Passados 10 anos desde a sua visita a Hong Kong, eis que chega a Macau a exposição das múmias plastinadas, a "Human Bodies", criação do Dr. Frankenstein, perdão, do Dr. Gunther von Hagens, curiosamente um alemão. O Dr. Josef Mengele também era alemão. Os alemães são uns gajos muito pragmáticos, que até experimentaram com cadáveres verdadeiros em testes de segurança rodoviária nos anos 80. Uns tipos porreiros, de facto. A exposição vai estar, portanto, a partir de amanhã no Venetian - o que vale por dizer que pouco menos de uma semana antes do Halloween o Venetian vai estar repleto de cadáveres. Buhhhh! A tal exposição é disfarçada de uuma causa muito nobre: aprender sobre a anatomia do corpo humano. Para isso nada melhor que ver uns tipos mortos e mumificados e escalpelados com as tripas de fora. Chamem-me antiquado, mas eu ainda prefiro aprender dos livros. Não penso ir ver a exposição, e quem vai só o fará por curiosidade mórbida, com toda a certeza.
Além da questão ética e moral, esta exibição vem carregada de uma fortíssima componente política; a maioria dos cadáveres são provenientes da China, de homens e mulheres condenados à pena capital. Nunca foi segredo, e isso até é fácil de depreender das fotografias dos corpos publicados nas edições de hoje do Hoje Macau e do Ponto Final (o JTM abordou timidamente o assunto e o Jornal Ou Mun ignorou-o completamente, óbvio). O próprio Dr. Hagens sempre assumiu que a China era o melhor local para obter cadáveres fresquinhos. E como esta exposição corre mundo e é assaz lucrativa, quanto mais cadáveres chegarem à fábrica em Dalian (onde se faz a tal plastinação), mais dinheiro entra nos bolsos de...bem, sabe-se lá quem, mas de alguém, é claro. Quanto mais prisioneiros executados, mais dinheiro, ora em orgãos para transplantes, ora para corpos plastinados, ora para fábricas de salsichas ou carne enlatada. E isto não é novidade para ninguém.
A exposição é contestada por um grupo de activistas ligados à Associação Novo Macau Democrático, a "Consciência de Macau", e liderada pelo seu presidente Jason Chao, e que exige que se comprove a origem dos cadáveres. Eles estão fartos de saber que a origem é tudo menos transparente. Quem trafica cadáveres é tudo menos um santinho. As ramificações chegam a Bo Xilai, político chinês caído em desgraça, do tempo em que era "mayor" de Dalian, e terá aproveitado a sua posição para providenciar a fábrica com mortos fresquinhos. Especula-se mesmo que o corpo de uma mulher com um feto no útero presente na exposição seria uma amante do ex-dirigente chinês. Isto vale o que vale; para quem quer acreditar em teorias da conspiração, isto é claro como água. Seja como for, onde há fumo, há fogo. Digo eu sem me querer alongar muito sobre o assunto que envolve essa complicada coisa que é a política e a corrupção inerente a ela na China.
O que me deixa triste é a forma como a vida humana continua a ser tratada no continente. Continua a valer menos que um saco de pevides de melancia. A pena de morte é de uma forma geral bem aceite, pois caso contrário "seria o caös", com "imensos crimes" a serem cometidos "a toda a hora", caso não existisse esta "medida intimidatória". Isto parece-me bem discutível, pois mesmo com a pena capital em vigor, o que não falta são condenados, e nem por isso o número de crimes parece estar a diminuir, antes pelo contrário. Quanto às pobres criaturas que trabalham na tal fábrica de plastinação de Dalian, o que me resta dizer? É um emprego como qualquer outro, pronto, e é preciso trabalhar para viver. Seja a coser calças, a fazer sapatos e brinquedos, ou a mumificar os mortos.
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