A TDM tem passado todas as quartas-feiras cinema português a horas indecentes, mais ou menos por volta da meia-noite. Gostava de poder dizer que isto é mau, mas não é. O cinema português é, se o pudesse descrever numa palavra, "deprimente". Interdito a menores de 88 anos que não estejam já em coma declarado. E ontem realizou-se mais um teste a este preconceito que tenho contra o nosso cinema, com a exibição de "Jaime", de António Pedro-Vasconcelos, uma fita de 1999. Sentado no conforto do meu lar, meio insomníaco, comecei a ver o filme, que passado dois minutos contava já com uma criança com os dedos arrancados por uma prensa numa padaria e dezenas de "foram-se" e "carvalhos" debitados pelo personagem de Rogério Samora, o dono da tal padaria. O personagem principal é o tal Jaime, que dá título ao filme, um puto de 13 anos que fuma, trabalha e em suma, come o pão que o diabo amassou. É difícil encontrar um personagem genuinamente feliz nestes filmes melo-dramáticos tugas; quem anda contente é normalmente bandido, malandreco ou chulo. A mãe de Jaime, interpretada por Fernanda Serrano, é puta, coitada. Não no sentido da mulher que se prostitui pelas esquinas, mas é uma caixa de supermercado que vende o corpo a qualquer um que lhe possa "proporcionar uma vida melhor", que é como quem diz, é uma mulher burra, fácil e sonhadora. Jaime trabalha à noite, à revelia da mãe, para "juntar dinheiro para comprar uma mota ao pai para que este volte a trabalhar e a família possa ficar outra vez junta". Chuif, chuif. O pai é um alcoólico desempregado e vive num buraco, rodeado de garrafas de Super Bock. Numa cena absolutamente deprimente, Jaime visita um colega de escola, Ulisses, para lhe dar um safanão (não me perguntem porquê). Num dos cantos do quarto está Artur, o irmão de Ulisses, a chutar para a veia em plena luz do dia e com a família toda em casa. Jaime pergunta o que se passa com "aquele" e Ulisses responde-lhe que "aquilo é uma espécie de doença, e ele precisa de apanhar injecções". Ah sim, esqueci-me de mencionar que a acção decorre no Porto, portanto a maioria dos personagens fala com um sotaque nortenho que ainda por cima imita mal. Não vi muito mais a partir daí porque a minha mãezinha mandou-me para a cama.
Quer dizer, já sei o que muitos leitores estão a pensar: "isto é a realidade blah blah blah" e não sei que mais. Mas epá, não quero saber! Não é a minha realidade e apetece-me, para variar, ver um filme português que me que entretenha e que me divirta. Estas sessões das quartas-feiras ficam a a ganhar muito mais quando se exibem aqueles filmes do tempo da maria Cachucha, como "O Pai Tirano", "Aldeia da Roupa Branca" e que tais. Mas mesmo assim é triste que a única forma de rir um pouco com um filme português seja com actores que já nem estão entre nós, coitados. Alguns que morreram mesmo antes de eu nascer. Mesmo no cinema português moderno quando se tenta fazer qualquer coisa engraçada ou diferente descamba-se logo para a parvoíce ou para o "neo-realismo", como eram exemplo os filmes de João César Monteiro ou mais recentemente os "Call Girls" e afins. Temos de certeza absoluta gente com capacidade para nos fazer rir e pensar ao mesmo tempo, sem cair no habitual melodrama, mas cenas compridas e "artísticas" sem sentido nenhum, enfim, tinhamos mais a ganhar sendo mais espontâneos sem tentar comportar-nos sempre como gente grande - que não somos. Mas abençoado seja o Canal Macau por passar estes filmes. Assim sempre tenho qualquer coisinha para cortar na casaca. E a culpa não é deles por os filmes serem maus. Olha, chamem-lhe antes "serviço público"...
2 comentários:
Já viu o " Meu querido mês de Agosto" ou o "Balas e Bolinhos" ?
Só a título de exemplo, bastava fazerem na TDM um ciclo dos filmes do Bruno de Almeida.
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