Atacados pelo acne

Tendo filhos com respectivamente 11 e 9 anos de idade, sinto-me no pleno direito de dizer que os gostos musicais da juventude de hoje são uma merda. Estão a envenenar a cabecinha dos nossos pequenos com lixo. Basta olhar para a playlist dos iTunes dos miúdos para ver nomes como Bruno Mars, Trevie McCoy, Taio Cruz, Ke$ha (assim mesmo, com um cifrão no lugar do 'S'), Katy Perry, Jesse McCartney e lá está, Lady Gaga. Pelo menos aqui em casa não entram o Justin Bieber, a Britney Spears ou o Eminem. Valha-me o santo Buda.

Penso que era isto que os nossos pais pensavam dos nossos gostos musicais no nosso tempo. Com 12 anos andava eu a ouvir Alphaville, Culture Club, Prince, Falco, Billy Idol, e pensava que aquilo é que era fixe. Ali estava o futuro, era daquilo que eu gostava e ia para sempre gostar. De repente fui atacado pelo acne, fiquei com voz de colhão, deixei crescer um bigode ridículo, e digo sempre bem disposto, que se encontrasse aquela versão de mim à minha frente agora, espeteva-lhe um selo. Só para não ser parvo.

Penso que é essa a etapa que se segue na nossa paternidade: batalhar contra as hormonas, a adolescência, a parvoíce completa. Conheço muitos dos actuais adolescentes da Escola Portuguesa de Macau desde que nasceram, sendo muitos deles filhos de amigos, colegas, conhecidos, personalidades, etc, etc. O que penso das fases das criancinhas é muito simples: começam por ser uns putos adoráveis, uns anjinhos puros e inocentes, e depois transformam-se em pré-adolescentes parvos, desconfiados, arrogantes que só apetece tratar à chapada.

Eu até era um adolescente porreiro, apesar dos professores e alguns familiares insistirem que "passava pela idade da parvoíce". Não há forma de levar um adolescente a sério; não tem emprego, é menor, é dependente, não tem carro, é na maior parte das vezes virgem, enfim, não interessa a ninguém. Só que muitos assim que têm um par de amendoins para coçar e depois mandar uma escarreta para o lado como uns homenzinhos, começam a pensar que são alguém, que são pessoas, e perdem a piada toda que tinham quando os viamos desdentados a fazer beicinho ou a dizer disparates.

Alguns são filhos de gente importante, sim senhor, muito bem, e têm "resultados escolares de excelência" - e não falo só da Escola Portuguesa. É uma ilusão que evitarei a todo o custo que os meus filhos tenham: ser o melhor em alguma coisa em Macau não vale um barrote em qualquer outro lugar no mundo. E isto não se aplica só ao ensino, aplica-se a praticamente tudo. O que se pede aos que já estão habituados a jogar na liga de elite de Macau é que depois tenham a dignidade de reconhecer que afinal não são ninguém, quando baterem de frente com o mundo. Mesmo assim boa sorte, não custa nada tentar.

E era só esta simpática mensagem que o tio Leocardo tinha para deixar aos meninos. E já agora vejam lá se arranjam umas porras melhorzinhas para ouvir, não sejam tão "def" ou "duh" ou como é que se chamam agora uns aos outros. Não se esqueçam que ser um adolescente parvo agora é ser um adulto pior ainda mais tarde. E ninguém gosta de um adulto parvo. Agora já passam das dez horas, vão fazer xixi, lavar os dentes e dormir que amanhã é dia de escola.