1) Comemorou-se hoje o Dia Nacional, que marca o 63º aniversário da fundação da R.P. China. Uma imagem distante de tempos já idos, mas que curiosamente ainda encanta alguns saudosistas, normalmente aqueles que vão a rir a caminho do banco e mais beneficiam com o bafiento regime. Em Macau foi feriado, assim como será amanhã - o dia seguinte à implantação da R.P. China, e quarta-feira há tolerância de ponto para os funcionários públicos, devido à coincidência com o feriado do Bolo Lunar, que se assinalou ontem. Caprichos do tal calendário chinês. Em Macau realizou-se esta tarde uma manifestação com cerca de dois mil participantes, que exigiam melhorias nas políticas sociais e um fim à especulação imobiliária, que impede que a classe média adquira habitação decente, que como se sabe anda pela hora da morte. Fico satisfeito que a manifestação se tenha realizado, e ao mesmo tempo fico triste que alguns dos manifestantes tenham aderido por terem recebido as "senhas de arroz". São aqueles velhos e velhas que só não vendem o cu porque ninguém quer. Outro grupo aproveitou o dia para se manifestar a favor da épica epopeia da China pelas ilhas Diaoyu, esse novo desígnio nacional. Foram perto de 50, com os habituais excessos anti-Japão. Bem, é preciso dar-lhes um desconto, e sempre fica bem para contrabalançar o tom contestário do momento. Entretanto, e um detalhe engraçado, muitos residentes colocaram a bandeira chinesa à janela, assim como tradição, por respeito, sei lá. Os taxistas, esses anjinhos, colocaram uma bandeirinha da China na antena do carro. Pelo menos hoje enganaram os turistas "a bem da nação", que os benza Deus. O que dizer? Penso que se devem aproveitar estes momentos para reflectir o que é feito da nossa querida China - sim, querida, porque é a nossa casa - mais de seis décadas depois. Sobretudo pensar onde se encontra agora, e esperar que não se repitam os inúmeros erros do passado.
2) Sauda-se o regresso do programa Contraponto, da TDM, emitido aos Domingos à noite. Esta semana o painel foi constituído por Carlos Morais José, Emanuel Graça e José Luís Sales Marques, um estreante nestas andanças. Dos temas em debate, moderado sempre com competência por Gilberto Lopes, destaco dois. O primeiro tem a ver com o tal edifício concessionado ao jornal Ou Mun, que tem sub-arrendado a várias associações, desde os operários à escola de enfermagem, num exemplo de promiscuidade entre o público e o privado, e com valores monetários bastante elevados. Tenho-me abstido de comentar esse assunto aqui no blogue, pois como dizia aquele treinador-poeta de bigode farfalhudo, "é uma situação perfeitamente normal". Isto já nem precisa de ser feito às escondidas; ninguém se importa. Não há vergonha nenhuma na cara. A certa altura CMJ diz que "há um limite", e que a população vai tomar consciência e deixar de achar graça a tudo isto, e tal. Mas pergunto eu: que limite a esse? Os milhões vão voando pelos bolsos dos gajos do costume, e a opinião pública limita-se a olhar para o lado e dizer "suen", ou em bom português, "que se lixe". Os rapazes do Ou Mun, da Fundação Macau e o Hospital Kiang Wu fazem isto pela mesma razão que os cães coçam os tomates com os dentes: porque podem. Outro tema foi a animosidade anti-Japão em Macau. Como se sabe a participação da equipa do Japão no 24º Festival de Fogo de Artifício foi cancelada, e substituída por uma companhia pirotécnica de Macau (também eu pergunto, se existe uma companhia pirotécnica em Macau, porque não participa no Festival?). No TDM News de ontem entrevistaram alguns dos espectadores do festival, e foi-lhes perguntada a opinião sobre a exclusão da equipa japonesa. Entre o habitual chorrilho de disparates, houve um rapaz que até disse qualquer coisa de jeito; que isto era "ridículo". E não é? É um festival de pirotecnia, por amor de Deus. Ainda bem que houve bom senso e meteram o microfone à frente da boca de alguém minimamente inteligente. CMJ escreveu no HM de sexta-feira um artigo em que fala da possibilidade do Grande Prémio de Macau não se realizar este ano, devido à ausência dos pilotos e das marcas japonesas. Disse entretanto que "estava a brincar". Ora esta "brincadeira" não é assim tão disparatada quanto isso, e tenho a certeza que os organizadores do GP devem estar a perder horas de sono com esta dor de cabeça. Ainda por cima não sabemos até que ponto esta "guerra" vai evoluir até à altura das corridas, dentro de um mês e meio. Apesar de eu próprio não ser um grande adepto dessa parafernália que envolve o GP de Macau, espero que tudo corra dentro da normalidade, e que o bom senso impere, acima de tudo.
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