2013 é ano de eleições legislativas em Macau, quatro anos cumpridos após as últimas, realizadas em Setembro de 2009. Não surpreende que se fale agora de quem quer ser candidato, que se anuncie quem concorre ou volta a concorrer, que se deliniem estratégias, que se faça a política que é possível fazer num território com menos de 300 mil eleitores inscritos. Pois é, ainda parece que foi ainda ontem que tinhamos por aí os simpáticos candidatos em poses sorridentes a tentar angariar os necessários votos para sentar o rabiosque no hemiciclo, distribuíndo papelada, “mexendo-se” no meio das associações e prometendo “trabalho”.
E por falar em “trabalho”, se é que se pode considerar o cargo de deputado como tal, tenho um amigo bastante céptico quanto a isto de eleições – que despreza e faz questão de se abster – que diz que eleger um deputado pela via directa é “dar emprego a mandriões”. E é um bom emprego, sublinhe-se. Pode ser que tenha o seu quê de razão, uma vez que ao contrário de outras democracias mundiais, em Macau não se elege um Governo através do sufrágio, e trata-se tudo apenas de uma questão de representatividade dos diversos sectores que compõem a sociedade local.
Ficará tudo quase definido antes do Verão, quem concorre ou não, e por essa altura será possível vaticinar quem é que se vai sentar na Assembleia Legislativa até 2017, quando se repetir a charanga eleitoral. Este ano o número de deputados eleitos por sufrágio directo aumenta de 12 para 14, um aliciante extra, subindo o total de deputados de 29 para 33. Um aumento que se justifica pelo crescimento do território nos últimos anos. Os outros dois deputados suplementares virão do sufrágio indirecto, o tal que ninguém entende muito bem como funciona, e que se resolve “entre portas” pelas associações de interesses empresariais de Macau – e outros, mas sobretudos empresariais. São lugares virtualmente “comprados”, e só é pena que não se tenha optado por submeter a totalidade dos quatro assentos suplementares à vontade do eleitorado. Atribuir dois lugares ao sufrágio directo e mais dois ao indirecto é como chover no molhado.
A maioria dos 14 lugares que dependem do voto popular estão à partida atribuídos, e a distribuição não será muito diferente da que foi determinada em 2009. Assim teremos pelo menos três lugares para o sector democrata, dois para os operários, um para a Associação de Moradores, vulgo “kai-fong”, um para Chan Meng Kam e a sua Associação dos Cidadãos Unidos de Macau, um para os funcionários públicos de José Pereira Coutinho e outro “para o casino”, representado por Angela Leong. Os restantes cinco estarão em aberto, ou nem por isso. Resta saber se os democratas conseguirão aproveitar o “alargamento” para obter um quarto assento, se a lista de Fujian com Chan Meng Kam à cabeça manterá um segundo deputado, agora que Ung Choi Kun anunciou que não se recandidata, se os Kai Fong recuperarão o mandato perdido há quatro anos, se Melinda Chan conseguirá a reeleição, e se o sector da construção civil, representado actualmente por Mak Soi Kun, obtem um lugar pela via directa.
Mesmo que se concretizem todas estas possibilidades, sobra ainda um lugar, e é aqui que reside o principal interesse destas eleições, que raramente trazem grandes surpresas. Há quem especule sobre a eventual eleição de um segundo deputado para a ATFPM de Pereira Coutinho, depois de Rita Santos ter ficado relativamente perto há quatro anos, ou da entrada de uma novidade, ora da parte da União para o Progresso e Desenvolvimento, associada ao sector empresarial, ora da parte do Observatório Cívico de Agnes Lam, tendo ambos obtidos mais de 5 mil votos em 2009, mas ficando à porta do hemiciclo. Gostava de ver mais novas faces na Assembleia, mas verdade seja dita, nenhuma destas três opções me agrada. Aliás quem me conhece e acompanha o blogue há alguns anos sabe bem o que penso: não me revejo em nenhuma lista que represente um sector específico, e com excepção do Novo Macau Democrático, não existe uma opção realmente abrangente; quem vota normalmente põe a cruz ao lado de quem o possa servir, ou de quem lhe põe o pão na mesa.
Como é habitual em ano de eleições, fala-se da possibilidade de uma lista de matriz “portuguesa”, que é como quem diz, uma que possa cativar o interesse dos eleitores macaenses e dos portugueses expatriados recenseados, como é o meu caso. O fracasso das últimas listas desta natureza (que não chegaram aos mil votos) é por si dirimente de mais uma tentativa. A lista “Voz Plural – Gentes de Macau”, que foi no início vista como uma “lufada de ar fresco”, foi uma tremenda desilusão, que acabou por ser ainda pior depois de se esfumar depois do sufrágio de 2009, apesar da promessa de continuidade e de participação na vida civil. A experiência da “Voz Plural” tornaria um novo projecto alvo de chacota, dando aso a mais acusações de elitismo e desunião – um problema de que a nossa comunidade se ressente. É de acreditar que o recente anúncio da "disponibilidade" de Casimiro Pinto trata-se apenas de uma declaração de ocasião, um "vento" passageiro.
Fiquemos atentos portanto às novidades, que certamento irão surgindo até antes das férias, preparando a “rentré” política, que será em grande, com mais este sufrágio. Quem sabe se alguém conseguirá convencer algum segmento da população que não se revê nos actuais candidatos; a abstenção ficou pelos 40% em 2009, e sempre são cerca de 100 mil eleitores que podem fazer toda a diferença. Espero ansiosamente por essa temporada de eleições e respectiva campanha, que é sempre sumarenta em termos de notícias e curiosidades. A bem ou a mal, sempre se vai fazendo alguma “política” em Macau de quatro em quatro anos, e sempre dá para “sacudir” a monotonia. Tirando essas poucas semanas, o debate politico na RAEM resume-se a uma palavra: pasmaceira.
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