita falta". Homossexual declarado, sem ser assumido, foi colhido pelo flagelo da SIDA em 1996, aos 47 anos. Mesmo na hora da sua morte Mário Viegas quis ser especial: deixou-nos no dia 1 de Abril. Mesmo a sua irmã diz que o Mário "escolheu aquele dia para brincar connosco". Tendo partido desta vida e das artes no auge, deixa no ar a dúvida do que seria hoje um Mário Viegas sexagenário, mais amadurecido. Teria feito História no seu ofício, certamente. Foi uma enorme perda para a cultura nacional, e é sempre bom revê-lo.
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