E está aí mais uma Páscoa, meus amigos, que por incrível que pareça, voltou a cair ao Domingo. Já dizia a minha avó quando se zangava: "Ai que temos a Páscoa ao Domingo". Este ano vamos ter aqui em Macau um feriado amanhã, para que possamos...erm...festejar o
Pessach mais condignamente (invejosos, tugas?). Na Páscoa é suposto celebrar-se a alegada crucificação e ressurreição de Cristo. Segundo a Bíblia, Cristo ressuscitou "três dias depois". Os cristãos não são lá muito bons a matemática, uma vez que Jesus (outra vez, alegadamente) morreu numa sexta-feira, e alegadamente ressuscitou no Domingo. Três dias? Bem, adiante...
Um pouco por todo o mundo assistimos a várias tradições pascais. Este ano aprendi que em Castelo de Vide, no Alentejo, é feita uma tal de "imolação do borrego", um acto de crueldade contra os animais, onde um borrego é chacinado brutalmente em praça pública. Um dos populares disse para o 24 Horas que "é triste assistir a este acto de crueldade, mas tem que ser...". Tem que ser? Depois são estes mesmos indivíduos que se dizem contra as touradas. Tivesse sido Cristo um toureiro, e "pronto, tem que ser". Olé e aleluia.
Depois no estrangeiro um pouco do mesmo todos os anos. Nas Filipinas e outros países atrasados da América Central assistimos a actos arcaicos de auto-flagelação e outros rituais completamente desnecessários, e hipocritamente condenados pelo Vaticano. Digo hipocritamente porque, afinal, onde é que o Vaticano encontra outras formas de devoção incondicional como estas? Mais uma vez o Papa fez um apelo à paz - como lhe é habitual nesta época - mas mais uma vez o número estava impedido. É possível que as pessoas se sintam mais pacíficas na Páscoa, assim como no Natal, mas depois disso voltamos sempre à cepa torta. O que mais me surpreendeu este ano foi o desespero do ditador venezuelano Hugo Chávez, que pediu a Cristo que o "deixe viver", mesmo com dores, e que está disposto a "carregar cem cruzes". Credo.
Quem esfrega mesmo as mãos de contente durante a Páscoa são os comerciantes chocolateiros. Por uma razão que pouca gente conhece (e é fácil pesquisar) existe uma procura exacerbada de ovos...de chocolate...com bonbons lá dentro...e amêndoas cobertas com açucar. É interessante. É a fúria do açucar. Sem querer estar a chover no Domingo santo de toda a gente, resta-me desejar a todos uma santa Páscoa, que eu não acredito em bruxas,
pero que las hay, hay.
2 comentários:
Amigo Leocardo,
Quem lhe ensinou que Jesus ressuscitou "três dias depois" é que é burro. Ele não ressuscitou "três dias depois", mas sim ao terceiro dia. Se morreu numa sexta e ressuscitou num domingo, então está certo que ressuscitou ao terceiro dia. Se os cristãos não fossem bons a matemática como sugere, certamente não teria possibilitado a existência de toda uma civilização do qual quer você goste, quer não, faz parte. Ou será que preferiria a civilização islâmica, uma vez que os "simpáticos" mouros habitaram na Península Ibérica antes daquela coisa conhecida por... hmmm... Reconquista Cristã?
Em relação à tradição bárbara que referiu, ela nada tem a ver com o Cristianismo. Não foi o Cristianismo que impôs isso ao povo. Do mesmo modo que a própria Igreja é a primeira a condenar os actos tresloucados que acontecem nas Filipinas ou no México. Não vejo hipocrisia nenhuma, mas a minha opinião vale o que vale, como é óbvio.
Grave mesmo é as celebrações cristãs poderem ser feriados e beneficiarem também os não cristãos. Isso sim, é que é a verdadeira hipocrisia. Em nome da laicidade, o Estado português já devia há imenso tempo ter acabado com todos os feriados católicos, retirado todos os nomes de santos das instituições públicas e até mesmo removido as quinas da bandeira nacional...
Tal como o Natal, a Páscoa é cada vez mais uma data óptima para o capitalismo. E nisso todos se rendem. Hipocrisia ou não, fica ao critério do freguês.
Abraço.
É um coelho porco ou um porco coelho?...
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